Crítica de Fernando Melo: Petisco Saloio, em Lisboa

A proximidade da capital tem em si incrustada a excelência rústica e autêntica que português algum dispensa. Bem no centro de Lisboa, o Petisco Saloio permanece, apesar dos ventos contrários e difíceis impostos pelos tempos que vivemos. A visitar e consumir sem moderação.

Diogo Meneses tem 28 anos e é de Torres Vedras, Carlos Pinheiro, 27, e é de Sintra. Duas das raízes mais saloias que se pode ter, conheceram-se a trabalhar juntos em cozinhas de alto gabarito, primeiro na matricial Fortaleza do Guincho, em Cascais, depois no sofisticado Penha Longa, em Sintra. A abertura do Petisco Saloio junto à praça de touros do Campo Pequeno em Maio de 2018 foi uma decisão conjunta plenamente assumida de regresso ao básico, num modelo cheio de futuro. Uma tasca daquelas em que tudo o que se come é feito ali, e em que são os próprios que processam e servem diretamente tudo. Casa acatitada a que em boa hora anexaram uma pequena esplanada à entrada, o êxito foi quase instantâneo pela autenticidade da comida e pela riqueza da refeição.

Sentados à mesa com bom pão (2,20 euros) de trigo e milho cozido em forno de lenha, manteiga com paprica fumada, alho e coentros (1,60 euros) e azeitonas marinadas com cominhos e laranja (1,80 euros) Diogo Meneses vem ter connosco e estabelece a empreitada, a casa pratica um menu do dia a preços francamente módicos e que regra geral satisfazem o passante e quem tem pouco tempo para atascar. Não é felizmente o caso e optamos por atascar.

Vêm dois croquetes de alheira com puré de maçã assada (1,60 cada), fritura que permite o manuseamento seco, irrepreensível, a base de maçã a servir também de contraponto ao bolinho. Vem quase em simultâneo o sempre bem-vindo queijo de vaca gratinado com orégãos (3.90 euros), ajuda muito ter cozinheiros assim a servir-nos. Maravilhoso e inesperado xerém de camarão (10,20 euros), do receituário ribeirinho, à maneira do pescador, caldo rico a produzir a ligação do xerém, o marisco a merecer cozedura e textura exemplares, foi o prato da noite. Inesquecível a salada de bacalhau com ovo escalfado a baixa temperatura e puré de pimento grelhado (8,90 euros), a namorar a alta cozinha onde medraram estes dois génios de bem receber.

A bochecha de porco estufada (9,50 euros) e o arroz de enchidos no forno (4,60 euros) são propostos na mesma empreitada, à laia de prato e acompanhamento mas há glória na exploração diferida, todos sabemos que a bochecha é copiosa e aqui merecia talvez brilhar por si, mas isso é fácil de dizer depois de se ter aspirado vorazmente o fantástico arroz de forno; que delícia. A terminação doce aconteceu com o bolo de chocolate cremoso, gelado de limão e granizado de frutos vermelhos (5,70 euros), sensação de felicidade e harmonia, graças ao labor incessante e oficiante de Carlos Pinheiro, que continua cozinheiro de truz. Claro que juramos voltar todos os dias, assim os tempos e o modo permitam.

A refeição ideal:
Queijo gratinado (3,90 euros)
Croquetes de alheira (1,60 euros
Ovos rotos com farinheira (6,90 euros)
Choco frito crocante (6,90 euros)
Xerém de camarão (10,29 euros)
Bochechas de porco (9,50 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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