De Faro a Olhão: o que há para ver, comer e fazer no Algarve menos turístico

Na esteira da Ria Formosa não há sombras de pandemia. O tempo corre ao sabor das marés, petisca-se até tarde e mergulha-se em águas cálidas, como só o Algarve tem. Siga este roteiro entre Faro e Olhão.

À hora de almoço são dezenas os turistas que desembarcam de aquatáxi no porto de abrigo da ILHA DA CULATRA. Trocaram o asfalto das ruas de Olhão pela areia quente da ilha – cujos caminhos são lajes de cimento – e são recebidos por crianças à pesca no pontão e a tomar banho numa pequena praia. “Hoje há pouco peixe”, diz uma delas, esquivando-se a uma conversa. Com o porto nas costas, a ilha parece uma aldeia piscatória em miniatura. E é
mesmo, cheia de casas térreas caiadas de branco, restaurantes e geladarias, gente pelas ruas e tabuletas a indicar a enfermaria, a escola, o posto dos correios e o centro social. Vivem ali cerca de mil pessoas, durante todo o ano e sem qualquer luxo. A maioria são pescadores que ganham a vida no mar.

No verão, são também muitos os que encontram trabalho no turismo, especialmente nos restaurantes. Entre as especialidades são de provar a caldeirada à pescador, o arroz de peixe e marisco e o peixe grelhado. Mas sem marcação prévia torna-se difícil conseguir mesa para almoçar antes das três da tarde. O melhor, por isso, é marcar ou levar farnel à boa maneira portuguesa, até para poder passar algumas horas na bonita praia atlântica a que se chega por um passadiço de madeira. De caminho admiram-se as dunas, que vão formando pequenas lagoas conforme as marés.

No futuro, o mar pode vir a ser uma fonte de energia para a Ilha da Culatra, que foi escolhida para integrar um projeto-piloto europeu de autossustentabilidade energética ao lado de outras cinco ilhas como as de La Palma, em Espanha, e Sifnos, na Grécia. A ideia está no terreno e o objetivo é a ilha produzir o que consome, através da energia solar, eólica e maremotriz, no âmbito do projeto “Culatra 2030 – Comunidade Energética Sustentável” coordenado pela Universidade do Algarve.

(Fotografia de Maria João Gala/GI)

Outros dos objetivos do projeto é preparar a ilha para o impacto das alterações climáticas e criar condições para o desenvolvimento de projetos de economia circular, em nome da sustentabilidade. Entre as medidas previstas está, por exemplo, a instalação de uma estação piloto de recarga de barcos elétricos para transporte de passageiros, sendo incentivado também o uso de barcos solares. Para passeios em terra firme ou compras de lembranças e produtos frescos é obrigatório passar pelo MERCADO DE OLHÃO, cuja arquitetura do francês Gustave Eiffel se impõe na frente ribeirinha e dá guarida a uma movida de comércio e turismo como poucas no Algarve.

(Fotografia de Maria João Gala/GI)

 

Pôr do sol no castelo

O pôr do sol na Ria Formosa atrai dezenas de clientes ao terraço do restaurante-bar O CASTELO, dentro das ameias do Castelo de Faro, e hipnotiza tudo e todos com os seus tons alaranjados e vermelhos. Enquanto a brisa sopra ainda quente, vai-se escolhendo o que jantar, das tapas aos filetes de robalo com legumes da horta. “Aqui temos o melhor peixe do mundo”, atira Jaime Simões, farense e pescador nas horas vagas e responsável pelo espaço. A vida mais calma que diz levar agora contrasta com a agitação dos bares e discotecas que geriu durante anos, e apesar de a pandemia ter causado um rombo no negócio, Jaime não se queixa de falta de clientes.

