As novidades da Lisboa antiga, em semana de Santo António

As novidades da Lisboa antiga, em semana de Santos Populares
Loucos de Lisboa na Graça. (Foto: Paulo Alexandrino/GI)
Os arraiais, bailaricos e o cheiro a sardinha assada que enchiam de cor e alegria as ruelas dos bairros tradicionais de Lisboa voltam a ficar em pausa este ano. Ainda assim, mesas, camas e espaços novos têm ajudado a revitalizar o fôlego e o ânimo de Alfama, Mouraria e Graça, nos últimos tempos.

Por estes dias, a música popular, o cheiro a sardinhas assadas e a manjericos e o regozijo popular já dominavam os bairros mais tradicionais de Lisboa, fosse dia ou noite. Em vez disso, as outrora frenéticas ruelas de Alfama mantêm-se tanto tranquilas como nostálgicas, fazendo lembrar uma cidade de outros tempos. Mais próxima da que foi imortalizada em clássicos da sétima arte como “O Costa do Castelo”, “O Pátio das Cantigas”, “Aldeia da Roupa Branca” e “A Canção de Lisboa”, alguns dos filmes que inspiraram os ON/SET LISBON CINEMA APARTMENTS, o leque de apartamentos T0, T1 e T2 que nasceu em Alfama no ano passado, num edifício centenário que se encontrava devoluto há algum tempo.

Pelos cinco apartamentos – todos com nomes ligados ao legado lisboeta, como O Castelo, A Fadista ou O Rio -, a contemporaneidade e a elegância de materiais como o veludo e os candelabros vistosos equilibra-se com a herança do prédio e da capital, recuperando-se azulejaria original e apostando-se em objetos como antigas radiofonias e livros sobre Beatriz Costa como decoração. Quase todos os apartamentos têm sala e cozinha equipada, varandins e controlo sobre a temperatura do solo. No piso superior, um deles conta com uma abrigada varanda com vista limpa para o Tejo, o casario de Alfama e a Igreja de Santo Estevão.

No On/Set Lisbon Cinema Apartments, há cinco novos apartamentos, no coração de Alfama. (Fotos: Diana Quintela/GI)

O projeto veio dar nova vida a um prédio centenário e devoluto em Alfama.

A decoração contemporânea casa-se com a recuperação de peças que já existiam no espaço.

Não é de estranhar que os Lisbon Cinema Apartments já estejam em primeiro lugar nas classificações do Booking, neste tipo de alojamento. “Muitos dos nossos clientes, a maioria casais e famílias, voltam, seja em trabalho e em lazer. Já temos o verão bem composto”, explica Rui Pereira, concierge do espaço, que dá sempre um mimo a quem chega: uma garrafa de vinho, pastéis de nata e frutos secos para umas boas-vindas à portuguesa, claro.

Este bem receber é comum, algumas ruas abaixo no mesmo bairro onde se respira o fado, na nova CASA SÃO MIGUEL, que abriu portas há um ano mas que muitos ainda não tiveram tempo de descobrir. Trata-se de um espaço multifacetado, que serve de cafetaria e mercearia, num ambiente inspirado nas casas de chá inglesas dos anos 1920 e 1930. À frente da loja está Leonor Oliveira, que dedicou três décadas à gestão imobiliária antes de abrir esta casa, a reboque da sua paixão pelo colecionismo. “Aos quarto anos, já queria comprar pratos quando ia com o meu pai à Feira da Ladra”, recorda, entre risos. A sua extensa e antiga coleção de loiça nacional avista-se atrás do balcão em mármore e é nela que se servem chás e cafés.

Leonor Oliveira é a proprietária desta Casa São Miguel. (Fotos: Diana Quintela/GI)

Aqui, há pastelaria, cerâmica, chás, chocolates e compotas, entre outros produtos.

A Casa São Miguel é uma das novidades no bairro de Alfama.

Aqui, vende-se pastelaria em cerâmica, à semelhança do que se faz nas Caldas da Rainha, mas também bolos reais, para comer na altura ou levar, como os pastéis de nata e croissants que saem do forno da casa, de manhã, e outros como o Pastel Bordallo, sendo a única casa em Lisboa a vender esta doçaria caldense à base de grão-de-bico. Há ainda pastéis com amêndoa, alfarroba e feijão e pelas veganas como queques, brownies e cheesecake. A estes produtos junta-se um leque de chás nacionais, com sabores como a maçã de Alcobaça, o melão ribatejano, o ananás dos Açores ou a amêndoa algarvia; mas também caixas de bombons e uma linha própria de compotas para todos os gostos, do doce de ginja ao medronho, groselha, figo e coalhada de limão. Por encomenda, há possibilidade de se organizarem jantares de grupo com fado e relato de histórias sobre Alfama e Lisboa.

