A paixão pela cerâmica trocou-lhe as voltas e fê-los deixar para trás os dias intensos da publicidade. O ambiente inseguro no Brasil trouxe-os até Portugal, pelo qual se encantaram. Na última década, Alex Hell e Gabi Neves já criaram loiça artesanal para mais de 200 restaurantes brasileiros, entre estes o D.O.M., de Alex Atala, considerado o sexto melhor do mundo, num sucesso além-fronteiras que já chega ao francês Mirazur, atual melhor restaurante do mundo no ranking do 50 Best. Depois de decorarem muitos dos Michelin de Lisboa, como o Alma, Feitoria, Prado e Fortaleza do Guincho, as peças únicas da Studioneves deixam de estar apenas nas mãos de chefs conceituados e passam a estar em qualquer casa, com uma nova linha de cerâmicas e lojas online.
A nova coleção de cerâmicas nasceu de uma vontade antiga que a pandemia acelerou ou da crescente procura do público?
Uma mistura de ambos. Há muito que já recebíamos esses pedidos do público, em especial desde a parceria com o D.O.M. Quando deixámos o Brasil, fizemos uma bazar de saída do ateliê e vendemos 2500 peças em seis horas. Foi ridículo. Percebemos que o potencial estava lá, mas o crescente volume de trabalho não tinha deixado até agora. Com o tempo livre que surgiu na pandemia, aproveitámos a oportunidade. Não vamos ter outra.
Qual foi a preocupação ao criar estas peças, pensadas para casas e não restaurantes?
São peças inspiradas em algumas que criámos ao longo destes dez anos e que funcionam de forma mais universal. São versáteis, usadas em várias ocasiões e formatos. A pluralidade faz sentido numa casa. A taça de pequeno-almoço dá para a sobremesa, a sopa ou as pipocas. Além disso, menos é mais. As cozinhas não precisam de ter várias peças, mas sim resistentes, até porque são cada vez menores.
Agora trabalham com argila portuguesa, que dizem ser a melhor.
Além de bonita, a cerâmica da Studioneves é resistente e duradoura. Quando chegámos a Portugal, andámos à procura da argila mais resistente da Europa, em Espanha, Inglaterra, Alemanha… Por sorte, e coincidência, a de Portugal é a melhor. A nossa vem de Vagos, mais resistente que a porcelana.
Aqui também se aposta em peças únicas. No que difere esta coleção?
No Brasil, a terra é rica em ferro e a argila é mais castanha, mais marron. Aqui, peguei na base da portuguesa e adicionei óxidos naturais, para lhe dar um tom mais terroso e para as distinguir das cerâmicas dos restaurantes, que são exclusivas de cada espaço.
A vossa produção é cada vez mais sustentável. Esse é o caminho a seguir?
A sustentabilidade é a nossa bandeira. Temos 100 ações planeadas para os próximos anos, para nos tornarmos num ateliê verde. Esta argila que usamos queima a apenas 1170 graus, menos 230 do que a porcelana, o que nos faz economizar o gás em 50% e baixar a emissão de CO2.
Antes da cerâmica, existia a publicidade na vossa vida. O que motivou a mudança?
A publicidade é maravilhosa, mas consome até à alma. Com 25 anos, tinha queda de cabelo, insónias e dormia duas vezes por semana na agência. Era alucinante. Decidimos ir um ano para Espanha, e foi lá que começámos as aulas de cerâmica. A imersão naquele mundo, naquela altura, tocou-nos muito.
Como tem sido a nova vida em Portugal?
O Brasil sofre de um problema crónico, que é a violência. Chegou a uma altura em que não quis mais aquilo para os meus filhos. Portugal é, de todos os países que já visitei, o melhor para se viver. Temos a mesma língua, as paisagens são incríveis, assim como a pluralidade de culturas de norte a sul. E a recetividade é enorme, as pessoas gostam de receber e acolher. Na aldeia onde vive família da [mulher] Gabi, perto de Cantanhede, chega a ser intenso. Ficam tristes contigo se não comes uma cabidela ao pequeno-almoço [risos].
Studioneves
Tel.: 910185453
Web: studioneves.com
Preço: coleção online com peças desde 13 euros.