Com uma Paisagem Cultural que é Património Mundial da UNESCO, o difícil é escolher por onde passear e o que visitar na serra de Sintra, que tem tanto de edificado romântico como de misticismo. Como a idade ainda é um posto, optamos pelo Castelo dos Mouros, situado num dos cumes da serra, rodeado dos blocos graníticos que a caracterizam, a mais de 400 metros de altitude, e do qual se avista uma panorâmica ímpar, da costa atlântica ao vizinho Palácio da Pena, mas também sobre o centro histórico sintrense e o Palácio Nacional de Sintra, a Quinta da Regaleira, Mafra, a Serra da Arrábida, o Tejo, a Ponte 25 de Abril ou o Castelo de Palmela.
Trata-se de uma fortaleza do século X e de fundação muçulmana durante os primeiros dois séculos, até à ocupação cristã, em 1147, quando D. Afonso Henriques conquistou Lisboa e Santarém aos mouros. Daí em diante, serviu de estratégico ponto de vigia para possíveis futuros ataques, até que foi perdendo importância e deixou de ser habitado, no século XV. A próxima fase fulcral para o castelo chegou no século XIX, quando D. Fernando II, vindo de Áustria para Portugal, para casar com D. Maria II, se dedica a reconstruir e reabilitar, inspirado na estética romântica, a estrutura e os percursos pedestres que ainda hoje os visitantes trilham.
Entre muralhas, é possível ver vestígios das ocupações islâmica e cristã, como os silos (estruturas escavadas na rocha onde se armazenavam cereais e leguminosas), restos de habitações, um túmulo, um forno comunitário e uma cisterna e aprende-se, por exemplo, a forma como então se cortava pedra. A Igreja de São Pedro de Canaferrim, que abriga o Centro de Interpretação do Castelo, expõe objetos – ou partes destes – de ambas as ocupações, mas chega a recuar ao período neolítico, com descobertas arqueológicas. Há descobertas arqueológicas como cântaros, panelas, queijeiras, taças, foices, vasos ou até um dado feito em osso.
A visita ao Castelo dos Mouros pode ser feita em formato guiado, pelas mãos da Parques de Sintra, e o mesmo se aplica aos restantes espaços geridos pela empresa, como o Palácio e Parque da Pena, o Palácio e Parque de Monserrate, Palácio Nacional de Sintra, Vila Sassetti, Convento dos Capuchos, Santuário da Peninha ou Palácio e Jardins de Queluz. Além disso, há outras atividades que a empresa organiza, como recriações históricas, jogos para os mais novos, caças ao tesouro – basta espreitar o site.
Quartos com vista serrana
Há uma década, depois de um longo percurso na gestão de uma pedreira no Alentejo, Manuel e Maria Ana Alves estenderam a sua paixão pelo mármore à hotelaria. É esta a pedra nobre que inspira a decoração dos hotéis que o casal inaugurou desde 2013 – o primeiro em Viça Viçosa e os dois seguintes em Sintra. O mais recente tem dois anos e trouxe nova vida a um chalé de cor rosada no centro histórico.
Com nove quartos e suites com vistas serranas, o Sintra Marmòris Camélia situa-se na zona da Volta do Duche, batizada segundo o estabelecimento de banhos que ali funcionou até ao início do século XX, e das suas janelas descobrem-se os cenários verdes em redor, como o Vale da Raposa e a encosta do Castelo dos Mouros.
A decoração é romântica, com apontamentos modernos, numa ode à história da vila onde se insere. Nos elevadores, há camélias que remetem para o Baile das Camélias, a tradicional noite de gala sintrense desde 1940; cada um dos quatro pisos reflete a inspiração em monumentos vizinhos emblemáticos, como o Palácio da Vila e a Quinta da Regaleira; e os quartos têm nomes de personalidades históricas locais, como Francis Cook, mentor do Palácio de Monserrate ou D. João I, responsável por intervenções significativas no Palácio Nacional de Sintra.
Uma pausa doce
Um pequeno percurso a pé de dez minutos separa o boutique hotel da fábrica e pastelaria criada por Pedro Gomes e Paulo Veríssimo, onde se homenageia a doçaria sintrense. Ao longo do dia, na Dona Estefânia saem fornadas após fornadas de travesseiros e queijadas de Sintra.
No caso dos primeiros, casa-se a massa folhada e estaladiça com recheio generoso de doce de ovos, amêndoa algarvia e açúcar, chegando a produzir-se à volta de duas mil unidades diárias. Já nas segundas, aposta-se no queijo fresco de vaca da região, servindo-se em dose individual, mini ou numa tarte de um quilo. “O segredo é a qualidade dos produtos”, explica Pedro, sintrense de gema, que trocou as áreas da Saúde e do Desporto pela pastelaria, um caminho orgânico enraizado na família, já que tem pais e tios pasteleiros. De tal forma que se lembra de “dormir em cima de sacas de farinha” em pequeno.
Presença regular nas vitrines da Dona Estefânia são os fofos – feitos de pão-de-ló, com recheio do travesseiro -, pastéis de nata, tartes de amêndoa, gelados de Queijada de Sintra ou o bolo-rainha, que não se escuda em efemérides festivas e se vende ao longo de todo o ano. “Quando fechamos a porta, não sobra nada”, adianta o pasteleiro, que depois de Sintra já abriu espaços homónimos em Queluz e no Cacém.
Longitude : -8.2245
Longitude : -8.2245
Longitude : -8.2245