Um roteiro para conhecer Castanheira de Pera, santuário da natureza

(Fotografia de Nuno Brites/GI)
Situada na zona mais a sul da serra da Lousã, Castanheira de Pera é o lugar ideal para quem gosta de natureza. Ribeiras e cascatas, árvores de grande porte, e animais selvagens polvilham a paisagem de frescura, tranquilidade e emoções fortes. As rotas pedestres convidam a partir à descoberta.

O primeiro percurso pedestre a ser homologado em Castanheira de Pera, proporcionando um contacto direto com a natureza, foi a Rota dos Coentrais, onde é percorrida uma distância de 3,73 quilómetros, em sentido circular, na aldeia de Coentrais. Os caminhos são empedrados e há uma travessia sobre a ribeira das Quelhas, entre vegetação nativa, onde existe um carvalho secular e um antigo moinho.

Com uma extensão de 15,4 quilómetros, a Rota da Água e da Pedra promete uma viagem entre a terra e o céu, ao atingir a altitude de 1055 metros, acompanhando as quedas de água da serra da Lousã, através das rochas. O percurso inicia-se na base do Passadiço das Quelhas, próximo do Coentral Grande, e a beleza natural da paisagem é de cortar a respiração.

O Passadiço das Quelhas, na Serra da Lousã. (Fotografias de Nuno Brites/GI)

“Se associarmos à herança cultural a majestosidade do património natural que se estende pelas margens da ribeira de Pera, ladeada por levadas, moinhos e parcelas agrícolas, encontramos o cenário perfeito para uma viagem memorável.” É desta forma que o município apresenta a Rota Terras de Peralta, que se estende por um percurso circular de 2,6 quilómetros, a partir de Pera.

A Rota dos Neveiros propõe uma viagem ao passado, destinada a “relembrar a dureza da viagem para cada jornada de trabalho na recolha e no acondicionamento da neve”. Ao longo de um percurso linear de três quilómetros, entre Coentral Grande e Santo António da Neve, salta à vista o granito da Safra no património construído, árvores monumentais, e uma vista privilegiada sobre o território.

A Rota dos Açudes é um trilho pedestre que soma seis quilómetros.

A estes percursos pedestres vai juntar-se a Rota dos Açudes, na zona sul de Castanheira de Pera. Proposto por dois alunos do curso profissional de técnico de turismo ambiental e rural, este trilho, ainda não sinalizado, tem uma distância de seis quilómetros, ao longo da ribeira de Pera, onde existem vários açudes que transportavam água para fazer trabalhar as noras das dezenas de fábricas de lanifícios que ali existiam.

Na terra das papas de milho

Após uma caminhada pela natureza, nada melhor do que uma ida à Praia Fluvial do Poço Corga, no leito da ribeira de Pera, onde existem duas piscinas, com diferentes profundidades. Acaba de ser colocada relva na zona envolvente e foram criados mais lugares para estacionar. De acesso pedonal, tem um parque de merendas, casas de banho, acesso a pessoas com mobilidade reduzida e nadador-salvador durante a época balnear.

Residente na aldeia de Sapateira, nas proximidades, Maria Rosa Tomás, 81 anos, recorda-se de, há mais de 30 anos, ir lavar a roupa à mão na ribeira, onde hoje é a piscina fluvial. “Havia vários lavadouros, mas eu lavava no rio. Esfregava a roupa toda com sabão azul e Omo e punha a branca em lixívia, enquanto lavava a preta”, conta. “Depois, esperava que secasse em cima da vegetação.”

A Praia Fluvial de Poço Corga.

O amplo parque de merendas da praia fluvial.

A poucos metros de distância, o Restaurante-Bar Poço Corga tem um espaço interior e uma esplanada, junto do qual existem vários carvalhos centenários. Para perpetuar as tradições gastronómicas locais, a proprietária, Elisabete Santos, confeciona papas de milho com sardinha assada, chanfana e, para sobremesa, papas de milho doce e nevadas. Esta receita, da sua autoria, consiste num pequeno bolo de milho, com recheio de castanhas, ovos e mel. A cobertura é branca, para imitar a neve.

