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Viagem pelo Cávado: de Esposende a Montalegre

Vista sobre a albufeira de Salamonde, Montalegre. (Fotografia: Artur Machado/GI)

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Pelo caminho, o “rio de batalha”, Cadavos, como lhe chamavam os Celtas, vai recebendo a companhia dos rios Rabagão, Homem, Cabril, Caldo, Labriosca, Saltadouro e Tamel, correndo sereno entre serras e campos verdes do Minho. Atravessa cidades e vilas, escorrendo sob pontes centenárias e sobre açudes discretos. Convida a banhos e atividades aquáticas, faz de cenário pitoresco a janelas e esplanadas e serve ainda de abrigo a aves fugidias dos invernos rigorosos do norte da Europa, num último sopro, antes de se lançar ao mar. Ao redor das suas águas calmas brotam negócios e projetos que reavivam as terras e preservam as tradições, e é no seu encalço que começamos esta viagem. De trás para a frente, rio acima, pelas margens férteis do Cávado.

 

Comer, dormir e passear em Esposende, à boleia do rio Cávado

Depois de uma longa viagem, o rio Cávado não parece ter pressa de chegar ao mar. Demora-se ainda, espreguiçando-se em paralelo com o oceano, do outro lado de um braço de areia que convida a um passeio sem pressas.

# Parque Natural do Litoral Norte

Mergulho na natureza e na história

O estuário do Cávado proporciona belas paisagens em qualquer altura do dia, mas ganha especial encanto sob a luz dourada do crepúsculo. A zona protegida do Parque Natural do Litoral Norte estende-se ao longo 16 quilómetros de costa, desde a foz do rio Neiva até à Apúlia, e oferece muitos destes quadros maravilhosos. Para os contemplar existem vários percursos sinalizados, que vão desde o cordão de dunas costeiras, aos sapais e lagoas mais interiores.

O trilho “Entre o Cávado e o Atlân­tico”, com início junto ao Clube Náutico de Fão, segue junto à margem do rio, em passadiços de madeira que se prolongam até à foz. Pelo caminho, vários postos de observação convidam a uma paragem, preferencialmente munida de binóculos, para ver as muitas espécies de aves – mais de uma centena – que procuram o estuário como refúgio de inverno ou lugar de descanso durante as migrações.

Estuário do Cávado (Fotografia: Artur Machado/GI)

No final do passadiço, já sobre as dunas que separam o rio do oceano, o miradouro da restinga do Cávado deixa ver os dois lados da península. De um ou de outro, os amantes dos desportos aquáticos encontram as condições ideais para a prática de surf, windsurf, e também SUP, kayak, canoagem e wind foil, atividades disponibilizadas no verão por empresas como a GKS (Go Kite School), a Kook Proof ou a ProRiver. Esta última proporciona ainda um passeio fluvial único, a bordo de uma réplica da antiga Barca de Passagem, utilizada na travessia dos peregrinos a caminho de Santiago de Compostela, um dos maiores símbolos da história local ligada ao rio.

 

# Sense Of Ofir

Um refúgio sobre a água

Este hotel boutique não poderia ter uma localização mais privilegiada, e terá sido isso mesmo a conquistar Alex Grandemange, quando encontrou à venda uma casa devoluta que quase parecia flutuar sobre o Cávado. Vinha a Esposende com frequência, atraído pelo kitesurf, uma paixão que levou até o francês a abrir uma escola de desportos aquáticos na Austrália, onde viveu mais de uma década. A vontade de regressar à Europa trouxe-o para este recanto abundante em “ondas, vento e água parada”, para criar algo especial. O Sense of Ofir, inaugurado no verão de 2020, é um pequeno alojamento, com sete quartos minimalistas e de design contemporâneo, onde tudo, do mobiliário aos materiais usados no restauro, é proveniente de marcas e fornecedores europeus – entre eles portugueses -, selecionados pessoalmente por Alex. Tem áreas comuns luminosas, interiores que aconchegam da nortada, piscina, um terraço aberto para o rio e um relvado para estender os tapetes de ioga. Existe ainda um centro desportivo, onde Alex dá aulas de kitesurf, surf e SUP. “Aqui pode praticar-se desportos todo o ano”, assegura. Quem quiser lançar-se numa prancha e deslizar sobre as águas calmas do estuário, encontra um pequeno portão no jardim que dá acesso direto ao rio.

