Rumo ao sossego de Sagres, entre ondas do mar e falésias imponentes

Sagres. (Fotografia: Leonardo Negrão/GI)
Na vila piscatória mais a sudoeste da Europa continental, em Sagres, o mar é quem mais ordena. Já assim o era para os navegadores quinhentistas e perpetua-se nos dias de hoje, tanto na procura de adrenalina nas ondas para surfar como na frescura do peixe e marisco que chegam a mesas de confiança.

É no meio que está a virtude, já diz o provérbio. Com razão e alguma margem de manobra. Quando o assunto é Algarve, muitos preferem o equilíbrio das extremidades, onde ainda se alia sossego e natureza, sem prescindir de um leque variado de atividades em redor. Sagres, “onde a terra acaba e o mar começa”, como muitos conhecem a vila piscatória do barlavento, é exemplo disso mesmo.

A sua essência majestosa, fruto da localização e características geológicas, pode e deve ser contemplada das varandas do MEMMO BALEEIRA, o quatro estrelas situado junto ao porto que o batizou, embelezado por dezenas de embarcações atracadas. De muitos dos 144 quartos e suites com vista para o mar e piscina exterior aquecida, em alguns casos sem sair da cama, avistam-se quase 50 quilómetros de falésias e costa. Um autêntico miradouro a céu aberto até Portimão.

A vista panorâmica de muitos dos quartos do Memmo Baleeira. (Fotografias: Leonardo Negrão/GI)

Há mais de 140 quartos e suites neste quatro estrelas de Sagres.

A piscina exterior do Memmo Baleeira.

O edifício histórico remonta à década de 1960, mas foi recuperado e modernizado há uma década, tornando-se hoje uma das referências no alojamento de qualidade superior na zona. Sinónimo de simplicidade e conforto, aposta nos brancos e tonalidades claras para reforçar a missão de “desligar” em férias. Os quadros com imagens vintage do hotel como era antes ajudam a criar alguma nostalgia, assim como algumas peças de mobília que foram ficando, como cadeiras.

Com o Parque Natural do Sudoeste Alentejano à porta, o turismo ativo e de natureza é um dos alicerces deste hotel, irmão mais velho dos Memmo de Alfama e Príncipe Real, com propostas de passeios de barco e jipe, batismos de mergulho e de surf ou aluguer de bicicleta rumo aos trilhos pedestres e cicláveis que foram criados há três anos. Aqui, caminha-se ou pedala-se de olhos postos no Atlântico e nos areais das praias do Tonel e da Mareta, passando por passadiços e miradouros como os da Ponta da Atalaia, e pelas falésias imponentes do CABO DE SÃO VICENTE e da FORTALEZA DE SAGRES, duas moradas obrigatórias para muitos ao final da tarde, para assistir ao pôr-do-sol.

A vista-praia, dos relvados do Memmo Baleeira.

As pizas fazem parte da carta do restaurante Fornaria, assente na cozinha de fogo e conforto.

Quando não se passeia entre os altos pinheiros à entrada do Baleeira, o tempo desfruta-se ora no spa, na piscina interior, no trampolim ao ar livre a pensar nos mais novos ou no restaurante e bar, com terraço e vista panorâmica para o Porto da Baleeira, onde se licita e compra peixe, acabado de pescar. No FORNARIA, nascido há quatro anos, a carta é curta mas eclética, com aposta na cozinha de fogo e de conforto, desde as sete variedades de piza aos risotos – o de polvo e o de citrinos com açafrão -, saladas, carpaccios e espetadas com peixe do dia e camarão e com frango e bacon.

 

Peixe e marisco fresco, todos os dias

Paulo Neves está prestes a completar seis décadas de vida. Mais de metade desta foi passada à frente do MAR À VISTA, o restaurante junto à Praia da Mareta que rima a sua vista da esplanada para o mar com o peixe e marisco local que coloca na mesa. Uma referência na restauração da zona, com público fiel e equipa vencedora. “Alguns estão cá há mais de 20 anos”, explica o dono, que herdou a casa que era gerida pelo pai e tio.

As tiras de moreira frita, vinda da Costa Vicentina, são um bom arranque de refeição, tal como a canja de peixe-galo com hortelã – ou não fosse Sagres terra de massadas de peixe. Também aqui se prova o lavagante de Sagres, as amêijoas que vêm de Alvor e o mexilhão do Zavial, tal como a sardinha e carapau na grelha, ou o pargo que o próprio se habituou a pescar, num passatempo ilustrado em imagens pelas paredes do restaurante. “Quem se habitua a isto, já não consegue sair daqui”, remata.

Paulo Neves, dono do restaurante Mar à Vista, junto à Praia da Mareta

O marisco e peixe local são os protagonistas do restaurante.

Até porque é aqui que está “o melhor peixe e marisco do país”, fruto do “cruzamento de mares” da região, referindo-se ao eixo AtlânticoMediterrâneo. É Carlos Diogo que o diz, com convicção. É ele um dos responsáveis do RESTAURANTE CARLOS, que batizou no centro da vila e gere com a família, o filho Miguel e os cozinhados da mulher, Ana Maria. A casa já soma quase quatro décadas de portas abertas, quase tantas quantas as que unem marido e mulher, mas foi renovado há quatro anos, tornando-o mais luminoso e moderno, sem perder a essência acolhedora.

