Belo todo o ano, mas especialmente apetecível quando o tempo começar a pedir um abrigo na sombra e frescura de uma densa folhagem, o jardim centenário da QUINTA CHÃO DE SÃO FRANCISCO é um dos muitos recantos pitorescos desta propriedade vinhateira onde os visitantes e hóspedes podem dedicar-se ao ócio. Integra a Rota dos Jardins Históricos de Portugal, e nele convivem espécies exóticas, como o cedro do Líbano, e endémicas, como o imponente teixo, numa mancha verde que envolve em serenidade e recato quem ali vai dar um passeio, mergulhar no tanque de granito, folhear um livro ou saborear um copo do néctar das vinhas em redor.

Quinta Chão de São Francisco (Fotografia de Maria João Gala)
- Sónia Marques e José Luís, da Quinta Chão de São Francisco (Fotografia de Maria João Gala)
- Quinta Chão de São Francisco (Fotografia de Maria João Gala)
O jardim e o tanque já lá estavam quando Horácio Marques comprou a quinta oitocentista, na década de 1990, com o sonho de ali produzir vinho. E embora os antigos lagares de pedra denunciassem um passado vitivinícola, há muito que as vinhas se haviam perdido no tempo. “Existiam avelãs. Os 8,5 hectares de vinha que temos hoje foi toda plantada pelo meu pai, com as castas de eleição dele”, informa Sónia Marques, que juntamente com o marido José Luís assumiu o projeto de família, com uma estratégia de negócio focada na sustentabilidade, mas também na tradição e na história. Há pouco mais de um ano, reforçou a vertente de enoturismo, recuperando o antigo edifício onde viviam os trabalhadores da quinta, para albergar quatro suítes – uma delas duplex, e outra com lareira e banheira, perfeita para uma escapadinha romântica – e um apartamento com dois quartos e cozinha completa. O conforto é a regra em todas as unidades, aliado a um charme rústico, conseguido pela conjugação das paredes em pedra e das vigas em madeira com mobiliário da família.

Quinta Chão de São Francisco (Fotografia de Maria João Gala)

Quinta Chão de São Francisco (Fotografia de Maria João Gala)
Uma nova piscina veio completar essa lista de recantos de sossego, junto a um relvado soalheiro, e a um terraço com vista elevada sobre as vinhas, a adega ao fundo, com o seu bonito mural de arte urbana assinado pela artista Tamara Alves, e a Serra da Estrela no horizonte. No verão, é este o lugar de eleição para provas, almoços e piqueniques. Mas para já, o frio ainda impele ao recolhimento, e a lareira acesa na sala de provas permite conhecer o portfólio da casa com todo o conforto.
Das vinhas que Horácio plantou, e sob a orientação enológica de Bruno Simões, nascem monocastas e blends de Encruzado, Malvasia Fina, Tinta Roriz, Jaen “e o vinho que o meu pai mais adorava, que é o Touriga Nacional”, salienta Sónia. Ali, as provas são sempre acompanhadas por uma tábua de queijos e enchidos, porque “o vinho do Dão exige comida para ser potenciado”, defende a anfitriã. Premissa comprovada pelo Chão da Quinta Encruzado 2019 – parte do lote estagia dois anos em barrica de carvalho francês -, um branco com estrutura, que se transforma quando se lhe junta na boca um pedaço de queijo.

Quinta Chão de São Francisco (Fotografia de Maria João Gala)
Quando começou a vinificar na Quinta Chão de São Francisco, Horácio recuperou também as vinhas que herdou do avô, em Vouzela, na região de Lafões, onde passou a sua infância, e ganhou a paixão pela viticultura. “São vinhos muito difíceis de fazer, mas quando o temos é realmente uma coisa muito especial. São 13 castas numa garrafa”, realça Sónia. “É isso que dá complexidade ao nosso Vinhas Velhas de Lafões”.
Vinhos especiais e gastronómicos são também os critérios para integrar a carta dinâmica do restaurante FLORA, uma nova adição à cena gastronómica de Viseu, instalado a dois passos da Sé, numas dessas ruas empedradas do centro histórico. O projeto é assinado por Anna Ortner e João Ferreira, regressados de Londres em 2020, decididos a trazer algo de novo à cidade: uma cozinha contemporânea focada no produto sazonal e uma seleção de vinhos de mínima intervenção e pequenos produtores, que possam dar a conhecer a quem os visita. “Não temos uma ementa, fazemos só menu de degustação e é sempre uma surpresa para quem vem comer”, avisa o chef João.