Sense of Ofir (Fotografia: Artur Machado/GI)

Para recarregar baterias, no restaurante do hotel, a cargo do chef André Carvalho e do subchefe Gonçalo Calisto, é servido um menu surpresa todas as noites. “Dá-nos mais liberdade. Não ficamos presos a uma carta”, justifica o chef. A cozinha portuguesa, com influências orientais, está na base da seleção diária de pratos. À mesa, já chegaram percebes e polvo assado, peito de pato salgado, fumado e cozinhado a baixa temperatura, e uma deliciosa rabanada com gelado de citronela e molho toffee, já com sabor a Natal.

Sense of Ofir (Fotografia: Artur Machado/GI)

 

# River Windows

Uma janela para o rio

Nuno Borda e a tia, Maria José, são os responsáveis pela transformação da antiga casa da família, construída no século XIX, num alojamento acolhedor de janelas abertas para o rio, no centro de Fão. É, aliás, esta qualidade que lhe dá o nome, mas não é o único atributo da casa. Dos mais de cem anos de história da propriedade, onde chegou a morar o médico e o farmacêutico da vila, ficou a traça original, preservada nas duas grandes renovações, primeiro nos anos 1990 e depois em 2016. As intervenções trouxeram mais conforto, com a instalação de uma salamandra e várias clarabóias que enchem a casa de luz natural. Os três quartos – um deles suíte – e os restantes interiores conjugam linhas modernas com mobiliário de época, como a mesa de jantar e a cama que pertenceu à bisavó de Maria José, ou o antigo forno a lenha, hoje apenas com funções decorativas. Há ainda bicicletas para os hóspedes desfrutarem da ciclovia ribeirinha.

 

# Dolce Sapore

Itália e Portugal à mesa

A fermentação lenta e um processo de maturação em frio ainda mais demorado – 72 horas -, tornam a massa fina, ao estilo napolitano, do Dolce Sapore, ainda mais leve e crocante. O chef e pizaiolo Marinho Sousa não faz por menos, e põe ao serviço a experiência de 25 anos em cozinha italiana. Uma das estrelas da casa é a piza Dolce Sapore D’Ouro, inspirada nos ingredientes favoritos da mulher, Teresa. Leva maçã, speck, mel, nozes, mozarela, burrata e folha de ouro. Além das pizas clássicas e da seleção criativa do chef, a carta tem ainda pastas, saladas, bruschette e criações que cruzam com a gastronomia portuguesa e os gostos pessoais do casal. É exemplo o bife Nostru, servido com redução de vinho do Porto, a francesinha feita com massa de piza, e o bacalhau Dolce Sapore, um pão recheado com bacalhau em cebolada, batata crocante e mozarela gratinada.

 

# Sra. Peliteiro

Novos pratos de conforto

No Sra. Peliteiro há pratos que já estão na carta desde a abertura, e por lá irão permanecer. “A maioria não posso tirar”, reconhece Paula Peliteiro. É o caso da tagine de vaca, da moqueca de gambas e do polvo. A nova carta de inverno junta esses clássicos e outros que, de tanto os clientes pedirem, regressaram à ementa, como o toucinho do céu e o tamboril grelhado com tomatada de feijocas. Também há novidades: pratos de conforto como as papas de sarrabulho, o lombo de pescada com broa no forno, vazia maturada, ou a tira de costela de vaca no forno. Para desfrutar de tudo isto, a esplanada voltada para as águas tranquilas do Cávado é o lugar de eleição. Mesmo no inverno, “quando há sol as pessoas continuam a querer ir para lá”, diz a chef.

Sra. Peliteiro (Fotografia: André Gouveia/GI)

 

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Viagem pelo Cávado, da cozinha de autor ao figurado de Barcelos

Sobranceiro à Barragem de Penide, existe um baloiço com o mesmo nome, inaugurado este verão, de onde se tem vista panorâmica sobre o rio, espraiado pelo pinhal. Nas margens barcelenses do Cávado há cozinhas tradicionais e de autor, casas de campo para escapadelas em família e novos artesãos.

