Do Porto a Santiago: a segunda etapa, entre Barcelos e Ponte de Lima (33 kms)

Ponte sobre o rio Lima. Fotografia: Leonel de Castro/GI
O percurso entre Barcelos e Ponte de Lima é rico em lugares com história. Os peregrinos encontram mesa posta num sítio onde se transformava azeitona em azeite; e cama feita numa casa que vendeu açúcar, chocolate e chá verde. Eis a segunda etapa de um roteiro que vai do Porto a Santiago de Compostela, na Galiza.

Barcelos já ficou para trás quando, no meio da natureza, surgem placas a apontar um bar para peregrinos com cerveja fresca. Em poucos passos está-se numa esplanada junto ao rio Nevoinho, afluente do Neiva cujas águas límpidas convidam a molhar os pés. Estamos em Vitorino dos Piães, a pouco mais de dez quilómetros de Ponte de Lima, nas traseiras do restaurante O LAGAR DE VALINHAS. O estabelecimento, nascido de um lagar do século XIX, conserva diversas peças desse tempo, qual museu. Há desde mós até capachos (onde ia a azeitona moída que era prensada para fazer o azeite), num cenário industrial e elegante, com paredes cor de tijolo e velhas fotografias.

Esplanada junto ao rio Nevoinha, em Valinhas, Vitorino dos Piães.
Fotografia: Leonel de Castro/GI

Aqui chegou a funcionar um moinho e ouve-se a água correr, apesar da suave música ambiente. Não há televisão nem internet, para descansar do ruído do mundo. Numa parte do edifício ainda funciona um lagar, mais recente. Como entradas, chegam pão e azeite produzido ali mesmo. Procura-se utilizar produtos regionais e dá-se ênfase aos pratos de bacalhau. O bacalhau à outono, assado com batata a murro, grão-de-bico, castanhas e muito azeite, é dos que têm mais saída. Também há propostas para carnívoros e vegetarianos.

Bacalhau à outono do restaurante O Lagar de Valinhas.
Fotografia: Leonel de Castro/GI

De espaços com história se faz esta passagem por Ponte de Lima. Isso fica bem claro ao entrar na MERCEARIA DA VILA. Este turismo de habitação, no centro da vila, está carregado de memórias familiares do proprietário, Rodrigo Melo, e não só. No rés-do-chão funcionou uma loja de fazendas que o avô converteu em mercearia, em 1906, e onde o pai trabalhou até aos 90 anos.

A antiga mercearia, onde agora são servidos os pequenos-almoços.
Fotografia: Leonel de Castro/GI

A casa fechou há uma década, mas conserva muitos objetos do passado, dos armários ao moinho de café, sem esquecer os livros de fiado, um cofre com notas de escudos, cartazes originais das marcas Cerelac e Fortifex, um carrinho de bebé e brinquedos do próprio Rodrigo. Este, que foi dos primeiros estabelecimentos em Ponte de Lima a carimbar as credenciais dos peregrinos, ainda hoje recebe muitos, conta. Mas agora podem ficar alojados em seis quartos, com nomes de produtos que se vendiam na mercearia, como chá verde ou açúcar, e decorados com as respetivas cores.

O Quarto do Açúcar, na Mercearia da Vila.
Fotografia: Leonel de Castro/GI

Nota-se cuidado com os pormenores até no cartão-de-visita, dobrado como um cartuxo daqueles em que se levava arroz, massa ou café. Fica mais fácil imaginar como terá sido a vida naquele cantinho acolhedor junto à Igreja Matriz – um ponto de interesse a juntar a outros, como a bonita ponte sobre o rio Lima, que tem do outro lado, gravado na pedra, o desejo de «bom caminho».

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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