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Squid Game: um tsunami sul-coreano que já meteu Trump ao barulho

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A história de “Squid Games” tem 13 anos. Foi criada por Hwang Dong-hyuk quando este vivia com a mãe e se sentia pobre e triste, sempre em luta com uma sociedade que não lhe dava oportunidades. Na altura, tentou vendê-la para ser transformada em filme, mas não conseguiu. Os gigantes do entretenimento achavam o enredo demasiado violento. Foi apenas em 2019 que tudo se concretizou, com a Netflix a comprar aos direitos da trama e a dar ao sul-coreano toda a liberdade para a levar ao ecrã. O criador, agora com 50 anos, acredita que a COVID-19 contribuiu para o seu sucesso, já que a pandemia acentuou ainda mais a desigualdade, levando os espectadores a identificarem-se com as suas personagens: um grupo de 456 pessoas que fazem de tudo para ganhar dinheiro e tapar as dívidas que contraíram, nem que isso signifique participar em jogos infantis potencialmente mortais. Afinal, dessas 456, apenas uma levará para casa o prémio final de 45,6 mil milhões de won (perto de 33 milhões de euros).

“Esta é uma história sobre falhados. É sobre aqueles que lutam contra os desafios do dia-a-dia e são deixados para trás, enquanto os vencedores passam de nível”, diz o argumentista, que se inspirou na própria vida para elaborar as figuras centrais. As personagens de Seong Gi-hun e Cho Sang-woo, por exemplo, são os nomes de amigos de infância do escritor – que, durante o processo de desenvolvimento da história, teve de vender o seu portátil para pagar dívidas. Também a boneca que se já se tornou um ícone da série, logo no primeiro episódio, ao aparecer a brincar ao “macaquinho do chinês” é, nada mais, nada menos, do que uma outra que aparecia nos manuais escolares do seu país.

Squid Game já é a série mais vista da Netflix na Europa.

Também Donald Trump teve a sua quota-parte de culpa na necessidade de divulgar a sua história. Quando ele “se tornou presidente dos Estados Unidos…”, em 2017, recorda, Dong-hyuk achou ser “a altura de a série chegar ao mundo”, remata. “Trump faz-me lembrar dos VIP de “Squid Game” [N.R.: magnatas vistos como vilões, que apenas assistem aos jogos e às mortes daquelas que apenas procuram uma saída para as suas pobres existências]. É como se ele estivesse a jogar a algo e não a comandar um país, causando horrores na vida das pessoas”, atirou.

“Eu queria escrever uma história que fosse uma alegoria ou uma fábula sobre a sociedade capitalista moderna, algo que representasse uma competição extrema, algo como a competição extrema da vida. Mas queria usar o tipo de personagens que todos nós conhecemos na vida real. Os jogos são extremamente simples e fáceis de entender. Isso permite que os espetadores se concentrem nos personagens, em vez de se distrair tentando entender as regras”, acrescentou.

A produção sul-coreana estreou-se há cerca de um mês.

 

Os números e o futuro da série

Depois de espanhola “La Casa de Papel” e da francesa “Lupin”, a sul-coreana é a nova coqueluche da Netflix. Cerca de 95 por cento das suas audiências são de fora da Coreia do Sul e a série está já dobrada em 13 línguas e legendada em 31. A Forbes adianta que, tal como em Portugal, tornou-se, em apenas duas semanas, na série mais vista do serviço norte-americano de entretenimento. O site Flixpatrol, que monitoriza as produções de streaming que chegam mais longe em termos de audiência, chegou a garantir que foi mesmo em primeiro lugar em quase todos os países da Europa – a única exceção foi na Dinamarca.

Ted Sarandos, co-diretor executivo da Netflix, já tinha avisado: “É muito provável que seja o nosso programa de maior sucesso de todos os tempos, é extremamente popular”, vaticinou, em setembro, antes de “Squid Game” se estrear.

A série é uma crítica às desigualdades da sociedade.

Já para ator Lee Jung-Jae, um dos mais requisitados no seu país e protagonista da série, o sucesso de tamanha dimensão foi inesperado. “Esta foi, possivelmente, a primeira vez que interpretei uma personagem com tal alcance”, começou por dizer. Só tem uma coisa a lamentar: a falta de oportunidades para mostrar o seu talento em produções além das suas fronteiras. “Se aparecesse alguma proposta para trabalhar fora [da Coreia do Sul], eu ficaria feliz por entrar. Seria divertido”, rematou.

A segunda temporada ainda não foi confirmada, mas pode muito bem vir a caminho. O criador Hwang Dong-hyuk não esconde o pânico, principalmente porque perdeu seis dentes durante as gravações da primeira época devido ao stress. “Escrever, produzir e realizar uma série sozinho foi uma tarefa complicado. Quando penso em fazer o mesmo para uma segunda temporada fico preocupado. Não há nada confirmado neste momento, mas com tantas pessoas entusiasmadas com o projeto, estou a pensar no assunto”, frisou.