Rui Heliodoro, aos 52 anos, é o único oleiro em atividade em Flor da Rosa

Rui Heliodoro na sua olaria em Flor da Rosa, no Crato. (Fotografia de Orlando Almeida/GI).
Em tempos, Flor da Rosa (concelho do Crato) foi um dos mais importantes centros oleiros de produção de loiça utilitária do Alto Alentejo. Agora, só tem um oleiro em atividade a tempo inteiro, Rui Heliodoro, que luta por manter a tradição.

Rui Heliodoro, com 52 anos, mantém-se como o único oleiro a trabalhar a tempo inteiro na aldeia de Flor da Rosa, concelho do Crato, no Alto Alentejo. Não é que isso lhe traga algum estatuto, antes a confirmação de que o ofício de oleiro se encontra “em vias de extinção” naquela zona, assim como um pouco por todo o país, e é urgente preservá-lo. Mas há iniciativas no terreno para o salvar. Já lá iremos.

Por agora, voz ao oleiro. “Sou artesão há 25 anos. Trabalhava como pintor de automóveis numa oficina, por força do meu pai, mas o que eu gostava era disto”, contou Rui, no meio da sua olaria toda pintalgada de barro seco, num dia de reportagem da Evasões, em 2019. Dois anos depois, surgiu a pandemia, vieram dois confinamentos, e “hoje está tudo parado” por falta de encomendas, revela.

O artesão mantém, contudo, a olaria em funcionamento, dando continuidade ao trabalho que seguiu por vocação. Sempre que podia, ia aprender a fazer barro para o quintal de um vizinho. “Depois aprendi a olaria tradicional da aldeia e aprendi a olaria mais inovadora no curso da Escola de Olaria”, organizada pela Câmara Municipal do Crato a partir de 1988 e que depois deu origem à empresa de inserção Barros da Flor da Rosa.

O objetivo é lutar pelo “desenvolvimento e salvaguarda das origens” desta tradição centenária, cujas referências escritas remontam ao século XVII, e que em tempos tornou Flor da Rosa um dos mais importantes centros oleiros de produção de loiça utilitária do Alto Alentejo. Só ali, chegaram a trabalhar 80 oleiros, pelas contas de Rui. Mas com o tempo foram desaparecendo – até só restar, para já, ele próprio.

(Fotografia de Orlando Almeida/GI)

Com o tempo, o que era a produção da chamada loiça de água e de fogo (cantis, barris, alguidares para a matança do porco e panelas, entre outras peças) virou-se mais para a produção de peças decorativas, pintadas com desenhos originais. Miniaturas, pratos, pequenas ânforas e presépios. “O que as pessoas procuram é o que eu tenho de fazer”, comentava o oleiro em tom conformado, à Evasões.

Na altura, dizia que não lhe faltava trabalho, apesar de tudo. Habitualmente, compra o barro já preparado, senta-se em frente à roda de oleiro elétrica (a antiga jaz ao lado como peça de museu) e em minutos produz uma peça pequena, contando também com um forno elétrico na oficina. Quem lhe faz encomendas são autarquias e associações, mas também vende peças em feiras, como a de artesanato e gastronomia do Festival do Crato.

(Fotografia de Orlando Almeida/GI)

Em outubro de 2020, já a pandemia ia no adro, a autarquia alentejana deu um passo na valorização e recuperação da arte da olaria, com a abertura de uma formação na escola de Flor da Rosa, em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional. O curso conta com 17 inscritos e dois formadores (além de Rui Heliodoro, Susana Perpétua, responsável pela pintura de cerâmica) e foi desenhado para um ano.

O novo confinamento obrigou a formação a parar, mas Rui Heliodoro revela que previsivelmente será retomada “depois da Páscoa, se as coisas continuarem a correr bem” em matéria de desconfinamento. De acordo com a autarquia do Crato, o intuito da formação é “transmitir conhecimentos de olaria aos alunos para que estes possam perpetuar a tradição às gerações vindouras, de forma a manter viva o artesanato e a história da aldeia de Flor da Rosa”.




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