Cumieira: Ana Maria Pinto regressou à terra para contá-la

Ana Maria Pinto guiou a Evasões pela Cumeeira, (Fotografias de Pedro Granadeiro/Global Imagens)
Na região do Douro, a vila da Cumieira tem ares de aldeia. Assim gosta de lhe chamar Ana Maria Pinto, que aqui cresceu e que, depois de vários anos por outras paragens, regressou à terra, onde tem agora vários projetos.

Sob o frio transmontano de dezembro, Ana Maria Pinto percorre as ruas da sua infância, da sua “aldeia”, como gosta a chamar à vila da Cumieira, de onde saiu para trabalhar em Lisboa e aonde regressou há quatro anos. Quis mudar de vida. Viver com mais qualidade. Não é que não aprecie uma grande urbe. “Gosto de cidades grandes e de aldeias bem pequenas, quanto mais rurais melhor”. A sua biografia é prova disso.

Depois de se licenciar em Matemática Aplicada, na UTAD, foi para Lisboa onde fez mestrado em Marketing e Comunicação. Ficou 10 anos na capital a trabalhar na área da comunicação de um banco. Antes de regressar, viveu em Londres vários meses e viajou muito.

O apelo da terra natal acabou por ser mais forte. Mas a “sua aldeia” está diferente do que era há 20 anos. Ao percorrer a Rua da Igreja, lembra-se de quando esta estava sempre cheia de gente. “Os habitantes preferiam estar na rua do que em casa. Havia sempre crianças a brincar, adultos a jogar às cartas”. Hoje, “já não há pessoas”, lamenta. Só durante a Páscoa a vila volta a ganhar animação.

É uma festa única, “mais importante do que o Natal”. O compasso vai de casa em casa em festa, com fogo de artifício, pelas ruas engalanadas onde à noite se acendem lamparinas para a recolha do compasso, que finaliza em procissão com a banda de música até à igreja.

Mas depois, tudo volta ao normal: pouca gente, muitas casas vazias. “Nos anos 90 e 2000 muitos emigraram. As pessoas viviam tradicionalmente da vinha e do olival. Mas as gerações mais recentes já não conseguiram fazer isso. Os mais jovens ou emigraram ou trabalham em serviços”.

Voltar à terra é contra-corrente. E Ana Maria Pinto não está nada arrependida, bem pelo contrário. Aqui iniciou o seu projeto Time Off (timeoff.pt), que começou por ser um blogue de viagens e rapidamente se tornou um projeto que inclui passeios/caminhadas pela natureza e o património, principalmente do norte do país.

“Lancei o blogue porque as pessoas diziam que eu tinha boas fotografias. Então, comecei a reunir conteúdos. Teve muita aceitação, principalmente quando falava de Portugal. Entretanto, o ano passado, lançou um livro de crónicas, Time Off – viagens, aventuras e experiências (Chiado Books). Conta aqui as suas aventuras de viagem, a sua mudança de vida e como se reencontrou com a ruralidade. De resto, conhece bem a “sua aldeia” e é uma exímia guia pelos monumentos e pormenores que a tornam única.

ROTEIRO

O Folar da Dininha

O folar da Dininha é produzido por Alfredo Barreto, a partir da receita da sua mãe Dina.

 

De quinta a sábado, durante a noite, Alfredo Barreto prepara a massa que irá pôr a cozer no forno a lenha para de manhã estar pronto a vender no seu café Celeiro. A receita vem dos tempos da sua mãe – avó de Ana Maria Pinto – que ali fazia o folar de carnes fumadas como hoje Alfredo faz. Dininha só fazia para família e amigos, mas Alfredo, confiante na qualidade do produto, decidiu criar negócio, até para contrariar a crise. Aqui não há máquinas. É tudo amassado à mão e os ovos vêm dos vizinhos. Todos os sábados de manhã o folar está também à venda no Mercado Municipal de Vila Real.

Igreja da Cumieira ou igreja de Santa Eulália

A igreja tem um trabalho exuberante de talha dourada.

Algumas pinturas de Nicolau Nasoni ainda estão visíveis na igreja.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

É um dos orgulhos da vila esta igreja do século XVIII. Para visitá-la é pegar na chave que está pendurada numa das casas ao lado – basta perguntar a quem passa – e abrir as portas para um inesperado encontro com uma exuberante decoração em talha dourada. Construída em 1729, a igreja destaca-se por outra particularidade. Embora já não completas, estão visíveis algumas pinturas decorativas de Nicolau Nasoni, de 1739, o pintor e arquiteto italiano autor da Torre dos Clérigos que deixou a sua marca um pouco por todo o norte de Portugal.

Marco pombalino Nº55

Marco pombalino.

À porta da adega cooperativa da Cumieira, já encerrada, encontra-se um marco pombalino (século XVIII) utilizado para a demarcação da região vinícola do Douro. Ana Maria Pinto faz questão de o mostrar. Apesar da aparência de singelo marco granítico encerra a história de toda uma região. Pormenor curioso é a placa presa à parede que está mesmo acima do marco. Diz: “Honrou-nos com a sua visita o ilustre escritor Jorge Amado em 30-9-1979”.

Quinta da Gaivosa

Quinta da Gaivosa.

Visitar a Quinta da Gaivosa é ficar a conhecer um pouco melhor a história do Douro e de quem fez desta região, antes conhecida apenas pelo vinho do porto, uma das mais importantes do país e na produção de vinhos tranquilos. Domingos Alves Sousa abre as portas da sua Quinta da Gaivosa para quem quiser conhecer a sua nova adega – projeto do arquiteto António Belém Lima – e as parcelas de vinhedos mais importantes da casa. Domingos Alves de Sousa faz parte da primeira geração de viticultores a produzir vinhos na região. O seu pai e avô já tinham sido vitivinicultores. Mas foi nos anos 1990, com a crise que se abateu sobre a produção de vinho do porto que Domingos quis apostar em outro tipo de vinhos. “Tentei rodear-de de bons profissionais, bons enólogos, como o Anselmo Mendes, que na época estava a começar como nós”, conta. Hoje, quem fez esse trabalho é o seu filho Tiago.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 




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