Vinho de talha: uma nova rota para descobrir um legado romano

(Fotografias: Carlos Ourives e Mário Bernardo)
Para homenagear a arte milenar de fermentar uvas em barro, trazida para o Alentejo pelos romanos, a nova Rota dos Vinhos de Talha sugere provas, visitas a adegas, vinhas e ruínas romanas em duas dezenas de concelhos.

A prática ancestral de fermentar uva em vasilhas de barro soma mais de dois milénios, trazida para o Alentejo desde a ocupação dos romanos, mas não tem sido vítima da – várias vezes ingrata – passagem do tempo. Pelo contrário. Não só se tem conseguido manter como símbolo de identidade territorial como ganha agora novo fôlego, com a chegada da Rota do Vinho de Talha, uma iniciativa do município da Vidigueira, o mesmo que quer candidatar esta arte vínica a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO. “Há quatro anos que andamos a desenvolver esta candidatura”, explica Rui Raposo, presidente da Câmara Municipal da Vidigueira.

A rota inclui um leque de atividades espalhadas ao longo deste e de outros 21 concelhos alentejanos: Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Arronches, Borba, Beja, Campo Maior, Cuba, Elvas, Estremoz, Évora, Ferreira do Alentejo, Marvão, Mora, Moura, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Santiago do Cacém, Serpa e Viana do Alentejo. Afinal, trata-se de um “projeto de coesão territorial com património rico a nível gastronómico, cultural, arqueológico. Não queremos criar uma moda que passe”, acrescenta o autarca.

Programação focada nos vinhos de talha estende-se a 21 concelhos do Alentejo.

Mostrar a versatilidade do vinho de talha é um dos objetivos. “De talha para talha, há diferenças no vinho”, adianta Raposo. Passeios entre vinhas centenárias, visitas e provas a adegas que preservam a técnica milenar – existem cerca de duas dezenas de produtores regionais para conhecer – e caminhadas entre ruínas romanas são algumas das atividades da rota. Estas e mais informações estão em rotadovinhodetalha.pt.

Alguns destaques da rota:

Novo centro interpretativo

Em Vila de Frades, a “capital” da talha, nasceu há dois anos um novo Centro Interpretativo do Vinho de Talha. Vídeos, painéis informativos e interativos descortinam o contexto que envolve esta cultura, da paisagem, clima e natureza da região, às técnicas de produção, detalhes sobre produtores e adegas locais e recriação de uma típica taberna. Há ainda jogos para os mais novos e exemplares de talhas originais romanas. Das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. Encerra segunda. Preço: bilhete desde um euro.

O novo Centro Interpretativo do Vinho de Talha.

Ruínas com dois milénios

Neste antigo monte alentejano na era romana, onde se cultivava vinha, cereal e olival há dois mil anos, passeia-se ao ar livre, entre vestígios de templo, adega, lagar, olaria, reservatório de água, termas e murais de frescos. As Ruínas de São Cucufate funcionam como centro interpretativo há vinte anos, mas a descoberta da antiga vila já se deu há oito décadas, com o início das escavações nos anos 1970. Das 10h às 13h e das 14h às 17h30. Encerra segunda e terça de manhã. Preço: bilhete a três euros.

As Ruínas de São Cucufate.

Produzir de geração em geração

Assente num cariz familiar, o vinho de talha tem passado entre gerações e há hoje casos de jovens produtores a assegurar esse legado. É o caso de Teresa Caeiro, da Gerações da Talha, que segue os passos iniciados pelo bisavô Francisco, em Vila de Frades, aos 27 anos. Visitas à adega e provas podem ser complementadas com piqueniques, passeios de jipe e refeições no recente pátio deste edifício com 250 anos. O Farrapo foi o primeiro vinho, mas há tintos, brancos e palhete para provar. Na mesma vila, Ruben Honrado é a quarta geração à frente da Cella Vinaria Antiqua, com produção atual de 15 mil garrafas anuais e situada numa antiga adega bissecular, onde há provas, visitas e petiscos. Ainda, vale a pena fazer uma refeição no restaurante contíguo, da mesma família, o País das Uvas, clássico do mapa gastronómico local. A Adega do Zé Galante e a Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito são outros destaques da rota.

Gerações de Talha, em Vila de Frades.

A Cella Vinaria Antiqua soma quatro gerações familiares.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend