Os Açores em estado puro: um roteiro pelas Flores, Corvo, Faial e Terceira

Os Açores em estado puro: um roteiro pelas Flores, Corvo, Faial e Terceira
O Poço da Ribeira do Ferreiro, na Ilha das Flores.
É de lagoas, encostas verdes, cascatas, crateras, piscinas naturais e grutas que se veste a bonita genética dos Açores, esse exemplo-maior e genuíno da beleza natural. Os sabores locais que chegam às mesas de ilhas como Flores, Terceira, Corvo e Faial, por mãos sábias, dão-lhe o restante charme e encanto. [Fotografias: Martin Kauffman, Sanda Vuckovic e Turismo dos Açores]

Lagoas, cascatas, encostas verdejantes, piscinas naturais e miradouros panorâmicos a cada curva. O ramalhete de cenários quase idílicos é tão puro como difícil de transcrever, em toda a sua essência, para a escrita. A Ilha das Flores, terceira mais pequena do arquipélago açoriano, é o destino certo para quem gosta de turismo de natureza, longe de confusões.

É dessa autenticidade e ruralidade que se faz a ALDEIA DA CUADA, projeto classificado património cultural que soma 30 anos na Fajã Grande. Nesta que é a região mais ocidental da Europa, para onde algumas famílias se mudaram no século XVII, para fugir a piratas, 17 casas de pedra foram recuperadas e servem hoje de alojamento. Oscilam entre um e seis quartos, sempre em ambiente familiar e rústico, ligadas por uma calçada com 300 anos. A receção chama logo a atenção, com máquinas de costura antigas, telefonias e um carro de bois a servir de secretária, mas também o restaurante, que chegou há quatro anos. Um espaço descontraído, com esplanada, que se baseia no produto de agricultores e pescadores locais, seja nas espetadas de mero com batata-doce, ou no enxareu e lírio na grelha, dois peixes-estrela na zona. A fruta local também tem lugar à mesa, com o pudim de maracujá e o gelado de ananás.

A Aldeia da Cuada é um projeto classificado património cultural que soma 30 anos na Fajã Grande.

Para além de casas em pedra recuperadas, o espaço tem um restaurante.

Sabores intrínsecos na genética açoriana, tal como o do mel, que muitos fabricam artesanalmente a partir do pólen da flor da cana roca, planta comum na ilha, e que rodeia o Miradouro Arcos da Ribeira da Cruz, um dos muitos pontos de paragem para observar cenários panorâmicos. Ainda sobre a natureza em estado puro, é obrigatório parar nas várias lagoas das Flores, como a da Lamboa, à volta da qual nascem amoras para fazer doce e aguardente, a Branca, onde nidificam patos em via de extinção, ou as vizinhas Rasa e Funda, a primeira emoldurada de cedro do mar e a segunda sendo a mais funda dos Açores.

Para mergulhos, todos os caminhos vão dar à Fajã Grande. O Poço do Bacalhau é regado por uma cascata junto a moinhos de pedra, as piscinas naturais ali ao lado também são boa alternativa e a beleza do POÇO DA RIBEIRA DO FERREIRO, um trilho pedestre de 600 metros que culmina numa floresta de encostas verdes e meia dúzia de cascatas, é de ficar sem palavras.

O Poço da Ribeira do Ferreiro.

Uma das muitas lagoas espalhadas pelas Flores.

Os encantos naturais da Ilha das Flores.

Ainda nesta zona, é junto ao mar que Jorge Brilhante assentou arraiais. Durante anos, foi fotógrafo para nomes como Mário Soares e Jorge Sampaio, mas trocou a Ericeira pelo sossego das Flores, onde se sente “confortável”. A ligação à cozinha, alimentada pelas memórias com as avós, levou-o a abrir o MARESIA, um restaurante fora-da-caixa onde se come sentado em sofás ou camas, ao lado de bolas de espelho e uma extensa coleção de vinis que dá ritmo à noite. Na cozinha, salta-se entre clássicos como polvo à lagareiro, bacalhau à Gomes de Sá e cabrito assado, mas também uns cogumelos salteados com vinho do Porto ou um caril de camarão, sempre à beira-mar.

A mesma vista tem-se do INATEL FLORES HOTEL, com vista oceânica e para o Corvo de alguns dos 25 quartos. O quatro estrelas de Santa Cruz das Flores nasceu há uma década no Porto do Boqueirão com piscina exterior e restaurante. Pelos quartos, imperam madeiras e tons pastel, entre fotografias de golfinhos e outros mamíferos debaixo do oceano. Mesmo nos corredores comuns, o azul do mar vai espreitando pelas portas envidraçadas nos corredores, que trazem luz natural o dia todo.

O Inatel Flores Hotel, um quatro estrelas em Santa Cruz das Flores.

No Maresia, na Fajã Grande, janta-se a poucos metros do mar.

 

Corvo: no centro de um supervulcão

Há duas décadas que Carlos Mendes serpenteia falésias imponentes e ilhéus, a bordo do seu semi-rígido, o primeiro barco turístico do género nos Açores, que criou com a sua marca EXTREMO OCIDENTE. Todos os dias, organiza passeios de barco, ora contornando as Flores e o Corvo, ora ligando as duas ilhas, num percurso de uma hora que oscila entre a adrenalina das ondas do mar e a entrada em cavidades rochosas, mini-grutas onde a água se torna metálica. Com sorte, ainda se avista um golfinho riscado.

