Visitar o que resta da cultura avieira nas páginas de um livro

Procissão fluvial de homenagem à Nossa Senhora dos Avieiros. (Fotografias de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)
Natural de Vieira de Leiria, terra originária dos pescadores que se tornaram avieiros, o jornalista João Francisco Gomes aceitou o desafio do diretor do “Região de Leiria” para fazer uma série de trabalhos sobre aquela cultura. O resultado apresenta-se agora em livro.

Entre a edição de “Avieiros”, de Alves Redol, e “Avieiros, hoje”, de João Francisco Gomes, passaram-se 80 anos. Tempo suficiente para que a cultura de migração que durante décadas levou os pescadores da Praia da Vieira (Vieira de Leiria) até ao Ribatejo se ter alterado até quase se extinguir, passando recentemente por um processo de recuperação.

Alves Redol descreveu no seu livro publicado em 1942 uma comunidade fechada e pobre, com a qual conviveu profundamente. No prólogo de “Avieiros, hoje”, editado neste último verão e que resulta de uma série de reportagens que o jornalista realizou a convite do diretor do jornal “Região de Leiria” em 2019 (e publicadas no mesmo ano em formato revista), João Francisco Gomes fala desse “retrato angustiante da vida austera e penosa dos avieiros”.

Estes trabalhadores migrantes, originários da Praia de Leiria, entre finais do século XIX e meados do século XX, rumavam durante o inverno para o Ribatejo para pescarem no Tejo. Com o tempo, foram-se ali fixando. Neste processo, escreve, “construíram uma cultura riquíssima: inovaram na construção de barcos que ainda hoje navegam o Tejo; criaram receitas com peixe do rio que atualmente fazem parte da identidade gastronómica da região e são celebradas em festivais por todo o Ribatejo”. Além disso, “desenvolveram uma espiritualidade própria, que resultou na aprovação formal, pela Igreja Católica, da figura da Nossa Senhora dos Avieiros, homenageada anualmente numa procissão fluvial com embarcações típicas”, conta.

Ao longo do livro, o autor vai apresentando várias pessoas descendentes de avieiros que hoje preservam a sua memória, como é o caso da octogenária Cassilda Rabita, que recebe turistas e curiosos numa casa típica avieira, em Escaroupim (Salvaterra de Magos); ou António Botas Simãozinho, um dos raros construtores de barcos tradicionais. Acompanha também a procissão fluvial da Nossa Senhora dos Avieiros, momento que continua a unir aquela população.

O livro é uma versão revista e aumentada das reportagens realizadas.

“Avieiros, hoje”, de João Francisco Gomes
Fundação Francisco Manuel dos Santos
108 páginas
PVP: 3,50 euros




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