Roteiro por Aveiro do passado

Maria José Curado acabou de lançar um livro que é uma espécie de visita guiada pelo passado que moldou o presente de Aveiro. (Fotografia: Maria João Gala /GI)
Maria José Curado é uma arquiteta paisagista que estuda as raízes da urbe para dar a conhecer como ela evoluiu desde o passado até hoje.

Duas ruas paralelas desenhadas em frente à escola primária que frequentou em criança intrigaram de tal modo Maria José Curado, que a arquiteta paisagista se lançou numa investigação pelos meandros da evolução urbana da cidade onde cresceu. É natural da Figueira da Foz, mas foi em Aveiro que sempre viveu e vive. «Fui estudar para Lisboa em 1987, mas depois regressei e estive 10 anos a trabalhar na Universidade de Aveiro», conta. Hoje divide o seu tempo entre o Porto, onde dá aulas – é professora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto há mais de 15 anos, nos cursos de Arquitetura Paisagista – e a cidade que a apaixona.

«Eu dou aulas ao nível do ordenamento do território e urbanismo e sempre estudei com os meus alunos a cidade de Aveiro. Ao longo dos anos fui também eu estudando um pouco mais, ficando mais curiosa com algumas coisas que aconteciam na cidade e que eu não percebia. E portanto fui recolhendo imensa informação», explica Maria José.

Maria José Curado na Casa de Chá – Museu de Arte Nova (Fotografia: Maria João Gala/GI)

Ao longo dessa compilação deu de caras com algo que lhe despertou o interesse. «Há um conjunto de duas ruas paralelas que surgem na cartografia mais antiga do século XVIII e que sempre me intrigaram muito, porque apareciam no meio de um vazio, ali na zona da Beira-Mar», revela. «É uma história muito interessante do ponto de vista urbanístico, porque essas duas ruas desenhadas no século XVI são depois o que vai definir o traçado da cidade no século XX».

Na altura em que brincava no recreio da escola estava ainda longe de imaginar que viria a publicar um livro motivado, em grande parte, por aquelas duas ruas, tão diferentes do desenho medieval que marcava a traça urbana da vila.

Ao fim de dois anos em preparação, em outubro de 2019, Maria José lançou a obra Evolução Urbana de Aveiro: Espaços e Bairros com origem entre os séculos XV e XIX , uma espécie de visita guiada pelo passado que moldou o presente daquela cidade, ilustrado com fotografias antigas e recentes e cartografias, para que se consiga identificar mais facilmente os espaços à luz dos dias de hoje.

«Quando conversava com as pessoas percebi que muitas deles não conheciam uma parte muito significativa de história de Aveiro, a existência de uma muralha, de um aqueduto, etc. Pareceu-me que havia aqui um hiato na comunicação e que era interessante fazer uma coisa relativamente simples, sintética e ilustrada, e foi isso que me dediquei a fazer», assume a autora, que admite haver ainda muito para investigar.

 

O ROTEIRO DE AFETOS

01 | Casa de Chá – Museu de Arte Nova
Além do Museu de Arte Nova, a Casa Major Pessoa, um edifício emblemático construído em 1909 ao estilo de Arte Nova, com uma bela fachada coberta de ornamentos de inspiração floral, alberga também uma convidativa Casa de Chá. Está instalada no rés-do-chão e tem uma lista com mais de uma centena de variedades de chás e infusões que aconchegam, em parelha com um dos doces gulosos que recheiam a montra (sugere-se o bolo de chocolate). Um casamento para desfrutar na sala interior forrada com coloridos painéis de azulejos do artista aveirense Licínio Pinto, ou no agradável pátio exterior com passagem para a Praça do Peixe. «É um edifício lindíssimo, uma das imagens de marca de Aveiro, e uma boa porta de entrada para a cidade» assume Maria José.

 

02 | Rua Direita

Rua Direita (Fotografia: Maria João Gala/GI)

«Acredita-se que a antiga muralha da vila teria nove portas e esta seria uma das principais, a Porta da Ribeira», conta Maria José, ao subir pela Rua Direita, como é conhecida pelos locais, ainda que agora seja chamada Rua de Coimbra. Este troço une-se mais à frente à Rua dos Combatentes da Grande Guerra e é povoada de permeio, por pedaços da história. Na Praça da República, ergue-se o edifício da Câmara Municipal, datado do século XVIII, e de frente, o edifício Fernando Távora «foi construído nos anos 1960, onde antes estava outra construção que tinha sido o Paço Episcopal de Aveiro», explica a autora. O Teatro Aveirense e a Igreja da Misericórdia ocupam as laterais, cada um de seu lado. No topo da rua abre-se a Praça Marquês do Pombal, em frente ao edifício do Governo Civil, ladeado pelo antigo Convento das Carmelitas, que foi cortado a meio para ali se abrir a praça no início do século XX. O percurso termina numa outra abertura da antiga muralha, a Porta da Vila, que dá passagem ao que agora se conhece por Avenida Santa Joana.

 

03 | Museu de Aveiro / Santa Joana
A história do antigo Convento de Jesus e de Aveiro, está intimamente ligada à da Princesa Santa Joana, filha de Afonso V, que ali se foi instalar em 1472. «Quando a Infanta D. Joana vem para o Convento de Jesus, a partir daí a vila de Aveiro teve muitas regalias, porque a filha do rei estava cá», conta Maria José. Em 1911, o edifício passou a albergar o Museu de Aveiro, também conhecido como Museu de Santa Joana, onde está o túmulo da princesa, uma obra prima do barroco. Também a Igreja de Jesus é de admirar, com a sua sumptuosa talha dourada, mas nem por isso ofusca outros tesouros menos conhecidos do museu. É o caso do antigo claustro, datado de finais do século XV. O coração do convento, e um lugar cheio de simbolismo. No piso superior, o coro alto dá passagem às capelas devocionais, entre elas a dedicada à Senhora do Rosário, que prima por uma simplicidade encantadora.

Museu de Aveiro / Santa Joana (Fotografia: Maria João Gala/GI)

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