«A arte urbana pode provocar mudanças sociais»

Barry Cawston: «A arte urbana pode provocar mudanças sociais»
O fotógrafo britânico Barry Cawston passou pela Alfândega do Porto para apresentar a sua exposição dedicada às obras de Banksy, o polémico artista de rua cuja identidade continua a ser um mistério. «Dismaland and Others» mostra imagens do projeto Dismaland, parque temático satírico e grotesco que o artista montou.

O que o atrai na obra e no estilo de Banksy?
O facto dele ser um pouco anárquico e pouco convencional, mas também o trabalho em si. Tem peças maravilhosas, obras de arte impressionantes. Gosto do facto de ele ser um não-conformista e de fazer coisas que desafiam o status quo. Nunca sabemos que ele vai fazer a seguir e isso é emocionante.

Interessa-se por arte urbana em geral?
Sim, muito. Mesmo antes de Banksy, durante os anos 1980, andei muito por Paris e vi muita arte urbana espetacular. Hoje é ainda mais incrível. Evoluiu para ser também instalação e escultura. A arte urbana já não está só nas paredes, é muito mais dinâmica.

A arte de rua pode de alguma forma estimular as pessoas?
Muito. A arte urbana está em todo o lado, de alguma forma está viva e pode ser importante para um indivíduo que, por exemplo, se sentiria intimidado a entrar numa galeria de arte. Mas não só. A Dismaland, instalada no Parque Tropicana, que estava abandonado, trouxe muito dinheiro à cidade de Weston-super-Mare porque desde aí que turismo não parou de crescer. E o dinheiro está a ser utilizado para ajudar a reabilitar aquela zona costeira. Por isso, pode provocar mudanças culturais e sociais, tal como individuais.

(Fotografia de Leonel de Castro/GI)

Muito do seu trabalho passa também por fotografar ruínas, edifícios abandonados, industriais…
A atração por tijolo e argamassa é uma coisa muito britânica. Remete para uma ideia icónica de lar. Tive a sorte de fazer campanhas para registar património inglês. Enviaram-me pelo país para fotografar igrejas, moinhos de água, minas de carvão da era industrial… elementos que transportam com eles algo de poético. É um assunto interessante.

O Barry também estudou Sociologia. Isso reflete-se no seu trabalho?
Espero que sim! Um dos meus professores foi Zygmunt Bauman, sociólogo muito conhecido também com paixão pela fotografia. Numa das suas exposições, vi algumas das ideias de que fala nos livros manifestar-se nas fotografias. Isso é fantástico. Em 1988, fui à Índia e percebi que não conseguia exprimir muita coisa verbalmente ou através da escrita, mas era capaz de me exprimir através das imagens. De alguma forma, isso levou-me a fazer carreira na fotografia. Podemos encontrar nas fotografias metáforas para exprimir coisas mais vastas.

Conhece a arte urbana que se faz em Portugal?
Não muito. Passeei um pouco pelo Porto ontem à noite e já vi coisas muito inspiradoras e sobre as quais quero saber mais. Por isso, vou voltar com mais tempo. Em breve, vou a Lisboa, onde, ouvi dizer, há coisas muito interessantes.

 

Exposição para ver até ao final de março

A exposição Banksy’s – Dismaland and Others, fotografias de Barry Cawston, pode ser visitada até dia 31 de março na Alfândega do Porto (das 10h00 às 19h00, exepto à terça, com bilhete a 11 euros, metade para crianças até aos 11 anos e grátis até aos 4). A seguir, a mostra ruma para Lisboa.

 

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