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Da Caniçada à serra do Larouco, pelos contornos montanhosos do Cávado

Cabril, Montalegre - vista sobre o rio Cávado. (Fotografia: Artur Machado/GI)

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Subindo o rio, assiste-se a uma fabulosa transformação da paisagem, em que as encostas verdes dão lugar a planos rochosos e cumes despidos. Pelo caminho, que atravessa os concelhos de Vieira do Minho, Terras de Bouro e Montalegre, há tradições rurais reanimadas e novos projetos a descobrir. A viagem chega ao fim onde tudo começou. Ao cabo de mais de 100 quilómetros rio acima, é preciso subir à serra do Larouco, avistar terras de Espanha e olhar a Fonte da Pipa, a nascente de onde brota este curso de água surpreendente.

 

# O Brancelhe

Passear de barco na albufeira

Em qualquer altura do ano é possível rasgar as águas da albufeira da Caniçada a bordo d’O Brancelhe, o barco turístico do município de Vieira do Minho. O passeio, por esta altura envolvido numa agradável frescura outonal e um pôr-do-sol prematuro, permite apreciar as altas encostas arborizadas que se espelham na água. Ao chegar à parede da barragem, a grande atração é o mural criado pelo artista Vhils em 2018, em homenagem às gentes e ao património natural da região.

 

# Hostel Retiro do Gerês

Novos ventos na aldeia do lobo

Em Fafião, o espírito comunitário está vivo e de boa saúde. E as tradições que marcam aquela aldeia serrana do concelho de Montalegre, também. O sistema da vezeira – pastar o gado à vez – é um desses costumes ancestrais que ainda perduram, muito por iniciativa dos jovens que aos fins de semana regressam da cidade e, num esforço conjunto, não deixam esmorecer a vida da aldeia.

 

Nuno Rebelo é um desses adeptos fervorosos de Fafião, membro da Associação Vezeira, e proprietário do Hostel Retiro do Gerês. “Em homenagem aos pastores batizamos as nossas suítes com os nomes dos currais onde guardam os animais no verão, quando vão para a serra”, realça Nuno. Trocou a vida em Braga pela concretização de um sonho de há vários anos: reabrir o primeiro alojamento da aldeia, que era também café e mercearia, aberto há quase 40 anos pelos pais. “É um projeto criado com alma”, confessa. O hostel, mais um chamariz para a aldeia, é composto por cinco suítes confortáveis e luminosas, e quatro quartos com beliche – para acomodar amigos ou famílias -, cozinha e sala de estar comum, e ainda um T1 com kitchenette.

Tal como era antigamente, também tem um restaurante e uma mercearia, com produtos artesanais e da região, como vinhos, compotas e licores de produção própria, biscoitos e peças de artesanato. À mesa chega o fumeiro e a carne barrosã, o javali e a chanfana, mas a grande estrela tem sido o tomahawk, um corte invulgar na zona. Para recuperar da travessa generosa, Nuno recomenda uma caminhada pela aldeia que tanto adora, com uma paragem no EcoMuseu, ou um dos trilhos que por ali passam e levam à descoberta do Parque, e das suas lagoas e cascatas escondidas.

 

# Miradouro de Fafião

O lobo, o rio e a serra

Um desses projetos de fim de semana dos jovens da aldeia resultou num dos mais belos miradouros da região, a que se chega através de uma ponte suspensa entre dois grandes blocos de granito, a 800 metros de altitude. A panorâmica sobre os vales exuberantes do rio Cabril e do rio Cávado inclui também o maior e mais bem preservado Fojo do Lobo da Península Ibérica, uma armadilha ancestral que servia para caçar os lobos que se aproximassem dos rebanhos. O predador acabou por se tornar um símbolo da aldeia e é ele que hoje dá as boas-vindas à entrada de Fafião, de cabeça apontada para o céu, numa varanda para a albufeira de Salamonde.

 

# Cabril Eco Rural

Preservar a partilhar a cultura do Barroso

“Ó da barca! Anda-me buscar”, chamava a avó de Paula Oliveira na margem esquerda do Cávado, com a neta ao lado, já na reta final da viagem de regresso a Cabril, vindas de Lisboa. Esta é uma das muitas memórias de infância que Paula guarda da aldeia da mãe, onde voltou de malas e bagagens há quase uma década. Lisboeta de berço, trocou a cidade pela vida rural, e criou um projeto de ecoturismo e desenvolvimento local sustentável, focado em preservar e partilhar saberes ancestrais e culturas tradicionais do Barroso, como o linho, a lã e o centeio.

