Francesinhas e cerveja artesanal: Roteiro de uma portuense em Lisboa (Dia 1)

(Carlos Costa/GI)
Com uma personalidade inigualável, a capital portuguesa é grande, luminosa, diversa. Aqui há tradição e modernidade, muitos turistas e locais orgulhosos da tradição - do azulejo ao pastel de nata. Mas também há francesinhas. Esta é a primeira de uma reportagem de três partes.

Discutir, procurar, experimentar onde se comem as melhores francesinhas é passatempo favorito de muitos portuenses. E é coisa que, hoje, podem fazer mesmo fora do Porto. Desde os anos 1950, década em que a famosa sandes com molho picante foi criada e se tornou em prato de cervejaria, qualquer snack gosta de ter a sua. E se os portuenses têm gosto em a comer também têm em a divulgar por outras paragens. Foi exatamente isso que os irmãos António e Joaquim Valente fizeram.

Há 15 anos, abriram o despretensioso DOM TACHO, que se tornou um dos espaços favoritos dos lisboetas para comer a especialidade. E não só. “Acontece muitas pessoas do Porto estarem cá de férias e virem experimentar a nossa francesinha”, diz António. “O mais difícil e o que nos dá mais gozo é quando vêm cá pessoas que sabem o que é uma francesinha a sério. Há pessoas que vêm do norte de propósito experimentar”, conta.

Os irmãos não são novatos na capital. Para lá foram estudar nos anos 60 e 70 e depois de uma vida ligada a outros afazeres, juntaram-se para abrir este Dom Tacho. António já fazia francesinhas em casa até porque em Lisboa, naquela altura, não havia praticamente francesinhas. Joaquim tem receita para quatro molhos diferentes, mas aqui serve-se um mais ou menos picante, ao gosto de freguês. No recheio, não falta nada: bife, salsicha, linguiça e mortadela compõem a sandes finalizada com queijo e molho, claro está. O espaço tem outras especialidades da Invicta, como a bifana, que não é uma “fêvera no pão”, como no sul.

 

É mais ou menos consensual que a cerveja é a melhor parceira da francesinha. Por isso, o Dom Tacho tem uma vasta oferta de cervejas entre portuguesas e estrangeiras. E como depois de beber uma, pode apetecer beber outra, portuense amante da bebida que ande a vaguear por Lisboa, pode continuar a beber na CERVETECA, a primeira loja e bar da capital dedicado exclusivamente à cerveja artesanal. Abriu um pouco antes do Catraio, o primeiro bar do género do Porto, e com o mesmo intuito: mostrar e divulgar as cervejas artesanais, cuja produção começava a crescer em Portugal.

 

Foi em 2014 que abriu portas e, quem estiver atento percebe para o que vem. Ao lado do balcão um aviso na parede: não temos cerveja normal. “Uma brincadeira”, diz Rui Matias, o proprietário, pois “as cervejas são todas normais”. A provocação quer fazer com que as as pessoas saiam da sua “zona de conforto”. Rui Matias nasceu em Proença-a-Nova e passou por várias cidades antes de assentar na capital. Foi em Barcelona, onde viveu de 2009 a 2011, época em que a cerveja artesanal estava “a rebentar na Catalunha”, que se começou a entusiasmar pelo assunto como consumidor, mas também como produtor caseiro. Em Portugal, a revolução artesanal “começou a medo” diz, “ninguém se atrevia a fazer uma IPA forte”. Quando voltou, veio viver para Lisboa porque a namorada, agora mulher, vivia aqui. Rui começou a fazer alguns workshops e a conhecer gente e trouxe muitos contactos de fora.

 

Talvez tenha sido o facto de não conhecer bem a cidade que fez com que encontrasse o espaço ideal para montar o bar. Numa caminhada do Rato ao Cais do Sodré, passando pelo Príncipe Real, acabou por descer até à discreta Praça das Flores, onde encontrou para alugar estes 30 metros quadrados. Por aqui, passam, obviamente muitos turistas, mas não é deles que a Cerveteca vive. Bem pelo contrário. “O turismo é sempre interessante, ajuda muito no verão”. Mas no resto do ano, são os portugueses que enchem a casa. “Queremos ser, primeiro, um bar de bairro e promover a cultura de beber uma cerveja depois do trabalho”, admite Rui. Além da variedade de cervejas à pressão, o bar tem dois hand pumps – um sistema antigo de tirar cerveja, uma bomba manual, em que cada movimento puxa a cerveja. Porque proporciona uma cremosidade diferente, ales e stouts são as cervejas que normalmente estão aqui engatadas.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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