A etapa mais difícil, sobretudo para quem vai a pedalar, é esta, porque implica subir a serra da Labruja, no concelho de Ponte de Lima, carregando a bicicleta. O local tem várias marcas deixadas por peregrinos: pedras empilhadas, lembranças e escritos. A meia encosta fica a CRUZ DOS FRANCESES, onde a população local emboscou os soldados franceses que constituíam a retaguarda do exército de Napoleão, em 1809. Lá de cima, a vista é bonita e pede um piquenique para compensar o esforço físico.
Já a poucos quilómetros do centro de Valença fica a QUINTA DO CAMINHO, que bem pode surgir como um oásis. Afinal, esta antiga propriedade agrícola tem bar, restaurante, alojamento e amplos espaços verdes. Há camaratas para 18 pessoas e dez quartos, sítio fechado para as bicicletas, com tomadas para carregar as elétricas, piscina e massagens por marcação. O restaurante serve comida portuguesa com atualizações (como lombo de bacalhau em massa filo) e tem um menu do peregrino que varia. Por estes dias, funciona ainda o Bar do Castanheiro: sob a velha árvore está uma esplanada com petiscos.
«Os peregrinos, quando aqui chegam, ficam encantados. Dizem que parece que estão nos Alpes, devido à casa em madeira e às sardinheiras», conta Henrique Barreira, responsável pela Quinta do Caminho a par com a irmã, Alcina Barreira. Trata-se, pois, de um negócio familiar, gerido pelo filho desta, Diogo Dinis. Uma das histórias mais curiosas aconteceu no Natal de 2017. No dia 24 de dezembro, a única cliente era uma muçulmana que estava a ir de Santiago para o Porto. «O meu sobrinho levou-a para casa, para poder estar com a família. Um amigo dele conheceu-a e estão juntos até hoje.»
É ao sabor de partilhas como esta que se chega à FORTALEZA DE VALENÇA, morada do FATUM – RESTAURANTE E FADOS, do chef Gonçalo Silva. Muitas pessoas entram só para ver o espaço, com lareira enorme e pé direito muito alto, que recebe espetáculos de fado ao sábado, às 20h30, altura em que o menu custa 30 euros.
«Isto é um pedacinho da muralha da fortaleza», diz Gonçalo, o sítio onde outrora se guardaram armas. Agora, serve comida feita com produtos portugueses e algum requinte, desde pratos de bacalhau até pernil de porco confitado, sem esquecer opções vegetarianas de cariz mais internacional, como o caril de legumes com arroz basmati. Vê entrar no Fatum muitos peregrinos: «Há aquele que vem na onda do sacrifício, e é cada vez menos; e muitos que gostam de comer bem e dormir em bons sítios.»
Não falta onde ficar, deste e do outro lado do rio Minho. Mas é já em Tui, no território espanhol, que funciona o espaço IDEAS PEREGRINAS, misto de café, loja e hostel com dez quartos, cozinha, sala de meditação e biblioteca. Entrar ali é uma injeção de energia: em primeiro lugar, porque a cor dominante é o amarelo das setas que levam a Santiago; e a seguir pela disponibilidade das donas, as irmãs Mónica e Silvana Crisóstomo.
Mónica fazia consultoria de turismo e Silvana era assessora financeira. Hoje, estão focadas neste seu projeto. Ficaram encantadas com o caminho desde que o fizeram com o pai, na adolescência, e a contragosto, porque queriam ficar na praia com amigos, recorda Mónica. Não duvida: «O caminho não é descobrir lugares, é descobrir pessoas. Nós descobrimos o nosso pai».
Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.Leia também:
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