Como escapar ao calor em beleza em Viana do Castelo

Viana do Castelo e Rio Lima desde o Monte de Santa Luzia (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)
Do sossego do Parque Ecológico aos silêncios da biblioteca projetada por Siza Vieira, da animada taberna Soares à sombra da esplanada do Zé Natário, não faltam recantos aprazíveis na cidade para melhor lidar com o verão.

O que tem a oferecer a cidade de Viana do Castelo para fazer fora de água, quando o calor aperta? Há recantos aprazíveis, na natureza, à beira do mar, do rio e na montanha. E também nas ruas do centro histórico. Amenizam a sensação térmica e ainda proporcionam experiências que podem ser surpreendentes, algumas até memoráveis.
Comecemos por um encontro matinal na esplanada da confeitaria/pastelaria Zé Natário, ao fundo da Avenida dos Combatentes, perto do rio Lima. O dia começa com café e uma montra recheada de saborosos doces e salgados de fabrico próprio. Natário, em Viana, é sinónimo de bolas de Berlim. Há as do Zé e as do Manuel Natário (este na Rua Manuel Espregueira, 37).

Pastelaria Zé Natário (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

As do estabelecimento do Zé, hoje propriedade da filha Regina Natário, têm saída logo pela manhã. Assim como toda a pastelaria variada (20 bolos e pastéis), com especial destaque para sidónios, manjericos de Viana, princesas do Lima (semelhante ao manjerico mas em forma de barco), caramujos, jesuítas e natas. Torta de Viana, bolo-rei e bolo folhado com recheio de doce de ovos são ex-líbris e saem todo o ano. Nos salgados, enfeitam as vitrinas empadas de carne, fiambre, atum e frango, bola de carnes transmontana, inteira ou à fatia, e empadinhas de vitela ou camarão, além de frigideiras de carne. Tostas mistas, em pão da casa, também são opção.

 

Regina segue as pisadas do pai, já falecido, que fundou o estabelecimento há 53 anos, no dia 31 de janeiro de 1970. Faz questão de preservar uma “casa emblemática e de memória”, que ainda mantém o seu reclame clássico, com um homem de chapéu que mexe o braço de forma mecânica para levar a chávena de café à boca.

Deixamos a sombra da esplanada e subimos a avenida em direção a Santa Luzia. Em dias de calor, é de manhã que apetece ir monte acima até ao templo. A pé, pelo escadório. São 659 degraus, sempre mais ou menos abrigados, graças aos ramos das árvores que ladeiam o percurso.

 

O Elevador de Santa Luzia, que em 2023 chegou a 100 anos, é outra opção. A viagem demora uns sete minutos e custa 2 euros. Percorre dois metros por segundo, num total de cerca de 700 metros. A lotação é de 24 passageiros, 11 sentados e 13 em pé. Transporta pessoas em cadeiras de rodas, carrinhos de bebé e até duas bicicletas.

No cimo do monte espera-nos, abertos a visitas, o templo do Sagrado Coração de Jesus e a Citânia de Santa Luzia (cidade velha). E também o zimbório, cuja escadaria estreita nos leva ao ponto mais alto possível e a desfrutar de uma vista de 360 graus sobre a cidade, terras vizinhas, o rio e o mar. Encher os pulmões de ar, lá em cima, olhando uma paisagem panorâmica e arrebatadora, lá em baixo, inspira-nos a continuar a viver coisas bonitas.

Santa Luzia (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

De regresso à cidade, seguimos pela sombra. A pé, pelo interior do jardim público, junto à marginal. Árvores de um lado e de outro, com as copas a tocarem-se sobre as nossas cabeças, fazem efeito de túnel.

A meio, é possível uma paragem numa das esplanadas mais frescas e bonitas da cidade, no café Girassol. Tempo para uma bebida fresca, um gelado, alguma pastelaria convencional ou sandes. Ou apenas para momentos de puro lazer. Simplesmente estar, conversar, ler ou até trabalhar um pouco. Os bancos de madeira, pintados de vermelho, do próprio jardim, convidam a isso mesmo.

Continuamos a caminhar sob as árvores, até à Ponte Eiffel, rumo ao Parque Ecológico Urbano (PEU) de Viana do Castelo. Uma surpresa colada à zona urbana. Um imenso espaço verde localizado a nascente do centro histórico e a poente da velha ponte metálica, que abriga 426 espécies: flora (120), cogumelos e líquenes (50), aves (70), mamíferos (8), anfíbios e répteis (10), peixes (7), insetos (150) e outros invertebrados (11). Um hotspot biológico com espaços para explorar e equipamentos ao ar livre. Vinte hectares de bem-estar, silêncio e sossego.

