Em todos os guias de viagens sobre Portugal que Hayat Ait Chaoura e Patrick Boon folheavam, a palavra “flamboyant” saltava-lhes sempre à vista. Era habitualmente utilizada para descrever o estilo manuelino dos séculos XV e XVI como flamejante, e o casal belga, que 15 anos depois de visitar o país na lua-de-mel, decidiu voltar e criar raízes, achou por bem batizar o seu boutique bed & breakfast como Flamboyant. Começaram por recuperar um antigo moinho de vento na aldeia de Serra do Bouro, no concelho das Caldas da Rainha, transformando-o numa suíte, a que juntaram gradualmente mais três quartos independentes. Há uma piscina, e ao final da tarde, o casal serve alguns snacks e cocktails, mas além disso encorajam os seus visitantes a sair dali e explorar as redondezas. De tal forma que até disponibilizam guias em várias línguas com propostas de roteiros e programas. “Uma cama, pequeno-almoço e um guia, é tudo o que os hóspedes precisam para se conectarem com a região”, defendem os anfitriões. No exterior da sala de refeições, as andorinhas do Bordallo Pinheiro rodopiam na parede, e dão pretexto para que se siga ao centro da cidade.
Um rã gigante numa rotunda, macacos pendurados nas árvores, um gato assanhado numa esquina e uma abelha empoleirada em cima de um quiosque são algumas das peças da Rota Bordalliana, que convida a caminhar pelas ruas à boleia do trabalho do artista que levou ao auge a cerâmica tradicional das Caldas da Rainha, na sua abordagem naturalista e caricatural. Cidade Criativa da Unesco, deve o título aos artífices que ao longo dos anos foram sendo atraídos para ali, fixando-se e dedicando-se às artes da criação. Bordallo foi um deles, na sua época, mas antes, já a Maria dos Cacos tinha aberto caminho nas louças das Caldas, na década de 1820. A evolução desta atividade pode ser conhecida numa visita ao Museu da Cerâmica, instalado no Palacete do Visconde de Sacavém, onde se faz a preservação do acervo cerâmico das Caldas, desde o início do século XIX até à contemporaneidade. A propósito do 51.º Congresso Internacional de Cerâmica, a programação cultural da cidade foi reforçada com novas exposições dedicadas à cerâmica contemporânea local e nacional para ver no Centro Cultural e de Congressos e no Centro de Artes.
Hoje, um dos maiores exemplos de fixação de criativos na cidade é o projeto Silos Contentor Criativo, que foi ocupar um antigo edifício industrial da Moagem Ceres com estúdios, ou “unidades criativas produtivas”, como lhe chama Nicola Henriques, um dos impulsionadores da iniciativa. Atualmente, o espaço alberga cerca de 20 micro-empresas, entre eles a oficina de joalharia da Liliana Alves, onde a artesã também organiza workshops e aulas para quem quiser aprender o ofício, onde e os estúdios de escultura têxtil e gravura de Zélia Évora. Durante o verão, uma vez por mês, os projetos saem à rua e dão-se a conhecer num mercado noturno na icónica Praça da Fruta (onde há 500 anos acontece diariamente um mercado de frutas e legumes pela manhã): o Bazar à Noite.
Outro palco permanente dos criadores da cidade é a loja do Sr. Jacinto, uma retrosaria com 120 anos que agora é também concept store, onde os artesãos locais mostram o seu trabalho. Entre linhas e tecidos, há mobiliário em madeira, louças, objetos decorativos, joias e muitas outras peças de autor.
Falando no comércio local importa realçar outros espaços com história que se foram reinventando, como é o caso da centenária Mercearia Pena que continua forte na venda dos seus ex-líbris de sempre – o café a granel, os biscoitos e o bacalhau – reforçando a oferta com outros produtos artesanais, da região e de outras zonas do país. Já o Real Balcão 5, nascido numa loja de ferragens com um século, conserva na decoração algumas referências à antiga vida do espaço, combinando a sua memória com uma carta de vinhos eclética, pratos saborosos – como a açorda de camarão – e um ambiente convivial.
Cinco séculos, é quanto tempo se recua na loja Quinze. Não que esta exista desde então, mas porque foi a data que inspirou a designer Joana Vicente a criar a marca, em homenagem à rainha Dona Leonor, que no século XV mandou erguer o Hospital Termal. Há postais pintados à mão, vestuário, peças de cerâmica, bordados e objetos personalizados, tudo inspirado na fundação da cidade.
Caldas da Rainha desenvolveu-se a partir da sua atividade termal, e depois de obras de requalificação, a ala sul do hospital voltou recentemente a receber pacientes em busca dos benefícios das suas águas salubres. Recomenda-se complementar os tratamentos, como em tempos idos, com um passeio revigorante pelas alamedas do Parque D. Carlos I, um jardim romântico que abraça o antigo hospital. Caminhar na natureza pode ser, afinal, o melhor remédio.
Flamboyant
Rua do Moinho, 11, Serra do Bouro, Caldas da Rainha
Web: flamboyantbnb.com
Alojamento a partir de 140 euros por noite (com pequeno-almoço)
Museu da Cerâmica
Rua Dr. Ilídio Amado, Caldas da Rainha
Terça a domingo das 10h às 12h e das 14h às 17h30.
Entrada: 3 euros
Sr. Jacinto
Rua Dr. Miguel Bombarda, 7, Caldas da Rainha
Segunda a sábado das 10h às 19h.
Real Balcão 5
Largo dos Heróis de Naulila, 5, Caldas da Rainha
Tel.: 912017112
Segunda a sábado das 12h às 24h.
Preço médio: 20 euros
Quinze
Praça da República, 77, Caldas da Rainha
Web: quinze.pt
Das 11h às 18h. Sábado das 10h às 15h. Encerra ao domingo e quinta-feira.