Natureza, animais, vinhos e café numa herdade em Campo Maior

A vila alentejana confunde-se com a família Nabeiro e assim continuará num futuro próximo, não tivessem acabado de fazer mais um grande investimento, a Herdade dos Adaens. Um turismo rural – é muito mais do que isso, na verdade – a poucos minutos de distância do Centro de Ciência do Café e da Adega Mayor, também pertença do Grupo. Uma espécie de triângulo dourado, programa completo para um fim de semana que quase dispensa a visita à própria vila.

No princípio era as ervas: alecrim, alfazema, rosmaninho, lúcia-lima, hortelã-pimenta, tomilho ou orégãos. Foi por aí que tudo começou, e ainda hoje ali estão a dar um colorido especial à herdade, mas os sonhos de João Manuel Nabeiro – administrador do Grupo Nabeiro-Delta Cafés e responsável por este empreendimento – iam muito para além do cultivo de ervas aromáticas.

A herdade onde a empresa costumava fazer alguns eventos foi alvo de uma revolução ao longo dos últimos anos e acabou por se transformar num turismo rural. «É muito mais do que isso», explica o filho do comendador Rui Nabeiro, à mesa do restaurante. Também há restaurante, é claro – a cargo de Ilda Vinagre, alentejana de gema que deu fama ao A Bolota, na Terrugem, e que depois de alguns anos a correr mundo voltou ao seu Alentejo natal para fazer uma cozinha da terra com toques contemporâneos –, se bem que o projeto vá para além deste binómio dormida/comida.

Dividido em quatro grandes áreas (turismo, agropecuária, ecologia e meio ambiente) é um projeto integrado, no qual se destaca um Centro de Interpretação da Natureza, Mel e Biodiversidade de nove hectares.

«Apenas» uma pequena parcela dos 400 hectares que compõem a propriedade, onde é possível ver todas as raças de bovinos lusitanas, diferentes raças de burros e um sem-número de cabras – incluindo as simpáticas cabras Boer, originárias da África do Sul, os únicos animais «estrangeiros» em toda a propriedade.

Um «devaneio» de João Manuel Nabeiro, que não descansou enquanto não as trouxe até ao Alentejo, mesmo depois de ter sido enganado à primeira. «Há muito que tinha um fascínio por esta raça e, um dia, um funcionário nosso disse que conseguia mandar vir algumas do estrangeiro. Fizemos a encomenda, o intermediário ia-nos dando conta dos passos das cabras, a verdade é que assim que chegaram à fronteira nunca mais houve sinal delas. Nem do dinheiro gasto. Lá acabámos por arranjar outras, a metade do preço», conta, bem-disposto, afirmando que estes percalços são normais quando se tenta criar algo único. Foi o que tentaram fazer aqui. O polo de interpretação do mel, por exemplo, é «pioneiro no país».

Um pomar, uma estufa e uma horta biológica completam a oferta, com várias atividades à escolha (abertas a qualquer pessoa, mesmo não estando alojado), entre elas um Chá das Cinco – onde os participantes vão ao campo colher as suas próprias plantas antes de as colocarem no bule. Quem quiser pode acompanhar com mel caseiro. Ou marmelada biológica.

Carruagens, barcos e… um avião?
Apesar de todas estas mais-valias é indesmentível que a força maior desta Herdade dos Adaens está no alojamento. Pressente-se que estamos perante algo especial, «diferenciador», assim que se entra na propriedade. Além de três apartamentos convencionais, que integram a estrutura da principal da casa, chamam a atenção os seus oito bungalows espalhados pelo terreno, entre eles duas carruagens, um barco e um catamarã.

As carruagens foram compradas à CP e estão assentes em carris. «Ainda temos espaço para um avião», avança o proprietário. Não, não está a brincar e garante que já começou as negociações para que tal aconteça. Espaços batizados com nomes alentejanos (Alqueva, Caia, Crato, Mata, Chança, Alter, Nisa e Arraiolos), todos com decoração diferente, mas com personalidade, vista e terraço próprios.

Num espaço que se quer exclusivo, diferenciado, alguns clientes poderão estranhar a existência de um parque de autocaravanas, a poucos metros de distância, se bem que vontade de não segmentação seja também uma das forças maiores deste projeto. Têm 27 plataformas de estacionamento e todos os serviços inerentes a um parque de caravanas de três estrelas, incluindo balneário, fraldário, lavandaria e uma zona de convívio.

Um sítio assim teria sempre que ter piscina, naturalmente. Não uma, mas duas, interior e exterior, qual delas a mais apelativa? A exterior, biológica, é uma espécie de reprodução fiel de um ecossistema aquático – sim, há bicharocos, mas nada de assustador –, 465 metros quadrados de área, dos quais 280 podem ser utilizados para banhos. Já a piscina interior é uma estrutura convencional, de 65 metros quadrados, apoiada por hidromassagem e disponível durante todo o ano. Sempre com uma grande entrada de luz e vista total. A paisagem é omnipresente por aqui.

O triângulo perfeito
Com tudo isto, é fácil passar um dia, um fim de semana, sem sair da Herdade, ainda assim vale a pena pegar no carro – numa das bicicletas disponíveis, ou mesmo a pé, afinal a distância é curta, pouco mais de um quilómetro – e ir até à Adega Mayor e ao Centro de Ciência do Café, outros dos dois empreendimentos do grupo. Uma espécie de tríade instalada em plena paisagem alentejano, por entre o montado e vinhas, cenário tão caraterístico quanto poético.

Foi este postal que Siza Vieira quis que se contemplasse deste o topo da adega, inaugurada em 2007, onde desde então se podem ficar a conhecer os vinhos da empresa e fazer diferentes tipos de visitas, entre elas degustação com tapas, almoço vínico, workshop vínico ou até experiências de um dia como a Aventureiros da Raia, com direito a piquenique, desafio com provas de perícia e enigmas, e visita ao Centro de Ciência do Café.

É incontornável. Por mais que apostem no vinho e no turismo, o café continua a ser essência do Grupo. Desenganem-se, contudo, aqueles que possam pensar que aqui apenas se fala da marca da casa. Bem pelo contrário. É um centro no verdadeiro sentido da palavra. Um espaço moderno, com 3426 metros quadrados, que alia conhecimento, divulgação técnico-científica, informação e diversas atividades interativas sobre a cultura do café em todo o mundo. Será difícil olhar para esta bebida da mesma forma, porventura de forma tão simplista, depois da visita. Um espaço perfeito para famílias.

O texto, a viagem, o fim de semana já vai no fim, o centro de Campo Maior está a poucos minutos de distância, a verdade é que ainda não falámos da vila. Injusto? Porventura, sim, mas sensação é de que há pouco para ver e para fazer, se bem que potencial não falte. Talvez tudo melhore depois de concluídas as obras de restauro do castelo e das zonas circundantes. «Esta é uma terra bonita, mas não há oferta nenhuma. Têm de vir durante a Festa das Flores, no verão. Aí, sim, há muita vida», garante uma moradora. Voltaremos, até porque a vila merece, com toda a certeza, mais do que um parágrafo.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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