Monte Gordo: a nova energia do sotavento vê-se do céu

Monte Gordo: a nova energia do sotavento vê-se do céu
Uma das zonas balneares mais antigas do país adaptou-se e volta a ser um destino para férias em família, mas não só. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)
A primeira zona balnear do Algarve, instalada na década de 60, está a recuperar o fôlego à boleia do desporto promovido por Vila Real de Santo António. E a natureza a isso ajuda: entre quilómetros de praia e um pinhal a perder de vista, dá vontade de caminhar, pedalar e comer bem, em vez de entregar somente o corpo ao "dolce far niente" da espreguiçadeira.

O sol ainda vai baixo quando Rui Rosa, treinador de desporto, dá início à caminhada a partir do hotel The Prime Energize em direção à Mata Nacional das Dunas Litorais de Vila Real de Santo António. Este sistema natural de fixação dunar, que controla os ventos marítimos e protege a fauna autóctone, refresca a malha urbana da cidade e de Monte Gordo, e os seus 12 quilómetros de caminhos de terra batida são um dos principais atrativos naturais para a prática de desporto na região.

Aqui, no sotavento algarvio, as férias não se fazem apenas de sol e praia, que o diga Rui, de 34 anos, e que já em criança passava ali os verões no meio da natureza. Enquanto marca vigorosamente o passo, conta que o gosto pelo desporto sempre lhe correu no sangue, levando-o a praticar canoagem de competição, rugby, corrida e ciclismo.

A zona de pinhal que liga as praias de Monte Gordo e Vila Real de Santo António. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)

Apesar de dedicar-se hoje mais ao atletismo, pode dizer-se que praticou quase tantas modalidades quanto as que atraem anualmente milhares de pessoas ao concelho, incluindo equipas de atletismo estrangeiras que vão para ali fazer estágios e aproveitam a mata para correr e andar de bicicleta. A grande razão foi a abertura de um complexo desportivo de alto rendimento, de nível europeu, em Vila Real de Santo António, e que é utilizado por atletas de todo o mundo e de várias modalidades.

Monte Gordo, dono de parte de uns bons 20 quilómetros de praia, organiza o Sports Festival e convida a correr e caminhar durante todo o ano, graças ao bom tempo. Para tal não existe grande ciência, explica Rui: basta levar roupa e calçado confortáveis, protetor solar, óculos de sol, chapéu e, claro, vontade de saltar da cama cedo. As caminhadas e corridas com os hóspedes estão incluídas nas tarifas do hotel e podem ser personalizadas, mas normalmente terminam ao final da manhã para evitar a hora de maior calor.

Este novo passadiço tem três quilómetros de extensão sobre a praia de Monte Gordo. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Varanda sobre a praia

Ao todo são seis quilómetros percorridos a pé, parte deles aproveitando os três quilómetros do Passeio Marítimo Dr. António Almeida Santos, «o maior passadiço pedonal do sotavento» algarvio, segundo a autarquia, e batizado em homenagem ao ex-presidente da Assembleia da República que ajudou a consolidar Monte Gordo como destino turístico.

A estrutura de madeira sobrelevada face às dunas, com iluminação noturna, rampas de acesso e zonas de descanso custou um milhão de euros e a ideia é ganhar mais quatro quilómetros de continuação até Vila Real de Santo António. Quando estiver terminado, será o maior passadiço do género no Algarve.

A praia está melhor, mas há quem ainda se lembre de como tudo era mais tosco e desordenado antigamente. «O restaurante ficava ali mais atrás», aponta vagamente Teresa Marques, hoje à frente do Mar Salgado, fundado ali há mais de 40 anos. Em dias de eventos grandes chegavam a servir 300 pessoas em mesas na areia, o que hoje seria impossível, pois todos os cerca de vinte restaurantes em cima da praia ganharam estruturas de madeira uniformizadas.

É nesta nova casa decorada com tons leves que vale a pena parar para repôr energias antes de regressar ao hotel. Teresa recebe todos os clientes com um sorriso e, como é boa conversadora, dá por ela e está a contar curiosidades sobre a terra. O marido Tomé, mais reservado, ajuda-a no dia-a-dia do negócio. Na cozinha está Pedro Amorim, cozinheiro de 34 anos e que há dois trocou a calçada do Rio de Janeiro pelas tábuas de madeira de Monte Gordo. A travessa Mar à Mesa – com camarão tigre, polvo, lula, conquilha, amêijoa e sapateira acompanhados de batata a murro – e o polvo à Mar Salgado são dois dos pratos que merecem referência, numa carta que foge inteligentemente ao peixe grelhado tradicional. O empratamento mais cuidado também marca pontos, em linha com a oferta de vinhos do Algarve e de outras regiões.

