Entre Portimão e Faro, ao balanço das ondas do mar

Entre Portimão e Faro, ao balanço das ondas do mar
Avista-se da cama e serve como moldura para noites tranquilas, enriquece a mesa com o peixe e marisco fresco da costa, alimenta novas experiências culinárias e dá gosto ao ressurgir da indústria conserveira. De Faro a Portimão, este é um roteiro guiado pelo Arade, o rio, a Formosa, a ria, e pelo mar.

Assim que o sol se deita, e a noite acorda, as ondas que formam a fachada do edifício ficam iluminadas com um azul fluorescente. A homenagem marítima é clara, ou não estivéssemos a falar da costa algarvia. Mas mesmo de dia, é impossível esquecer o Rio Arade e o oceano que banham Portimão. Estão quase sempre visíveis, dependendo do ponto de passeio.

Os cerca de 150 quartos duplos do Jupiter Marina Portimão não são exceção. A maioria tem vista-rio desafogada e uma ampla varanda para apreciar a dita, com mesa e cadeiras. Daqui, a panorâmica não é cliché: avista-se também as ruínas do Convento de S. Francisco, a doca homónima e os seus barcos atracados, a vila de Ferragudo e a serra junto a Silves, ao longe.

Dentro de quatro paredes, o privilégio mantém-se em muitos dos quartos deste quatro estrelas, aberto há dois anos, conseguindo dormir-se de olhos postos no Arade. O areal algarvio também aqui está representado, preenchendo o interior das placas envidraçadas que numeram os quartos. A tranquilidade impera não só na decoração dos mesmos, em tons neutros como beges, castanhos e verde-azeitona, mas também pelo silêncio comum a esta zona de Portimão, só quebrada, por vezes, pelas gaivotas que por ali passam.

Da maioria dos quartos do Jupiter Marina Portimão, avista-se o Arade. (Fotografias: André Vidigal/Gl)

A piscina panorâmica com vista para a Doca de São Francisco.

O Facho, restaurante do Jupiter Marina, aposta nos produtos algarvios.

Nas alturas desta unidade hoteleira, a meio caminho entre o centro de Portimão e a sua marina, dão-se mergulhos na piscina exterior e infinita do terraço. Esta partilha a vista com os quartos e o espaço com um descontraído bar de petiscos e cocktails, aberto ao público, e recheado de sofás almofadados e plantas. O Jupiter Marina Portimão, irmão mais novo do Jupiter Algarve, situado na Praia da Rocha, tem ainda ginásio 24 horas por dia, piscina interior, banho turco, sauna e massagens com preços para todas as carteiras, desde os 15 euros.

No restaurante situado no piso térreo do hotel, o Facho, o peixe e marisco ganham algum destaque na carta, que aposta nos ingredientes que valorizam a região e que casa influências variadas à mesa. É o caso do atum de Armação de Pêra, que serve como tataki com maionese de wasabi; do polvo algarvio, que se apresenta tanto como carpaccio, acompanhado de açorda fria de coentros e tomate, ou confitado, com pimentos assados; ou até do figo portimonense que serve de base para o gelado caseiro que faz dupla com o fofo pão-de-ló.

À frente da cozinha está o chef Amadeu Baldé e o braço direito, ambos alfacinhas mas com forte ligação ao Algarve. O primeiro adotou-o como morada há décadas, o segundo tem família na zona. O peixe do dia vai variando conforte o que se apanhar de mais fresco nesse dia, mas também há propostas vegetarianas e uma carta vegana. A acompanhar, bebe-se a copo uma das seis referências vínicas algarvias, claro está. O recorde de jantares situa-se nas mais de 100 refeições numa noite, mas também em tempos já houve muito movimento dentro destas quatro paredes: funcionou aqui uma antiga e centenária conserveira de sardinhas.

 

Homenagear a cultura conserveira
É impossível falar de Portimão sem mencionar o seu historial no ramo da indústria conserveira, do qual foi um dos polos mais importantes nas décadas de 50 e 60. Na Doca de S. Francisco, onde já funcionou a conhecida fábrica de conservas Feu, nasceu uma casa em jeito de vénia a esta e outras indústrias da mesma área.

«Não havia museus em Portimão», começa por explica José Gameiro, o diretor científico deste espaço cultural, inaugurado há onze anos. O Museu de Portimão nasceu da «preocupação de se perder a memória» conserveira, no seguimento do encerramento de muitas fábricas locais, e replica o processo usado neste «duro trabalho», da fase do descabeço à lavagem e salmoura do peixe, e consequente embalagem.

O Museu de Portimão presta homenagem ao legado da indústria conserveira. (Fotografias: André Vidigal/GI)

Ainda se conseguiu recuperar alguns equipamentos originais, como os tanques de salmoura, que datam de 1901, e outro tipo de maquinaria também foi replicada, para dar o máximo de realismo à experiência. O balanço desta primeira década de portas abertas não podia ser mais positivo. «Estamos dentro dos 10 museus mais visitados em Portugal», acrescenta o responsável. Só no ano passado, mais de 70 mil pessoas passaram por aqui. Enquanto fala, uma antiga radiofonia vai tocando anúncios de publicidade de conserveiras, da década de 50, que nos ajuda a transportar para essa época.