# Turismo Restaurante & Lounge

Consistência e bem receber

Está debruçado sobre o rio, junto às ruínas do Paço dos Condes de Barcelos, e da ponte medieval que liga as duas margens. Só por isso já merecia ser um cartão de visita da cidade. E é, mas mais pela cozinha de autor, de base tradicional, do chef Miguel Morgado – que podia ter seguido o sacerdócio, não fosse apaixonar-se pela jaleca -, e pela receção calorosa do anfitrião, Jorginho. A consistência é um dos maiores trunfos deste restaurante instalado no antigo posto de turismo. Aos clássicos que nunca saem da carta, como a perna de polvo no forno com batata migada e o souflé de robalo, o chef vai juntando novas reinvenções, e na sala Refúgio deixa-se guiar pela criatividade em menus de degustação que são sempre uma surpresa.

Turismo Restaurante & Lounge (Fotografia: Artur Machado/GI)

 

# Tasca da Ponte

Casa de petiscos (e não só)

Fernando cresceu entre tachos e panelas – a família tem um restaurante na Maia – e talvez por isso sempre teve o bichinho da restauração. “Já nasci neste mundo”, reconhece. O sonho de ter o seu próprio negócio passava por uma pequena casa de petiscos. E no ano passado concretizou-se, ao abrir a Tasca da Ponte, em Barcelinhos, juntamente com a mulher Sílvia. A primeira sala oferece uma versão moderna de uma tasca tradicional, composta por um balcão e um punhado de mesas, com um presunto ao fundo para fatiar na hora e uma vitrine com salgadinhos. Outros petiscos como o prego, as moelas, o pica pau e as pataniscas saem da cozinha durante todo o dia. Do outro lado da parede em pedra, existe uma sala mais intimista, para apreciar pratos mais robustos, disponíveis à carta ao almoço e jantar ou por encomenda, como é o caso do arroz de pica no chão, o cabrito assado no forno ou o galo recheado.

Tasca da Ponte (Fotografia: Artur Machado/GI)

 

# Olive House

Dias de descanso no campo

As bonitas memórias que Vanessa guarda da infância passada com os avós no campo, incentivaram-na a proporcionar uma experiência semelhante às suas duas filhas, transformando a casa que pertencia a uma tia, na freguesia de Areias de Vilar, num refúgio de campo para a família. “O que nós próprios fazemos às vezes, que é fugir da cidade e vir para aqui, é o que queremos que as pessoas façam também”, diz a proprietária. Tudo ali convida a desacelerar: o jardim cheio de árvores de fruto, a piscina (no verão), a cama de rede na varanda e até a pequena horta da qual os hóspedes podem fazer uso. A vizinha Conceição é quem está encarregue de tratar dos animais – galinhas e cabras – e de receber os hóspedes, que à chegada têm direito a um miminho de boas vindas. A casa é acolhedora, com dois quartos confortáveis, e durante o restauro, Vanessa manteve algumas características originais, como os azulejos da cozinha que, segundo lhe disse a tia, já teria sido ela a escolher em criança.

 

# Artesão Nelson Oliveira

Sangue novo no figurado de Barcelos

Ao contrário da maioria dos artesãos do figurado de Barcelos, descendentes de várias gerações de mestres, Nelson não tem qualquer ligação familiar à arte, e apesar de ser barcelense – natural da freguesia de Airó – confessa que durante muito tempo “não fazia sequer ideia do que era o figurado”. Começou pela pintura de quadros, e a necessidade de diversificar a oferta levou-o a comprar peças decorativas em barro para pintar e vender nas feiras de artesanato em que participava. “Foi aí o meu primeiro contacto com o figurado”, conta. E o início de uma década de trabalho na arte, “pesquisando e aprendendo com outros artesãos”, mas traçando o seu próprio caminho. Hoje, no atelier, em Areias de Vilar – visitável por marcação – dá forma e cor a presépios, figuras de Santo António e um galo muito particular, personificado e vestido à minhoto. “Foi uma das peças que tive mais dificuldade em descolar do tradicional, mas é uma peça única, que mais ninguém tem”, realça o artesão. Independentemente da figura, há características comuns a todas que não deixam dúvidas quanto ao autor: pés descalços (porque não gosta de fazer sapatos), olhos embutidos e bochechas salientes. “Tendo essas três coisas é uma peça minha”, assegura Nelson.

