Roteiro por Celorico de Basto, ao sabor da natureza

Ponte de Matamá, na Ecopista do Tâmega. (Fotografia: Miguel Pereira/Global Imagens)
O concelho verde do Minho, a dois passos do Douro e de Trás-os-Montes, designa-se por Capital das Camélias, graças aos seus jardins com formas invulgares, que valem a pena ser visitados todo o ano. Mas o património bem preservado, as paisagens naturais e a gastronomia minhota são outros atributos desta região.

Um pachorrento beagle de nome Tintim segue lentamente ao lado de Gabriela Meireles que, apontando para cameleiras, buxos e árvores, nos guia por entre corredores verdes nos jardins da CASA DO CAMPO, em Molares, Celorico de Basto. Ainda se vêem as delicadas flores que este ano desabrocharam mais tarde por causa do frio. Gabriela acredita, no entanto, que “quem é amante de camélias, não se importa de ver só verde”, e ali recebe interessados na planta durante todo o ano.

A abundância de jardins de camélias levou o concelho a afirmar-se como a Capital das Camélias, e a dedicar-lhes anualmente uma Festa Internacional, em março. Devido à pandemia, a edição de 2021 fez-se digitalmente, pelo Facebook, mas o evento costuma trazer centenas à região, que apresenta outros atributos como as suas praias fluviais, uma envolvente vegetal de grande beleza, onde se incluem as vinhas que dão origem ao Vinho Verde. É pela natureza, ou próxima dela, que segue este roteiro, com boas mesas pelo meio, neste concelho a uma hora do Porto, que é, para quase todos os que chegam, uma surpresa.

Estima-se que os jardins da Casa do Campo – um antigo solar que remonta ao século XII, e que em breve voltará a receber hóspedes -, tenham sido construídos no século XVIII, e é neles que se vê aquela que poderá ser uma das camélias mais antigas de Portugal. É um único pé e a topiária – a arte de moldar plantas – ali aplicada fá-la parecer um gigante guarda-sol, mas há outras formas: colunas, corredores em arco, casas com portão e casas de fresco, “para onde as senhoras se iam refrescar”, em dias de calor. Além de cameleiras, o jardim pinta-se ainda com azáleas e um centenário rododendro.

Ainda em Molares, discreto e rodeado com outro tipo de flora, descobre-se o SABORES DA QUINTA, uma homenagem de Maria Luísa, Francisco e António Lemos ao pai Francisco, que tinha o sonho de abrir um restaurante. Os três filhos, e o marido de Maria Luísa, Pedro Silva, arrancaram com esta “sala de estar para receber amigos e não só” em 2004, e desde então tem sido um sucesso. Não só pela sala, qual miradouro sobre serranias, mas sobretudo pelos pratos caseiros, muitas vezes receitas de família. Sai bem a vitela ilhada assada no forno a lenha acompanhada de milhos, que fazem as vezes do arroz, o joelho de porco, o suave bacalhau com broa, e a rabanada de vinho tinto, tudo acompanhado pelo vinho produzido pela família, o Dinasta.
Um olhar atento para os recortes de jornal à entrada dá conta de passagens do chef Anthony Bourdain pelo restaurante. Trazido pelo chef José Meireles, primo dos proprietários, Bourdain visitou os Sabores da Quinta pela última vez, em 2017, para gravar um episódio do seu programa Parts Unknown.

Praias fluviais e circuitos de moinhos
Em apenas cinco minutos de carro, partindo-se do restaurante, chega-se à bonita PRAIA FLUVIAL DE FERMIL DE BASTO, onde as águas do estreito Rio Veade, um afluente do Tâmega, serpenteiam por duas margens arborizadas, sendo possível percorrê-las a pé durante alguns quilómetros. Outro lugar muito procurado para banhos é a PRAIA FLUVIAL DO VAU, num ponto do Rio Tâmega onde se dividem os distritos de Braga, Porto e Vila Real. Mais selvagem, o acesso faz-se pelo Lugar da Cruz, na freguesia de Britelos, e implica descer um caminho em terra batida quase até à água. Contudo, a beleza do trecho do rio, ideal para rafting e ladeado por vegetação, compensa. Também no centro de Celorico de Basto se vai a banhos, junto ao Parque de Campismo e Caravanismo, na MARGEM DO RIO FREIXIEIRO, que corre sereno pelo centro da vila, cruzando o Parque Urbano homónimo, e alimentando as pequenas cascatas e os moinhos recuperados.

