De Viseu vê-se o Mundo (da Europa ao Japão, passando pela Amazónia)

O Nomiya Sushi Bar tem investido em peças mais exclusivas. (Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)
Muitos recordam as noites alimentadas a música e sandes de leitão na discoteca The Day After, em Viseu. Se as memórias são boas, construamos outras novas: não faltam na cidade projetos refrescantes, que nos transportam até ao Japão e daí à Amazónia - com paragem em França, para comer um éclair.

Ainda agora chegámos e já nos sentimos em casa. No VISEU RYOKAN – HOSPEDARIA JAPONESA & SPA, somos recebidos com um chá, no momento do check-in, e convidados a trocar o calçado da rua por chinelos. Essa é uma regra básica num ryokan, um tipo de alojamento tradicional do Japão que inspirou Bruno Marques e Tânia Bernardo a criar algo idêntico em Portugal, após terem viajado por aquele país asiático, cuja cultura admiram. Já em miúdos faziam karaté, e foi nesse âmbito que se conheceram. Quando um estágio o levou ao Japão, Bruno dormiu numa daquelas estalagens e voltou para casa com um sonho. “Durante anos, fiz um ryokan na minha cabeça”, diz. Era algo a concretizar na reforma, na sua terra natal. Mas para quê esperar? Ele aí está. Nascido, há menos de um ano, num prédio centenário que se encontrava devoluto, no centro histórico de Viseu.

Dorme-se em futon, uns colchões mais finos.
(Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)

Um ryokan tem outras particularidades que o casal procura reproduzir ali. Por exemplo, dorme-se em futon (colchões que, naquelas hospedarias tradicionais, são mais finos, de enrolar e desenrolar); e o chão dos quartos, equipados com sanitas tecnológicas, é em tatami (placas de palha prensada). São sete quartos, todos numerados, mas salta-se o algarismo quatro, porque, no Japão, é sinónimo de azar. Além dos chinelos, é fornecido um yukata, uma espécie de kimono sem forro, a utilizar em todo o edifício – seja para ir à sala japonesa (com jogos, mesas onde saborear sushi por encomenda e um pequeno jardim exterior) ou ao spa.

Aquela zona de relaxamento inclui banheira de hidromassagem, sauna e uma divisão usada para massagens, sessões de shiatsu ou reiki, mediante agendamento prévio e pagas à parte. Também se pode meditar sobre um tapete de acupressão, requisitado para ali ou para o quarto. Trata-se de um tapete com picos que estimula a circulação sanguínea e a libertação de hormonas associadas ao bem-estar (endorfinas e oxitocina), desde que sejamos pacientes, explicam-nos. Entre seis e 20 minutos é o tempo recomendado para sentir resultados.

O espaço com banheira de hidromassagem e sauna.
(Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)

O tapete de acupressão.
(Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)

O spa é reservado, por quarto, em blocos de meia hora, estando o seu uso incluído no valor da estadia – assim como o pequeno-almoço continental, com croissants, pão, sumo de laranja natural e “um bolo japonês inspirado pelo nosso pão de ló”, chamado kasutera, contextualiza Bruno. Recentemente, foi introduzido um pequeno-almoço nipónico, que inclui sopa miso, arroz gohan, salmão grelhado, pickles japoneses e omeleta japonesa. Essa refeição está disponível para os hóspedes por um valor extra (17 euros), e também para não hóspedes (por 22 euros). Quem ali fica alojado tem sempre chá e café à disposição. E, para provar diferentes tipos de saquê, cerveja ou uísque japoneses, basta servir-se no bar, que assenta na honestidade, com o consumo a ser pago no fim. Optando pelo saquê, as instruções são “nunca se servir a si próprio e nunca tocar com o jarro no copo”.

Se apetecer ir dar uma volta sem perder de vista o Japão, há novidades no NOMIYA SUSHI BAR, que já leva uns anos em Viseu. É um restaurante japonês que segue a linha mais tradicional, não recorrendo a queijo-creme ou frutas, explica Carolina Ferreira de Almeida, proprietária e gerente do espaço, recém-remodelado. Ali, aplica os conhecimentos obtidos nos meses em que foi para Tóquio “descobrir novos sabores e experiências”. Esteve numa escola a aprender técnicas de confeção e tratamento dos produtos e depois voltou e abriu aquele negócio, onde procura usar peixes associados à cozinha japonesa, como o hamachi, e ir atualizando as propostas, mantendo algumas favoritas.

