É a meter pés ao caminho que melhor se experiencia a essência do Parque Nacional da Peneda-Gerês, mergulhando nos bosques verdes e nos planaltos de pedra descoberta, e parando para descansar nas aldeias típicas. Quem se aventurar na GR 50 – Grande Rota Peneda-Gerês encontrará todos estes cenários ao longo dos 200 quilómetros do percurso, que atravessa os cinco municípios do parque. A rota divide-se em 19 etapas, de extensão e grau de dificuldade distintos, mas todas elas com início nas povoações mais próximas. Faltando disponibilidade ou preparação para completar a Grande Rota de uma só assentada, pode-se ir conhecendo o parque um trilho de cada vez.
“Nós fazemos duas etapas por mês, ao fim de semana, ou integral, em oito dias. Recomendo vivamente. Consegue-se descobrir as diferenças entre a Serra da Peneda e a do Gerês”, diz Bruno Rodrigues, da MONTESA, empresa de atividades de natureza que fundou há três anos, e cujo nome é uma espécie de homenagem à cabra-montês, “por ela ser uma boa montanhista”.
Seguimos por um bosque de vidoeiros e carvalhos, atravessado por várias linhas de água, num trilho que integra a terceira etapa da Grande Rota, entre Lamas de Mouro, no concelho de Melgaço, e a Senhora da Peneda, Arcos de Valdevez. Bruno aproveita a folhagem caída no caminho para nos ensinar a encontrar o Norte com a ajuda de um clipe e uma folha seca. “Tentamos sempre sensibilizar para os perigos da montanha, também fazemos workshops de primeiros socorros e orientação e sobrevivência”, além de caminhadas na montanha, ascensão aos picos do Parque Nacional, river trekking e iniciação à escalada nas fragas da serra da Peneda.
Quem se aventurar a calcorrear o parque à boleia desta Grande Rota, irá conhecer vias romanas e calçadas medievais, caminhos de romeiros em peregrinação aos locais de culto, rotas do contrabando, entre outros itinerários.
O bisavô de Bruno era da Peneda, “chamavam-lhe o tio Adriano dos ovos. Era contrabandista. Ia a Espanha comprar café e ovos e vendia cá”, conta, enquanto subimos por um antigo caminho romeiro. A peregrinação à Senhora da Peneda tem mais de 800 anos, “é uma das romarias mais importantes aqui do Alto Minho”, realça o guia.
O santuário, incrustado na serra, foi construído entre os séculos XVIII e XIX, mas já muito antes existia ali uma ermida a que os devotos rumavam. Sobrando forças, vale a pena enveredar pelo trilho da Peneda, que sai das traseiras do santuário para o cimo da serra. O percurso circular, com 9,8 quilómetros, passa pela Branda de Bouças dos Homens, por um pequeno lago artificial, várias paredes de escalada e varandas sobre a paisagem.
Comer e dormir na aldeia do lobo
Para recarregar energias seguimos até Fafião, no concelho de Montalegre, já na Serra do Gerês. Aldeia de tradições vincadas, como sistema da vezeira – pastar o gado à vez –, que ainda perdura muito por iniciativa dos jovens que não deixam esmorecer os costumes, também tem atraído visitantes com novos chamarizes, como o hostel RETIRO DO GERÊS. “Em homenagem aos pastores batizamos as nossas suítes com os nomes dos currais onde guardam os animais no verão, quando vão para a serra”, informa Nuno Rebelo, o proprietário e membro da Associação Vezeira, a tal que se dedica a preservar as tradições locais. Trocou a vida em Braga pela concretização de um sonho de há vários anos: reabrir o primeiro alojamento da aldeia, que era também café e mercearia, aberto há quase 40 anos pelos pais. O hostel é composto por cinco suítes confortáveis e luminosas, e quatro quartos com beliche – para acomodar amigos ou famílias -, cozinha e sala de estar comum, e ainda um T1 com kitchenette. Tal como era antigamente, também tem um restaurante e uma mercearia, com produtos artesanais e da região. À mesa chega o fumeiro e a carne barrosã, o javali e a chanfana, mas a grande estrela tem sido o tomahawk, um corte invulgar na zona.
Para recuperar da travessa generosa, Nuno recomenda um passeio pela aldeia – se ainda restar força nas pernas -, com uma paragem no EcoMuseu, e de seguida no miradouro de Fafião, a que se chega através de uma ponte suspensa entre dois grandes blocos de granito, a 800 metros de altitude. Dali, tem-se vista sobre os vales do rio Cabril e do rio Cávado, e para o maior e mais bem preservado Fojo do Lobo da Península Ibérica, uma armadilha ancestral que servia para caçar os lobos que atacavam os rebanhos. O predador acabou por se tornar um símbolo da aldeia e hoje dá as boas-vindas à entrada de Fafião, de cabeça apontada para o céu, numa varanda para a albufeira de Salamonde.
Longitude : -8.2245