Roteiro dos leitores: os recantos de Sintra, a vila que é “natureza em força”

Roteiro dos leitores: os recantos de Sintra, a vila que é "natureza em força"
A bolha turística sente-se todos os dias em Sintra, mas quem conhece os cantos à casa sabe fintar multidões e escolher os seus refúgios sossegados. Habituada a ler as sugestões e dicas da Evasões, desta vez é Andreia Cardoso quem nos conduz pela sua romântica vila.

Um sábado à tarde com sol. O primeiro do ano e da nova década. O cenário meteorológico é favorável, mas é ainda mais apreciado num local com um microclima tão característico como o de Sintra. No centro histórico, as ruas desta romântica vila estão repleta de turistas, como seria de esperar. Mas há quem conheça os cantos à casa, conseguindo evitar os maiores aglomerados. «O miradouro da Igreja de São Martinho é mais central e logo, mais confuso. Este é mais sossegado», explica Andreia Cardoso. Tem 27 anos e nasceu, vive e trabalha em Sintra. Folheia a edição das Escolhas do Ano da Evasões, sentada no Miradouro da Ferraria, meio que escondido no meio do centro histórico. É pequeno em dimensão, mas vasto na panorâmica.

«A vista geral para Sintra é a melhor, daqui», conta a jovem, a terminar o mestrado em Serviços Sociais mas já a trabalhar nesta área. Desta varanda natural, espreita-se o Palácio da Vila e as suas famosas chaminés, a Volta do Duche [o passeio que liga os comboios ao centro histórico], a câmara municipal e a antiga biblioteca, em tons de salmão, mas também a serra em redor e até a vila de Mafra e o seu convento, ao fundo.

A poucos metros dali, leva-nos até a uma das suas ruas preferidas na vila, a Rua do Arco do Teixeira. «O amor é uma flor. Cultive», lê-se numa fachada. Não está longe da clássica Piriquita, mas mantém-se uma ruela tranquila, com arcadas antigas, calçada portuguesa, desenhos de andorinhas a decorar paredes e meia dúzia de moradas: há gelados, jóias, artesanato, taberna e mercearia. «É uma rua invulgar e acolhedora. Passa pouca gente aqui, estão focados nas ruas centrais», conta Andreia. Há muito tempo que a jovem recebe, todas as semanas, a newsletter da Evasões. «Dá-me sempre dicas para visitar sítios diferentes ao fim de semana e consigo ficar a par de espetáculos e novidades para comer», revela a leitora, que se assume bom garfo.

O Villa 6 serve petiscos há ano e meio numa pequena rua longe da confusão. (Fotografias: Nuno Pinto Fernandes/GI)

As clássicas gambas ao alhinho fazem parte da carta, mas há muito por onde escolher.

A acolhedora e rústica casa de petiscos, gerida por dois sintrenses.

«Adoro petiscar», atira. O verbo é a deixa para a próxima paragem, obrigatória para quem gosta de partilhar à mesa, a preços simpáticos. Chama-se Villa 6, abriu há ano e meio e tem na localização uma das mais-valias, situando-se numa das ruelas mais altas e tranquilas, longe do burburinho. «Adoro marisco. Não me canso», vai dizendo Andreia Cardoso, na esplanada onde apetece estar sem pressas, enquanto chega à mesa uma mistura de saladas frias, de polvo, mexilhão e camarão.

«Começámos só a servir pregos e bifanas, que não tínhamos muito no centro, e fomos alargando a outros petiscos com o tempo», explica João Franco, um dos dois donos, ambos naturais de Sintra. Hoje, têm um pouco de tudo, do típico camarão ao alho, tábuas e choco frito aos cogumelos recheados com legumes e ao queijo de Azeitão com mel e orégãos. Os pregos, de novilho e vazia, estão sempre a sair, tal como a bifana de porco preto em bolo do caco.

O brinde faz-se com cerveja artesanal da casa, uma pale ale feita em parceria com um produtor local, ou com vinhos da zona. «Há uma geração nova em Sintra empenhada em servir boa comida e oferecer uma boa experiência», explica o dono do rústico Villa 6.

 

Ar puro na serra e no parque

Caminha a bom ritmo, mesmo nas subidas. As passadas são largas. Desde criança que Andreia Cardoso está habituada a percorrer a pé a Serra de Sintra, Património Mundial da UNESCO. «A primeira memória é pensar que tudo isto era muito mais verde do que qualquer outro sítio», recorda. Hoje, é um dos seus refúgios quando precisa de respirar fundo, mas já em tempos, nas aulas de Educação Visual, aprendeu os seus recantos, ao desenhar as suas formas e seus inquilinos, como o Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena, principais chamarizes da vila.

O Caminho da Vila Sassetti faz-se ao ritmo de cada um, e liga o centro histórico ao Castelo dos Mouros.

O Castelo dos Mouros, um dos maiores símbolos da vila.

«Sintra é única e rica. Há paisagens aqui irrepetíveis. É a natureza em força, pura», adianta. Por estas subidas e descidas, há muito para descobrir, ou não fosse este um local com vestígios que remontam ao neolítico, mas um dos trilhos pedestres preferidos de Andreia é o Caminho da Vila Sassetti, entre o centro histórico e o Castelo dos Mouros. O nome vem de um bonito chalet do século XIX, antiga casa de férias de Calouste Gulbenkian, envolta num jardim cuidado, e que se visita por fora. O percurso total soma dois quilómetros e passa, na parte final, por locais como o Penedo da Amizade, aglomerado rochoso que os amantes de escalada conhecem bem.

Mas não é necessário subir às alturas para respirar ar puro na natureza. O Parque da Liberdade, junto ao centro, é um dos exemplos disso, com a sua zona de merendas, bar, ringue de patinagem, court de ténis, fontes e lago. Por estes dias, acolheu uma feira de Natal, mas durante o ano inteiro decorrem aqui atividades, como teatro ao ar livre. Andreia conhece bem a eclética flora que aqui habita, desde nespereiras japonesas a magnólias norte-americanas ou castanheiras asiáticas. «Vinha sempre para aqui quando não tinha aulas. Para ler, relaxar, cortar com a rotina e fugir ao reboliço», diz. Uma verdadeira evasão de luxo.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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