 

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Vila Verde e Braga convidam a mergulhos de verão e de inverno no rio Cávado

Neste trecho do caminho, o Cávado serpenteia por entre campos verdes e pontes históricas, como a da vila de Prado ou a Ponte do Bico. De um e de outro lado, as margens largas dão pretexto a praias fluviais que no verão se enchem de banhistas atraídos pelas águas frescas e tranquilas do rio.
# Clube Náutico de Prado

Deslizar de canoa no rio

Na vila de Prado, as condições naturais do rio fizeram-na um lugar de eleição para a prática de canoagem, a principal atividade a que se dedica o Clube Náutico de Prado, fundado em 1982. Ali, treinam atletas de alta competição que somam conquistas em campeonatos nacionais e internacionais, mas a modalidade também está ao alcance de quem queira simplesmente desfrutar do rio. Por marcação, há aulas de canoagem e stand up paddle a título recreativo, com a bonita ponte filipina no plano de fundo, ainda mais bela quando envolta na neblina matinal do inverno. Data do século XVII, mas acredita-se que ali já tenha existido uma ponte romana.

# “Mergulho no Cávado”

O primeiro banho do ano

À falta de mar, é no Cávado que a população de Prado e arredores cumpre a tradição do primeiro banho do ano. A iniciativa acontece habitualmente no primeiro domingo de janeiro, pela manhã, e junta centenas de banhistas na praia fluvial do Faial. Além de ser uma forma de dar as boas-vindas ao novo ano com um mergulho revigorante, pretende também atrair visitantes à praia, muito concorrida durante o verão, nos meses mais frios e sensibilizar para a preservação do rio. Devido à pandemia e de modo a evitar ajuntamentos, a edição de 2020 não se realizou, e a próxima ainda não é certa. Mas mesmo não acontecendo o encontro, fica lançado o desafio a quem quiser receber 2022 com um banho no Cávado.

# Elvira

Cozinha portuguesa com vista

Há 11 anos, o Elvira – já com 16 de porta aberta -, mudou-se para um cantinho junto ao rio, na freguesia de Palmeira, fora da agitação da cidade de Braga. O ambiente tranquilo onde se foi instalar entra pelas grandes janelas, que emolduram o rio Cávado, curvado entre margens viçosas.

Nas quatro salas de jantar com vista elevada para a paisagem, e no jardim, serve-se comida tradicional portuguesa, com receitas da família, confecionadas pelas irmãs, Elvira, Glória e Otília. Arroz de robalo com gambas, arroz de grelos com filetes de polvo, bacalhau à D. Elvira, e carnes grelhadas, com o lombo de boi, são alguns dos pratos que atraem comensais àquela casa de ar moderno. No verão, uma caminhada até à praia de Adaúfe, ali bem perto, ajuda a desmoer o repasto.

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Amares e Póvoa de Lanhoso têm Vinho Verde e baloiços pitorescos sobre o Cávado

Mesas de conforto escondidas numa aldeia, vinhas e baloiços fotogénicos suspensos sobre a água cristalina, guarda-rios a esvoaçar na folhagem ribeirinha, canaviais, penedos e lontras a rebolar à tona do rio. De tudo isto é feito o quadro campestre do Cávado.

# Solar das Bouças – Art & Wine

Arte contemporânea entre as vinhas

Encontrámos António Ressurreição na cozinha, a preparar trutas do rio Cávado para um almoço de amigos. “Sou um apaixonado pela arte, por comer bem e beber um copo”, avisa-nos logo. A combinação dos três motivou o ex-industrial da área têxtil a adquirir e dar uma nova vida ao Solar das Bouças, a sua primeira aventura no mundo dos vinhos.

