Comer, comprar e passear entre as novidades da Foz do Douro

O Pizza Café da Luz é um dos novos locais a visitar. (Fotografia de Artur Machado/GI)
Os últimos meses foram marcados por aberturas na Foz, que estão a diversificar a oferta daquela zona do Porto e a multiplicar os sotaques ouvidos. Há cozinhas abertas todo o dia, comida de autor, vinhos de pequenos produtores, pão de fermentação lenta, muitos petiscos, mas também roupa de designer em segunda mão.

O mar revolto, a chuva e os areais vazios anunciam a chegada do tempo frio à Foz do Douro. Por esta altura há menos transeuntes a passear por aquela zona da cidade – que conserva a sua beleza mesmo num dia de tempestade -, e isso até pode ser agradável para visitar as novidades que se deram a conhecer durante e após a pandemia, num percurso com pouco mais de três quilómetros.

Com apenas dois meses, o MERCADO ORGÂNICO, na Rua de Diu, é um dos inquilinos mais recentes da zona. Ali, pretende-se “ajudar as famílias a reduzir a sua pegada ecológica”, contam Paulo Costa e Maria João Vaz, que ao lado do casal de brasileiros Danielle Maciel e José António Teixeira – também a viver por cá – gerem o negócio.

Apesar da área exígua, o arquiteto César Machado Moreira projetou um espaço confortável que acolhe dezenas de produtos a granel, bem como workshops (o próximo, de buddha bowls, é neste sábado, 5 de novembro) que acontecem à volta da ilha em mármore. Pelos dispensadores e frascos encontram-se massas, leguminosas, produtos de pequeno-almoço, pseudocereais, especiarias, sementes, chás, farinhas, frutos secos. Aquilo que não é passível de ser vendido a granel está disponível embalado, até porque os proprietários não são fundamentalistas, como referem. Há cerveja, kombucha, manteiga, ghee e café bio em cápsulas compostáveis, mas também artigos de higiene e limpeza, e elementos de decoração, como velas de soja com cristais.

A Foz foi a zona escolhida pela proximidade que ainda se sente entre moradores, algo que Paulo e Maria João sentiram ter perdido em Lisboa. Viveram uns anos no Brasil e, de regresso a Portugal, decidiram trocar a capital pelo Porto, e a cidade abraçou-os. “Completamente”, garantem. O mesmo sentimento é partilhado por Will Chitra-Straley, à frente da HOUSE OF OWL, na Rua Monsenhor Manuel Marinho.

O designer Will Chitra-Straley trocou a insegurança dos EUA pelo Porto. (Fotografia de Igor Martins/GI)

A insegurança que o designer indonésio começou a sentir nos Estados Unidos pôs fim aos 22 anos que por lá viveu, tendo começado uma nova vida no Porto, no ano passado. Na bagagem trouxe a empresa de personal styling que já tinha e deu-lhe o tão desejado espaço aberto ao público, onde faz consultoria de moda e vende peças de designer em segunda mão e novas, de coleções passadas. Para já, há artigos de vestuário, calçado e acessórios, para mulher e homem, de marcas como Alexander McQueen, Rochas, Proenza Schouler, Stella McCartney, entre outras, mas Will também quer promover designers portugueses, com “samples ou artigos de estações passadas”, já que a sustentabilidade é uma das suas preocupações. Quanto à consultoria, idealmente é feita em casa dos clientes, para que possa ter uma perspetiva global dos seus armários e assim conseguir sugerir maneiras de estes tirarem todo o partido das suas peças.


SABORES DE ITÁLIA

Para João Guedes, um dos primeiros surfistas em Portugal, a localização do seu PIZZA CAFÉ DA LUZ é ideal. As janelas permitem-lhe ver como está o mar e fazer (ou não) planos para entrar na água. É assim desde abril, mês em que abriu esta pizaria na Rua da Senhora da Luz, depois de ter regressado de Cabo Verde, país onde viveu nos últimos anos. Influenciado pela leveza do país africano, quis criar um espaço de ambiente descontraído, onde as pessoas se sentissem à vontade para chegar “ainda com areia nos pés”. Com o pizaiolo Gustavo Manuel lançou uma carta com 12 pizas de massa fina (uma delas calzone), coroadas com ingredientes como atum, bresaola, salmão fumado, salame picante, requeijão e tâmaras ou vegetais e queijo vegano. Da carta constam ainda wraps, saladas e flat breads, feitos com a mesma massa das pizas, mas abdicando do molho de tomate e da mozarela.

Uma das sugestões do Pizza Café da Luz. (Fotografia de Artur Machado/GI)

Já a inspiração para o AL MARE, em frente ao ponto onde o rio beija o mar, no Passeio Alegre, chegou das cidades costeiras italianas. No sexto espaço do Grupo Cafeína há uma forte aposta nos produtos frescos do mar, que brilham em criações do chef Camilo Jaña, como o linguine de sapateira alla veneziana, entre outras opções de pastas e pizas. As alongadas cartas de vinhos e de cocktails são outros dos atrativos desta casa de ambiente elegante.

Seguindo junto ao Jardim do Passeio Alegre alcança-se o FOZZINI uns metros mais à frente. De portas abertas desde maio, este espaço em frente ao rio, na zona da Cantareira, foi pensado pelos mesmos proprietários dos restaurantes Traça, Cozinha Cabral e Pisca, que regressaram à gastronomia italiana depois de há uns anos terem tido um franchise do grupo Al Forno. A cozinha aberta todo o dia permite pedir a qualquer hora carpaccios, tábuas, pizas, pastas, focaccias, saladas, risotos e pratos de carne. A lista de bebidas é igualmente longa, destacando-se os vinhos, os cocktails e as sangrias. Parte da matéria-prima chega de Itália, como o pistácio, o guanciale, a bresaola e o speck, o presunto de Parma e a mortadela trufada.

