Em Odeceixe, a mistura de águas entre a ribeira de Seixe e o Atlântico criam um cenário digno de admirar. (Filipe Amorim/GI)

Costa Vicentina: uma roadtrip por praias de ribeira e de mar

Bordeira, Aljezur e Seixe. As três ribeiras nascem na serra de Monchique, mas segue cada uma seu caminho. Em cada foz, uma praia que são na verdade duas: uma de mar, outra «semifluvial». A ligá-las, uma estrada que é uma pequena viagem. Também isto é Algarve.

A estrada vem de cima, desde Alcácer do Sal, e sem desvios leva três horas a percorrer, até atingir o seu ponto final, em Lagos. A EN120 é, sobretudo, uma estrada de retas, vencidas as curvas da serra de Grândola, de Odeceixe e do Espinhaço de Cão. Ao entrar em território algarvio mal cruza a ribeira de Seixe, aproxima-se do litoral e ganha também, ela própria, configuração de espinha, com ramificações para as praias da Costa Vicentina. Com isso, cria condições para uma espécie de roadtrip em ponto pequeno – quem disse que as roadtrips se medem às centenas de quilómetros?

Quem começa da costa sul vem por Lagos e, passado Bensafrim, tem a albufeira de Bravura a 10 minutos de desvio para a direita. Vale a pena, para admirar de longe. Se é para mergulhos, há que seguir em frente: escala seguinte, BORDEIRA, agora para o lado esquerdo, o do mar. Exige meia hora de caminho, mas a visão da mistura de águas, quando a ribeira da Bordeira encontra o Atlântico, faz merecer o desvio. Assim como a praia, também chamada Carrapateira, que ganha «dois areais», um de água doce, outro de salgada.

A ribeira da Bordeira desagua no areal da praia com o mesmo nome, também chamada Carrapateira (Filipe Amorim/GI)

A ribeira da Bordeira desagua na praia com o mesmo nome, também chamada Carrapateira (Filipe Amorim/GI)

As feijoadas da Taberna do Gabão são um ótimo pretexto para uma paragem na vila de Odeceixe. (João Mestre)

As feijoadas da Taberna do Gabão são um ótimo pretexto para uma paragem na vila de Odeceixe. (João Mestre)

De novo para norte, passa-se ALJEZUR e cruza-se a ribeira homónima, que parece agora um inofensivo fio de água, mas que já teve força para destruir a ponte medieval ali existente até 1947. Aliás, água terá sido um elemento abundante na vila antiga, pensa-se até que o seu nome vem do árabe al-jazira, «a ilha», e sabe-se que era um porto movimentado.

A ribeira já não é navegável, mas vale a pena seguir-lhe o rasto até ao mar, pela estradinha que parte junto das piscinas municipais, tanto para admirar a zona lagunar que se forma perto da foz, como para tirar partido da dualidade rio-mar que cria na praia da Amoreira.

Passada Aljezur, a EN120 abre 4 quilómetros de reta, que divide ao meio a aldeia de ROGIL, merecedora de duas paragens, ambas por razões do estômago. Primeiro, o Pão do Rogil, padaria de linhas modernas com mais de meio século de tradição familiar na matéria.

 

A ribeira de Aljezur atravessa a vila que lhe dá nome, rumo ao Atlântico – e à praia da Amoreira. (Filipe Amorim/GI)

A ribeira de Aljezur atravessa a vila que lhe dá nome, rumo ao Atlântico – e à praia da Amoreira. (Filipe Amorim/GI)

Adiante, o Museu da Batata-Doce que, não sendo um museu no sentido literal, põe em exposição as potencialidades deste tubérculo que por aqui tem denominação IGP – em gulodices como pastéis, pudins, tartes e tortas, e também em petiscos e pratos, entre eles a salada de polvo, a torta de bacalhau e os rojões, tudo isto com (mas também há opções sem) batata-doce.

Daqui, anda-se outra dezena de quilómetros até começarem as curvas. Que são bom sinal: sinal de que ODECEIXE está perto. Antes de chegar à ponte do Seixe, vira-se – por ali adiante começa o Alentejo, e a linha de água serve-lhe de fronteira natural, deixando do lado de cá a praia, derradeiro posto balnear algarvio.

Em querendo, no regresso sobe-se à vila, airosa e com belas vistas sobre o amplo vale cavado pelas águas – e com as feijoadas de choco e de búzios da Taberna do Gabão como pretexto adicional –, mas o sentido da viagem está no mar. E na ribeira, que vai ganhando ar de rio, à medida que se estende até ao estuário.

A praia de Odeceixe é um glorioso final – de rio, de Algarve. E de viagem. Mais ainda quando, pelo final do dia, o vale aberto a oeste se inunda de luz.

 

 

MERGULHAR
Praia da Bordeira/Carrapateira
Praia de mar e de rio, na foz da ribeira da Bordeira
Carrapateira, Bordeira (Aljezur)
GPS: 37.1974, -8.9067

Praia da Amoreira
Praia de mar (Bandeira Azul) e de rio, na foz da ribeira de Aljezur
Aljezur
GPS: 37.352, -8.8431

Praia de Odeceixe
Praia de mar (Bandeira Azul) e de rio, na foz da ribeira de Seixe
Odeceixe (Aljezur)
GPS: 37.4399, -8.7974

COMER
Restaurante do Cabrita
Peixe fresco, mariscos e petiscos. Ao almoço, serve até às 17h00
Estrada da Praia, Bacelos do Rio, Carrapateira (Aljezur)
Tel.: 282973128
Encerra à quarta
Preço médio: 20 euros

Taberna do Gabão
Cozinha de mar e alentejana.
Rua do Gabão, lt 9, Odeceixe (Aljezur)
Tel.: 282947549
Encerra à terça
Preço médio: 20 euros

COMPRAR
Pão do Rogil
Avenida 16 de Junho, Rogil (Aljezur)
Tel.: 282998203
Não encerra

Museu da Batata-Doce
Estrada da Esteveira, Rogil (Aljezur)
Tel.: 282994132
Não encerra.

FICAR
Monte da Vilarinha
Turismo rural de charme, com 9 casas e 3 quartos, a 8km da Carrapateira
EM1135, Bordeira (Aljezur)
GPS: 37.1688, -8.8586
Web: montedavilarinha.com
Quarto duplo a partir de 81 euros por noite

 

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