Sé de Viseu (Fotografia de Maria João Gala)

Anna Ortner e João Ferreira, do Flora (Fotografia de Maria João Gala)
Todas as semanas há novidades, e a cada mês e meio, o menu (de seis ou oito momentos) muda completamente, consoante a evolução da matéria-prima disponível. “Não vamos usar os espargos da mesma maneira de início ao fim da sua época, a criatividade vem muito do que é que o produto nos traz e o que podemos fazer com ele”, explica o cozinheiro
O Atinado 2022, um encruzado com leve maceração pelicular e fermentação em castanho, não filtrado, revelou-se uma parelha à altura do desfile de pratos em vigor aquando da visita da Evasões. O menu foi inaugurado por um pão de fermentação lenta ainda morno e manteiga caseira, cremosa e de ligeira acidez; e uma tartelete de berbigão com creme de pinhão e chipotle, levemente picante. Sobressaiu ainda o brioche com chutney de figo, parfait de cogumelos e pickles de uva, coroado com lâminas de cogumelos e pó de alho francês tostado (feito com as folhas verdes, normalmente descartadas), um prato exemplar da política de mínimo desperdício do restaurante. “Quando há algum produto em muita quantidade, conservamos e depois utilizamos no resto do ano, em chutneys e fermentados”, informa João.
- Flora (Fotografia de Maria João Gala)
- Flora (Fotografia de Maria João Gala)

Flora (Fotografia de Maria João Gala)
Em homenagem às típicas papas de carolo, o chef fez também chegar à mesa uma versão feita com milho paínço fermentado e cozinhado num caldo feito com as cascas e cabeças de gamba rosa, que remata o prato, ligeiramente corada. Para finalizar, o diospiro com gelado de iogurte de ovelha, crumble de pistáchio e chocolate branco ofereceu a dose ideal de doçura para retemperar os ânimos e meter pés ao caminho para continuar a descobrir o que Viseu tem de novo para mostrar.
Pão artesanal e uma mercearia bio
Caminhando pela cidade, dificilmente passará despercebida a montra da RÚSTICA, uma pequena padaria de paredes em pedra, onde cabe um balcão, os tabuleiros cheios de bolos, as prateleiras com o pão artesanal, e os sacos de farinhas Paulino Horta, amontoados junto à vitrine. Entrar ali logo de manhãzinha permite assistir a toda a labuta do fabrico: pesam-se os ingredientes, preparam-se as massas, entram e saem fornadas de pão e doces variados. Tudo de fermentação lenta, à exceção de alguns pastéis, como os viriatos, cuja massa, por levar creme e ser mais pesada, “não reage tão bem à massa-mãe”, justifica Luís Almeida, fundador da casa e proprietário de vários restaurantes na cidade. Foi, aliás, num desses outros espaços, nomeadamente o Palace – Petiscos e Vinhos, que a Rústica começou a ganhar forma.

Luís Almeida, da Rústica (Fotografia de Maria João Gala)

Flora (Fotografia de Maria João Gala)
“Nós fazemos o nosso pão lá no restaurante e começamos a ter clientes que pediam, então decidimos abrir uma padaria”, explica o responsável. Entre os ex-libris da casa estão já o pão de batata doce, as babkas de canela (um bolo de massa brioche entrançado), os croissants franceses e os pães de leite. A quem apetecer um snack salgado, há sempre empadas de frango ou cogumelos, e à quarta-feira e ao sábado, faz-se pão sem glúten.
A poucos minutos dali, e com o Teatro Viriato a convidar a um desvio cultural pelo caminho, encontramos mais um recente reforço do comércio local: a mercearia e cafetaria HALF ARROBA. Motivados pela convicção de faltar em Viseu um espaço “mais ligado à sustentabilidade”, Luísa Sousa e Miguel Amaral acharam por bem arriscar e apostar na diferença. “Tentamos que seja tudo biológico, e tentamos trazer coisas que não há em grandes superfícies”, diz Miguel. O que significa que entre a mercearia a granel, os produtos alimentares embalados, e os produtos de higiene e cosmética natural, também há espaço para pequenos projetos locais, como os sabonetes da Amor Luso e os acessórios feitos à mão da Vinco Atelier.

Half Arroba (Fotografia de Maria João Gala)
Numa pausa das compras, para recarregar energias, a cafetaria da Half Arroba serve refeições 100% vegetais. Durante todo o dia preparam hambúrgueres, saladas, panquecas e café de especialidade para acompanhar. “Temos uma filosofia de equilíbrio e queremos fornecer uma alternativa, para que mesmo quem não faz uma alimentação de base vegetal possa ter uma alimentação equilibrada, sem extremismos”, explica Miguel. Ali, há lugar para todos.
Artes em sinergia
No EMINENTE também se celebra a pluralidade, num espaço multifacetado que é muito mais do que aparenta ser. Quem vai à descoberta, encontra primeiro uma galeria de arte, depois um estúdio de tatuagem, e ao fundo um ateliê de cerâmica, onde todos são convidados a meter as mãos no barro, em oficinas regulares.

