Oliveira do Hospital: aldeias, história e natureza

Oliveira do Hospital: aldeias, história e natureza
São muitas as aldeias que se espraiam pelo concelho de Oliveira do Hospital e que apesar de estarem cada vez mais despovoadas conservam património e autenticidade. Ninguém melhor que os filhos da terra para as mostrar, num passeio de jipe por estrada, rio e montanha.

Francisco Cruz, 56 anos, conhece cada aldeia do concelho de Oliveira do Hospital como a palma da sua mão. Nasceu em Santo António do Alva – uma pequena povoação próxima de Caldas de São Paulo onde gere com o filho o resort AQUA VILLA HEALTH RESORT & SPA – e hoje é com prazer e à-vontade que assume o papel de embaixador turístico ao levar hóspedes do hotel às aldeias da região em passeios de jipe. O filho, que também se chama Francisco Cruz, de 28 anos, acompanha-o nesta viagem, legendando ao mais ínfimo pormenor tudo o que se vê das janelas do todo o terreno.

«Das duzentas casas desta aldeia, mais de metade estão habitadas e maioritariamente por idosos.

Toda esta região interior está envelhecida. Há muito pouca gente ativa a viver nas aldeias», comenta, como que rendido ao sinal dos tempos. No entanto, como em muitas outras zonas do interior do país, assiste-se também ali a um processo de repovoamento… por parte de estrangeiros. São eles que «acabam por comprar quintas próximas das aldeias», para conciliar privacidade com proximidade face às cidades, e que assim vão animando um pouco aqueles lugares meio-desertos.

A estrada serpenteia ao sabor do rio Alva e a certa altura passa por SÃO SEBASTIÃO DA FEIRA, cuja maior atração é, no verão, a praia fluvial. «Uma das mais bonitas e utilizadas na região». «O caudal está baixo porque as comportas estão abertas para limpar o rio, que acumulou cinzas» dos incêndios de outubro do ano passado, nota o filho Francisco.

As frondosas margens do Alva escondem-no ao longo do percurso, mas mais adiante surge uma placa a assinalá-lo no local onde conflui com o rio Alvôco, tido como um dos menos poluídos da Europa. Foi nessa confluência que nasceu, na época medieval, a engenhosa PONTE DAS TRÊS ENTRADAS, construção que se crê ser única no país e também no mundo. O cruzamento acontece no meio da ponte em formato de ípsilon e não só distribui as direções do trânsito como assinala também a separação da aldeia (que tem o nome da ponte) em três freguesias – São Sebastião da Feira, Santa Ovaia e Aldeia das Dez.

A Igreja Moçárabe de São Pedro da Lourosa é um exemplar único no país. (Fotografia de Maria João Gala/GI)

 

Uma igreja com mais de mil anos…

Lourosa, a apenas 15 minutos de Ponte das Três Entradas, é outra paragem obrigatória durante o passeio. O maior ponto de atração é a IGREJA MOÇÁRABE DE SÃO PEDRO DE LOUROSA, um exemplar pré-românico único no país, mas para a visitar é preciso tocar duas vezes o sino que se encontra no cimo de uma torre nas traseiras da igreja (e cujo som até já foi gravado para prevenir qualquer eventualidade). Poucos minutos depois aparece Maria do Patrocínio Nunes. De baixa estatura, cara redonda e rosada, com um chapéu de palha e apoiada num cajado, é ela (mais conhecida como Tia China) que veste o papel de «guardiã do templo», abrindo a igreja aos turistas culturais que lá vão, há mais de 40 anos.

Tia China aparenta ser de poucas palavras, mas conforme flui a conversa revela uma surpreende lucidez para as 90 primaveras que já tem. «Puseram-me ali de espantalho com uma sacada, foi uma surpresa que ia dando cabo de mim», comenta, com humor cáustico, o facto de o município de Oliveira do Hospital e a Junta de Freguesia de Lourosa lhe terem erguido um busto em sua homenagem, frente à igreja. «Dedicação, humildade, zelo, fé e amor são marcas de uma vida prestada à igreja de São Pedro de Lourosa», lê-se gravado na pedra.

Entretanto, Maria do Patrocínio pega nas chaves e abre a porta da igreja como se fosse a sua casa. «Fui eu que descobri a pia do batismo», diz, com uma lanterna na mão para iluminar o espaço escuro e húmido.

A Igreja Moçárabe de São Pedro de Lourosa, hoje com 1117 anos, foi considerada monumento nacional em 1916 e comemorou o jubileu em 2012, tornando-se palco de eventos religiosos, culturais e artísticos.

Em 1930 foi alvo de um restauro que lhe conferiu o aspeto atual e permitiu descobrir alguns traços primitivos e vestígios arqueológicos da época romana.

O que circunda a igreja é que continua a desagradar a Maria do Patrocínio Nunes. A «guardiã do templo», zelosa da limpeza e conservação do espaço, não se conforma com a necrópole a céu aberto que vai acumulando folhas das árvores e com que tem de conviver todos os dias. Ainda por cima, a área foi ainda mais escavada recentemente, pondo a descoberto sepulturas de formas antropomórficas na rocha. O cemitério, que remonta à Alta Idade Média, é no entanto único na região do Mondego e acrescenta um valor cénico e arqueológico à aldeia de Lourosa.

