Passear entre natureza e tradições no Parque Nacional da Peneda-Gerês

Miradouro de Fafião (Fotografia de Artur Machado)
Quer seja a atravessar as serras da Peneda e do Gerês, ou a fazer um pequeno trilho para tomar o pulso à montanha, é a caminhar que se conhece o Parque Nacional. Para recarregar energias, a aldeia do lobo tem poiso acolhedor e boa mesa.

É a meter pés ao caminho que melhor se experiencia a essência do Parque Nacional da Peneda-Gerês, mergulhando nos bosques verdes e nos planaltos de pedra descoberta, e parando para descansar nas aldeias típicas. Quem se aventurar na GR 50 – Grande Rota Peneda-Gerês encontrará todos estes cenários ao longo dos 200 quilómetros do percurso, que atravessa os cinco municípios do parque. A rota divide-se em 19 etapas, de extensão e grau de dificuldade distintos, mas todas elas com início nas povoações mais próximas. Faltando disponibilidade ou preparação para completar a Grande Rota de uma só assentada, pode-se ir conhecendo o parque um trilho de cada vez.

“Nós fazemos duas etapas por mês, ao fim de semana, ou integral, em oito dias. Recomendo vivamente. Consegue-se descobrir as diferenças entre a Serra da Peneda e a do Gerês”, diz Bruno Rodrigues, da MONTESA, empresa de atividades de natureza que fundou há três anos, e cujo nome é uma espécie de homenagem à cabra-montês, “por ela ser uma boa montanhista”.

GR 50 – Lamas de Mouro/Senhora da Peneda (Fotografia de Artur Machado)

GR 50 – Lamas de Mouro/Senhora da Peneda (Fotografia de Artur Machado)

Seguimos por um bosque de vidoeiros e carvalhos, atravessado por várias linhas de água, num trilho que integra a terceira etapa da Grande Rota, entre Lamas de Mouro, no concelho de Melgaço, e a Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez. Bruno aproveita a folhagem caída no caminho para nos ensinar a encontrar o Norte com a ajuda de um clipe e uma folha seca. “Tentamos sempre sensibilizar para os perigos da montanha, também fazemos workshops de primeiros socorros e orientação e sobrevivência”, além de caminhadas na montanha, ascensão aos picos do Parque Nacional, river trekking e iniciação à escalada nas fragas da serra da Peneda.

Quem se aventurar a calcorrear o parque à boleia desta Grande Rota, irá conhecer vias romanas e calçadas medievais, caminhos de romeiros em peregrinação aos locais de culto, rotas do contrabando, entre outros itinerários.

O bisavô de Bruno era da Peneda, “chamavam-lhe o tio Adriano dos ovos. Era contrabandista. Ia a Espanha comprar café e ovos e vendia cá”, conta, enquanto subimos por um antigo caminho romeiro. A peregrinação à Senhora da Peneda tem mais de 800 anos, “é uma das romarias mais importantes aqui do Alto Minho”, realça o guia.

O santuário, incrustado na serra, foi construído entre os séculos XVIII e XIX, mas já muito antes existia ali uma ermida a que os devotos rumavam. Sobrando forças, vale a pena enveredar pelo trilho da Peneda, que sai das traseiras do santuário para o cimo da serra. O percurso circular, com 9,8 quilómetros, passa pela Branda de Bouças dos Homens, por um pequeno lago artificial, várias paredes de escalada e varandas sobre a paisagem.

Comer e dormir na aldeia do lobo
Para recarregar energias seguimos até Fafião, no concelho de Montalegre, já na Serra do Gerês. Aldeia de tradições vincadas, como sistema da vezeira – pastar o gado à vez –, que ainda perdura muito por iniciativa dos jovens que não deixam esmorecer os costumes, também tem atraído visitantes com novos chamarizes, como o hostel RETIRO DO GERÊS. “Em homenagem aos pastores batizamos as nossas suítes com os nomes dos currais onde guardam os animais no verão, quando vão para a serra”, informa Nuno Rebelo, o proprietário e membro da Associação Vezeira, a tal que se dedica a preservar as tradições locais. Trocou a vida em Braga pela concretização de um sonho de há vários anos: reabrir o primeiro alojamento da aldeia, que era também café e mercearia, aberto há quase 40 anos pelos pais. O hostel é composto por cinco suítes confortáveis e luminosas, e quatro quartos com beliche – para acomodar amigos ou famílias -, cozinha e sala de estar comum, e ainda um T1 com kitchenette. Tal como era antigamente, também tem um restaurante e uma mercearia, com produtos artesanais e da região. À mesa chega o fumeiro e a carne barrosã, o javali e a chanfana, mas a grande estrela tem sido o tomahawk, um corte invulgar na zona.

Retiro do Gerês (Fotografia de Artur Machado)

Retiro do Gerês (Fotografia de Artur Machado)

Retiro do Gerês (Fotografia de Artur Machado)

 

Para recuperar da travessa generosa, Nuno recomenda um passeio pela aldeia – se ainda restar força nas pernas -, com uma paragem no EcoMuseu, e de seguida no miradouro de Fafião, a que se chega através de uma ponte suspensa entre dois grandes blocos de granito, a 800 metros de altitude. Dali, tem-se vista sobre os vales do rio Cabril e do rio Cávado, e para o maior e mais bem preservado Fojo do Lobo da Península Ibérica, uma armadilha ancestral que servia para caçar os lobos que atacavam os rebanhos. O predador acabou por se tornar um símbolo da aldeia e hoje dá as boas-vindas à entrada de Fafião, de cabeça apontada para o céu, numa varanda para a albufeira de Salamonde.

Fafião (Fotografia de Artur Machado)

Fojo do Lobo de Fafião (Fotografia de Artur Machado)

 

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Mapa da ficha ténica
Morada
Largo da Sobreira do Chão, 1, Fafião, Montalegre
Custo
() Suítes a partir de 70 euros por noite (com pequeno-almoço)


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245



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