A mesma era que se mantém nas memórias de infância de Vincent Jonckheere, belga de 38 anos habituado desde sempre a passar férias nesta zona do Algarve. «Lembro-me muito bem das antigas fábricas de conservas, o que me fez ter noção, desde cedo, deste legado industrial e da sua importância», conta o antigo professor, que largou o ensino na área da economia para se dedicar à revitalização desta indústria.

Há seis combinações de sabores para provar nas conservas da Saboreal.

Há sete anos, visitou o Museu de Portimão. «Quando sai, disse: ‘Vou recuperar este saber fazer e manter vivo o fabrico de conservas», recorda, com um português já bem percetível. Já cá vive desde então. Daí à Saboreal, a marca inaugurada há quatro anos e sediada no Parchal, na margem ribeirinha oposta à de Portimão, foi um passo. Hoje, é a única fábrica de conservas do Barlavento. «É triste», atira Vincent, que gere o negócio com mais dois sócios.

A diferenciação está na forma de fazerem estas petiscadas artesanais, com peixe desfiado à mão, e acompanhados com legumes algarvios. Neste momento, há seis combinações, do carapau com cenoura e coentros, à sardinha com tomate confitado e à cavala com azeitonas e amêndoas. Os resultados estão à vista. No ano passado, a Saboreal produziu 80 mil conservas e já exporta para países como Bélgica, Luxemburgo, Macau, Áustria e Alemanha. Por cá, estão presentes em algumas lojas gourmet de norte a sul.

 

Férias com as mãos na massa – ou no peixe
Há décadas que ali está, todos os dias, a partir das seis da manhã. A bancada de Florentina, com cores garridas e bem organizada de legumes e frutas, dá nas vistas no Mercado Municipal de Faro, um espaço que conta com cerca de 60 anos, e que foi remodelado há doze. Esta é uma paragem de umas das várias experiências da Tertúlia Algarvia, restaurante e loja de produtos locais que pretende promover a gastronomia e cultura regional.

Ir ao Mercado de Faro, às compras com um chef, antes de confecionar uma refeição, é uma das atividades promovidas pelo restaurante Tertúlia Algarvia.

O Mercado Municipal de Faro foi remodelado há cerca de uma década.

Uma das atividades que se pode fazer é ir ao mercado na companhia de um chef, escolher os produtos para uma cataplana de peixe e marisco, um dos símbolos algarvios, por razões geográficas e influências na tagine marroquina. De seguida, é no referido restaurante que cada um pode pôr a mão na massa – leia-se peixe – e cozinhar a dita iguaria, para depois saboreá-la. «O turismo gastronómico crescido muito. Aqui junta-se a experiência de visitação à da experimentação», conta João Luís Amaro. É proprietário do referido restaurante, no centro histórico de Faro, e organiza agora as Algarve Cooking Vacations, pacotes de quatro e sete dias orientadas para o mercado internacional, e com um programa eclético, sempre em torno de património e comida, com aulas de culinária, passeios de barco, visitas a produtores locais, turismo de natureza e alojamento.

A parte boa é que muitas destas atividades podem ser adquiridas a vulso, como esta aula de cataplana. O que nos traz de volta ao mercado, com a chef algarvia Margarida Vargues. Depois dos legumes e frutas, passa-se pela banca de peixe, onde Balakov (uma alcunha, em homenagem ao antigo futebolista do Sporting) nos ensina a filetar uma corvina, sob olhar atento da chef. Nesta visita, ainda há tempo para comprar chouriça de Monchique e marisco local, como lingueirão, camarão e amêijoa.

No Tertúlia Algarvia, pode confecionar-se uma cataplana com a ajuda de um chef.

No final, é hora de provar.

O restaurante de Faro também tem zona de loja com produtos regionais.

Até ao Tertúlia Algarvia, situado dentro do complexo da Igreja da Sé de Faro, num edifício do século XVII, o passeio faz-se a bordo de um tuk-tuk. É também a oportunidade para conhecer de perto a capital de distrito, passando pelo Jardim Alameda João de Deus e seus pavões-reais, à beira da Ria Formosa, por portas árabes ou pelas laranjeiras do Largo da Sé.

Depois, é só arregaçar mangas e fazer a prometida cataplana, com ajuda da chef. Também se pode fazer a versão vegetariana, ou a de lombinhos de porco com amêijoas, mas a mais tradicional é a de peixe e marisco. No final, sabe ainda melhor por ter sido feita por nós. O brinde pode ser feito com uma das muitas referências vínicas algarvias, que preenchem 70% da carta. No final, ganha-se um avental e um certificado para mais tarde recordar. A loiça, que não haja preocupações a este nível, ficará a cargo de alguém.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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