 

As novas mesas da Mouraria

No Largo das Olarias, com vista para duas colinas de Lisboa, avistam-se o Castelo de São Jorge, o Largo da Graça e o Miradouro de Nossa Senhora do Monte, três dos locais mais emblemáticos da capital antiga. Mas desde o verão passado, é a porta 22 que tem roubado atenções, com a chegada do pequeno mas luminoso BLA BLA GLU GLU, o bar de vinhos com petiscos que o chef Leopoldo Garcia Calhau abriu ao lado da sua já conhecida – e concorrida – Taberna do Calhau. Aqui, o néctar de Baco é o protagonista, ou não tivesse a extensa garrafeira à vista, aliando-se a petiscos mais simples e práticos.

“Com o tempo, fui ganhando um gosto maior pelo vinho. Não quis ir atrás de modas, a curadoria é feita pela intuição e pela diferenciação”, explica Calhau, sobre as mais de 100 referências vínicas nacionais, italianas, francesas, espanholas e austríacos, grande parte biodinâmicos, naturais e biológicos. “Este é um espaço para antes, depois e durante as refeições”, acrescenta o chef, enquanto apresenta alguns dos petiscos, que se comem à mesa ou ao balcão, junto da cozinha. Casos dos escabeches de pato e de carapau, da bifana com bochecha de porco, dos bao de borrego e coentros; do carabineiro com gelado de pistáchio, das empadas de lebre, dos pastéis de massa tenra ou da cebola bêbeda, uma reinvenção da pêra bêbeda. A sardinha assada numa tosta com pimentos e tomate ralado é outra das opções, mesmo a tempo de matar saudades de idos Santos Populares.

Bla Bla Glu Glu, o novo espaço do chef Leopoldo Garcia Calhau. (Fotos: Diana Quintela/GI)

Há mais de cem referências vínicas neste novo wine bar com petiscos.

Além da sardinha assada em tosta com pimentos e tomate ralado, há petiscos como escabeches de pato e carapau, bifana com bochecha de porco ou bao de borrego e coentros.

Os sabores clássicos, de resto, têm sido reforçados na Mouraria. Na Calçada de Santo André, a OURIVES PETISQUEIRA chegou há meio ano para dar nova vida a esta rua de fachadas antigas e coloridas. O ambiente tradicional de Lisboa replica-se entre paredes, neste acolhedor restaurante gerido em família – Mário Magalhães, o pai, Teresa, a mãe, e Bernardo, o filho -, onde se petisca sem pressa. À refeição, fazem companhia alguns vestígios da ourivesaria do séxulo XIX que aqui funcionou, como antigas ferramentas de trabalho e a chaminé onde se derretia ouro e prata, que hoje serve como garrafeira de referências de pequenos produtores.

À mesa, chegam clássicos para partilhar como o pica-pau de secretos, moelas, choco frito, prego do lombo, sandes de pernil com Queijo da Serra e costeletas de borrego, mas também outras propostas que vão beber inspiração além-fronteiras, como os pimentos Padrón, o falafel e as puntilhitas – leia-se lulinhas fritas – com molho tártaro. Antes disso, importa provar os pastéis de bacalhau, normais e com Queijo da Serra, e os croquetes de espinafres ou de queijo com beterraba, sem esquecer os pastéis de nata artesanais e a tarte de maçã para quem queira adoçar o serão.

A Ourives Petisqueira é um dos novos espaços da Mouraria. (Fotos: Paulo Spranger/GI)

Há petiscos de várias influências para provar sem horários.

Pai, mãe e filho gerem esta casa, na Calçada de Santo André.

 

Petiscar junto ao elétrico 28

Numa sossegada rua entre a Graça e Alfama, o elétrico mais famoso da cidade, o 28, dá nas vistas sempre que passa junto à esplanada do LOUCOS DE LISBOA NA GRAÇA, o gastrobar que tem tanto de boémio como de nostálgico, entre paredes decoradas com xailes e fotografias a preto e branco da Lisboa antiga, antigas secretárias escolares a servirem de mesas e peças de decoração herdadas dos avós. “A ideia foi dar ao bairro algo que não existia. Um ponto de encontro dentro e fora de refeições, para beber e petiscar sem horas”, explica Rui Pereira, um dos donos.

Alguns dos petiscos deste gastrobar, entre Alfama e a Graça. (Fotos: Paulo Alexandrino/GI)

O Loucos de Lisboa na Graça pretende ser um ponto de encontro para comer e beber sem pressas nem horários.

O famoso elétrico 28, que passa junto à esplanada do gastrobar.

No bairro onde nasceu e cresceu, serve agora tábuas de queijo e charcutaria, pica-pau, ovos rotos, bacalhau com grão ao alhinho, folhadinhos de queijo de cabra, empadinhas de pato e galinha, carpaccios de polvo, vitela e salmão fumado, morcela assada com ananás dos Açores e mel, bruschettas e o queijo vestido, um best-seller amanteigado servido dentro de um pão, regado a azeite e ervas. A happy hour, ao fim da tarde, é o pretexto ideal para brindar na esplanada, com vista para a Igreja de São Vicente, que une os estilos maneirista, gótico e barroco, exemplo de uma cidade multifacetada que, ainda que pouco movimentada, recusa baixar braços.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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