A propriedade do século XVIII pertenceu anteriormente à família Van Zeller, que recuperou os edifícios e plantou novas vinhas. António reforçou a aposta no enoturismo, abrindo o solar e duas outras casas de campo ao alojamento. “Quem ficar no solar, fica também numa galeria de arte”, desafia. O empresário e colecionador, transformou as salas da casa senhorial em espaços de exposição onde são exibidas peças de Júlio Resende, Bual, Mário Rocha e muitos outros artistas. Também se descobrem alguns tesouros, como o piano de estudo de Luís Freitas Branco. Mas talvez o maior de todos sejam as obras de João Cutileiro: o Cristo em mármore preto na capela do solar, e um conjunto de gravuras.

Existem ainda várias instalações espalhadas pela quinta, que os visitantes podem descobrir munidos de um mapa. Do terraço soalheiro do salão de eventos vê-se o manto de vinha – são 24 hectares no total – que se desdobra pela encosta até ao rio, ao longo de um quilómetro de margem. É promessa de um agradável passeio ribeirinho, que passa por um antigo moinho à espera de ser também recuperado e onde António garante já ter visto uma família de lontras a rebolar na água. Uma boa notícia para o Cávado, já que estes mamíferos só se encontram em zonas de água limpa e abundantes em alimento.

 

# Porta 333

Como em casa da avó

Não é a casa da avó, mas podia ser. Os trâmites são os mesmos: sentar à mesa e esperar pelo que vier, com garantia de ser caseiro e reconfortante. Convence-nos, desde logo, o pepino e o tomate com sal grosso. Mas também o queijo da Serra, que ao pousar na mesa faz Tiago dizer com orgulho: “é da minha terra o queijinho”. Na cozinha, não está uma avó, mas uma jovem talentosa a preparar comida de conforto, toda feita em forno a lenha. De lá, pode sair um tenríssimo polvo na telha, bacalhau assado, bife wellington ou até vitela (mas só passadas oito horas). Sob reserva também há cabrito assado, ossobuco, pica no chão, ou “o que apetecer ao cliente”. Carla é quem decide o menu do dia e, a não ser que haja um pedido especial, “o cliente raramente escolhe o que vai comer”, diz Tiago.

Tiago, Carla e Ricardo do Porta 333 (Fotografia: Artur Machado/GI)

 

Falta apresentar o Gonçalo, que foi quem descobriu esta casa rústica, com jardim e horta, escondida numa aldeia a cinco minutos do Solar das Bouças. Os três já tinham trabalhado juntos num restaurante em Braga e falavam em ter “algo mais caseiro”, com um serviço familiar e sem maneirismos. “Gostamos de servir ao cliente aquilo que gostamos de comer e beber”, resume Tiago. É dele a receita da deliciosa tarte tatin que por vezes agracia o final da refeição. A reserva de mesa é essencial, e ir com tempo também. É como em casa da avó, nunca apetece ir embora.

# Praia fluvial de Monsul

Um, dois, três baloiços sobre o rio

Na praia fluvial de Monsul, na Póvoa de Lanhoso, há um conjunto de três baloiços sobre o rio que, sendo mais usados pelos banhistas no verão, garantem belas fotografias durante todo o ano. Foram todos instalados este ano, nas árvores debruçadas na margem esquerda do Cávado. O primeiro, o Baloiço da Confraria, está voltado a poente e deixa ver o sol esconder-se atrás da vegetação. Há um outro, mais à frente suspenso sobre a água, que recebeu o nome “Vai ficar tudo bem”, e fica submerso sempre que o caudal do rio sobe. Depois, para os mais aventureiros, há o Baloiço do Mergulho, pendurado sobre o rio e acessível através de um pequeno passadiço de madeira.

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Da Caniçada à serra do Larouco, pelos contornos montanhosos do Cávado

A barragem da Caniçada marca o início do vale montanhoso do Cávado, já nos contornos do Parque Nacional da Peneda-Gerês, e de uma sucessão de albufeiras de um azul profundo e pacífico: Salamonde, Paradela e Alto Cávado.

Subindo o rio, assiste-se a uma fabulosa transformação da paisagem, em que as encostas verdes dão lugar a planos rochosos e cumes despidos. Pelo caminho, que atravessa os concelhos de Vieira do Minho, Terras de Bouro e Montalegre, há tradições rurais reanimadas e novos projetos a descobrir. A viagem chega ao fim onde tudo começou. Ao cabo de mais de 100 quilómetros rio acima, é preciso subir à serra do Larouco, avistar terras de Espanha e olhar a Fonte da Pipa, a nascente de onde brota este curso de água surpreendente.