Algumas peças premium.
(Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)

O Nomiya tem investido, por exemplo, em peças premium, que incluem ingredientes novos, como wagyu, caviar de esturjão ou trufa fresca. Pipocas de camarão e tacos são sugestões algo recentes, a que se juntam agora outros pratos, como o salmão misoyaki ou a dourada tartufo parmigiano com trufa branca, porque a carta acaba de ser renovada. E, em breve, chegam os omakase, a cargo de diferentes chefs: num domingo por mês, ao jantar, os clientes sentam-se ao balcão para saborear um menu à escolha do chef convidado.

Há quem ali vá só para comer entradas, embora, numa primeira visita, Carolina recomende um dos menus de degustação. O leque de opções é bastante variado, incluindo desde sushi até ramen, noodles ou hambúrgueres em pão bao. Acresce que, ao domingo, há brunch japonês (o menu varia, sendo composto por vários momentos); e nos dias úteis existe a caixa Bento, um menu de almoço mais económico. Não esquecendo, claro, as sobremesas exclusivas da casa, entre as quais se destaca o bolo de chocolate, esse com lugar cativo.

Depois dos sabores japoneses, a pastelaria francesa

De volta ao centro histórico, ainda a pensar em guloseimas, vamos à descoberta da CHOUX-CHOUX, a casa de pastelaria francesa de António Pedro Pascoal e Cati Carneiro. Sentamo-nos e servem-nos logo um café acompanhado por uma chouquette, um bolinho feito com massa choux, sem recheio, só com açúcar por cima. O nome do espaço advém dessa massa leve usada para fazer, por exemplo, éclairs, que adquirem ali diferentes sabores e coberturas. Em tempos, ela deu aulas de francês e inglês; ele de educação visual. Eram professores contratados e, cansados da instabilidade, em 2013 foram para Paris, onde fizeram reconversões profissionais. Voltaram em 2021 e fundaram aquele negócio, em que ambos metem as mãos na massa e transmitem outros conhecimentos.

Cati Carneiro e António Pedro Pascoal.
(Fotografias de Adelino Meireles/Global Imagens)

“Já tinha o gosto pela pastelaria, e ser um trabalho manual e estético – principalmente a pastelaria francesa – foi o grande motivo para entrar de cabeça”, diz António sobre o novo ofício. Em volta, há obras de arte a denunciar o gosto da dupla pela área criativa. Até os desenhos na louça à venda são de Cati. Mas as atenções concentram-se, antes de mais, na montra colorida por doces e salgados, tudo de fabrico próprio e “o mais fresco possível”. Há tartes, cheesecakes, croissants, folhados… com margem para novidades.

Bolos e pães são confortos de que não se abdica, por estes dias, numa ida a Viseu. Até porque, em novembro passado, abriu a RÚSTICA, uma padaria artesanal com ar de boutique francesa, sem lugares sentados: os clientes escolhem o que vão levar, enquanto chegam fornadas de babkas de canela, viriatos, pain au chocolat e outras delícias para tentar quem só ia à procura do pão de massa mãe. Um olhar para os bastidores, para lá do balcão, deixa ver o processo de confeção dos pães (de diferentes variedades), bolos e empadas. À vista está também uma matéria-prima essencial: a farinha moída em mó de pedra com o selo Paulino Horta.

A Rústica já ampliou a oferta.
(Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)

A Rústica, que já alargou a oferta e o horário face à procura, é um projeto de Vanessa Santos e Luís Almeida. O casal já tinha, na cidade, o restaurante Palace, e foi por aí que surgiu o interesse pelo “pão de verdade”, na expressão dela. Primeiro, pensaram fazer pão essencialmente para abastecer o Palace, só que os clientes queriam saboreá-lo também em casa. Por isso, Vanessa e Luís lançaram-se em nova aventura, na qual até brilha uma receita de família: o bolo moreno da avó dele, que leva canela, laranja e aguardente, e tende a desaparecer depressa.

Memórias de noites com música, karting e leitão

O banquete vai longo, mas ainda há espaço para mais. Seguimos até à mítica discoteca The Day After, reativada após anos de encerramento, ainda que em moldes diferentes (ver caixa). “Quando reabriu, em 2017, foi uma euforia em Viseu”, lembra Isabel Peres, administradora da Visabeira Turismo, detentora do espaço. Nos tempos áureos, atraía milhares de pessoas, de todo o país, para noites alimentadas a música e sandes de leitão – a carne era assada ali, cortada e servida em sandes, de madrugada. Existiam várias pistas de dança, bares e até uma pista de karting. “Todas as bandas portuguesas de que nos possamos lembrar estiveram aqui”, comenta Isabel. “Chegámos a ter nomes estrangeiros, também.”