No interior ou na sossegada e ampla esplanada com sombra, saboreiam-se as especialidades da casa, como a feijoada de choco, com um toque extra de picante caseiro para quem quiser, e dezenas de espécies de marisco fresco, da lagosta e ostras de Sagres aos percebes do Castelejo. Vale a pena provar também o esparguete da ria, com amêijoas, e o peixe do dia especial, feito desde o primeiro dia da mesma forma: leva alho, piripíri, louro e uma cama de salsa, mas com o tronco desta, “que lhe dá um toque especial”, avisa Ana Maria.

A feijoada de choco do Restaurante Carlos, no centro da vila.

Ana e Carlos Diogo gerem o espaço com o filho.

 

Na crista da onda: na prancha ou no barco

É tão inegável como óbvia a ligação de Sagres ao mar. Não só pela sua importância histórica e memórias na era dourada dos Descobrimentos, mas também porque se assume como um dos destinos nacionais de eleição para quem pratica surf. Fértil e versátil em areais, há opções para todos os gostos. Se uma Praia de Telheiras ou uma Praia da Ponta Ruiva são mais discretas, as do Castelejo e da Cordoama, em Vila do Bispo, são mais populares.

Esta última, muito procurada por amantes de ondas, já é a segunda casa de Marta e João Mealha, irmãos, e da irresistível Meika, a golden retriever que faz as delícias de quem passa pela FREERIDE SURF SCHOOL, a escola de surf onde todos são bem-vindos.

O surf é um dos símbolos de Sagres.

Os irmãos Mealha, da Freeride Surf School.

“Temos repetentes e estreantes de todas as idades. Já tive alunos com 60 e tal anos”, conta Marta. São de Faro, mas os encantos da ponta do barlavento algarvio, e a paixão pela modalidade, fê-los mudar-se para aqui, em busca de um outro Algarve. Nesta que é uma das primeiras escolas do género em Sagres, somando já quase 20 anos, há aulas privadas e de grupo, mas também se organizam programas que juntam surf, ioga e cozinha vegetariana.

São também as ondas que comanda as vidas de Sara Magalhães e Ricardo Silva, biólogos marinhos e fundadores da MAR ILIMITADO, que proporciona passeios de barco pela costa de Sagres, dando a conhecer alguns dos seus segredos. A bordo de semirrígidos, observam-se golfinhos e aves marinhas, dão-se mergulhos, passa-se por areais vazios e por grupos de pescadores e entra-se em cavidades rochosas, misteriosas e impossíveis de visitar de outra forma.

A Mar Ilimitado proporciona passeios de barco pela costa de Sagres.

A empresa foi criada por Sara Magalhães e Ricardo Silva, dupla de biólogos marinhos.

O passeio para ver golfinhos – o comum, o roaz e o riscado – é o mais popular, mas “a insatisfação é inexistente”, explica Sara. Até porque “mesmo quando não os vemos, o que não é habitual, só o passeio pela costa vale muito a pena”. Há 15 anos que navegam pelo mar de Sagres. São de Lisboa mas viveram algum tempo no arquipélago açoriano, antes de lançarem a âncora nesta ponta algarvia. “É o mais parecido com os Açores que temos”, ri-se Ricardo, enquanto contempla as altas falésias e as ondas sem as quais já não sabe viver.

 

 

FICAR

Memmo Baleeira
Sítio da Baleeira (Sagres)
Tel.: 282624212
Web: memmohotels.com/baleeira
Preço: quartos desde 90 euros, com pequeno-almoço.

 

COMER

Fornaria
Memmo Baleeira
Sítio da Baleeira (Sagres)
Das 12h às 15h e das 19h30 às 22h.
Preço médio: 20 euros.

Mar à Vista
Sítio da Mareta (Sagres)
Tel.: 962909429
Web: facebook.com/maravistasagres
Das 10h às 22h. Encerra quinta.
Preço médio: 25 euros.

Restaurante Carlos
Avenida Comandante Matoso (Sagres)
Tel.: 282624228
Web: facebook.com/restaurantecarlos
Das 12h30 às 15h e das 18h30 às 23h. Encerra terça.
Preço médio: 20 a 30 euros.

 

FAZER

FreeRide Surf School
Praia da Cordoama (Vila do Bispo)
Tel.: 918755401
Web: frsurf.com
Das 09h às 18h, de maio a setembro. Todos os dias.
Preço: aulas de surf a 15 euros (uma hora), 25 euros (menos de três horas) e 30 euros (mais de três horas).

Mar Ilimitado
Porto da Baleeira (Sagres)
Tel.: 916832625
Web: marilimitado.com
Das 09h às 18h. Não encerra.
Preço: passeios de barco a partir de 20 euros (menores de 14) e 25 euros (adultos).

 

VISITAR

Fortaleza de Sagres
Rua da Fortaleza (Sagres)
Tel.: 282620142
Das 09h30 às 20h. Não encerra.
Preço: bilhetes normal a três euros. Grátis ao domingo.

Cabo de São Vicente
GPS: 37.0123, -8.5947
Tel.: 282624234
Visita ao farol: das 14h às 16h, às quartas.
Visita ao museu: das 10h às 17h, exceto segunda.




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