Na freguesia do Rego, já a tocar Fafe, fez-se mais do recuperar os moinhos, criou-se o NÚCLEO MUSEOLÓGICO E CIRCUITO TURÍSTICO DOS MOINHOS DE ARGONTIM. João Baptista, presidente da junta de freguesia do Rego, interrompe o trabalho de manutenção dos mesmos para nos explicar que os engenhos “moíam a farinha que abastecia as padarias de Guimarães, no tempo da guerra” e “serravam o carvalho que ia para Vila Nova de Gaia, para fazer as pipas de vinho do porto”. Até ao último dos 17 moinhos são cerca de três quilómetros, num percurso de dificuldade média, embalado pelo sussurrar das águas do Rio Bugio, sombras fornecidas por amieiros, salgueiros e freixos, e aparições de lontras, cabras-bravas e corços.

Comer e pedalar
O caminho de regresso ao centro de Celorico de Basto pode fazer-se passando pelo restaurante BONS COSTUMES, em Carvalho, ou terminado no DESTRAVADO, em frente à Câmara Municipal. O Bons Costumes é o projeto de vida de Manuel Teixeira, que ficou à frente da casa aos 20 anos de idade, depois de ter ganho o gosto pela cozinha durante o tempo da tropa. Se no início funcionava como mercearia, Nelo, como é conhecido, rapidamente entendeu que uma tasca funcionaria melhor, dada a quantidade de gente que lá ia pelas febras e pelo frango frito com molho picante, que ainda hoje faz. Ao longo do tempo a casa cresceu, e ao café onde serve petiscos como moelas e rojões, juntou-se uma sala de ambiente mais refinado, para se saborear especialidades como o cabrito assado durante três horas, vitela grelhada, bacalhau gratinado à moda da casa, polvo à Lagareiro, arroz de cabidela e o bolo de mel. “Foi das minhas primeiras sobremesas, e é uma espécie de massa de pão-de-ló, que leva mel e canela”.

Já no centro da vila encontra-se o Destravado, um espaço descontraído, na carta e na decoração. João Lemos e Ana Borges ficaram com o lugar há três anos e mantiveram os petiscos, as tapas e os produtos de cafetaria, ainda que melhorados. Do longo cardápio destacam-se os hambúrgueres e pregos em bolo de caco, os ovos rotos, o pão recheado com bacon e alheira, e o menu de brunch, servido ao fim de semana.

Com o estômago reconfortado, faz-se bem o curto trajeto a pé até a um dos primeiros jardins a receber exemplos de topiária, o jardim romântico da Quinta do Prado, integrada nos paços do concelho. A uns metros dali surge a Biblioteca Municipal Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, que reúne milhares de livros doados pelo atual Presidente da República. Todo o edifício está rodeado por uma zona relvada, usada para lazer.

Se a preferência for para um programa mais dinâmico, sugere-se um salto até à Celobike, uma referência na região para comprar bicicletas, motas, máquinas de fitness ou pequenas máquinas agrícolas. O serviço de aluguer também está disponível e é requisitado, sobretudo, por turistas que pretendem conhecer a Ecopista do Tâmega, seja com bicicleta normal ou elétrica.
A segunda revela-se uma experiência menos cansativa, enquanto se percorrem os cerca de 23 kms da antiga linha férrea, em Celorico de Basto, num total de cerca 40 kms. Arrancando-se junto à antiga estação de comboios, e seguindo para Norte, ou seja, para o lado esquerdo, o percurso até Cabeceiras de Basto, rico em vinhedos, passa pela Ponte de Matamá, que oferece uma perspetiva sobre a faceta mais rural do concelho, sobre o Rio Tâmega, a Senhora da Graças e serras do Alvão e do Marão, e ainda se conhece o adorável burro Zé. Seguindo para Sul, até Amarante, o percurso é mais florestal, mas nem por isso menos encantador. A ecopista está a ser intervencionada para reabrir ainda mais apelativa em junho. Uma (boa) desculpa para regressar.

Dormir em sossego
As irmãs Teresa e Maria João Aguiã recebem calorosamente quem chega às Casas do Eido, em Molares, procurando “acolher bem e estar disponível para o que for preciso”. Este alojamento local trata-se de um conjunto de duas casas em pedra, recuperadas mas com as características originais, e separadas por terraços. A térrea Casa da Viúva, com três quartos, é alugada integralmente, e na Casa do Eido reservam-se três confortáveis suítes, de decoração modesta, para quem procura sossego num espaço rural. Um tanque e vegetação autóctone refrescam em dias quentes.
A cerca de 3 kms fica a quinta da chouza agroturismo e enoturismo. A oferta de alojamento inclui dois quartos na casa principal e duas casas-moinho ao lado de uma pequena praia fluvial e de um ribeiro onde se passeia de barco. Os bosquetes foram plantados “para dar a conhecer diferentes espécies”, conta Francisco Oliveira, e a vinha para dela se engarrafar o vinho verde Chão de Rio. A pequena produção é experimentada na recém-inaugurada sala de provas.

 

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