Madeira: entre montanha e mar, há novidades em Câmara de Lobos

Madeira: entre mar e montanha, há novidades em Câmara de Lobos
Há novidades na cidade piscatória que viu nascer a poncha, onde o peixe-espada preto é rei e abundam milhares de bananeiras. Não é à toa que Winston Churchill se apaixonou por ela e a pintou, na décade de 1950. À noite, dorme-se junto à baía, com vista para o mar. De dia, passeia-se por levadas, montanhas e cascatas.

Suscita a curiosidade de quem ali vai passando. Não há ninguém que não pare para espreitar. Tiram-se fotografias com o telemóvel, observa-se, comenta-se. E, sobretudo, elogia-se. Não é todos os dias que nasce um gigante lobo-marinho serve de mural a uma das paredes da baía de Câmara de Lobos, a cidade piscatória madeirense à qual está associada esta espécie, que hoje em dia só habita nas Ilhas Desertas. «Está a ficar bem bonito», ouve-se entre os transeuntes.

Não há quem não saiba da vinda de Bordalo II à baía, para assinalar o Dia Mundial do Oceano. «Fez sentido escolher o lobo marinho, porque já esteve muito perto da extinção nesta zona», começa por contar Artur Bordalo, que recorreu a desperdício capturado do mar, como plástico ou cordas de pescadores. «Estou muito contente com o resultado», adianta o jovem artista plástico, que levou quatro dias a completar este lobo-marinho – da ideia na sua cabeça à execução final. É obra.

O novo lobo-marinho, que Bordalo II criou em Câmara de Lobos, com recurso a plástico e desperdício retirado do mar.
(Fotografias: Gerardo Santos/GI)

A estátua de Winston Churchill à entrada do novo hotel que se inspira nele: o Pestana Churchill Bay

Ainda assim, outra obra rouba as atenções por estes dias junto à baía de Câmara de Lobos. E não são as xavelhas, como se chamam as pequenas embarcações piscatórias ali atracadas. Uma estátua em bronze de Winston Churchill também dá nas vistas. Sentado, pincel na mão, olhos fixados numa tela em branco, charuto na boca. A estátua recria o momento em que o antigo primeiro-ministro visitou Câmara de Lobos, nos anos 50, e pintou a sua baía.

«Pitoresca». Foi assim que lhe chamou na altura. É também ele a principal inspiração do Pestana Churchill Bay, a nova Pousada do Grupo Pestana, e o primeiro hotel desta cidade madeirense. E isso nota-se na sua silhueta em preto, que decora as paredes brancas do interior do hotel, ou nas frases de sua autoria espalhadas pelo hotel. «O preço da grandeza é a responsabilidade» é uma delas. Ao todo, trata-se de 57 quartos, para duas a três pessoas, com varandas sobre a baía – a mesma que é recriada em pinturas no papel de parede dos quartos – e com vista para o mar. Em alguns casos, diretamente da cama.

No terraço, para além de sauna, existe uma piscina aquecida em tons verde, pensada de propósito para combinar com as cores das centenas de bananeiras que vestem as encostas de Câmaras de Lobos – ou não fosse esta a principal zona de produção desta fruta na ilha.

A piscina do Pestana Churchill Bay, com vista para a baía de Câmara de Lobos.

Alguns dos quartos têm vista para o mar direta da cama.

Peixe fresco é o pilar do Pier One, o restaurante do Pestana Churchill Bay. Na foto, o chef consultor Carlos Sousa.

É também no rooftop que se encontra o restaurante Pier One, que homenageia a tradição e a genética da região, colocando à mesa o peixe mais fresco que se apanha todos os dias na baía. Para saborear entre quatro paredes, ilustradas com motivos corais, ou na esplanada que fica praticamente debaixo do mar. «Está a ver aquelas rochas ali? É onde apanhamos o polvo. Mergulhamos a 10, 12 metros de profundidade», conta Carlos Sousa, chef consultor do espaço, que tem Diogo Soares como chef residente.

Mas nem só do tentáculo se enche a bancada à entrada do restaurante, que é um regalo ao olhar. Garoupa, bodião e cavala são algumas das espécies mais comuns e pescadas. «Temos muita variedade neste mar», frisa Carlos. Tem 58 anos, 40 dedicados à cozinha. Não falta também o peixe-espada preto, claro, uma das especialidades de Câmara de Lobos. Aqui, faz-se de uma forma um pouco diferente. O habitual leva banana e molho de maracujá, e este acompanha-se com milho frito e um crocante de alho francês por cima, para reforçar o nível de texturas.

Quem quiser nadar fora de água, pode optar por uma espetada de vitela em pau de louro, um dos ícones da gastronomia madeirense. O produto local também está presente em pratos como o risoto negro de lapas ou o pudim de maracujá.

O Agrela foi um dos primeiros bares a servir a típica poncha.

