Aveiro: o que está a mexer na cidade

Moliceiros na ria de Aveiro. (Fotografias de Maria João Gala/Global Imagens)
Enquanto brotam novas cozinhas e espaços culturais junto à ria, rainha e senhora em terra de ovos-moles, e os clássicos se vão reinventando, a resiliência aveirense recusa cruzar os braços num ano difícil, com um pé na tradição e outro no futuro.

Resistente no caráter, complexa na forma, diversa na oferta. A personalidade da ria funde-se com o da própria cidade, alimentando-se uma da outra. Um pé está fixo na tradição, o outro no futuro, como mostra a recente decisão de tornar os moliceiros amigos do ambiente, com motores elétricos. No centro da cidade, sem desviar o olhar dos canais, também há novos sinais de resiliência pós-pandémica, em locais que têm trazido ritmo e vida a Aveiro, sem descurar a vénia ao passado.

É o caso da CONFEITARIA MADRE ODISSEIA, que abriu no verão em frente à Praça da República, focada num dos ex-líbris da doçaria conventual. Há quase 40 anos que a sua fábrica já faz produção artesanal de ovos-moles, em tachos de cobre, mas só agora surgiu um espaço de venda. A sofisticada confeitaria, em edifício elegante de fachada recuperada, chegou para “recuperar valores, emoções e raízes”, explica o dono, Eugénio Santos. Vive no Porto, mas foi aqui que cresceu com os irmãos. “Eu era um de seis terroristas em Aveiro, a brincar na rua de manhã à noite”, ri-se o responsável do grupo Colunex.

Ovos-moles da Confeitaria Madre Odisseia.

Aqui, os ovos-moles juntam-se a castanhas de ovo, pão de ló, raivas e almendrados, feitos por um pequeno mas sábio grupo de doceiras, algumas destas na fábrica desde o início. Esse conhecimento pode ser comprovado com workshops na loja, com reserva prévia. O segredo é simples e prova-se entre paredes ou na esplanada com sombra. “O truque é fazer com amor, sem pressa e com produto de qualidade”, conta Santos. A sua AVEIRO MOMENTS também já voltou a fazer passeios de moliceiro pela ria, partindo do canal central com vários percursos de 45 minutos.

Casinha de Bonecas.

Em muito menos tempo, chega-se à CASINHA DE BONECAS, novo núcleo do Museu do Brincar que reúne cerca de mil bonecas e brinquedos de quase 80 países debaixo do mesmo teto, no centro aveirense. Uma “ideia antiga, com dez anos”, que agora se concretizou pelas mãos de Carlos Rocha. O espólio faz-se de algumas doações mas a maioria pertence à coleção que Jackas, como é conhecido, tem criado em 30 anos, com exemplares que remontam ao século XVII e outros que chegam a valer cinco mil euros.

Algumas estão protegidas e só se podem ver, como a boneca que “fugiu ao Holocausto”, trazida para Portugal por uma família judia que fugiu à guerra na Alemanha, e que ofereceu como prenda a quem os cá recebeu. Mas há muitas com as quais miúdos e graúdos podem brincar, inclusive na zona do sótão, que representa uma minicidade, com casa, teatro, cafetaria, cabeleireiro e mercado.

É também de memória que se revestem as paredes d’A CASA DA ROSA, dedicada ao artesanato e design nacional, com peças exclusivas. Mais do que isso, é a homenagem de Vincent Robinet à avó Rosa, aveirense que emigrou para França nos anos 1970 em busca de melhor vida. A promessa feita à avó, de que iria cuidar da casa que aqui tinha, foi o suficiente para Vincent mudar de vida, de La Rochelle para a cidade onde passou os longos verões da infância.

A loja tem três anos mas mudou recentemente de morada, para um espaço maior, onde chegam novidades a toda a hora, da cerâmica à bijuteria, brinquedos em madeira, roupa de marca própria, vasos ou cestos, produtos que se vendem para qualquer destino através do Facebook. “Tem sido o nosso melhor ano, mesmo com a pandemia”, diz o dono. O sorriso não engana. “Não quero voltar. A vida aqui é mais calma”, remata.

Duas novas cozinhas

Restaurante Qué Pasa.