O passeio une Santa Cruz das Flores à vila do Corvo, situada numa fajã lávica, que compensa em beleza natural o que escasseia em metros quadrados. Nesta que é a mais pequena ilha açoriana, onde há mais cabeças de gado do que pessoas, todos os caminhos vão dar ao topo, onde está o CALDEIRÃO VERDE, o seu cartão de visita, a cratera de um dos dois únicos supervulcões dos Açores – o outro está no Pico. Pode e deve descer-se até ao fundo, entre vacas que ali se encontram a pastar, mas com calçado confortável.

O Caldeirão Verde, ex-líbris do Corvo.

Os passeios de barco da Extremo Ocidente ligam Flores e Corvo todos os dias.

 

Pelas tradições da Terceira

É de verde e azul que se pintam as vistas panorâmicas da POUSADA FORTE DE S. SEBASTIÃO, no forte homónimo do século XVI, junto ao mar e de frente para o Monte Brasil, o vulcão extinto que é o pulmão verde de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira. Simplicidade e conforto são palavras-chave nos quase 30 quartos com varanda e panorâmica marítima, a mesma que se tem da piscina exterior.

Para uma visão mais ampla do centro de Angra, importa subir ao Outeiro da Memória, a primeira fortaleza construída para proteger a cidade no século XV. Deste topo, avista-se a baía, o jardim botânico de entrada livre, a Sé e as igrejas pintadas de azul-céu, como a da Misericórdia e da Conceição. Mas também a zona mais antiga de Angra, de ruas estreitas e casario branco com chaminés triangulares, para proteção do vento.

A Pousada Forte São Sebastião, no centro de Angra do Heroísmo.

As Piscinas Naturais de Biscoitos, a norte da Ilha Terceira.

Passear por Angra do Heroísmo é testemunhar as razões que a tornaram património mundial da UNESCO, mas também sinónimo de boa comida e bons locais para mergulhar, que se estendem à restante ilha. E o melhor exemplo disso mesmo são as PISCINAS NATURAIS DE BISCOITOS, a norte da ilha, ponto de encontro de muitos durante o verão – ou o ano inteiro, não fosse a meteorologia açoriana uma caixinha de surpresas de janeiro a janeiro.

A poucos minutos dali, duas paragens obrigatórias. Situado numa adega, o Museu do Vinho dos Biscoitos realça a importância do vinho na história da ilha e nesta região, pela mão da família Brum, que produz vinho há cinco gerações, há mais de cem anos, a partir de castas como verdelho, terrantez terceira e sercial. Já o Algar do Carvão, monumento natural situado no interior de um cone vulcânico, leva-nos a descer ao interior de uma gruta, ao longo de 80 metros de profundidade.

As encostas verdes da Terceira.

A alcatra da Quinta do Martelo.

De volta aos arredores de Angra, a QUINTA DO MARTELO leva-nos numa viagem no tempo. “O meu objetivo não é ser melhor, é fazer diferente”, conta Gilberto Vieira, dono da quinta com 30 anos onde se dorme em casas de pedra basáltica e telhados de palha de trigo, inspiradas nos primeiros povoadores da ilha. Pelo terreno, há burros, ovelhas e vacas, mini-bibliotecas em janelas que se abrem a partir da rua, caminhos com ervas aromáticas e uma horta biológica que serve o restaurante homónimo, alimentado numa ótica a lenha. A galinha cozinhada em telha, por três a quatro horas, é uma das propostas, assim como a sopa de legumes biológicos com caldo de ossos de novilho local e, claro está, a alcatra de vaca em terrina de barro, ideal para molhar o pão regional. Sem qualquer vergonha.

 

Faial: peixe fresco junto à praia

A primeira aconteceu em 2002 e durou ano e meio. A segunda, em 2007, prolongou-se por quase dois. O resultado das viagens que Genuíno Madruga fez pelo Atlântico e Pacífico, sozinho e a bordo do seu barco, está explícito nas t-shirts e souvenirs que decoram os tampos transparentes das mesas e as paredes do restaurante que abriu há seis anos na Horta, na Ilha do Faial. A localização, junto à Praia de Porto Pim, não poderia ser mais acertada. “Foi nesta praia que dei as minhas primeiras remadas”, recorda o navegador e dono do restaurante GENUÍNO.

Como seria de esperar, o peixe local na grelha é o grande cabeça-de-cartaz, vindo diretamente da lota da Horta, ou pescado pelo próprio, casos do peixão, imperador, goraz e cherne, para saborear com o barulho das ondas a entrar pelas janelas. Depois ou antes da refeição, importa passear pelo centro histórico da Horta, junto à marina recheada de desenhos pintados em murais, e de subir até ao Miradouro de Nossa Senhora da Conceição, da qual se avista as ilhas-irmãs do Pico e São Jorge, imponentes ao longe.

O restaurante Genuíno, no centro da Horta.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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