As várias caras e cores da ‘cidade branca’ de Estremoz

Terra de olivais, vinhas, mármore, tradição à mesa, camas majestosas e casas cheias de história, Estremoz é monocromática no casario mas rica e versátil em oferta, sabores e cenários. Para apreciar com calma e tempo, abençoado lema alentejano.

Chamam-lhe a “cidade branca” do Alentejo, não só pelo seu antigo casario monocromático mas também pela forte ligação à produção de mármore. E se isso traz alguma calma e luz para as ruas do Centro Histórico, que tal não se confunda com palidez de caráter. Pelo contrário. Cidade castelar de vinhas e olivais, a duas horas de Lisboa e uma da fronteira com nuestros hermanos, Estremoz é sinónimo de tradição e legado, mas também de caminho desbravado e punho firme.

As vinhas que se avistam logo à chegada da cidade, como uma espécie de boas-vindas, são um exemplo primordial dessa premissa. A primeira vinha nasceu ali há mais de três décadas e as primeiras produções chegaram poucos tempo depois. Hoje, a JOÃO PORTUGAL RAMOS VINHOS soma cinco hectares em Estremoz, a sede, e 600 no restante território nacional. Às dezenas de referências de tintos, brancos, Douro, do Porto, espumantes e verdes juntou-se a produção de azeite e vinagre, a expansão à aguardente e a aposta no enoturismo, com a sua Adega Vila Santa. É aqui que entram as visitas guiadas à quinta familiar.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

O percurso dá a conhecer o processo de produção vínica, dos lagares em mármore local onde se pisa a uva a pé às cubas de fermentação. Não esquecendo a cave de estágio em barricas de carvalho, onde se ouve música clássica, benéfica para o estágio dos vinhos, segundo alguns estudos. A experiência ganha contornos didáticos quando qualquer visitante se torna num enólogo por um dia, criando os seus próprios blends a partir das castas da quinta. Quem preferir arregaçar as mangas na cozinha, pode criar uma refeição em família, ao lado de uma cozinheira, com produtos locais e pratos que são depois harmonizados com os vinhos da casa. Para provar dentro de paredes ou na esplanada com vista para as vinhas e o castelo no topo de Estremoz.

E é precisamente dentro destas muralhas que se dorme, há já cinco décadas, num ambiente tão romântico como imponente. Na verdade, a POUSADA CASTELO DE ESTREMOZ, dentro da fortaleza mandada construir por D. Dinis para a Rainha Santa Isabel no século XIII, mais parece um autêntico museu. Pelos corredores e salas comuns, há um espólio de cerâmicas, candeeiros e obras antigas, longas cortinas de veludo e azulejaria original nas escadarias. O estilo majestoso estende-se aos 33 quartos, com altas janelas, camas de dossel e vistas panorâmicas para a cidade.

Durante o dia, há atividades para todos os gostos, desde passeios a cavalo a visitas à extração de mármore e provas de vinhos locais. Se a ideia for não sair sequer da pousada, importa subir à Torre de Menagem, com vista 360 graus pelas serras em redor e para o castelo vizinho de Évoramonte, ouvir piano tocado ao vivo na zona de bar ou saciar o apetite no restaurante, com a cozinha de autor do chef Fábio Ginja. Agora que chegou o sol e o calor, há ainda um terraço com uma pequena piscina junto a limoeiros e espreguiçadeiras, mistura para perder a noção das horas.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

 

Duas casas para comer bem e ser bem recebido
São duas casas distintas mas têm em comum a simpatia no atendimento, produtos locais de qualidade à mesa e o facto de serem dois dos mais procurados restaurantes de Estremoz. Não é preciso grande matemática para perceber porquê. Mas vamos por partes.

Junto ao principal largo da cidade, rodeado de laranjeiras e onde aos sábados se vai religiosamente ao mercado há um espaço que rouba atenções. Não só pela convidativa esplanada com vista para o castelo mas também porque tem o público fidelizado há já uma década. “Não me vejo noutro sítio. Não sei explicar. Aqui, sinto-me em casa”, explica Michele Marques, chef e dona da MERCEARIA GADANHA. Nasceu como mercearia e juntaram-se depois alguns petiscos. Daí ao restaurante com casa cheia que vemos hoje, onde se trabalha o produto alentejano e sazonal com um toque pessoal, foi um passo.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

