# Mil e uma camélias em flor
Por esta altura, a incrível coleção de camélias do Parque Terra Nostra está a florescer, e a pintar de várias cores o cenário verde desse maravilhoso jardim botânico com mais de 200 anos.
Algumas mais exuberantes, outras mais discretas. Pequenos botões brancos escondidos entre a folhagem ou flores aparatosas, bem abertas e onduladas, de cor carmim, amarelas ou até listradas. “Uma pessoa pode passar aqui um dia inteiro que está sempre a ver flores diferentes”, garante Carina Costa, engenheira agrónoma e uma das responsáveis pelas maravilhas botânicas do Parque Terra Nostra, um exuberante jardim com 12 hectares e meio, detido pela Bensaude Hotels Collection. Foi o pai, Fernando, o jardineiro chefe que na década de 1990 começou a desenvolver e expandir a coleção de camélias do jardim, atualmente a maior coleção de plantas do parque, e a atração principal nos meses em que floresce.
“Ele sabia que era uma planta que se dava muito bem às nossas condições, e depois foi-se apercebendo que o mundo das camélias era tão grande, havia tanta diversidade, que começou a apaixonar-se”, conta a filha. Existem milhares de cameleiras espalhadas pelo jardim, e mais de 800 tipos diferentes – “o meu pai quer chegar aos mil”, comenta Carina -, que dão pretexto a um passeio demorado para admirar todas as suas particularidades: a forma das folhas, a cor das pétalas, o perfume… “Esta é a mais antiga cameleira que temos no parque, tem 110 anos”, diz a engenheira, apontando para uma planta de tronco robusto. Carina herdou do pai a paixão pela botânica e guia-nos com entusiasmo pelo parque, chamando a atenção para algumas das plantas mais raras e partilhando curiosidades.
“A história da cameleira nos Açores está muito ligada ao chá, que é proveniente da camellia sinensis. No início do século XIX, os Açores, e a ilha de São Miguel principalmente, produziam muitos citrinos, e as cameleiras parecem ter surgido inicialmente para formar sebes que protegiam os citrinos dos ventos fortes, não eram vistas como plantas ornamentais”, explica. Quando houve um declínio da produção de citrinos, o chá ganhou força e com ele mais variedades de camélias começaram a chegar à ilha.
“As cameleiras vêm originalmente da Ásia e as espécies mais puras, antes de serem cruzadas pelo Homem, têm flores bastante singelas, flores mais pequenas”, realça Carina, confessando que são essas, as mais discretas, as suas preferidas, por serem menos comuns. “Depois os jardineiros começaram a cultivá-las na procura de encontrar melhores formatos, melhores perfumes e daí esse boom de cameleiras que temos hoje em dia”.
A engenheira aponta “cerca de 220 espécies puras”, das quais apenas três ou quatro são ornamentais e estão na origem de centenas de novas espécies. São as rainhas no inverno e estão em plena floração entre fevereiro e março, “mas a gente aqui tem camélias todo o ano”, realça.
Ainda que as camélias sejam a maior atração do parque por esta altura, há muitos outros motivos para conhecer este belíssimo jardim recheado de exemplares exóticos e endémicos. Foi fundado em 1775, por Thomas Hickling, um abastado comerciante americano, cônsul em São Miguel, que se apaixonou pelas Furnas, construindo ali uma casa de campo.
“Isto é um jardim construído ao estilo inglês, então tudo foi desenhado para parecer o mais natural possível. Há uma imitação da natureza, mas em bom”, descreve Carina. A densidade de árvores de grande porte do parque assemelha-se a uma pequena floresta, que convida a um mergulho na natureza, embalado pelos sons da avifauna. De passeio pelos caminhos de terra é ainda de atentar à coleção de fetos com mais de 200 espécies, e a de cicas, árvores semelhantes a palmeiras – “são consideradas fósseis vivos, viveram com os dinossauros”, realça Carina -, a romântica Avenida das Ginkgo Biloba, que no inverno se cobre de folhas alaranjadas, clareiras convidativas à meditação, lagos, grutas e canais de água. De todos estes e mais tesouros se faz este jardim histórico.
# Óleo de camélia e banhos quentes
Inserido no cenário exuberante do jardim botânico, o Terra Nostra Garden Hotel é um refúgio de bem-estar, clássico e elegante, que permite aos hóspedes acesso ilimitado ao tanque de água termal.
A origem vulcânica de São Miguel mostra-se sem rodeios à chegada a esta freguesia do concelho da Povoação. As bermas da estrada fumegam e há um subtil cheiro a enxofre no ar. Quando as águas termais deste vale em ebulição começaram a ganhar fama, na década de 1930, a Associação Terra Nostra – formada também nessa altura com o intuito de promover São Miguel como destino turístico internacional – criou uma das maiores referências de hospitalidade da ilha, o Terra Nostra Garden Hotel. A dar as boas-vindas aos visitantes das Furnas há 87 anos, é o lugar ideal para desfrutar de todos os encantos da região.