 

# O Brancelhe

Passear de barco na albufeira

Em qualquer altura do ano é possível rasgar as águas da albufeira da Caniçada a bordo d’O Brancelhe, o barco turístico do município de Vieira do Minho. O passeio, por esta altura envolvido numa agradável frescura outonal e um pôr-do-sol prematuro, permite apreciar as altas encostas arborizadas que se espelham na água. Ao chegar à parede da barragem, a grande atração é o mural criado pelo artista Vhils em 2018, em homenagem às gentes e ao património natural da região.

 

# Hostel Retiro do Gerês

Novos ventos na aldeia do lobo

Em Fafião, o espírito comunitário está vivo e de boa saúde. E as tradições que marcam aquela aldeia serrana do concelho de Montalegre, também. O sistema da vezeira – pastar o gado à vez – é um desses costumes ancestrais que ainda perduram, muito por iniciativa dos jovens que aos fins de semana regressam da cidade e, num esforço conjunto, não deixam esmorecer a vida da aldeia.

 

Nuno Rebelo é um desses adeptos fervorosos de Fafião, membro da Associação Vezeira, e proprietário do Hostel Retiro do Gerês. “Em homenagem aos pastores batizamos as nossas suítes com os nomes dos currais onde guardam os animais no verão, quando vão para a serra”, realça Nuno. Trocou a vida em Braga pela concretização de um sonho de há vários anos: reabrir o primeiro alojamento da aldeia, que era também café e mercearia, aberto há quase 40 anos pelos pais. “É um projeto criado com alma”, confessa. O hostel, mais um chamariz para a aldeia, é composto por cinco suítes confortáveis e luminosas, e quatro quartos com beliche – para acomodar amigos ou famílias -, cozinha e sala de estar comum, e ainda um T1 com kitchenette.

Tal como era antigamente, também tem um restaurante e uma mercearia, com produtos artesanais e da região, como vinhos, compotas e licores de produção própria, biscoitos e peças de artesanato. À mesa chega o fumeiro e a carne barrosã, o javali e a chanfana, mas a grande estrela tem sido o tomahawk, um corte invulgar na zona. Para recuperar da travessa generosa, Nuno recomenda uma caminhada pela aldeia que tanto adora, com uma paragem no EcoMuseu, ou um dos trilhos que por ali passam e levam à descoberta do Parque, e das suas lagoas e cascatas escondidas.

 

# Miradouro de Fafião

O lobo, o rio e a serra

Um desses projetos de fim de semana dos jovens da aldeia resultou num dos mais belos miradouros da região, a que se chega através de uma ponte suspensa entre dois grandes blocos de granito, a 800 metros de altitude. A panorâmica sobre os vales exuberantes do rio Cabril e do rio Cávado inclui também o maior e mais bem preservado Fojo do Lobo da Península Ibérica, uma armadilha ancestral que servia para caçar os lobos que se aproximassem dos rebanhos. O predador acabou por se tornar um símbolo da aldeia e é ele que hoje dá as boas-vindas à entrada de Fafião, de cabeça apontada para o céu, numa varanda para a albufeira de Salamonde.

 

# Cabril Eco Rural

Preservar a partilhar a cultura do Barroso

“Ó da barca! Anda-me buscar”, chamava a avó de Paula Oliveira na margem esquerda do Cávado, com a neta ao lado, já na reta final da viagem de regresso a Cabril, vindas de Lisboa. Esta é uma das muitas memórias de infância que Paula guarda da aldeia da mãe, onde voltou de malas e bagagens há quase uma década. Lisboeta de berço, trocou a cidade pela vida rural, e criou um projeto de ecoturismo e desenvolvimento local sustentável, focado em preservar e partilhar saberes ancestrais e culturas tradicionais do Barroso, como o linho, a lã e o centeio.

Aprendeu as artes com os antigos, num longo processo de recolha de informação, que lhe permitiu “recuperar todo este conhecimento que se estava a perder, e dar continuidade, mostrando a outros como se faz”.