A poucos metros dali, a noite prossegue para um dos vários bares que têm tornado a baía de Câmara de Lobos como um dos mais concorridos locais para beber um copo à noite. Aqui, qualquer que seja a hora da noite, ou até mesmo do dia, há uma palavra que se ouve mais do que as outras. Afinal, foi nesta zona da ilha que nasceu a poncha, criada por pescadores para se aquecerem nos dias frios que passavam no mar.

Acredita-se que o Bar Agrela seja um dos primeiros a vender este néctar madeirense, feito com base na aguardente de cana-de-açúcar. Fá-lo há cinco décadas. É pequeno em dimensão, mas o sorriso de quem está atrás do balcão e a variedade de ponchas disponíveis compensam o resto. Além disso, dá para pedir e beber à porta, na rua, principalmente com os dias quentes à porta.

A poncha original, também chamada de à pescador, só leva limão. A regional, junta laranja e limão. Depois, com o passar do tempo chegaram escolhas para todos os gostos: maracujá, morango ou kiwi. A produção de aguardente de cana-de-açúcar na Madeira, de resto, tem crescido a olhos vistos. Há cinco anos, a Secretaria Regional do Ambiente e dos Recursos Naturais anunciava que se haviam produzido, só nesse ano, 183 mil litros por ano.

 

Percorrer a ilha a pé ou num 4×4
«O corpo habitua-se. Às vezes, chego a casa e ainda tenho energia para ir jogar ténis», diz, entre risos, Fábio Castro. Tem 32 anos, é madeirense, natural de Santa Cruz, e um dos três guias do Madeira Adventure Kingdom, que há 10 anos organiza passeios, levadas, canoagem, mergulho e outras atividades espalhadas por toda a ilha, «para todas as idades».

Os passeios ao longo das levadas, organizados pela Madeira Adventure Kingdom

A Hit The Road faz passeios em 4×4 por toda a ilha da Madeira.

No Bar das Cruzinhas, bebe-se poncha na esplanada com vista para os verdes vales do Faial.

«Trabalhamos o ano inteiro, todos os dias. Mas é sempre diferente. As brincadeiras, as personalidades de cada grupo», conta o jovem, enquanto nos guia por uma caminhada de 13 quilómetros pelo Parque Florestal das Queimadas, rumo à cascata do Caldeirão Verde, na zona norte da ilha. Nesta que é uma das várias rotas organizadas por esta empresa, passeia-se sempre junto a uma levada, durante quatro horas e meia, atravessando grandes montanhas verdes – como a do Pico Ruivo, alguns túneis e rodeados de ar puro e da laurissilva madeirense. Pelo caminho, por vezes o mar vai espreitando ao fundo, assim como as povoações de Santana e São Jorge.

«Aqui, o mirtilo da serra, as mentas e o dente de leão são muito mais altos do que o normal, porque não temos grandes predadores na Madeira», vai explicando Fábio. Conhece estes percursos pedestres como a palma da sua mão. Já os fez em dias soalheiros e debaixo de forte chuva. O curso de Gestão ficou para trás, quando a paixão pela natureza assumiu protagonismo.

O mesmo entusiasmo é partilhado por outro conterrâneo. Há sete anos que Hugo Rodrigues mostra a «sua» ilha, diariamente, a bordo de um 4×4, em passeios de grupo que combinam adrenalina, convívio e paisagens dignas de postal. É ele um dos guias da Hit The Road, com vários percursos por localidades, miradouros e pontos altos da Madeira, e total margem de manobra para personalização de passeios. «Este é o meu miradouro preferido, o do Paredão. É romântico», conta o funchalense, a 1400 metros de altitude, com vista desafogada para o mar, a vizinha vila de Curral de Freiras e as altas encostas em redor. Ali ao lado, o caminho segue em tons de amarelo dos dois lados da estrada, com mantos carregados de vivas giestas.

Passa-se pelo alto Pico do Areeiro, a quase dois mil metros de altura; pelo viveiro de trutas de Ribeiro Frio; e pelos densos vales que vestem o Faial, onde se para para beber uma poncha e recuperar energias no Bar das Cruzinhas, com varanda panorâmica e a simpatia de Cidália Lopes ao balcão. A Penha D’Águia, um dos maiores e mais emblemáticos blocos rochosos da Madeira, junto ao mar, é outro ponto de passagem. Visto do mar, parece uma asa de cada lado, e daí veio o batismo. É também, uma boa representação dos encantos da ilha: imponência e beleza natural, lado a lado, de mãos dadas. Com sotaque madeirense, sempre.

A Penha D’Águia é um dos exemplos da beleza natural desta ilha.

O Miradouro do Paredão, perto do Curral das Freiras.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Leia também:

Madeira é o melhor destino de ilhas do Mundo
Há uma nova francesinha no Norte à moda da Madeira
O «hotel dos azulejos» no Funchal vai ter castanhas e brunch




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend