Rafaela Garcez: “Conseguir o desapego é o maior desafio dos meus clientes”

Rafaela Garcez, consultora de organização e essencialismo. (Fotografia: Daniela Sousa/DR)
Transformar a vida das pessoas, de forma positiva, através da organização. É este o objetivo de Rafaela Garcez, que segue o método da especialista japonesa Marie Kondo e foi das primeiras consultoras KonMari em Portugal.

A formação com Marie Kondo foi marcante para Rafaela Garcez, organizadora profissional que tem a decorrer, online, um programa para quem queira criar um negócio na área, como ela fez há três anos, quando percebeu que podia viver do seu hobby de miúda. Nasceu na Madeira, mas foi muito influenciada pela infância passada em Moçambique, onde a casa era um importante centro de convívio social, e hoje vive em Lisboa. O método de organização KonMari pretende ter efeitos na casa e em quem a habita, porque se entende que a arrumação externa equivale a uma arrumação interna. Na base de tudo estão decisões sobre o que é para manter ou deixar ir, sejam objetos ou pessoas. Sempre partindo de uma pergunta: traz alegria?

Fotografia: Daniela Sousa/DR

Ficou feliz quando soube que ser organizadora era uma profissão?

Sim, sempre adorei organizar. Mas só em 2017 percebi que era uma atividade profissional. Fiquei radiante e percebi de imediato que era a área que queria seguir. Juntava a paixão de organizar com a concretização de ajudar outras pessoas a tornar a vida mais leve, organizada e feliz.

Segue o método da japonesa Marie Kondo, com quem fez formação em Nova Iorque, e foi das primeiras consultoras KonMari em Portugal. Fez questão de aprender com ela?

Os livros da Marie Kondo foram os primeiros que li sobre esta temática. A abordagem energética e o olhar a organização como um exercício de desenvolvimento pessoal fizeram todo o sentido para mim. A Marie Kondo é a maior referência de organização no mundo. Aprender com ela e ser consultora do método KonMari foi uma enorme concretização.

“A Marie Kondo é um ser muito pequenino, fisicamente, mas é uma mulher grandiosa. Quando entra numa sala, toda a gente fica em silêncio – tem muita presença.”

A imagem que tinha de Marie Kondo bateu certo com a realidade?

Ela é um ser muito pequenino, fisicamente, mas é uma mulher grandiosa. Quando entra numa sala, toda a gente fica em silêncio – tem muita presença. Mesmo quando fala em japonês [costuma estar acompanhada por uma tradutora], acaba por ter o mesmo impacto que teria se falasse em inglês. Aquilo de que gostei mais foi, depois de recebermos imensas guidelines [orientações], ela ter referido que o mais importante é sermos quem somos. Foi muito marcante.

“Fazer o exercício de questionamento sobre os nossos objetos automaticamente reflete para outras áreas da vida. Podemos perguntar se o nosso emprego nos traz alegria, se as nossas relações pessoais nos trazem alegria, se as rotinas que escolhemos nos trazem alegria.”

Em que se distingue o método KonMari?

Sem dúvida, pela icónica pergunta does it spark joy?. Propõe questionar se o que temos na nossa casa nos traz alegria. Como? Escolhendo manter o que traz alegria e deixar ir, com gratidão, o que já não traz. Focando no que queremos manter, e não no que queremos deixar ir, é mais leve, mais positivo, mas também mais introspetivo. Fazer o exercício de questionamento sobre os nossos objetos automaticamente reflete para outras áreas da vida. Podemos perguntar se o nosso emprego nos traz alegria, se as nossas relações pessoais nos trazem alegria, se as rotinas que escolhemos nos trazem alegria, e a nossa vida transforma-se para sempre.

Os dias de confinamento refletiram-se numa maior procura dos seus serviços?

O confinamento trouxe uma maior reflexão sobre o espaço onde vivemos. A importância de cuidarmos da nossa casa e torná-la num local de conforto e bem-estar. Recebi muitos contactos, mas, como as sessões são preferencialmente feitas presencialmente, ficaram adiadas para um melhor momento. Aproveitei para trabalhar em projetos pendentes e entregar conteúdos online.

Fotografia: Daniela Sousa/DR

A sua mãe teve uma loja de decoração em Moçambique, onde a Rafaela passou a infância. Isso teve influência no que faz hoje?

