MiraDouro, um comboio para admirar a paisagem do Porto ao Pocinho

A Linha do Douro acompanha o rio. ´ (Fotografia: Leonel de Castro/Global Imagens)
Viajar sobre carris pelo Alto Douro Vinhateiro já era uma experiência marcante, mas ganha outra dimensão a bordo do comboio MiraDouro, com as suas carruagens vintage e janelas panorâmicas.

Todos os dias o comboio MiraDouro parte da cidade do Porto com destino à aldeia do Pocinho, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, e regressa. É uma viagem de três horas e quarenta minutos de um extremo ao outro, mas o tempo parece passar mais depressa quando se vai imerso na paisagem. Saindo do Porto, rumo ao Alto Douro Vinhateiro, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, a malha urbana vai dando lugar às vinhas em socalcos sobre o Douro, às vezes tão próximo que quase lhe sentimos a frescura. Pouco antes da Estação de Mosteirô, Baião, os narizes colam-se ao vidro, do lado do rio, e assim hão de continuar, até à paragem desejada. Pontos de interesse não faltam ao redor da linha, apesar de nos focarmos no troço que vai daqui até ao Tua.

Parte do charme da viagem reside no próprio comboio. O MiraDouro é composto pela locomotiva diesel da série 1400 e por carruagens Schindler, produzidas nos anos 1940 pela fabricante suíça homónima, integradas na rede ferroviária nacional entre 1949 e 1977 e entretanto recuperadas. Têm uma ambiência vintage, casas de banho e janelas panorâmicas que podem ser abertas, para alegria de quem visita a mais antiga região vitícola demarcada e regulamentada do Mundo. É o caso de Luís Paulino, 62 anos, que aviva as memórias da juventude num passeio com a família: “Somos da aldeia [Lavandeira, Carrazeda de Ansiães], este era o nosso transporte, antigamente. Quantas vezes a gente fez a viagem do princípio ao fim, sempre de pé, sempre à porta, e a saltar para ir beber um sumo às estações, a correr!”.

Comboio MiraDouro

Distância percorrida: 174 quilómetros

23 estações: Porto São Bento, Porto Campanhã, Ermesinde, Paredes, Penafiel, Calde, Livração, Marco de Canaveses, Mosteirô, Aregos, Ermida, Rede, Régua, Covelinhas, Ferrão, Pinhão, Tua, Alegria, Ferradosa, Vargelas, Vesúvio, Freixo de Numão/Mós do Douro, Pocinho.

Preço (ida e volta): 24,40 euros/pessoa

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)


PARAGENS:

Mosteirô

Casa de Ribadouro

A vista ímpar sobre o Douro magnetiza o olhar quando se chega à Casa de Ribadouro, com piscina sobranceira ao rio. Foi ali, no concelho de Baião, que o irlandês David Cummings e a chinesa Yan Gao decidiram investir, depois de muito viajar. Há sete anos, os dois professores universitários em Macau – ele de inglês, ela de gestão turística – encontraram aquele terreno com uma ruína e pensaram: é aqui. O alojamento combina elementos das suas culturas e de outras. É uma casa do Mundo, com mobiliário e objetos de diversos países, alguns especialmente curiosos – como a mesa do Canadá que seria de um convento e tem um tabuleiro de xadrez gravado numa parte escondida, “porque as freiras não podiam jogar”, mostra David.

Os hóspedes dispõem de três quartos com casa de banho privativa e acesso direto à piscina, pequeno-almoço buffet e café e limonada durante todo o dia. Também podem usar a cozinha e a sala de jogos, com bilhar e matraquilhos, onde se destacam uma máscara do Sri Lanka, um velho andarilho chinês e documentos que remetem para o passado de David ao serviço da Força Aérea do Canadá (Royal Canadian Air Force), país onde viveu grande parte da vida. Ele, que está à beira da reforma, queria voltar às raízes, na Europa, mas o clima afastou-o da Irlanda natal, enquanto Portugal lhe acenou com sol e outras formas de qualidade de vida. Assim nasceu a Casa de Ribadouro, cheia de cuidados e gentilezas. Ainda mal nos tínhamos refeito do impacto da vista, à chegada, e já segurávamos um copo de limonada fresca, feita com limões da árvore e mel de um vizinho.


Rede

Praia fluvial da Rede

Perto da Estação da Rede, no concelho de Mesão Frio, encontra-se esta praia fluvial não vigiada, a que se chega facilmente a pé, vindo de comboio. É uma área de lazer com cais/ancoradouro acostável, estacionamento, relva, árvores, mesas de piquenique, churrasqueira e um pequeno bar, que serve bebidas e gelados todos os dias, das 14h à uma da manhã, só até ao fim do mês. A inauguração deste “complexo turístico do cais da Rede”, como se lê numa placa, data de 1999.


