De Milfontes à Zambujeira, entre novas mesas e o refúgio de Amália

Herdade da Amália. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)
A criatividade plant-based de um jovem chef e as novas camas à beira-mar, entre as quais o refúgio de férias de Amália Rodrigues, têm trazido novo fôlego vicentino, entre Vila Nova de Milfontes e a Zambujeira do Mar, no concelho de Odemira.

Assim que chega o verão, é um dos locais de eleição para retemperar energias, situada na margem norte do rio Mira, que aqui vem desaguar no oceano. Mas nos últimos meses, há mais uma razão válida para rumar a Vila Nova de Milfontes. Na margem do Mira oposta à da vila, na Estrada das Furnas, o JARDINEIRO DO REI promete agitar o panorama gastronómico local com a visão criativa de uma cozinha plant-based. Rodeado de natureza, dando nova vida a uma antiga escola primária que já não funcionava há década e meia, e da qual ainda mantém a estrutura, o restaurante é liderado por David Trueb, jovem de 21 anos que voltou à terra onde nasceu e cresceu para colocar em prática o projeto final – a criação de um restaurante fictício – da sua formação na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril.

A paixão pela cozinha ganhou asas quando rumou à Indonésia para trabalhar num restaurante, numas férias de verão, com apenas 17 anos. No novo projeto, com apoio da autarquia, dá palco principal ao vegetal, o protagonista à mesa, com combinações improváveis e apoio nos verdes de quatro pequenos produtores locais. Ainda assim, confessa: “Gosto de um bom javali”, ri-se David, que aqui quis dar voz às preocupações ambientais e ao problema de escassez de água na região.

O Jardineiro do Rei é o recente restaurante que abriu em Vila Nova de Milfontes. (Fotografias de Reinaldo Rodrigues/GI)

A cozinha plant-based é o pilar do Jardineiro do Rei.

Há dois menus de degustação no restaurante, assentes na ligação aos pequenos produtores locais.

Tal como o nome indica, a inspiração surge da obra homónima de Frédéric Richaud, que ilustra os hábitos alimentares do rei Luís XIV de França, à base dos produtos que o seu jardineiro colhia nas hortas do Palácio de Versalhes. A carta faz-se de dois menus de degustação (três ou sete momentos), com pratos como a salada verde com favas do mercado de Milfontes, creme de curgete e limão confitado; os morangos lacto-fermentados com picles; a okonomiyaki (a popular panqueca frita japonesa) com chutney de menta e maionese de kimchi; o creme de batata e eucalipto com pleurotos, vinagre de sake, avelã e cinzas de sálvia; a beterraba fumada com molho bordalesa e arroz; a toranja e morango com molho de tabasco e o muesli de arroz frito com ervilha e gelado de manga, mas a sazonalidade fará a carta rodar a ritmo constante e há sempre espaço para algumas “brincadeiras” extra-carta, como as bolas de Berlim de espinafres e a cerveja de gengibre caseira que chegaram como presente no início. Os vinhos biológicos harmonizam as propostas, à vista na garrafeira em cima da lareira.

O Jardineiro do Rei veio trazer nova vida a uma antiga escola primária.

Com 21 anos, David Trueb é o responsável pelo espaço.

O muesli de arroz frito com ervilha e manga, uma das sobremesas sazonais.

De volta ao centro da vila, a TRIBO DA PRAIA é uma das mais recentes lojas de Milfontes, reunindo várias marcas debaixo do mesmo teto, algumas de produção nacional. Volta e meia, surgem coleções masculinas, mas o foco é a moda feminina boho-chic em camadas ecléticas, seja roupa descontraída de praia, mas também peças para jantar fora e cerimónias. O espaço de Rita Cunha Silva, situado junto à Igreja de Nossa Senhora da Graça, recebe novidades a ritmo semanal ou quinzenal, entre vestidos, saias, malas, cintos, t-shirts e calças (dos padronizados aos monocromáticos), sem esquecer os acessórios – brincos, colares, anéis e óculos de sol feitos a partir do reaproveitamento de materiais retirados do oceano. O mesmo que banha os areais em redor. Neste ramo, a PRAIA DA FRANQUIA, PRAIA DO FAROL e PRAIA DAS FURNAS são as opções mais centrais e próximas da vila, mas quem prefere um areal mais extenso, é só dar um saltinho à ampla e vizinha PRAIA DO MALHÃO.

A Praia da Franquia, junto à vila de Milfontes.

Moda e acessórios são o pilar da Tribo da Praia, uma das mais recentes lojas de Milfontes.

A Praia do Malhão.

