À descoberta de Lagos, entre portos seguros e novo fôlego

Lagos. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)
Das novas mesas que premeiam a cozinha de mar às garrafeiras recentes, às camas clássicas e às receitas de pão centenárias, não faltam motivos para rumar e voltar à cidade banhada por falésias e areais como a Meia Praia e a Praia da Dona Ana.

Os quinze quilómetros de costa, vestidos de falésias, formações rochosas e alguns dos areais mais concorridos do barlavento algarvio – casos da Meia Praia, Praia do Camilo, Praia da Dona Ana ou Praia da Luz, entre outras – ajudam a refrescar o concelho, mas acima de tudo, ditam a identidade gastronómica de Lagos.

Na Ponta da Piedade, amplo miradouro natural com vistas oceânicas desafogadas, o novo Monte Mar Lagos faz jus a essa mesma premissa. Depois da casa-mãe nascer no Guincho nos anos 1990 e aqui se manter como um dos clássicos locais, e de uma segunda morada ter chegado ao Cais do Sodré, o novo irmão mais novo mantém a aposta na cozinha de mar, como mostra a vitrine com o peixe e marisco fresco do dia, à entrada, onde é habitual ver-se robalo, pregado, dourada, salmonete, linguado, gamba da costa, ostra ou camarão-tigre.

Depois de Lisboa e do Guincho, o Monte Mar abriu a terceira casa em Lagos, na Ponta da Piedade. (Fotografias de Reinaldo Rodrigues/GI)

A chef Laura Rocha com os filetes de pescada com arroz de berbigão.

À frente do espaço, que soma duas salas envidraçadas e mais de uma centena de lugares entre interior e esplanada, está a chef Laura Rocha, ligada à casa desde o seu início. Os clássicos do Monte Mar provam-se agora em Lagos, casos da casca de sapateira, as gambas grelhadas com arroz de alho e os filetes de pescada com arroz de berbigão, este último o prato mais icónico da casa.

As gambas grelhadas com arroz de alho, um dos clássicos da casa.

A esplanada do Monte Mar Lagos.

Açordas, arrozes e parrilhadas de marisco, além dos pratos do dia, reforçam a carta do restaurante, que terá um terraço em breve, com a mesma panorâmica que se tem da esplanada, da qual se consegue observar a Serra de Monchique, Portimão, Carvoeiro e Alvor. Mesmo ao lado do Monte Mar, os Passadiços da Ponta da Piedade são o melhor digestivo, permitindo passeios a pé ou em bicicleta pelo topo das falésias e praias mais próximas, sem perder a vista ao Atlântico.

A vista panorâmica faz-se sobre o Atlântico e a costa algarvia.

Os passadiços da Ponta da Piedade, junto ao Monte Mar Lagos.

Em redor da marina

Na frente ribeirinha, junto à Marina da Lagos, o Avenida Restaurante mantém-se como morada lacobrigense obrigatória para os apreciadores da alta cozinha. A distinção da lista Bib Gourmand da Michelin, há quatro anos, foi um ponto alto no percurso de meia-década, celebrada recentemente, mas há novas razões para voltar à cozinha contemporânea liderada pelo chef Roeland Klein, que visitou Lagos numa viagem de férias e se apaixonou pela cidade.

No centro de Lagos, o Avenida Restaurante tem um novo menu de degustação, pelas mãos do chef Roeland Klein.

O Avenida, no piso térreo do Lagos Avenida Hotel, está na lista Bib Gourmand da Michelin.

O novo menu de degustação do restaurante, situado no piso térreo do Lagos Avenida Hotel, soma seis momentos ao jantar, alimentado na maioria pela costa algarvia e a Ria Formosa e de Alvor. A salada de caranguejo com aipo, couve-roxa e maçã-verde; a ostra com enguia fumada, couve-flor e gengibre; o rabo de boi estufado com grão-de-bico, cecina desidratada, gema de ovo e maionese de kimchi; e o polvo a baixa temperatura com gamba da costa, puré de topinambur, salada de funcho e tâmaras são algumas das novas propostas da casa, sem esquecer o lombo de vitela com puré de cenoura, batata confitada e tártaro de beterraba. A extensa garrafeira – visível à entrada do restaurante – é um dos ex-líbris, ou não estivéssemos a falar de mais de mil referências vínicas.

O polvo a baixa temperatura com gamba da costa, puré de topinambur, salada de funcho e tâmaras, no Avenida.

E por falar no cálice de Baco, há uma novidade para conhecer ali perto. Chama-se Mosto e junta duas personalidades, funcionando como bar vínico com petiscos e garrafeira. No novo projeto de Luís Gonçalves e Sofia Saraiva, ele ligado à restauração há sete anos e ela formada em Enologia, vem preencher um espaço vazio na cidade. “Há muitos bares aqui, mas nenhum focado em vinhos”, explica Luís, que compra e coleciona vinhos há largos anos. Para provar a copo ou garrafa no espaço, ou para comprar e levar para casa, há duas centenas de referências, a maioria nacionais e de pequenas produções, algumas naturais e biológicas. Não faltam, claro, as sugestões algarvias.

“Cada vez mais, as pessoas procuram vinhos do Algarve”, adianta o responsável, que aqui organiza atividades habituais como provas vínicas temáticas ou por região, e outras com a presença dos próprios produtores. Para acompanhar, há tábuas de queijos e clássicos da petiscaria, como pica-pau, camarão com alho, croquetes ou pimentos Padrón.