 

Ao longo de todo o ano, os visitantes de passagem, ou instalados na Casa Velha – a guesthouse que Paula construiu na antiga casa do bisavós – podem participar em diversas atividades. Há sempre trabalho para fazer, seja semear o linho, tosquiar as ovelhas ou fiar a lã. Paula também organiza caminhadas temáticas na montanha, ora a acompanhar o pastor da aldeia, ora no encalço dos rastos do lobo, e experiências que envolvem a comunidade local, como a oficina do fumeiro. “Durante o inverno os hóspedes podem descer até ao atelier para um serão à lareira”, desafia. É a época mais convidativa aos trabalhos manuais. Estando bom tempo, é indispensável uma visita à quinta, instalada numa encosta com vista para a foz do Cabril, onde convivem ovelhas, cavalos, vacas, uma cabra simpática e o burro Chiquinho.

Cabril Eco Rural (Fotografia: Artur Machado/GI)

# Mont’Alegre (FG Wines)

Vinhos de altitude

A azenha e queda de água de Donões – já num Cávado estreito – compõem um quadro pitoresco que parece saído de um conto de fadas, com o castelo de Montalegre a espreitar ao fundo. Um pequeno desvio, mais à frente, leva-nos a outro cenário inesperado na região, uma vinha com dois hectares plantada a 1070 metros de altitude. É fruto da ousadia e de alguma “loucura” dos irmãos Francisco e Paulo Gonçalves, que decidiram apostar na cultura do vinho onde este nunca foi tradição. Francisco é enólogo, com 15 anos de trabalho no Douro, e quis desafiar-se a ele próprio e ao setor, com a criação dos vinhos Mont’Alegre. São produzidos com uvas das zonas de Chaves, Macedo de Cavaleiros e Mogadouro, e depois levados para estágio em altitude, na adega em Montalegre. “É o que acontece em países de altitude como o Chile e a Argentina, e nós replicamos em Portugal”, explica. No ano passado, fizeram a primeira vindima naquela vinha inédita, e contam para o próximo ano passar todo o processo de produção para o concelho. A intenção é “pôr Montalegre na boca do mundo”, à boleia do vinho.

Azenha de Donões (Fotografia: Artur Machado/GI)

# Taverna do Mercado

Uma cozinha de memória

À porta, uma expressão popular resume bem o espírito hospitaleiro do povo montalegrense: “Entre. Quem é?”. De portas abertas aos visitantes que queiram conhecer a gastronomia tradicional do Barroso casada com os novos vinhos do concelho, a Taverna do Mercado, é o mais recente projeto dos irmãos Gonçalves. O pequeno restaurante, de ar rústico e ambiente acolhedor, surgiu como complemento aos vinhos e ao alojamento, a Casa da Avó Chiquinha, e é feito de referências à cultura local e ao vinho, tanto na decoração como no prato. Nesta cozinha de memória, o cozido à Barrosã tem especial destaque, servido com um delicioso arroz de feijão. O bacalhau com crosta de pão de centeio é outra interpretação dos produtos locais do chef João, a que se junta uma carta de petiscos durante a tarde, focada no fumeiro regional, e sugestões menos tradicionais, como o hambúrguer e a francesinha com carne barrosã. No final da refeição aconselha-se um passeio pelo Parque do Cávado, que tem uma agradável zona de verde junto ao espelho de água e é o último – ou o primeiro, para quem começa aqui a viagem – espaço de lazer urbano do rio.

# Serra do Larouco

O ponto de partida

Do centro de Montalegre ao alto da Serra do Larouco é um instante. Pelo caminho facilmente passa despercebida a Fonte da Pipa, que é, segundo consta, a nascente do rio Cávado. Sendo este o nosso destino – ao fim de mais de 100 quilómetros a seguir este rio maravilhoso – , vale a pena continuar montanha acima, para descobrir a belíssima panorâmica que o cume oferece. É a segunda maior serra de Portugal continental, com 1527 metros de altitude, e lugar de eleição para os praticantes de parapente. Para trás, fica a Espanha. Em frente, vê-se Montalegre, a grande albufeira do Rabagão, e uma fina linha a reluzir entre campos de cultivo, sinal de que muitos outros tesouros terão ficado por descobrir.

 

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