“A ribeira de Pera tem muitos moinhos, onde se fazia farinha a partir do milho, para as padarias e para vender às pessoas”, conta Elisabete Santos. “Como as famílias não tinham dinheiro para fazer outras coisas, a comida era à base de papas de milho, com sardinha assada ou frita.” Apesar de Castanheira de Pera ficar no interior, as peixeiras deslocam-se às aldeias.

Elisabete Santos e a sua chanfana.

Sardinhas assadas com papas de milho, no restaurante-bar Poço Corga.

A proprietária do restaurante recorda que as papas que sobravam eram fritas em azeite, até formarem uma massa, que era cortada aos quadrados para comerem ao almoço do dia seguinte, quando iam trabalhar nas fazendas. Os mais abastados comiam milho amarelo e os mais pobres milho branco, porque existia em maior abundância. “As pessoas de mais idade pedem muito, porque se lembram de comer em casa dos pais e dos avós.”

 

O xisto escondido

A água da serra da Lousã que forma a praia fluvial do Poço Corga vai desaguar na Praia das Rocas, no centro de Castanheira de Pera, a três quilómetros de distância. A grande atração deste espaço de lazer é a piscina de ondas, que atrai cerca de 100 mil pessoas durante a época balnear, entre 1 de junho e 15 de setembro. Existe ainda uma segunda piscina (praia), para os que gostam de águas mais calmas. Quem preferir emoções fortes, pode praticar slide, escalada e rapel na zona da albufeira, onde se pode dar passeios de barco a remos ou de gaivota.

Praia das Rocas, a maior piscina de ondas de Portugal.

Em Castanheira de Pera, vale a pena visitar ainda a Aldeia de Xisto de Camelo, onde vivem apenas nove pessoas, todas com laços familiares. Apesar de ser considerada uma aldeia de xisto, é difícil encontrar casas revestidas com esta pedra. Maria João Esquetim, proprietária da Camelo Casas de Campo, explica que as habitações são realmente de xisto, mas foram rebocadas por fora, pelo que perderam a traça original. “Foi uma modernice dos anos 60, para mostrar posse”, observa.

Camelo é uma das Aldeias de Xisto de Portugal.

Depois de abrir o empreendimento turístico, Maria João Esquetim recriou o Caminho dos Mortos, reabilitado pelo município. “Como não havia aqui cemitério, o morto era carregado até ao Coentral, por um percurso pedestre, durante cerca de quatro horas, um percurso que também era feito pelas crianças quando iam para a escola, como o meu pai”, conta. O defunto era acompanhado por uma pessoa de cada família, que se fazia representar se não tivessem essa possibilidade, pagando a quem a substituísse. Pelo caminho, paravam para comer e para se revezarem no transporte.

No regresso a Castanheira de Pera, ao entardecer, é possível avistar fêmeas e machos de alce na estrada, ladeada por árvores de grande porte e de vegetação autóctone. Contudo, quando se apercebem da presença humana, regressam, num piscar de olhos, ao seu habitat natural, para se esconder. A única forma de não afugentar estes animais selvagens é viajar num veículo elétrico.

Após um dia em contacto com a flora e a fauna locais, nada melhor do que retemperar as forças na Quinta dos Esconhais, no centro de Castanheira de Pera. Além de uma suíte com casa de banho, dispõe de duas casas familiares, ambas com três quartos, sala e duas casas de banho, decoradas com móveis antigos e modernos.

O apartamento maior tem dois andares e uma cozinha, enquanto o mais pequeno possui uma sala com kitchenette, que tem a particularidade de ficar dentro de um louceiro antigo. A quinta tem piscina, cavalos, lagos, jardins com árvores de grande porte e espaços para eventos, bem como a casa dos proprietários, uma capela e uma adega.

A piscina exterior da Quinta dos Esconhais, com vistas serranas.

Este turismo rural tem duas casas, cada uma com três quartos.

110 anos com estrelas

Para comemorar o 110.º aniversário de elevação a concelho, a Câmara de Castanheira de Pera vai proporcionar concertos gratuitos, na Praça da Notabilidade. Santamaria (dia 3), Diogo Piçarra (dia 4), Aurea (dia 5) e Xutos & Pontapés (dia 6) são os cabeças de cartaz, e atuarão a partir das 22 horas. No dia 4, data do aniversário da elevação a concelho, haverá tasquinhas, uma sardinhada popular e outros momentos musicais, bem como a inauguração de algumas obras, entre as quais da Praia Fluvial do Poço Corga.

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