Resende: adoçar a boca entre a serra e o rio

A envolvente da Ponte da Panchorra, na Serra de Montemuro. (Fotografia: Pedro Granadeiro/Global Imagens)
As cerejas e as cavacas são bons pretextos para descobrir esta terra, que combina os benefícios das águas termais com belas paisagens durienses. Há ainda os encantos da Serra de Montemuro, para conhecer a pé e de bicicleta.

Nesta altura, as cerejeiras pintalgadas de vermelho fazem parte da paisagem de Resende. Veem-se da estrada e cumprimentam quem entra na QUINTA DA MASSÔRRA, onde Anabela e Rui Viseu Cardoso produzem sobretudo vinho e cerejas, estas últimas entre 20 de abril e 20 de junho. São cerejas-brinco carnudas que recomendam saborear num crescendo de doçura. Sobre a mesa estão cinco variedades – têm mais de 20, escalonadas no tempo.

A prova de cerejas, como de vinhos, está incluída nas visitas guiadas àquela propriedade familiar, com uma casa coberta de heras, cães à solta e baloiços para dois, com vistas de postal e uma frase cantante: And I think to myself: what a wonderful world (“E penso para mim mesmo: que Mundo maravilhoso”).

O baloiço.
(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

Pensamento semelhante ocorre na QUINTA DO OUTEIRO, com a sua casa senhorial dividida em suítes com nomes de castas, a que se juntam casas de campo distribuídas por patamares, como as três piscinas. Passear ali é um regalo, muito graças aos jardins de 1906, com caramanchão e lago, e à capela, com painéis centenários. Há ainda o bosque e os campos agrícolas, que ali produz-se vinho com o rótulo Rocaille, azeite e frutos. O pequeno-almoço é farto e inclui desde pão caseiro até coloridos macarons.

Os jardins e a capela da Quinta do Outeiro.
(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

Resende é terra de doces, mais precisamente, de cavacas, uma espécie de pão-de-ló, feito com ovos, açúcar, farinha e água. Reza a lenda que nasceram do reaproveitamento de um bolo de noiva, fatiado e molhado em calda de açúcar, quando a festa foi adiada por doença do noivo. Aos 54 anos, Graça Almeida continua a fazer as CAVACAS DA ADOZINDA (nome da sua avó) à moda tradicional, em Vinhós, que já foi sede de concelho. Conta com a ajuda da tia Idalina, de 82 anos, e da filha Sara, de 26. “Nasci na semana da Páscoa, tinha de ficar com isto – é quando trabalhamos mais!”, brinca a mais nova, decidida a continuar o negócio familiar.

Sara, Graça e Idalina, três gerações que continuam a tradição das cavacas.
(Fotografias: Pedro Granadeiro/GI)

Aquele doce sai do forno a lenha, em tabuleiros sem gordura, só com farinha, para ser talhado e partido à mão. Tem de ser assim, como fazia Adozinda, para ficar fofo e depois absorver melhor a calda de açúcar. A diferença é que agora Graça usa batedor elétrico, enquanto antes era tudo manual. E também já não tem de ir a pé até Lamego ou Régua, com um baú à cabeça, para vender as cavacas. Elas chegam a esgotar no seu quiosque, no jardim municipal, e até seguem, às dezenas de quilos, para o estrangeiro.

O produto final.
(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

Águas termais e carimbos no passaporte

Da história de Resende também fazem parte as TERMAS DE CALDAS DE AREGOS, para tratamentos para problemas do foro dermatológico, músculo-esquelético ou das vias respiratórias, não esquecendo a vertente de lazer e bem-estar. A essa estância termal, temporariamente encerrada, chega-se por via terrestre ou fluvial. Quem descer do comboio em Aregos (Baião) pode atravessar o Douro até Resende, por marcação, na BARCA D’ AREGOS, que também faz passeios turísticos.

Para desfrutar do rio há ainda o CLUBE NÁUTICO CALDAS DE AREGOS, prestes a comemorar 40 anos, como assinala o presidente, Pedro Ferreira. A partir do próximo mês, qualquer pessoa pode entrar na água para praticar vela e canoagem, desde que se associe ao clube, por 12 euros anuais (para menores, metade desse valor).

Falta dizer que Caldas de Aregos é atravessada por aquela que já foi eleita, em parte, a melhor estrada do Mundo para conduzir: a N222, entre Vila Nova de Gaia e Almendra, Vila Nova de Foz Côa. Oficialmente, a ROTA N222 surgiu no início do ano, embora a ideia já existisse há muito, explica o responsável pelo projeto, Ricardo Filipe. Quem a percorrer – a pé, de bicicleta, moto, carro ou caravana – pode ir carimbando o respetivo passaporte, aproveitando descontos em entidades parceiras e visitando património. O que Ricardo mais admira naquele trajeto, da costa à fronteira, é a diversidade da paisagem: “O quilómetro zero é em Gaia, muito urbana, e ainda se fazem uns bons quilómetros até entrar na natureza. É uma estrada muito sensorial”.

Ricardo Filipe com o passaporte da Rota N222.
(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

O passaporte, que pode ser adquirido online e em alguns pontos no caminho, custa 3 euros e inclui códigos QR apontando locais de interesse dos municípios. Em Resende, destacam-se, entre outros, o Penedo de S. João, miradouro e parque de lazer com um enorme bloco granítico; e a Casa da Torre da Lagariça, que terá inspirado Eça de Queirós a escrever “A ilustre casa de Ramires”.


Pizas no Douro

Pizas, massas e outros pratos compõem a carta do Gentleman, um restaurante de ambiente descontraído, com esplanada (Rua Egas Moniz, Resende). Encerra ao domingo. Preço médio: 20 euros.

(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)


Sabonete termal

O Sabonete Aregos, feito com água termal de Caldas de Aregos, foi lançado em 1917 e recuperado, em 2013, pelo projeto Douro Memories. Pode ser adquirido online (douro-memories.com) e em farmácias.

(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)


A pé e de bicicleta pela Serra de Montemuro

Aldeias, campos, animais e miradouros com paisagens hipnotizantes compõem a Serra de Montemuro, território que une diferentes concelhos e é atravessado por vários trilhos pedestres e de BTT. Eis três pontos de interesse em Resende:

#1 Aldeia de Panchorrinha

Esta aldeia serrana, com um interessante conjunto arquitetónico e patrimonial e vista para a Barragem de Ovadas, integra o percurso pedestre do Vale do Cabrum Superior. Nas imediações, ergue-se a Ponte da Panchorrinha.

(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

#2 Ponte da Panchorra

A Ponte da Panchorra, a cerca de 1000 metros de altitude, insere-se na Rota do Românico e seduz pela envolvente natural. Perto desta área de lazer junto ao rio Cabrum passa o percurso de Lagoa D. João – vale a pena o desvio.

(Fotografia: Pedro Granadeiro/GI)

#3 Miradouro de S. Cristóvão

A Grande Rota de Montemuro engloba o Miradouro de S. Cristóvão, com a sua capela em forma de mastaba oriental. Fica a 1141 metros de altitude e, no dia 25 de julho, acolhe a festa ao oráculo S. Cristóvão e a feira anual de gado.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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