Parque Ecológico Urbano (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

Parque Ecológico Urbano (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Logo à entrada, há um extenso prado do lado esquerdo e à direita uma “sala” de leitura ao ar livre. Entre muros de pedra e teto feito da folhagem de arvoredo, um recanto sossegado e fresco oferece várias “poltronas”, cada uma dedicada a poetas, escritores, homens e mulheres de letras com ligação a Viana. No chão podem ler-se excertos de poemas de Pedro Homem de Melo, que também dá nome a um dos assentos, assim como António Manuel Couto Viana, Abel Viana e outros. O lugar chama-se Canto da Leitura e dos Autores Vianenses e inclui uma pequena biblioteca de acesso livre. Em pequenas casas de madeira coloridas estão disponíveis livros para adultos e crianças.
Adentrando-nos no parque, por caminhos de terra batida (e passadiços também), com vegetação cuidada e identificada com painéis explicativos, avistam-se bancos de madeira gigantes. Abrigados por enormes árvores, servem para sentar, com os pés levantados do chão, e ler, ouvir música e contemplar a natureza. Ouvir os pássaros e olhar o esvoaçar de borboletas. Simplesmente, apreciar a natureza.

O PEU dispõe de um bar com esplanada, que serve café, bebidas, gelados, doces e bolos caseiros, e refeições leves (ver caixa). Um local que serve de poiso para trabalho e mergulhos na leitura.

Parque Ecológico Urbano (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Por falar em livros, regressamos ao centro da cidade, novamente pelo jardim público, até à Biblioteca de Viana do Castelo projetada pelo arquiteto Siza Vieira. Um espaço nobre e bonito, de cores claras e amplas aberturas envidraçadas, onde é possível passar horas em sossego, num ambiente climatizado, com vistas panorâmicas para o rio Lima. Há livros, jornais, revistas, música e filmes para requisitar, bem como publicações em braile e audiolivros, e leitura de contos para os mais novos. E ainda uma Bebéteca, com puffs, que os pais procuram com os seus bebés principalmente no verão. É refúgio para gente de todas as idades.

Biblioteca Municipal (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Ali perto, o público infantil (e não só) tem um destino obrigatório, a Objectos Misturados, uma loja com galeria no centro da cidade que comercializa criações de diferentes autores. Vocacionada especialmente para a ilustração e cerâmica. Pertence ao casal Susana Jaques e Helder Dias e é um pequeno mundo de maravilhas, com peças para vários gostos e preços.

Brinquedos e jogos (sem plástico nem pilhas) de marcas como a Gecko; livros infantis de editoras como a Planeta Tangerina, Edicare, Orfeu Negro, Bruaá e Tcharan; e um mural de flores de gesso coloridas da artista Iva Viana chamam a atenção a quem entra. Mas há mais: bonecas e bonecos (animais, por exemplo) em tecido, ratinhos de madeira em triciclos de metal, insetos e outros objetos em cerâmica da marca portuguesa Laboratório de Estórias e peças decorativas das ceramistas Anna Westerlund e Helena Abrantes. A peça mais cara da loja, 950 euros, é uma Lolita de Maria Rita Clemente.

Objectos Misturados (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Após uma visita demorada ao espaço e conversa com Susana sem pressa, começa a entardecer. Caminhamos em direção à Avenida dos Combatentes, atravessando a Rua Grande, enfeitada com guarda-chuvas coloridos, que em dias de sol quente alegram os transeuntes com a sua sombra. E vamos pela Rua Manuel Espregueira fora, até ao próximo destino: a Casa Primavera-Taberna Soares.

Antes de entrar pela porta vermelha, que por norma tem gente à soleira à espera para entrar, nunca é demais visitar, ainda que por breves momentos, a Igreja de São Domingos, onde está sepultado São Bartolomeu dos Mártires, mesmo ao lado. É que o templo vale a pena por todas as razões, incluindo o fresco emanado pelas paredes de pedra. E também prepara os espíritos para as horas que se seguem.

