Um mosteiro medieval em Salzedas, para visitar entre vinhas

Mosteiro de Santa Maria, Salzedas. (Fotografia: GI)
Um dos maiores projetos de arquitetura cisterciense e da região do Douro, o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, ergue-se, imponente, entre o casario da pequena freguesia. Ao redor, no coração de Távora-Varosa, provam-se espumantes e comida de pote e dorme-se num antigo moinho.

A sul do Douro, a herança dos monges de Cister, que ali se instalaram no século XII, e a quem se atribui a plantação das primeiras vinhas na zona, não passa despercebida. Do conjunto monástico do vale do Varosa, encabeçado pelo Mosteiro de São João de Tarouca, sobressai, entre o casario medieval da pequena freguesia de Salzedas, o Mosteiro de Santa Maria. A sua fundação está intimamente ligada a Dona Teresa Afonso, mulher de Egas Moniz, que detinha, à altura, vastos poderes administrativos naquelas terras. Terá sido por seu patrocínio que em 1168 se iniciou a construção do complexo, depois de doar à comunidade religiosa uma porção das suas propriedades. Morreria três anos depois, sem chegar a ver a obra concluída.

Alvo de uma grande ampliação nos séculos XVII e XVIII, de que resultou um novo claustro assinado pelo arquiteto maltês Carlos Gimach, o mosteiro foi sendo remodelado ao gosto das respetivas épocas, permitindo observar características arquitetónicas desde o românico ao barroco. A fachada da igreja é totalmente setecentista e embora imponente, nunca foi terminada, estando as torres laterais inacabadas.

Ainda assim, o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas foi, no seu tempo, uma das maiores obras cistercienses do país, e é hoje um dos monumentos mais visitados da região do Douro e Varosa. A integração no projeto Vale do Varosa permitiu a abertura do espaço ao público em 2011, depois de intervenções de recuperação do edifício, que esteve ao abandono desde a extinção das ordens religiosas, em 1834.

De visita à igreja e ao núcleo museológico, que se instalou na antiga noviciaria, com a exposição “Fragmentos. Expressões da arte religiosa do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas”, vale a pena atentar a vários elementos do espólio remanescente, como o túmulo embutido de Dona Teresa Afonso. Assim como obras de alguns dos maiores nomes da pintura dos séculos XVI, XVII e XVIII, nomeadamente Vasco Fernandes (Grão Vasco), Bento Coelho da Silveira e Pascoal Parente.

Existe ainda um núcleo de escultura e ourivesaria, de que se destacam os bustos relicários de São Bento e São Bernardo. E na única cela de noviço ainda existente, observam-se diversas pinturas murais, que terão sido feitas por algum dos noviços que por ali passaram ao longo de 700 anos.


O que fazer em redor

Dormir: Quinta dos Padres Santos

“No século XIX, a quinta era de um casal que fazia pão para dar aos pobres, e que por isso ficou conhecido como os Padres Santos”, conta Cátia Gonçalves, que em 2011, juntamente com o irmão e a mãe, transformou a propriedade da família num projeto de agroturismo, no Lugar dos Cubos, Gouviães. O alojamento é composto por cinco quartos na casa principal, dois moinhos de água recuperados – um deles ainda funciona, e a família usa-o para moer a farinha para fazer o pão em alturas especiais, como a Páscoa – e ainda duas villas, equipadas com kitchenette e lareira. Os hóspedes podem desfrutar da piscina e do spa, com banho turco, sauna e um menu de massagens, ou passear a pé e de bicicleta entre os três mil pés de cerejeiras, e ainda participar nas atividades agrícolas sazonais. Os produtos da região compõem a mesa, tanto do pequeno almoço como do restaurante da quinta, a Cozinha da Lina, em pratos como a truta do rio Varosa – que passa a poucos metros da quinta – com molho de espumante, ou o cabrito assado em forno a lenha.

A Quinta dos Padres Santos. (Fotografia: DR)

Comer: Pote Preto
Inaugurado há um mês, o Pote Preto é o sonho de Carla Pinto. Aos fins de semana confeciona pratos do receituário tradicional com base nos produtos da época e locais. Tudo feito em potes de ferro, ao lume, num edifício em pedra em frente à Torre de Ucanha. Há uma dezena de entradas, desde feijocas, milhos, bola regional e enchidos. Nos pratos principais destaca-se o javali com castanha assada, mel e alecrim. Para adoçar a boca, jesuítas, papos de anjo e leite creme feito no pote. No copo, vinhos e espumantes da Murganheira.

O restaurante Pote Preto. (Fotografia: DR)

Visitar: Caves Murganheira
Na mais antiga região demarcada de espumante em Portugal, Távora-Varosa, encontra-se a Murganheira, fundada em 1956. A visita ao produtor, em Ucanha, leva a conhecer a sua história e o processo de produção, passando pela adega, engarrafamento e embalamento. O ponto alto são as caves de estágio, um quilómetro de corredores escavados no granito, onde repousa um milhão de garrafas. Se em geral o período mínimo de estágio é de nove meses, na Murganheira não há garrafa que fique menos de dois anos no silêncio e escuridão.

Murganheira. (Fotografia de Leonel de Castro/GI)




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