O que se prova é o resultado do percurso de uma brasileira que elegeu Portugal como casa há década e meia, e que se sente bem no Alentejo. Pelo caminho, estudou em Itália e passou pelas cozinhas de João Rodrigues e José Cordeiro. “Além da formação, aprendi muito a bater com a cabeça e com os erros. A restauração não é pera doce, mas quando se corre por gosto…”, conta Michele, com largo sorriso. Para harmonizar com as dezenas de vinhos de Estremoz que dão vida às paredes do restaurante rústico, há propostas como croquetes de borrego com maionese de alho, crocantes por fora e suculentos por dentro; queijo de cabra gratinado com picle de pera, mel, noz e gelado caseiro de tomilho (uma entrada que também serviria como sobremesa); a terrina de pezinhos (uma adaptação dos pezinhos de coentrada); ou o ex-líbris da casa, o mil-folhas de bacalhau, com camadas de lascas deste, rúcula, pão alentejano, presunto de porco preto, ovo e espuma de grão.

Mais acima, no topo da cidade, também se dá primazia a estes e outros produtos da região Sul, desta vez numa casa cheia de história. O nome já deixa adivinhar. Nesta CADEIA QUINHENTISTA, situada num edifício do século XVI, já funcionou uma prisão, entretanto deixada ao abandono, até que os sabores e temperos da chef Alice Pola, estremocense, lhe deram nova vida. Nesta morada cheia de memórias, ainda se preservam algumas portas de ferro e janelas com grades originais, e os frescos no teto, em tons de laranja e azul, foram restaurados. No piso inferior, onde está a zona de mesas, era a ala masculina de reclusos. No superior, onde está agora um bar e agradável esplanada, era a feminina.

À mesa, junto a alguns desenhos que ainda se conseguem ler, gravados nas paredes, chegam pratos do tradicional receituário alentejano, como as pataniscas de enchidos de porco preto, numa tentativa “de as recuperar do desuso”, conta a chef; o cação frito com alho e pimentão da horta; as típicas migas com carne de alguidar; a perdiz suada em azeite local; e o borrego assado servido em fatia de pão. Já o suave pudim de água mantém uma receita de séculos, nascida no antigo Convento das Maltezas. Um remate final ao sabor da doçaria típica conventual, que é mais uma prova dos trunfos na manga dos estremocenses.

 

Um museu interativo com olhos no futuro

Já funcionou, em tempos, como hospital público e convento, mas há década e meia que serve outras ciências. Todos os dias, mais de 200 alunos passam pelos jardins, claustro e salas de exposição deste MUSEU CIÊNCIA VIVA DE ESTREMOZ. Qualquer que seja a temática, os painéis informativos aliam-se a jogos e instalações interativas, para miúdos e graúdos. Por estas paredes, aprende-se sobre a geologia de Estremoz, tabelas periódicas, sistema solar, vulcões e sismos, as diferentes energias e recursos metálicos. A réplica de T-Rex que ali anda pretende desmistificar “o mauzão dos dinossauros” e ainda se pode navegar por um oceano, através de um submarino virtual. A olhar para o futuro, as exposições temporárias abordam temas como a evolução humana, a preservação do planeta e a sustentabilidade.

(Fotografia de Leonardo Negrão/GI)

 

A Evasões recomenda

Visitar

João Portugal Ramos Vinhos
Estrada Nacional 4 (Estremoz)
GPS: 38.5024; -7.3743
Tel.: 268339910
Web: jportugal-ramos.com
Preço: provas de vinhos desde 10 euros; visitas à adega e caves com refeição desde 55 euros; programa Seja Enólogo Por Um Dia a 45 euros.

Ficar
Pousada Castelo de Estremoz
Lgo. D. Diniz (Estremoz)
Tel.: 268332075
Web: pousadas.pt
Preços: quartos desde 100 euros com pequeno almoço.

Comer
Mercearia Gadanha
Lgo. Dragões de Olivença, 84A (Estremoz)
Tel.: 268333262
Web: merceariagadanha.pt
Almoço, das 12h às 13h30 e das 14h às 15h30. Jantar, das 19h às 20h30 e das 21h às 22h30. Encerra domingo à noite e segunda. Preço médio: 20 a 30 euros.

Cadeia Quinhentista
R. Rainha Santa Isabel – Castelo (Estremoz)
Tel.: 268323400
Web: cadeiaquinhentista.com
Das 12h30 às 15h e das 19h30 às 22h. Não encerra.
Preço médio: 20 euros.

Visitar
Museu Ciência Viva de Estremoz
Espaço Ciência, Convento das Maltezas, 62A (Estremoz)
Tel.: 268334285
Web: facebook.com/centrociencia-viva.estremoz
Visitas com marcação prévia obrigatória, às 10h30, 14h e 16h, aos fins de semana. Não encerra.
Preço: desde três euros. Menores de três anos não pagam.



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