Sem dúvida. Crescer em Moçambique trouxe-me um grande tesouro, que foi desfrutar do espaço casa, pois era comum as pessoas passarem muito tempo na casa umas das outras, em modo de convívio. Esse contexto, juntamente com o gosto da minha mãe por decoração, deixou em mim o bichinho da organização. No meu percurso académico, nunca ouvi falar da organização como atividade profissional, caso contrário, teria começado a organizar casas aos 15 anos. A minha paixão por organização, simplificação e otimização resultou na escolha do design. Comecei o percurso na escola artística António Arroio e terminei a formação com o mestrado em Design e Cultura Visual. Ter esta experiência académica e ter trabalhado em empresas enquanto designer (Time Out São Paulo, Páginas Amarelas e Cushman & Wakefield) deu-me as ferramentas fundamentais para hoje ser personal organizer e empreendedora.

Tem a decorrer um curso online, para ensinar a ser personal organizer. Porque decidiu avançar com esse programa? Sente que há cada vez mais gente a interessar-se pela arrumação profissional em Portugal?

É verdade! É a primeira iniciativa do género e a primeira edição do curso online. O programa “ser.organizer” nasceu por um conjunto de fatores. Recebia muitos contactos de pessoas interessadas em começar atividade enquanto personal organizer, com quem partilhava a minha experiência e os desafios desta área. Sempre tive um enorme prazer em partilhar tudo isso, mas sabia que chegaria o momento em que teria que formalizar essa entrega. A quarentena foi o momento ideal para pôr o projeto em prática. Também comecei a receber mais pedidos de informações, porque a quarentena abriu espaço a reflexões de escolhas de vida e de novas profissões. Criei o programa “ser.organizer” para partilhar tudo o que aprendi com a minha experiência e tudo o que gostava de ter aprendido quando iniciei atividade enquanto personal organizer. Para tal, além da minha entrega total, convidei 12 mulheres especialistas na área da comunicação, da marca pessoal, do branding, das redes sociais e do marketing digital, para que as alunas tenham o conhecimento que precisam para terem um negócio bem-sucedido. A organização é uma grande paixão para muitas pessoas, mas em Portugal é uma área em crescimento e ainda desconhecida pela maioria. Acredito que transformar uma paixão em profissão é escolher viver alinhados com o nosso propósito, seja organizar ou outra coisa qualquer.

Dirige-se especificamente às mulheres. Porquê?

A maioria dos contactos é feita por mulheres, por isso, fez sentido para mim direcionar a comunicação do programa “ser.organizer” para o público feminino. Em relação a clientes, a minha comunicação é mista, pois os meus clientes são maioritariamente mulheres, mas alguns homens também.

“A parte difícil do processo de organização é selecionar o que nos é realmente essencial e deixar ir tudo o resto. O meu trabalho é apoiar e dar a estrutura que o cliente precisa neste momento de decisão, por vezes tão duro.”

Vai mesmo a casa das pessoas?

Enquanto consultora KonMari, a minha proposta é ensinar o método ao cliente e aplicá-lo na sua casa. Nesse sentido, tenho a aula KonMari e a sessão de organização com o preço mínimo de 60 euros (aula online). Recomendo a sessão presencial, feita em casa do cliente, com o cliente, pois acredito que a sua entrega, foco e disponibilidade são mais eficazes para conseguir o grande objetivo: uma casa organizada e uma vida feliz.

Quais são as dificuldades mais comuns?

Decidir viver no presente. O maior desafio dos meus clientes é o desapego e a tomada de decisão. Na maior parte das vezes, a nossa casa está desorganizada porque está atulhada de objetos que insistimos em manter, mesmo que inúteis. Seja roupa que já não nos serve ou objetos que não usamos, mas não conseguimos libertar, porque nos fazem recordar algo, seja o que for. A parte difícil do processo de organização é selecionar o que nos é realmente essencial e deixar ir tudo o resto. O meu trabalho é apoiar e dar a estrutura que o cliente precisa neste momento de decisão, por vezes tão duro. Após a grande seleção, apresento as melhores soluções de organização.

Se só pudesse dar um conselho de arrumação, qual seria?

Definir o que nos é essencial e libertar com gratidão tudo o resto.

Fotografia: Daniela Sousa/DR

Formação

Já encerraram as inscrições para o programa “ser.organizer”, que Rafaela Garcez tem a decorrer até 14 de junho, mas a especialista planeia vir a fazer mais edições. O curso online, que conta com a intervenção de 12 especialistas convidadas, custa 280 euros.




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