Atualmente, dá para matar saudades da discoteca todos os fins de semana, mas à mesa do restaurante AMAZÓNIA, que ocupa uma das velhas pistas. Eat, drink and get wild é o lema. Um convite a comer, beber e soltar o lado mais selvagem, como que a piscar o olho ao passado do lugar. Continua a haver palco com música ao vivo, só que agora o público tem diante de si pratos com sabores da Ásia e da América Latina, além de cocktails e outras bebidas. O projeto, que arrancou há pouco mais de meio ano, alia o sushi ao rodízio à brasileira – daí o nome e a decoração, a remeter para um ambiente de floresta tropical.

O restaurante fica numa das antigas pistas de dança.
(Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)

Jorge Morgado, que já trabalhou como DJ ali mesmo, veste hoje a pele de sushiman e é responsável pela vertente asiática do Amazónia. O sushi que vai para a mesa prima por uma certa fusão, nada de muito extravagante, mais para otimizar sabores e dar um toque diferente às peças, descreve. Tanto pode usar produtos cozinhados a baixa temperatura (caso de algumas partes dos peixes tendencialmente desaproveitadas), como técnicas da cozinha molecular: “Às vezes faço umas areias de sésamo e umas espumas de hortelã ou lima”.

A carta inclui desde bao até combinados de sushi, e em breve vai passar a ter também ramen. Numa mesma mesa, cada pessoa escolhe o que quer, podendo ainda optar pelo rodízio ou por pratos alternativos, de carne, peixe ou vegetarianos. Há de haver quem prefira ficar mais perto de casa, sentir esse aconchego. Mas que descansem os chinelos, porque agora a noite pede sapatos de dança.



The Day After: voltar onde se foi feliz

A mítica discoteca THE DAY AFTER abriu a meio da década de 1980, em Viseu. Ao longo de mais de 20 anos, movimentou gente de todo o país, recebeu músicos e DJ aclamados, estilos musicais tão distintos como rock, pop, house, punk ou heavy metal. Foi também passando por remodelações e reajustes. “No seu auge, o The Day After foi o maior espaço multifuncional de diversão noturna do país, com cerca de 10.000 m2 de área coberta”, refere uma nota da casa. Encerrou em 2007 e só reabriu ao público dez anos depois, para uma noite de angariação de fundos; o objetivo era ajudar a reerguer uma região devastada pelos trágicos incêndios de outubro de 2017, e milhares responderam à chamada. Hoje, continua a abrir portas, pontualmente, para acolher espetáculos, grandes festas (como a Revenge of the 90s, realizada no verão passado) ou eventos privados. Com um grupo de 30 elementos, e por reserva antecipa, já se inaugura uma pista de dança.



Merceria a granel, refeições veganas e workshops

Luísa Sousa e Miguel Amaral chamam à sua HALF.ARROBA “mercearia do sentidos”, porque todos eles podem ser ativados ali, a começar pela visão e pelo olfato. A casa, com menos de dois anos, ampliou recentemente a oferta: hoje, além de vender artigos amigos do ambiente, tem uma zona de estar onde serve café de especialidade e refeições veganas, incluindo um menu de brunch, ao sábado. Não que faltassem motivos para entrar naquele espaço, que apresenta várias soluções para reduzir o uso de embalagens descartáveis, em áreas como a alimentação, a higiene pessoal ou a lida da casa, e vai acolhendo workshops.

A mercearia Half.Arroba também serve refeições.
(Fotografia de Adelino Meireles/Global Imagens)

Cereais, sementes, frutos secos e desidratados, farinhas, especiarias e infusões são só alguns dos produtos vendidos a granel na Half.Arroba. Detergentes a granel também há, assim como cosméticos sólidos, artigos de puericultura ou brinquedos. Sempre privilegiando pequenos projetos e marcas nacionais, como enfatizam Luísa e Miguel. Apostam ainda em produtos biológicos e da região, como provam os cabazes de legumes e fruta da época disponibilizados à terça-feira, a troco de 20 euros (por mais 2,50 euros, são entregues ao domicílio).

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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