Pinhão

Estação de Pinhão

Vale a pena dar uma volta completa a esta estação, que serve a freguesia de Pinhão, no concelho de Alijó, para admirar os painéis de azulejo que a decoram. Foram produzidos pela Fábrica Aleluia, de Aveiro, e retratam paisagens e atividades tradicionais do Douro, das quintas às vindimas, sem esquecer os barcos rabelos. No interior também há motivos de interesse. Desde logo, um quadriciclo motorizado da década de 1930, originário da Alemanha, que se encontra em exposição. Trata-se de um veículo de serviço que permitia deslocações rápidas sobre carris, geralmente distribuído por chefes de circunscrição, chefes de secção de via e engenheiros das obras metálicas. Manobrado por uma pessoa, mas com lugar para duas, era usado para fiscalização.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Wine House Pinhão

Na verdade, nem é preciso sair da Estação de Pinhão para tomar uma bebida ou petiscar. No lugar do antigo núcleo museológico nasceu, há meia dúzia de anos, uma loja do grupo Sogrape Vinhos que serve vinhos a copo, cocktails e tábuas de queijos, em mesas ao ar livre. Lá dentro, para venda, há vinhos do Porto das marcas Sandeman, Ferreira e Offley, vinhos de mesa da casa Ferreirinha, Mateus Rosé e ainda conservas, compotas, chutney e algumas lembranças.

Quem quiser conhecer a Quinta do Seixo, a sete quilómetros, também pode reservar ali a sua visita, que custa 15 euros por pessoa, com direito a dois copos de vinho, informa, do outro lado do balcão, João Azevedo, um filho da terra regressado ao Douro após ter vivido em Lisboa. “É outra qualidade de vida”, comenta, apontando o sossego e a simpatia das gentes – agora, quando vai pela rua, a caminho do trabalho, diz bom dia “a umas vinte pessoas”.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Quinta do Bomfim e Casa dos Ecos

A apenas cinco minutos a pé da Estação de Pinhão, fica a Quinta do Bomfim, da Symington Family Estates, detentora de casas históricas de vinho do Porto como Graham’s, Dow’s, Cockburn’s ou Warre’s. Mediante reserva, os visitantes podem conhecer a adega, a cave antiga (de 1896), o museu e as vinhas, fazer degustações de vinhos do Porto e Douro DOC e ainda piqueniques no terraço.

No meio das vinhas funciona também o restaurante pop-up Casa dos Ecos, com pratos tradicionais assinados pelo chef Pedro Lemos (na fotografia), com uma estrela Michelin no currículo. As propostas, que assentam em produtos locais e de época, são harmonizadas com vinhos do portefólio da família Symington, claro.


Tua

Centro Interpretativo do Vale do Tua

Da reabilitação de dois cais cobertos da Estação do Tua, no concelho de Carrazeda de Ansiães, nasceu um pólo museológico já premiado. O Centro Interpretativo do Vale do Tua, projetado pelos arquitetos Susana Rosmaninho e Pedro Azevedo, conquistou o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2020 para a Melhor Intervenção Inferior a 1000 metros quadrados, e antes tinha arrecadado uma menção honrosa no âmbito da atribuição do Prémio de Arquitetura do Douro.

Num edifício fica uma das portas de entrada no Parque Natural Regional do Vale do Tua, onde os visitantes encontram informações sobre miradouros, percursos pedestres e demais atrativos do território. O outro acolhe uma exposição que procura preservar as memórias do Vale do Tua antes da construção da barragem, e fornece vários dados sobre o mesmo – da constituição dos solos ao património arquitetónico e arqueológico. Há três grandes temas: o Vale, a centenária Linha do Tua e a barragem, que eliminou parte da antiga linha de comboio.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Calça Curta

Pouco passa das 11 horas e já há forte movimento no Calça Curta, em frente à Estação do Tua. O restaurante gerido pelos irmãos Marco e Cristina Silva começou por ser um tasquinho criado pelos pais há décadas, mas, algures no caminho, virou local de peregrinação – e não só para quem viaja de comboio. Muitos clientes vão ali de propósito para comer os afamados peixes do rio acompanhados por salada de tomate coração de boi, as enguias, o polvo, assim como os pratos de caça, o cordeiro mirandês (ao sábado) ou o cabrito transmontano (ao domingo).

As refeições são servidas no restaurante, na esplanada e até no café. “Se tivesse mais uma sala com capacidade para 200 pessoas, enchia-a”, observa Marco (na fotografia), numa curta conversa, porque os pedidos não sossegam, e o telefone também não. Ainda assim, há tempo para partilhar algumas histórias. “Lembro-me de nos levantarmos à quatro da manhã para trabalhar duas horas, a servir militares que vinham de comboio”, prossegue, acrescentando que os revisores e maquinistas já são seus conhecidos – e integram a longa lista de fiéis.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Trilho de Foz-Tua

O trilho de Foz-Tua começa perto da porta de entrada no Parque Natural Regional do Vale do Tua e integra a sua rede de percursos pedestres. Neste ponto de partida, há uma zona de lazer com árvores, mesas para merendar e assadores, onde alguns aproveitam para ir a banhos. “A água está melhor que a da Caparica”, comenta uma mulher. O trajeto, que dialoga com os rios Douro e Tua, está sinalizado e apresenta baixo nível de dificuldade.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)


Viagem movida a vapor

Uma locomotiva a vapor e cinco carruagens históricas formam o Comboio Histórico do Douro, que circula entre a Régua e o Tua, aos sábados e domingos, entre junho e outubro. A experiência inclui música e cantares tradicionais da região e um brinde com vinho do Porto. A viagem de ida e volta custa 45 euros por pessoa, com exceção das crianças dos 4 aos 12 anos, que pagam 20 euros. Grupos de dez ou mais elementos também veem o preço baixar para 40 euros.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 




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