Aprendeu as artes com os antigos, num longo processo de recolha de informação, que lhe permitiu “recuperar todo este conhecimento que se estava a perder, e dar continuidade, mostrando a outros como se faz”.

 

Ao longo de todo o ano, os visitantes de passagem, ou instalados na Casa Velha – a guesthouse que Paula construiu na antiga casa do bisavós – podem participar em diversas atividades. Há sempre trabalho para fazer, seja semear o linho, tosquiar as ovelhas ou fiar a lã. Paula também organiza caminhadas temáticas na montanha, ora a acompanhar o pastor da aldeia, ora no encalço dos rastos do lobo, e experiências que envolvem a comunidade local, como a oficina do fumeiro. “Durante o inverno os hóspedes podem descer até ao atelier para um serão à lareira”, desafia. É a época mais convidativa aos trabalhos manuais. Estando bom tempo, é indispensável uma visita à quinta, instalada numa encosta com vista para a foz do Cabril, onde convivem ovelhas, cavalos, vacas, uma cabra simpática e o burro Chiquinho.

Cabril Eco Rural (Fotografia: Artur Machado/GI)

 

# Mont’Alegre (FG Wines)

Vinhos de altitude

A azenha e queda de água de Donões – já num Cávado estreito – compõem um quadro pitoresco que parece saído de um conto de fadas, com o castelo de Montalegre a espreitar ao fundo. Um pequeno desvio, mais à frente, leva-nos a outro cenário inesperado na região, uma vinha com dois hectares plantada a 1070 metros de altitude. É fruto da ousadia e de alguma “loucura” dos irmãos Francisco e Paulo Gonçalves, que decidiram apostar na cultura do vinho onde este nunca foi tradição. Francisco é enólogo, com 15 anos de trabalho no Douro, e quis desafiar-se a ele próprio e ao setor, com a criação dos vinhos Mont’Alegre. São produzidos com uvas das zonas de Chaves, Macedo de Cavaleiros e Mogadouro, e depois levados para estágio em altitude, na adega em Montalegre. “É o que acontece em países de altitude como o Chile e a Argentina, e nós replicamos em Portugal”, explica. No ano passado, fizeram a primeira vindima naquela vinha inédita, e contam para o próximo ano passar todo o processo de produção para o concelho. A intenção é “pôr Montalegre na boca do mundo”, à boleia do vinho.

Azenha de Donões (Fotografia: Artur Machado/GI)

 

# Taverna do Mercado

Uma cozinha de memória

À porta, uma expressão popular resume bem o espírito hospitaleiro do povo montalegrense: “Entre. Quem é?”. De portas abertas aos visitantes que queiram conhecer a gastronomia tradicional do Barroso casada com os novos vinhos do concelho, a Taverna do Mercado, é o mais recente projeto dos irmãos Gonçalves. O pequeno restaurante, de ar rústico e ambiente acolhedor, surgiu como complemento aos vinhos e ao alojamento, a Casa da Avó Chiquinha, e é feito de referências à cultura local e ao vinho, tanto na decoração como no prato. Nesta cozinha de memória, o cozido à Barrosã tem especial destaque, servido com um delicioso arroz de feijão. O bacalhau com crosta de pão de centeio é outra interpretação dos produtos locais do chef João, a que se junta uma carta de petiscos durante a tarde, focada no fumeiro regional, e sugestões menos tradicionais, como o hambúrguer e a francesinha com carne barrosã. No final da refeição aconselha-se um passeio pelo Parque do Cávado, que tem uma agradável zona de verde junto ao espelho de água e é o último – ou o primeiro, para quem começa aqui a viagem – espaço de lazer urbano do rio.

 

# Serra do Larouco

O ponto de partida

Do centro de Montalegre ao alto da Serra do Larouco é um instante. Pelo caminho facilmente passa despercebida a Fonte da Pipa, que é, segundo consta, a nascente do rio Cávado. Sendo este o nosso destino – ao fim de mais de 100 quilómetros a seguir este rio maravilhoso – , vale a pena continuar montanha acima, para descobrir a belíssima panorâmica que o cume oferece. É a segunda maior serra de Portugal continental, com 1527 metros de altitude, e lugar de eleição para os praticantes de parapente. Para trás, fica a Espanha. Em frente, vê-se Montalegre, a grande albufeira do Rabagão, e uma fina linha a reluzir entre campos de cultivo, sinal de que muitos outros tesouros terão ficado por descobrir.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.