 

José Soares, a mulher Maria Isabel e a filha Catarina são donos de uma casa que ninguém dispensa para um (sempre animado) lanche ajantarado ou jantar. Principalmente em noites de verão. Petiscos servidos em pires ou em doses: ovas, mexilhão, polvo, búzios, percebes, camarão da costa, gambas, amêijoas, vieiras recheadas e sapateira. Mariscos e peixe frescos de origem local (opção de carne apenas há posta e picanha), regados a vinho ou champarrião (tinto ou branco) servidos em caneca branca às riscas azuis e bebido em malgas, são a parte de comes e bebes. Mas o espaço vale também, e muito, pela experiência.

Alda, Rosa e João servem às mesas, sempre numa grande azáfama, para atender às duas salas cheias (e ruidosas a partir de certa altura). Alda e Rosa têm sempre resposta afiada. A primeira solta palavrões. Rosa é mais comedida. “Enquanto eu digo mil, ela diz um”, comenta Alda. É verdade, mas ambas garantem a animação da taberna com a sua boa disposição.

Taberna Soares (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

João é mais discreto, mas simpático e pronto a servir, assim como Valter, ao balcão. Catarina, filha do patrão, comanda “as tropas”, enquanto os pais estão na cozinha. De vez em quando espreitam para cumprimentar os clientes ou assistir à festa que ali acontece, quase sempre de improviso. Desta casa convém não sair sem provar, de sobremesa, o “Pão de ló melhor do universo” (húmido), acompanhado ou não de queijo da Serra. Ou Romeu e Julieta.

Para prolongar a noite, no casco histórico, Rua dos Manjovos, entramos no bar Ribeiro’s Brewers. Destino de amantes da cerveja artesanal e não só. O espaço de Domingos Ribeiro, onde a clientela é atendida pelo irmão Henrique, funciona a partir do fim da tarde em três fases: “after work”, “dinner” e bar noturno.

 

Para acompanhar a variedade de cervejas (à volta de 20) que vão rodando na carta, há várias opções de snacks. Hambúrgueres, prego, asinhas de frango e nachos com guacamole são os mais pedidos. Recomenda-se comer para fintar possíveis efeitos da cerveja artesanal, de torneira ou garrafa, cujo teor alcoólico oscila entre 3,5 e os 16 graus.

Para retemperar corpo e espírito, rumamos por fim ao Hotel Flôr de Sal, na Praia Norte, situado a dois quilómetros do centro da cidade, para um sono de beleza. Um quatro estrelas com o Oceano Atlântico aos pés. E acesso a spa, com piscina de água salgada, e ginásio. Possui bar com esplanada e restaurante, o Saleiro, abertos também ao público em geral. A gastronomia aposta em pratos de mar típicos da região, com um toque de requinte. Destacam-se robalo, polvo, bacalhau e um afamado arroz de tamboril com gambas. Este verão, o Flôr de Sal está a oferecer 10% de desconto nas reservas até 15 de setembro. Dos 60 quartos, 30 possuem vista mar. Escolhemos um quarto com varanda, onde apetece dormir, nas noites quentes, a ouvir o som das ondas.

Hotel Flôr de Sal (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

Hotel Flôr de Sal (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Os bolos da Josefa
No Café do Parque, situado no coração do Parque Ecológico Urbano de Viana do Castelo, são presença habitual num expositor de vidro no balcão os já famosos bolos caseiros de Josefa Cadilha. A funcionária do espaço todos os dias bate e leva ao forno uma ou mais das suas especialidades. Os bolos de Nestum e de chocolate, vendidos à fatia, desaparecem num ápice. Por vezes, Josefa vai improvisando outros, utilizando fruta fresca colhida no próprio parque. O café serve refeições por reserva e ao fim de semana. Todos os dias há panados, bife de frango, saladas e salgadinhos.

Café do Parque (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/GI)

 

A nova cerveja Vi.a.Ana
Prestes a comemorar o sexto aniversário (dia 28 de julho), o bar de cerveja artesanal Ribeiro’s Brewers vai assinalar a data com o lançamento da sua primeira cerveja, a Vi.a.Ana. O nome da “menina dos olhos” do proprietário, Domingos Ribeiro é alusivo à lenda da cidade que “viu a princesa Ana no castelo” e marca o início de uma nova fase do seu projeto, ligada à produção própria. Domingos descreve-a como uma cerveja clássica da família das IPA, com um teor alcoólico de 6%, cítrica, com um toque de maracujá, fresca e fácil de beber. Será lançada com uma festa de rua.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.



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