No bar da piscina exterior do The Prime Energize pode-se pedir este daikiri de morango. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)

Férias ativas no hotel

O novo dinamismo desta que foi a primeira zona balnear do Algarve, a partir dos anos 1960, com a construção do hotel Vasco da Gama (ainda em funcionamento), não se faz apenas de obras na praia. Também a hotelaria tem vindo a renovar-se, como foi o caso do The Prime Energize, aberto em 2017. De um aparthotel dos anos 1980 nasceu um moderno hotel de quatro estrelas, decorado pela premiada designer funchalense Nini Andrade Silva, e inteiramente dedicado aos adeptos da vida ativa e alimentação saudável.

São por isso muitos os desportistas e atletas que frequentam o hotel, de 105 quartos de várias tipologias, mas também os casais jovens e as famílias que procuram férias de sol e mar aliadas ao exercício físico e à natureza. Sob o lema ‘Be active, eat well, sleep good’, tanto se pode fazer uma aula de ioga ou pilates no terraço como uma caminhada matinal, ter aulas de hidromassagem na piscina interior ou fazer uma massagem terapêutica no spa – equipado com sauna, banho turco e duche de contraste.

Quem levar tudo mais a sério pode treinar no ginásio e até solicitar um personal trainer para ter acesso a um plano de treinos personalizado, fazer programas detox e de perda de peso. A alimentação saudável e equilibrada encontra-se no restaurante Fuel (aberto ao pequeno-almoço, almoço e jantar), sem fundamentalismos e onde há também um buffet ao almoço.

Hambúrguer de beterraba, sopa de puré de batata doce com figo, tempura de legumes, linguini de frango e cogumelos com molho de coco e saladas são algumas das opções disponíveis, precedidas por um pão de courgette e sementes feito no hotel. As sobremesas, por sua vez, levam baixo teor de açúcar, como a tarte de alfarroba, produto da região, acompanhada de gelados de amêndoa, alfarroba e tangerina, por exemplo.

Pedro Cotovio faz voos turísticos neste autogiro construído na Eslovénia. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)

 

Sobrevoar o sotavento

No entanto, nem sempre os atrativos de um destino vêm de onde se espera. Muitas vezes é preciso ter ideias arrojadas e coragem para as pôr em prática, sobretudo para enfrentar a burocracia inerente a qualquer negócio. Pedro Cotovio assim fez ao fundar a Sky Xpedition, a «única» empresa a fazer turismo aéreo com um autogiro em Portugal.

A experiência de se lançar aos céus, aos 47 anos, de resto, já não lhe é estranha. «Comecei em 1996 com passeios todo o terreno, e ao fim de um ano, como começou toda a gente a fazer isso, comprei um balão de ar quente», explica Pedro, enquanto se prepara para retirar o aparelho de dentro do hangar-atrelado de 10 metros que mandou construir de propósito.

«Durante doze anos voei com balões de ar quente, na altura com um balão que era um dos maiores da Europa. Saia de Alcácer do Sal. Mas em cada dez voos só conseguia voar um por causa da meteorologia», continua. Nessas ocasiões fazia passeios de barco para compensar os clientes. Depois foi para os Açores com um trike de asa delta, mas mais uma vez comprovou que o vento era inimigo da sustentabilidade do negócio. Até ter tido a ideia de trazer para Portugal, e para o Algarve, este «avião de asa rotativa», ou autogiro, inventado pelo engenheiro aeronáutico espanhol Juan de La Cierva em 1923.

O autogiro, construído na Eslovénia com tecnologia alemã, parece um helicóptero à primeira vista, mas descola e aterra na horizontal «porque precisa de ganhar velocidade e rotação de voo», explica Pedro. Outra das vantagens é não ser tão dependente do estado do tempo para voar, desde que não haja nevoeiro.

Pedro Cotovio descola da ecopista da Praia Verde – certificada pela Autoridade Nacional de Aviação Civil – e sobrevoa a orla costeira de Monte Gordo e arredores, a 300 metros de altitude e a uma velocidade máxima de 170 quilómetros por hora. Durante o voo observam-se as salinas e os sapais de Castro Marim e os seus flamingos, admira-se a geometria dos campos agrícolas e das urbanizações e sobrevoa-se a praia tendo a sorte, por vezes, de avistar golfinhos. Os encantos do sotavento num fôlego de cortar a respiração.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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