O Monte do Colcurinho (Serra do Açor, freguesia de Aldeia das Dez) tem 1244 metros de altitude. (Fotografia de Maria João Gala/GI)

 

… e um monte com mais de mil metros

A subida ao Monte do Colcurinho é o expoente máximo do passeio, e para lá chegar há que passar pela VIA SACRA DO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DAS PRECES, com início em Vale de Maceira e 11 capelinhas que recriam, com figuras do século XIX à escala real, o percurso de Jesus Cristo até à crucificação. A estrada é alcatroada e contrasta com os caminhos de montanha cobertos por vegetação e algumas árvores tombadas e queimadas pelos incêndios de há dois anos. «A montanha vai mudando de cor conforme a vegetação e as épocas do ano. O tojo dá uma cor amarelada, a carqueja amarelo claro e a urze deixa um manto de cor violeta», explica o pai de Francisco, ao volante.

A chegada ao MONTE DO COLCURINHO, formado há 600 milhões de anos juntamente com a Serra da Estrela, é um momento de tirar o fôlego. Do alto dos seus 1244 metros vê-se uma paisagem infinita de vales e montanhas forradas a xisto. É ali que se cruzam a Serra da Lousã e a Serra do Açor. Quem subir a um dos marcos geodésicos ao lado da Capela de Nossa Senhora das Necessidades terá a sensação de quase tocar o céu, observando um cenário ainda mais impactante na hora do pôr-do-sol. Pai e filho não escondem a admiração pela beleza do local, apesar de já lá terem ido inúmeras vezes. Francisco já levava o filho ali desde criança, e foi também ali que há 15 anos, então nos escuteiros, ele dormiu numa pequena casa de cimento no topo do monte. A vista abarca as pequenas luzes de Celorico da Beira, Mangualde, Viseu, Santa Comba Dão, Campo de Besteira, Tondela e Tábua. O regresso ao hotel, já quase de noite, faz-se com aquela imagem de imensidão e tranquilidade.

 

 

Piódão, «a aldeia presépio»

Escondida no meio da Serra do Açor, já no concelho de Arganil e a cerca de 50 minutos de carro do Aqua Village, a aldeia de Piódão é ponto incontornável de visita, nem que seja pelo facto de integrar a rede das 12 Aldeias Históricas de Portugal. À entrada estende-se um largo tomado pela arquitetura da Igreja Matriz, o único edifício, branco e azul, que parece destoar das escuras fachadas de alvenaria de xisto do restante casario. As casas foram construídas em socalcos, à medida do relevo da serra, e deram origem a ruas estreitas e sinuosas em que pontua apenas a cor azul nas portas e janelas. Por essa razão, Piódão é conhecida como a «aldeia presépio», uma classificação que ganha especial sentido quando admirada à noite. A população, paulatinamente mais envelhecida, convive como pode com as visitas turísticas, continuando alguma dela, no entanto, a encontrar nas atividades agrícolas e na pastorícia o seu modo de vida.

A Igreja Matriz da aldeia de Piódão é o único edifício que parece destoar na paisagem de xisto. (Fotografia de Maria João Gala/GI)

 

Fraga da Pena: piqueniques e cascatas

Um «acidente geológico associado a um conjunto de sucessivas quedas de água», assim é descrita, em linguagem mais técnica, a Fraga da Pena. Em linguagem corrente, pode descrever-se como um recanto natural de grande beleza, repleto de vegetação mediterrânica que lhe dá um ar bucólico e quase cinematográfico. O caminho até às cascatas (uma delas com 19 metros) por meio de trilhos de pedra e pontes de madeira torna-se escuro e húmido quando o sol se esconde atrás da serra, mas nem isso retira beleza à Reserva de Recreio da Fraga da Pena, integrada na Paisagem Protegida da Serra do Açor, também já no concelho de Arganil.

 

Hotel de luxo com águas termais

É a partir do Aqua Village Health Resort & Spa, na aldeia de Caldas de São Paulo (Oliveira do Hospital), que se parte à aventura no passeio de jipe. O hotel, sucessivamente premiado, abriu em 2016 tendo por base as qualidades das águas termais do rio Alva, ricas em enxofre e sílica, que saem de um poço a alta temperatura. O spa – com piscina termal hidrodinâmica, sauna, banho turco, duche de contraste e salas de tratamento interiores e exteriores – é, por isso, o principal trunfo do resort, mas o restaurante Roots, com cozinha portuguesa de autor, não lhe fica nada atrás. O alojamento faz-se em 39 apartamentos T1 e T2 totalmente funcionais – alguns com vista para o rio e outros com banheira de hidromassagem na varanda – e numa suíte presidencial com 200 metros quadrados. A sala de cinema, ginásio e espaço para conferências completam a oferta do Aqua Village.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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