O hotel conta com 86 quartos elegantes e espaçosos, distribuídos por duas alas: a Art Déco, construída na década de 1930 e que mantém o charme da época, e a ala Jardim, adicionada na década de 1990, e onde se encontra também o spa e a piscina interior.
O quadro verde e frondoso do jardim botânico serve de cenário às salas de tratamento envidraçadas, e cria um ambiente tranquilo, ideal para experimentar o novo tratamento de rosto. Dura pouco mais de uma hora, e destaca os produtos da Ignae, uma marca de cosméticos açoriana, que utiliza óleos de camélias recolhidas do Parque Terra Nostra. O périplo inclui limpeza, esfoliação, massagem drenante, máscara detox com spirulina da ilha Graciosa e hidratação da pele.
Os hóspedes do hotel podem ainda aceder livremente durante as 24 horas do dia ao jardim e à famosa piscina termal, uma das grandes atrações do parque e das Furnas. Trata-se de um grande tanque de água de cor barrenta – devido ao alto teor de ferro – a uma temperatura entre os 35 e 40ºC. Uma recomendação: evitar fatos de banho de cores claras, pelo risco de ficarem permanentemente manchados.
Mais abaixo, escondidos na canópia do jardim, existem dois tanques mais pequenos, também de água termal, para banhos igualmente relaxantes. Se ocorrer uma chuva passageira, como é frequente na ilha, os chuviscos temperam o calor da água termal e reforçam a sensação de se estar num ambiente tropical.
Mais sítios onde ir a banhos quentes na ilha:
# Caldeira Velha
O Monumento Natural da Caldeira Velha, na Ribeira Grande, faz parte do Complexo Vulcânico do Fogo e é um dos locais mais procurados da ilha para ir a banhos quentes. É um conjunto de quatro tanques, enquadrados num cenário verde exuberante da encosta da floresta da Serra da Água de Pau, com água termal a uma temperatura média de 34ºC. Na piscina maior, ao fundo do parque existe também uma belíssima cascata. O espaço foi recentemente equipado com uma nova zona de banhos, vestiários e cacifos.
# Ponta da Ferraria
No extremo oeste da ilha, a paisagem protegida da Ponta da Ferraria, uma fajã lávica que se adentra no mar, oferece uma experiência muito especial. Ali, a atividade vulcânica submarina permite ir a banhos quentes no mar, numa enseada de água salgada que ronda os 30ºC (a temperatura varia com a maré). Ao lado, existe também um complexo termal, encaixado entre grandes falésias e o oceano.
# Cozido da terra e outros sabores
No restaurante do hotel Terra Nostra trabalham-se os produtos locais e regionais com um toque contemporâneo.
Uma visita às Furnas implica provar o famoso cozido feito com o calor da terra, mas o hotel vai mais além e propõe uma atividade interativa, desafiando os hóspedes a “preparar o seu próprio cozido”. A experiência começa com uma ida às compras na frutaria e no talho da freguesia, na companhia do subchefe Valter Vieira, que nos fala de todos os ingredientes do famoso prato. Depois, passa para a cozinha, onde são preparadas as carnes e os vegetais e montada a grande panela – os ingredientes são ordenados de forma a garantir o ponto de cozedura ideal -, que segue logo para as caldeiras das Furnas. Uma vez ali, vale a pena dar um passeio em redor da lagoa e admirar a bonita capela de Nossa Senhora das Vitórias, de estilo gótico e vitrais coloridos, mandada construir por José do Canto, uma das figuras mais conhecidas do arquipélago, que ali jaz.
O ritual de colocação e retirada das panelas da terra é um espetáculo que junta muitos curiosos em redor dos buracos onde aquela especialidade fica entre sete a oito horas a cozinhar lentamente com o vapor do vulcão. “Metemos as panelas às 5h da manhã para o cozido estar perfeito para o almoço”, realça Valter. O prato está disponível todos os dias no restaurante de sala luminosa, aberta para o quadro verde do jardim, e o cliente pode repetir as vezes que quiser. Quem não come carne também pode saborear pratos saídos das entranhas do vulcão, como o cozido vegetariano com couscous ou a caldeirada de bacalhau.
A carta exibe ainda outras propostas que celebram os produtos locais e regionais, como os filetes de abrótea, o creme de inhame e os bifes do lombo dos Açores. Optando por um dos menus de degustação pode ser-se surpreendido com um polvo frito, com ananás e redução de vinho do Porto, um xaréu salgado com aipo, tangerina e limão galego, ou um novilho regional com molho pimenta, puré de favas e telhas de queijo São Miguel. Para refeições mais ligeiras e cocktails de assinatura há o bar e terraço The Gardener.
Longitude : -8.2245
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