A cozinha do Fozzini permanece aberta todo o dia. (Fotografia de Igor Martins/GI)


PÃO E PETISCOS NO MERCADO

Virando por momentos as costas ao mar, dirigimo-nos ao Mercado da Foz, que apesar dos seus 74 anos continua vibrante, com uma mistura saudável de bancas de frescos e flores e propostas mais recentes, sendo uma delas O BALCÃO DO MERCADO. Aquilo que começou por ser um takeaway, aberto pelo chef Pedro Moura Bessa, rapidamente se transformou numa “barra” com petiscos inspirados na cozinha ibérica. O também dono do Balcão da Baixa (ex-Panda), na Praça D. Filipa de Lencastre, serve pratos descomplicados e fáceis de fazer, como sanduíches e opções para partilhar, caso dos crocantes calamares com maionese de sriracha ou da tosta de straciatella com tomate e pesto.

As tostas também são parte integrante da oferta da PAO – PADARIA ORGÂNICA ARTESANAL, com recheios que variam entre conservas de peixes fumados como bacalhau, salmão e enguia, anchovas ou queijo brie, rúcula, nozes e mel. O projeto pertence a Vasco Barbosa e foi inaugurado no ano passado, com a ajuda de Fábio, brasileiro natural de Rio Grande do Sul, e padeiro responsável pelas fornadas de pão de fermentação lenta produzido com farinhas bio de trigo, trigo integral, centeio, espelta e einkorn. Outras opções incluem brioche e focaccias.

A nova Pao investe na fermentação lenta. (Fotografia de Igor Martins/GI)


VINHOS E COMIDA DO MUNDO

No regresso à marginal vale a pena dar um salto à TAVI, que no ano passado ganhou uma varanda virada para o mar, no piso superior, além de uma refrescadela na decoração e um brunch servido ao fim de semana. O caminho segue em direção ao BOTELLA – FOOD & WINE, um bar de vinhos que também serve petiscos, num espaço aconchegante que convida a conversas cruzadas. Diogo Magalhães Ferreira, formado em enologia e apaixonado pelo universo vínico, juntou-se a João Monteiro, amante de cozinha e responsável pela carta, e abriram um lugar direcionado para quem quer descobrir vinhos de pequenos produtores portugueses e espanhóis.

No Botella, onde se privilegiam referências com pouca intervenção, que permitam conhecer a região pelo copo, Diogo e a irmã Margarida estão disponíveis para um atendimento à medida de cada um. Para picar, há chips mexicanas com guacamole, tártaro de salmão e chouriço assado, entre outras opções. Pontualmente, fazem-se wine sessions onde os produtores se dão a conhecer, e de segunda a sexta é servido o menu de almoço.

Continuando o passeio para Norte, descobre-se o OLÍVIA NO MOLHE, um restaurante-bar na Praia do Molhe, cujo nome homenageia a avó de João Fonseca, o responsável. Às mesas chegam tapas e pratos de cozinha mediterrânica, para pedir a qualquer hora, seja a focaccia de frango desfiado com cebola caramelizada e queijo de cabra, os ovos rotos ou as lulinhas fritas com maionese de lima. Sugestões que vão bem com a sangria de mojito.

A cozinha mediterrânica está em evidência no Olívia no Molhe. (Fotografia de Artur Machado/GI)

Vista sobre a Praia do Molhe.
(Fotografia de Artur Machado/GI)

O nome do restaurante PORTIE é igualmente uma homenagem. Mas, neste caso, ao cão-de-água de Anabela Teixeira e Paulo Neves. Em inglês, a raça é conhecida como portie, e a sonoridade da palavra ditou o nome desta casa de “fine-dining desconstruído” na Rua do Passeio Alegre. O Portie é “para aqueles que querem jantar fora e comer bem, mas sem cerimónias”, diz Anabela, acrescentando que esse convite é feito na carta, mas também na decoração. “Quisemos criar algo com um ar cosmopolita, onde há uma mescla do conforto do antigo e da alegria e leveza do contemporâneo”.

O Portie junta o ar cosmopolita a reinvenções de clássicos gastronómicos. (Fotografia de Artur Machado/GI)

O mobiliário inglês, as cadeiras de bistrô e o papel de parede criam o ambiente para saborear as criações do chef António Lobo Xavier, formado por Le Cordon Bleu e com passagens pelo Flow, Bocca, Belcanto e Boubou’s. Na cozinha, o chef Xavi – como é conhecido – pegou em clássicos gastronómicos e reinventou-os, como é o caso do surpreendente ceviche de barriga de porco, com pimentos e lima. Todos os pratos podem ser vegetarianos ou veganos, bastando pedi-lo no início da refeição. O Tigre, com camarão tigre, polenta e orégãos, pode ser preparado com cogumelos. No Tártaro, Mas de Tomate troca-se o parmesão por condimentos, para uma versão livre de proteína animal, e no best-seller Robalo e Arroz 2.0, um cremoso risoto com espargos e o peixe confecionado no ponto, os espargos fazem a vez do pescado. A oferta tem agradado. “Temos tido clientes das mais variadas faixas etárias, o que cria uma fusão de gente. Acho que o cosmopolitismo também está nisso.”

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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