O recente Mosto junta zona de bar de vinhos e uma garrafeira, para comprar e levar para casa.

Luís Gonçalves é um dos responsáveis pelo Mosto.

A rota pelos sabores locais segue caminho pelo lado oposto da marina, aos pés da Praia de São Roque e da Meia Praia. É aqui que se encontra a Tasca do Kiko, há oito anos de portas abertas e renovado há um, com a chegada da nova gerência. A base de petiscos impera, mas há espaço para alguns pratos de inspiração em várias latitudes, baseadas no produto da região e em pescadores de confiança. A “qualidade e frescura são garantidas”, explica João Machado, natural de São João da Pesqueira mas a viver em Lagos há duas décadas e meia, tendo também outro restaurante em Alvor há dez anos, o Alvor Wine.

O restaurante Tasca do Kiko, junto à marina, à Praia de São Roque e à Meia Praia.

Tataki de atum, ceviche de robalo com puré de batata-doce, açorda de camarão e o pica-pau de novilho são alguns dos petiscos da Tasca do Kiko.

Pica-pau de bife do lombo, ostras da Ria de Alvor, tártaro de novilho, prego em bolo do caco, bochechas de porco com puré de batata e cogumelos salteados, tataki de atum, ceviche de peixe branco e salada de polvo são alguns dos chamarizes da casa, onde também se serve caril verde de camarão, risoto de cogumelos e de camarão, filetes de robalo com arroz de açafrão, o bife à portuguesa e carnes maturadas. Os pratos de almoço, nos dias úteis, são outro trunfo da Tasca do Kiko, tal como a sua garrafeira de 200 referências, 80% feita de pequenos produtores de norte a sul, para provar no interior e na esplanada, ou para levar para casa.

João Machado, responsável pela Tasca do Kiko.

Os passadiços na Praia São Roque.

A Praia de São Roque e a Meia Praia são os areais mais próximos da Tasca do Kiko.

Das camas aos pães, clássicos lacobrigenses

A dois passos da Praia da Luz, o Estrela da Luz chega à idade da maioridade de rosto lavado, com novas pinturas que trazem fôlego reforçado aos edifícios do resort. Aberto em 2005, este quatro estrelas do grupo CDB Resorts, e sob a chancela da Small Portuguese Hotels, soma 146 apartamentos e tem na diversidade a sua principal vantagem: as tipologias variam entre o T0 e o T4, permitindo várias dinâmicas de lazer, em família, entre amigos ou namorados.

O Estrela da Luz soma quase duas décadas e mais de 140 apartamentos.

A versatilidade no alojamento é uma mais-valia, com apartamentos desde T0 a T4.

Pelos apartamentos de cozinhas equipadas e varandas generosas, onde domina uma inspiração clássica, opta-se ora por tons mais sóbrios, ora mais garridos e detalhes a piscar o olho à região, como quadros com imagens de cardumes, falésias e areais. Em alternativa às idas à praia, há muito para fazer durante o dia neste resort: mergulhos nas três piscinas exteriores (adultos, famílias e crianças), ginásio e spa, passeios pelos espaços verdes de arvoredo diverso, além do restaurante e bar, e dos vizinhos campos de ténis e futebol. O próprio hotel organiza outras atividades em parceria, como passeios a cavalo e em caiaque ou sessões de paddle e surf.

2023 é um ano de renovação, com novas pinturas nos edifícios do resort.

O Estrela da Luz, a dois passos da Praia da Luz.

De volta ao centro de Lagos, há ainda tempo para visitar outro clássico concelhio, de estatuto centenário, tão popular que é habitual fazerem-se filas de espera. Aberta desde 1926, a Padaria Central foi a primeira a surgir na cidade e mantém hoje o afinco na hora de amassar pão, agora na terceira geração familiar. Tudo começou com Gilberto Amélio, que cozia pães de torresmos e arrufadas em forno a lenha, o mesmo que se vê na imagem que decora uma das paredes da casa. Sucedeu-lhe o filho Adelino e a esposa, Teresa, esta última responsável pela introdução da pastelaria de fabrico próprio e biscoitaria. Hoje, quem lidera é Paula Amélio, formada em Gestão e habituada a “ajudar os pais nas férias de verão”.

Paula Amélio é a atual responsável da Padaria Central, que soma três gerações familiares.

Todos os dias, há vários tipos de pães e artigos de pastelaria nas vitrines da Padaria Central.

As receitas de sempre mantêm-se as mesmas mas a variedade de produção, que arranca todas as madrugadas, pelas 03h, é hoje mais ampla: pão de centeio e malte, integral com sementes, de forma, com chouriço ou torresmos e papos secos. A estes juntam-se croissants, tortas de amêndoa e laranja, arrepiados, pastéis de bacalhau e feijão, castanhas de ovos, bolinhos de canela, amêndoa, cereja ou coco, folares, bolos-rei e outros personalizados. Nas montras da padaria, desfilam também clássicos da doçaria algarvia, como doces finos e D. Rodrigo e os estaladiços pastéis de nata da casa. “Há quem diga que são melhores do que os de Belém, fico toda contente”, explica Paula.

A padaria, situada no centro de Lagos, está quase a assinalar cem anos.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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