Seguindo a costa para sul, a meia-hora de carro fica um areal selvagem e mais reservado, ainda que cada vez mais se procure a PRAIA DA AMÁLIA por isso mesmo. A vista-mar privilegiada, na primeira fila, faz-se no topo da arriba, ao som dos acordes do vasto catálogo de Amália Rodrigues, o mesmo que vai entoando pela HERDADE DA AMÁLIA, a conhecida casa de férias da maior diva do fado, projetada pelo arquiteto Conceição Silva há mais de sessenta anos. Durante três décadas, foi este o refúgio – veranil e ao longo do ano – da fadista, que apelidava do seu “barco”, pela vista para o mar, extensível de todos os ângulos e divisões, e pela estrutura em madeira que ainda conserva. “Era aqui que Amália descansava, retemperava energias e se refugiava. Sentia-se bem quando aqui estava”, explica Tony Sousa, luso-canadiano que gere o alojamento, propriedade da Fundação Amália Rodrigues, e admirador da obra e vida da artista, desde os seus seis anos.

Na aldeia de Brejão, a Herdade da Amália abriu portas ao público, de forma fixa e ao longo de todo o ano.

O novo alojamento, na casa de férias da fadista, tem quartos duplos e suites.

A Praia da Amália, o cenário que serviu de refúgio e inspiração a Amália durante mais de 30 anos.

Depois das experiências pontuais nos últimos verões, a casa abre-se ao público de forma fixa, ao longo de todo o ano. Há quatro quartos duplos – Amália, César (nome do marido) e Fado – e dois estúdios – Flores e Mar – com kitchenette e pátio. “Aqui está a vida da Amália”, diz Tony, sobre a estética que se manteve até hoje. As obras de arte e peças decorativas compradas e recebidas pela fadista continuam aqui, além de mobiliário antigo, o mármore e espelhos originais das casas de banho, quadros e fotografias da sua vida e pequenos altares religiosos, tanto nas zonas comuns – a ampla sala com zonas de descanso, lareira e refeições – como nos quartos. No terreno de nove hectares, cabem ainda a idílica piscina com vista-mar, rodeada de relvado e arvoredo que chegou a ser plantado por Amália, além de galinheiro e da horta onde se cultivam alfaces, pepinos, melancias, feijão, milho ou tomates. A herdade tem acesso direto e exclusivo à praia – o público é mais selvagem, em torno da casa – e é nesta zona exterior que se vão reabilitar dois pequenos miradouros, um forno comunitário e uma piscina natural. Ali ao lado, vale a pena passar pela aldeia do Brejão, para apreciar os murais de arte pintados em algumas das casas, alusivas à diva do fado. “A aldeia tem uma admiração muito especial por ela”, remata Tony.

Tony Sousa é o responsável pelo alojamento, propriedade da Fundação Amália Rodrigues.

A vista panorâmica do jardim da Herdade da Amália.

Os murais dedicados à maior diva do fado, na aldeia de Brejão.

Ali perto, a aldeia alentejana da Zambujeira do Mar também tem novidades para o verão que chegou. O tom da fachada da casa já faz adivinhar o nome do novo alojamento. “É a minha cor preferida, mas também pela ligação ao mar e por sermos uma família de portistas”, ri-se Carla Leal, a dona do AZUL, a “concretização de um desejo antigo” que junta oito quartos duplos e twin – alguns com varanda, dos quais se avista o mar e as encostas vizinhas. O edifício foi construído de raiz e abriu pouco antes da pandemia. “É simples mas moderno, representa a pessoa que sou”, conta a dona, filha de pais imigrantes na Suíça, mas que passou os últimos 30 anos na Zambujeira, a ajudar os pais a gerir um parque de campismo.

Carla Leal, aqui com a filha Sofia, é a responsável pelo Azul, novo alojamento local da Zambujeira do Mar.

O Azul está situado numa zona tranquila da Zambujeira, a poucos metros do mar.

As flores campestres, as andorinhas pelas paredes e as ondas em azul que pintam algumas das paredes ajudam a entrar no espírito rural, numa zona tranquila da aldeia. A ideia é “criar um espaço para as pessoas relaxarem ao máximo” e, por isso, não são permitidas crianças. Além da sala comum onde se servem os pequenos-almoços e o pátio com uma oliveira-bonsai e espreguiçadeiras para apanhar sol, o restante tempo pode ser passado a banhos, ou não estivesse a PRAIA DA ZAMBUJEIRA DO MAR a poucos metros. Mas no Azul, também há mapas da Rota Vicentina e sugestões de atividades para fazer em redor.

No Azul, há quartos duplos e twin, dos quais se avista o mar ou as encostas vizinhas.

Da Praia da Zambujeira do Mar à Praia da Nossa Senhora, não faltam areais em redor.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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