Fernando Oliveira, do Eminente (Fotografia de Maria João Gala)

Eminente (Fotografia de Maria João Gala)

Eminente (Fotografia de Maria João Gala)
Comecemos então pelo início. O Eminente foi idealizado por Francisco Costa, que já quando tinha o seu estúdio de tatuagem junto à Sé, começou a pensar no potencial de integrar outras variantes artísticas num só lugar. “Criamos aqui uma fusão de três mundos num único espaço, e uns alavancam os outros”, resume Fernando Oliveira, que assume a direção criativa do projeto. “Neste momento estamos com uma exposição coletiva de cerâmica, com nove ceramistas, todos eles cá da terra”, apresenta o curador. Quem vai pelos corações da Liliana Velho ou pelas peças orgânicas de Geraldine de Lemos, que integram a exposição Terrae – “uma celebração da terra, da criatividade e da conexão humana” -, não tem como não reparar no estúdio de tatuagem (que funciona também como coworking), e quem ali vai para gravar arte na pele – especialmente pelos trabalhos de fine line e micro realismo – atravessa, inevitavelmente, a exposição. Os mais curiosos encontram alimento para a mente no cantinho de leitura, apetrechado de livros das mais diversas áreas: música, filosofia, psicologia… E em querendo aprofundar o contacto com a arte, poderão participar nos workshops e masterclasses de tatuagem, ou nas oficinas temáticas de cerâmica e de roda de oleiro orientadas pela artista Alena Matisova. Também há sessões para crianças e no dia 14 de fevereiro há uma atividade especial que junta cerâmica e vinho. Como não ser feliz em Viseu?
Conforto e silêncio no centro da cidade
Apesar de estar instalado junto a uma das avenidas mais movimentadas da cidade, ao entrar no VISEU EXECUTIVE HOTEL, a azáfama e o ruído do exterior ficam para trás, e nada impede o descanso. A unidade – inaugurada há menos de um ano – ocupa um antigo palacete dos anos 1920, que chegou a ser sede de um jornal regional, e estende-se a uma ala de construção mais recente, albergando 21 quartos confortáveis e funcionais. Todos com uma decoração sóbria e elegante, forte em madeiras claras, e agraciada com algumas paredes em pedra, conservadas na parte antiga do edifício. Marcadamente direcionado para um segmento mais executivo (como denuncia o nome), e por isso equipado com sala de reuniões e eventos, não falta a este hotel comodidades para quem visita a cidade em lazer – há uma piscina exterior, e bicicletas elétricas disponibilizadas gratuitamente aos hóspedes, para que possam explorar o centro histórico, ou passear no vizinho Parque do Fontelo. O Viseu Executive Hotel partilha a direção com o Grande Hotel Thermas, em São Pedro do Sul – a girafa gigante à entrada evoca desde logo esta ligação -, e a ideia é criar sinergias entre as duas unidades, nomeadamente ofertas especiais para os hóspedes que queiram ficar em ambas.

Viseu Executive Hotel (Fotografia de Maria João Gala)

Viseu Executive Hotel (Fotografia de Maria João Gala)
Quinta Chão de São Francisco
São João de Lourosa, Viseu
Tel.: 932554200
Web: chaodesaofrancisco.pt
Suítes a partir de 120 euros por noite
Provas desde 25 euros
Flora
Rua Grão Vasco, 21, Viseu
Tel.: 232104683
Web: florarestaurante.pt
De quarta a sexta das 19h às 23h. Sábado das 13h às 15h e das 19h às 23h.
Preço: 45 euros/65 euros (6 momentos/8 momentos)
Viseu Executive Hotel
Avenida José Relvas, 7, Viseu
Tel.: 967479499
Web: instagram.com/viseuexecutivehotel
Quartos a partir de 80 euros por noite
Rústica
Avenida Capitão Silva Pereira, 161, Viseu
Tel.: 232415433
Das 8h30 às 19h. Encerra ao domingo.
Half Arroba
Avenida Emídio Navarro, 34, Viseu
Tel.: 968130590
Web: halfarroba.com
Das 10h às 19h. Encerra ao domingo.
Eminente
Rua Quinta d’el Rei, 252, Loja 4, Viseu
Tel.: 961156415
Web: instagram.com/eminente_tattooegaleria
Das 10h às 13h e das 14h30 às 18h30. Encerra ao domingo.