Mas quando ali chegou há “oito ou nove anos”, o cenário era bem diferente. Não havia vivalma na então esquecida zona da CIDADE VELHA (ou Vila Adentro, cercada por muralhas dos períodos medieval e tardo-medieval), que só aos poucos se foi qualificando para o turismo. Erigida no século IX, ainda o território era mouro, o Castelo de Faro só passou definitivamente para a coroa portuguesa em 1260, tendo sido concedida a primeira carta de foral a Faro, pelo rei D. Afonso III, em 1266. No século XX, a zona foi descaraterizada para dar lugar a indústrias e mais de oito metros de muralha foram até destruídos para abrir a atual Rua Nova do Castelo. Ali nasceu também a Fábrica da Cerveja Portugália, um dos primeiros edifícios construídos em betão armado no país, mas que nunca chegou a funcionar como tal.

(Fotografia de Maria João Gala/GI)

 

Mariscada na rua

O centro antigo da cidade está igualmente vibrante e cheio de gente por estes dias, apesar da pandemia que se vive. No Bairro Ribeirinho – perto da estação de comboios e da marina de Faro – estende-se uma rua de restaurantes com esplanadas, a Rua Conselheiro Bívar, em que o melhor conselho é reservar mesa com antecedência. Quando a cozinha recebe muitos serviços ao mesmo tempo, Ricardo Gião, 37 anos, costuma dizer “tou no lodo” – a hashtag que se lê, iluminada, na janela da marisqueira LODO (e um convite a identificar a marca nas redes sociais).

O restaurante, reaberto depois do confinamento, é um dos cinco negócios que gere com o irmão Miguel e que dão continuidade à atividade familiar iniciada há 28 anos. Instalado num edifício do século XVIII, tem abóbadas em pedra, candeeiros feitos de armadilhas de pesca e aquários de marisco vivo. Mas a esplanada é igualmente apelativa, sobretudo para apanhar algum ar fresco nas noites tropicais.

O brinde é com espumante da Bairrada servido a copo e à garrafa. A partir daí desfila o melhor marisco que a Ria Formosa tem para oferecer, assegura Ricardo, ele que passava férias na praia de Faro, com o irmão, praticamente dentro de água. “As nossas brincadeiras eram ir apanhar berbigão, conquilhas e amêijoas”, conta, enquanto chegam à mesa delícias como ostras, camarão ao alho, camarão-tigre e canilhas (um molusco numa concha em espiral). Na carta há também alguns pratos de carne para quem não gosta de marisco, sem esquecer o clássico prego do lombo. Um clássico é sempre um clássico.


Dormir numa guest house luxuosa

Qual armário mágico de As Crónicas de Narnia, quem olha para a porta de madeira do número 37 da Rua Serpa Pinto, na Baixa de Faro, está longe de imaginar o tamanho da guest house que ali funciona. Tem 15 quartos de diferentes estilos decorativos e com nomes inspirados em ícones locais, restaurante-bar, piscina exterior, sauna, hidromassagem, banho turco, salas de jogos e provas de vinho – tudo distribuído por três edifícios interligados por dentro. Já na Champagne Ria (um trocadilho entre “champanhe” e “ria formosa”), a aposta é no champanhe e nos menus de degustação. A OPUS ONE LUXURY GUEST HOUSE nasceu pelas mãos de João Valério, engenheiro civil de formação e filho da terra. O ano passado, foi eleita a Melhor Guest House de Luxo do Mundo nos prémios World Luxury Hotel Awards.

 

EVASÕES RECOMENDA

DORMIR

Opus One Luxury Guest House
Rua Serpa Pinto, 37, Faro
Tel.: 289821017
Web: www.guesthouseluxury.com
Quarto duplo a partir de 120 euros por noite (inclui pequeno-almoço)

COMER

O Castelo
Rua do Castelo, 11, Faro
Tel.: 913921812
Web: facebook.com/OCastelo.CidadeVelha
Das 10h30 às 23h.
Preço médio: 25 euros

Lodo
Rua Conselheiro Bívar, 55, Faro
Tel.: 968623355
Web: facebook.com/tounolodo
Das 17h às 23h.
Preço médio: 35 euros

VISITAR

Mercado de Olhão
Av. 5 de Outubro, Loja 43, Olhão
Tel.: 289 817 024
Web: www.mercadosdeolhao.pt
De segunda a sábado, das 07h às 13h. Encerra domingo.

Reportagem publicada originalmente na edição de 31 de julho de 2020 da revista Evasões.



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