À sexta-feira de manhã o MERCADO DOS LAVRADORES, em Santa Maria, no Funchal, enche-se de agricultores e comerciantes de toda a ilha, atraindo em média cinco mil visitantes diários, de todo o mundo. A razão é simples: as manhãs de sexta-feira e sábado são os dias em que os 82 espaços ganham ainda mais vida, tendo maior abundância de flores de toda a espécie, frutas exóticas, especiarias, ervas aromáticas, artesanato, legumes, carne e peixe frescos, como o espada preto.
É assim desde que o mercado de arquitetura Modernista/Art Déco abriu em 1940, mas hoje com mais turismo – tanto, que por vezes se torna difícil circular entre as caixas de fruta e os grupos de turistas que as provam, encantados com o festim de cores, aromas e sabores. A terra é próspera e fértil, em virtude dos solos vulcânicos da ilha da Madeira, e a época começa a dar agora chuchu, mangos, abacate, maçã, figos e clementinas a preços acessíveis, e também várias flores, que os nórdicos muito apreciam.
Duas ruas abaixo, um pórtico anuncia a entrada na ZONA VELHA DO FUNCHAL pela rua de Santa Maria. Mal afamada até ao final dos anos 1980, foi-se revitalizando aos poucos e especialmente graças ao projeto Arte de Portas Abertas,inaugurado há 12 anos com uma obra do artista argentino Mark Milewski na porta do número 77 (que é a Tasca Literária D. Joana Rabo-de-Peixe, de João Carlos Abreu, ex-secretário do Turismo da Madeira e apoiante da ideia).
Universos oníricos, paisagens e cenas marítimas, animais e sereias povoam portas e fachadas degradadas, cativando olhares e vários elogios. Já a porta do número 5 conta outra história de renovação, o JÁ FUI JAQUET, aberto em julho, na antiga tasca Jaquet. O casal que ali servia tinha uma postura pouco polida e um linguajar muito próprio, conta o novo co-proprietário Gonçalo Abreu, “mas sabia fazer comida mesmo muito boa”, contextualiza. Uma premissa da qual esta equipa não abdicou.
Tanto no interior com paredes de pedra pintadas de azul escuro (ideia da designer de interiores funchalense Nini Andrade Silva), como no exterior, prova-se uma carta essencialmente de peixe: há pataniscas de bacalhau, atum cozido, chicharro sem espinhas, mista de peixe grelhado e bastantes pratos de tacho na mesa, como a caldeira (caldeirada) de espada e atum, ou bodião, ao sabor do que chega às redes. No final, nada como brindar com uma aguardente ou uma poncha da Madeira.
Manter o lume aceso
Em tempos idos, os pescadores bebiam a poncha para se aquecerem à noite, na pesca do peixe-espada, e só as famílias ricas tinham meios para aquecer as casas. “Os mais pobres pediam aos vizinhos um pau ou uma pinha para acender as fogueiras”, conta o lisboeta Carlos Gonçalves, chef executivo das cozinhas do hotel Savoy Palace e que rapidamente abraçou a cultura madeirense. E assim nasceu o PAU DE LUME, restaurante aberto aos passantes, na nobre Avenida do Infante.
A decoração do espaço combina uma estética industrial com linhas “vintage” com o ambiente de um jardim de inverno, tantas são as plantas suspensas. O cenário ideal para provar tanto os pratos de brunch (das 11h às 16h), como os que refletem o que o chef gosta de comer em casa e a sua cultura gastronómica. O polvo grelhado com molho kimuchi, maionese de trufa e yuzu, por exemplo, é um petisco ótimo para partilhar e lembra o polvo seco assado que o pai do chef comprava nas feiras.
Já a tempura de abacate com mel de cana (dois produtos típicos da ilha) e togarashi (uma mistura de especiarias japonesa) ilustra bem o lado vegano do menu. O fogo é o denominador comum a muitos dos pratos, portugueses e de partilha, trabalhados num forno Josper capaz de grelhar, assar e fumar. As golas de peixe grelhadas (carne entre a barriga e o colar de um pargo ou charuteiro) são uma boa prova desta lógica de aproveitamento da cozinha, onde Hugo Freitas é o chef residente.
E que produtos trará o inverno? “Inverno só em dezembro”, brinca o chef Carlos Gonçalves, pois junto ao mar a temperatura está sempre amena. Por ora é tempo de o abacate, a nêspera, os mangos “que caem das árvores", a anona e a tangerina reforçarem os seus sabores – esta última a antecipar já o Natal na ilha, “o mercado, os licores, a missa do Galo” e os convívios dos madeirenses, conta o chef. Até lá é altura de apanhar cogumelos e aproveitar os peros para experimentar novas sidras.
Subir de teleférico…
O TELEFÉRICO DO FUNCHAL é um sobe e desce constante de 39 cabines, entre a baixa da cidade e a freguesia do Monte. À medida que se vencem os 3173 metros inclinados, durante um quarto de hora, os prédios da zona histórica e a baía do Funchal dão lugar a habitações com hortas e jardins, plantadas sobre encostas e vales. O percurso pode ser feito em ida e volta, mas a maioria escolhe regressar a bordo dos carros de cesto. O Jardim Tropical Monte Palace, logo ali, vale uma visita.
… e descer de carro de cesto
Não foi por acaso que, no início do século XIX, as famílias ricas do Funchal, assim como muitos ingleses abastados, começaram a construir casas apalaçadas com jardins na freguesia do Monte. Este local era encarado como uma estância de saúde, em virtude do clima fresco e terapêutico, mas ficava a seis quilómetros do Funchal. A meio do século, os CARREIROS DO MONTE surgiram então como um meio de transporte. Eleito pela CNN “um dos sete percursos mais fixes do mundo”, hoje é uma experiência turística obrigatória que consiste em descer dois quilómetros até ao Livramento. Os 60 carros, construídos em madeira, vime e com “patins” de madeira, são empurrados por 150 carreiros, em duplas, vestidos de branco, com chapéu de palha e calçados com botas de sola de borracha de pneu para conseguir reduzir a velocidade sempre que necessário, nas ruas inclinadas e curvilíneas.
Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.