Os candeeiros em forma de couves, pimentos e abóboras, criadas por Bordalo Pinheiro, e os ritmos latinos que ecoam, denotam bem a fusão entre a cozinha peruana e portuguesa no novo QUÉ PASA. Um restaurante descontraído, arejado e com cor, que chegou em julho, depois da pandemia lhe ter trocado as voltas. À frente do espaço está Gonçalo Abrantes, que tinha “o sonho de abrir um espaço que mostrasse um pouco do que sou”. O local estava devoluto e foi arquitetado por Beatriz Ribal Pimenta, que entre outras soluções pós-covid, colocou cortinas transparentes entre algumas mesas, alternativa que não rouba espaço nem luz.

A carta é curta mas eclética, a preços acessíveis. Da cozinha do chef Nathan Costa saem os frescos ceviches (de corvina, batata doce e leite de tigre; de salmão, quinoa, abacate e manga; ou a versão à portuguesa, a meia desfeita de bacalhau), empanadas estaladiças e bem recheadas (carne e chilli, queijo e camarão ou ricota e espinafres) e pratos de conforto como o cachaço de porco cozinhado a baixa temperatura por 12 horas e o aji de galinha, o caril que acompanha bem com um pisco sour.

Restaurante Origem.

Para uma refeição mais intimista, os caminhos vão dar ao ORIGEM, que há meio ano junta os sabores regionais e nacionais à mesa, num espaço amplo que alberga 70 pessoas sem perder o ambiente tranquilo. É entre as 60 referências nacionais da garrafeira, livros e balanças antigas, que se prova a carta criada pelo chef Tony Martins, de Vagos.

Nos petiscos, imperam as pataniscas de sames e línguas, os baos de choco frito, rissóis de leitão à Bairrada e o cremoso pica-pau de atum e molho de mostarda. O peixe local mais fresco do dia serve-se numa açorda de berbigão e algas, mas quem preferir carne tem no arroz de pato, tão cremoso que mais parece um risoto, uma boa alternativa. Vale a pena provar o pão caseiro, feito com massa mãe, e o requeijão da casa.

Clássicos com 20 anos renovam-se

Os verdes-água e azuis que dominam a decoração dos 18 quartos – alguns com kitchnette – estão em sintonia com as tonalidades da ria, que se avista da janela e cama de alguns destes. É ela a companhia das noites passadas no HOTEL DAS SALINAS, um dos primeiros a surgir em Aveiro e que já soma 21 anos. A remodelação recente veio dar-lhe maior luminosidade e amplitude e um toque mais moderno, tirando-se o chapéu à cultura nacional, com frases de Fernando Pessoa e Almada Negreiros pelos corredores e cabeceiras de cama.

O reabrir de portas pós-confinamento chegou em maio, com reforço de higienização, ofertas de kits higiénicos nos quartos e possibilidade de receber o pequeno-almoço no quarto, que se prova em loiça da Vista Alegre feita em exclusivo. Ainda que esteja situado numa das principais vias da cidade, o bom isolamento permite noites tranquilas e doces, até porque há sempre chocolate artesanal como presente de boas-vindas.

A cinco minutos a pé, o bem-receber mantém-se na marisqueira ADAMASTOR, morada-chave no que toca a bom peixe e marisco da lota aveirense, com a vizinhança privilegiada do Canal dos Botirões e do colorido casario que lhe dá encanto. Há duas décadas que Aventino Lobo abriu este espaço familiar, que gere com a mulher, Manuela, e os filhos, Pedro e Nuno, que desde crianças se habituaram a correr entre estas paredes. Ainda assim, o patriarca diz, entre risos: “Aqui sou um multifunções, faço um pouco de tudo”.

O público fidelizado mantém a casa sempre composta, mais ainda desde a remodelação que aumentou a cozinha e renovou a esplanada, onde cabem 80 comensais. Os clássicos camarão frito, amêijoas à Bulhão Pato e salada de polvo estão na carta, assim como o popular peixe-galo frito com arroz do mar, a caldeirada de enguias, o sortido de marisco (perfeito para duas pessoas) e opções na grelha, do robalo à dourada, choco e lulas. Os mais de 100 vinhos nacionais harmonizam qualquer prato, para saborear sem horários, já que a cozinha não encerra. Tal como o verão pede e uma esplanada à beira-ria obriga.

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