São João em Valongo: a bugiada volta à rua em Sobrado

Festa de São João em Sobrado. (Fotografia de Ivo Pereira/GI)
Os Bugios e Mourisqueiros prepararam-se para mais uma ronda de luta pela estátua milagreira de S. João, na pequena vila de Valongo que recria, todos os anos, uma festa singular.

Por estes dias, há um ambiente de feliz alvoroço na vila de Sobrado, em Valongo. Depois de dois anos sem se realizar, à conta da pandemia, a festa da Bugiada e Mouriscada regressa este ano, com os ensaios dos rituais já em curso. “Estamos todos à espera que chegue o dia”, sublinha o presidente da Associação São João de Sobrado/Casa do Bugio, António Marques. O programa de animação e concertos já arrancou há alguns dias, mas o dia forte é 24, com a recriação da luta entre bugios (cristãos) e mourisqueiros (mouros) pela posse da estátua milagreira de S. João.

Desde há muitos anos, com a origem desta festa a perder-se no tempo, que a população da vila recria, por sua iniciativa e com organização própria, uma lenda local que descreve um confronto dos tempos da presença muçulmana no norte de Portugal. Em curtíssimo resumo de uma história, esta luta acontece porque os mourisqueiros se recusam a devolver aos bugios a estátua de S. João que estes, sensibilizados pela gravidade da doença da princesa moura, tinham emprestado aos rivais para que mediasse uma cura. A princesa curou-se, mas a estátua não foi devolvida.

Os mourisqueiros, na última edição da festa, em 2019. (Fotografias de Ivo Pereira/GI)

E é por isso que, ao longo dos vários momentos da festas, as centenas de bugios – homens e mulheres anónimos, mascarados com trajes e adornos coloridos – gritam “ela é nossa!”. Desde bem cedo que os grupos rivais realizam vários rituais, sem nunca de cruzarem, com a multidão a crescer para aquele que é a primeira grande aparição pública, entre muita música, a partir das 12h: as “Danças de Entrada”. Daí em diante, é toda uma festa de alegria, danças, sátira, caricatura e recriações etnográficas, com antigos costumes a serem encenados, com os bugios à mistura. “Isto não é uma festa de gala, é uma festa para ser vivida. E por isso, quem quiser antes saber mais sobre a festa, poderá perceber melhor o que está a acontecer. E deve vir com roupa e calçado confortável, para aproveitar bem o dia todo”, sugere António Marques.

A festa de São João, na vila de Sobrado, em Valongo, já arrancou.

Os ensaios já animam a vila e, se quiser entrar no espírito desta garrida e animada festa cuja origem se perdeu nos tempos, pode assistir ainda ao último ensaio público. Realiza-se este domingo, junto à Casa do Bugio (que fica perto do centro da vila) e chama-se “Ensaio dos Tremoços”, por estes serem distribuídos no final. Todos os anos, a emoção cresce com o desenrolar do conflito, até ao embate final – e não vamos estragar o final a quem não conhece a Bugiada. Um final que, apesar de conhecerem bem, os sobradenses aguardam sempre com a mesma ansiedade. E esta é apenas um dos aspetos curiosos desta festa popular com grande riqueza etnográfica, que prepara uma candidatura a Património Imaterial da Humanidade, juntamente com outras festas ibéricas com máscaras.

Comer e beber

O Largo do Passal, e as ruas e recantos ao redor, oferece uma fartura de espaços onde comer e beber. Renovado e a estrear para esta festa, o próprio largo já tem montado um conjunto de bancas de gastronomia das coletividades e da Comissão de Festas onde se pode comer petiscos locais. E ali na vizinhança, ao alcance de curtas caminhadas, há outros espaços de comida e bebida que vale a pena experimentar, nestes dias preparados para servir com abundância.

Conhecer melhor uma festa singular

Para saber mais sobre esta festa singular, pode consultar vários sites, livros e até um repositório académico, já que a Universidade do Minho tem em curso um projeto de investigação sobre ela (pode pesquisar no respetivo repositório, de acesso aberto) e ainda nestas páginas web: bugiosemourisqueiros.blogspot.com; saojoaosobrado.wordpress.com. No Youtube, encontra ainda vários vídeos sobre a Bugiada.

Uma curiosidade

Apesar de serem os “inimigos” dos bugios, que representam os cristãos, são os mourisqueiros (os mouros) os únicos que vão na procissão que arranca no final da missa solene, carregando os andores dos santos venerados na igreja de Sobrado, incluindo o de S. João.

A procissão onde se carregam andar dos santos venerados, faz parte das festividades.

Levar uma recordação

Ímanes para o frigorífico e miniaturas de bugios, canecas ou sacos de pano são alguns dos artigos à venda na loja da Casa do Bugio, que pode encontrar numa banca no Largo do Passal.

Parques e vaivém

Haverá seis parques de estacionamento nas entradas da vila de Sobrado, a partir dos quais se pode alcançar, a pé, o local da festa. Porém, pode-se ainda fazer esse trajeto nos autocarros que vão circular em modo vaivém entre os parques e o Largo do Passal, ao longo de todo o dia.




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