Crónica de Nuno Cardoso: meu querido mês de agosto

Fotografia: Pexels/DR
Longe vão os verões vividos nos despreocupados ares da aldeia. Mas, para mim, agosto será sempre o mês da liberdade.

É em abril que a celebramos e gritamos, de cravo na mão, mas desde cedo que encaro agosto como sendo, por excelência, o mês da liberdade. O oitavo mês é a definição de dias quentes, que ganham pernas longas de modelo e se tornam maiores. É sinónimo de sal na pele e de não olhar para os ponteiros do relógio. Mas também de fugas de rotinas e distrações citadinas, de idas para casas de campo para alguns, e de regressos a casa para os que escolheram viver lá fora. É, por isso mesmo, um mês de abraços e afetos, ainda que limitados, naturalmente, pelo atual quadro pandémico. Uma coisa é certa. Meu querido mês de agosto, mesmo contido, serás sempre querido.

Nas gavetas das memórias, o mês que agora começou leva-me sempre para a liberdade do campo. Longe vão os tempos escolares, as férias que pareciam nunca mais acabar – e mesmo assim sabiam sempre a pouco – e os longos verões passados entre duas pequenas aldeias beirãs e vizinhas, nos arredores de Castelo Branco, ora em casa de uns avós, ora de outros.

Nas gavetas das memórias, o mês que agora começou leva-me sempre para a liberdade do campo

Agosto terá sempre cheiro de pinhal, de sardinhadas ao ar livre, de pão acabado de cozer no forno comunitário, dos ovos frescos vindos da capoeira, das alfaces, hortaliças e tomates apanhados na horta, entre pausas de mergulhos em praias fluviais. Sem esquecer o sabor da jeropiga caseira que os mais novos acabavam por provar, quando se enfiavam, armados em gente adulta, na adega, onde se reuniam os mais velhos ao final da tarde. Agosto tem também cheiro a algodão-doce, devorado nos dedos carregados de açúcar, pelas festas populares das aldeias em redor, em noites longas ritmadas com concertos de música popular e o desenrolar de rifas, mesmo nunca saindo aquele prémio nas bancas que realmente eu queria.

Hoje, a meio dos meus trintas, continuo a sentir a liberdade do mês que marca o meio do verão. Mas de outra forma. Menos inocente, romântica e nostálgica. Mais prática. Agosto é também a liberdade de viver e sentir uma Lisboa um pouco mais espaçosa, com menos trânsito nas estradas, menos barulho e transportes públicos mais arejados. Especialmente este ano, com o turismo coxo no centro da capital. É uma das razões pelas quais raramente tiro férias em agosto.




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