Quinta do Perdigão: Vinhos, arte e criatividade no Dão

Na Quinta do Perdigão faz-se vinho com amor e arte à mistura. (Fotografia: Fábio Poço/GI)
Em oito hectares no Dão, a família Perdigão faz viticultura e vinhos à sua imagem. Com biodiversidade, experiências e arte à mistura. E um patriarca com um entusiasmo inesgotável.

José Perdigão encantou-se com a complexidade do vinho e, na sua quinta em Silgueiros, Viseu, procura fazer vinho e promover a sustentabilidade e a cultura vínica ao mesmo tempo. Este arquiteto que se tornou também, nas suas palavras, “vigneron indépendant” (aquele que só trabalha e engarrafa uvas próprias), fala da sua Quinta do Perdigão com um entusiasmo de quem está sempre a começar de novo. E pode-se dizer que está, já que procurou sempre a inovação na vinicultura desde 1997.

Foi nesse ano que comprou a quinta para a família – um tesouro de 8 hectares em contínuo, algo incomum no Dão – e começou a fazer vinhos, ofício a que a família se associou. A filha Mafalda, seduzida pelos vinhos, acabou por se formar em enologia e é, com o pai, a criativa da Quinta do Perdigão. A mulher, a artista plástica Vanessa Chrystie, desenha os rótulos sempre diferentes dos vinhos – em traços realistas, com bonitas homenagens aos parceiros da quinta. O rótulo do Encruzado 2018, por exemplo, tem um retrato do mocho-galego – “um dos guardiões da nossa quinta” -, fundamental caçador de ratos.

Os animais são companheiros quotidianos muito acarinhados. “Temos um bosque com duas charcas, o que nos garante uma biodiversidade incrível”, afirma José Perdigão. Há libelinhas a devorar as pragas da vinha, há javalis a escavar a terra da vinha, há uma colónia de morcegos na adega. E na terra e na adega, decorrem experiências. Foi reforçada a polinização da vinha, com instalação de colmeias. Há vinhas de touriga nacional plantada em pé-franco (sem recurso a porta-enxerto), a gerar vinhos “muito mais tropicais, quer nos brancos, quer nos tintos”, descreve o viticultor.

Na adega, há ainda um novo aparelho que se ofereceu para testar, com sucesso – o eletroporador. Entra no processo antes da prensa e, através de variações de corrente elétrica que causam “arrepios” às uvas e lhes abrem as células, faz com que libertem mais aromas e mais sumo – o Encruzado 2018 já incorpora este método. “O vinho ganha mais aroma e mais estrutura”, sublinha. Este “vigneron indépendant”, que continua a ser arquiteto, apresenta as glórias como um aluno dedicado mostra as suas notas: “Temos três parcelas de touriga nacional que são as mais premiadas em Portugal desde 1997 até hoje”, diz, referindo-se a prémios atribuídos em Londres, Zurique e pela imprensa de especialidade nacional, que lhe reconheceu quatro rosés entre os melhores 20 portugueses, na relação qualidade-preço.

A gama Quinta do Perdigão é composta por monovarietais de jaen (mencía), alfrocheiro-preto, encruzado, tinta roriz e touriga nacional; por lotes destas castas, sempre vindimados e vinificados em separado; e ainda por um espumante rosé feito com touriga nacional em pé franco, o Nöel Perdigão 2015.

Visitas com aromas

A Quinta do Perdigão aceita visitas à quinta e à adega “a qualquer hora, em qualquer dia”, desde que se faça marcação prévia. E a visita começa sempre pelo nariz: como cheirar uma folha de figueira para lhe sentir os aromas. Depois do figo, pode chegar o coco e o pêssego. “É o ponto de partida para chegar à conclusão de que o nosso olfato é soberano, mas não cultivamos o nariz”, salienta José Perdigão, que desafia os visitantes a experimentar um grande livro que, ao abrir-se, se revela um depósito de 54 aromas que se podem identificar no vinho (trata-se da obra de referência de Jean Lenoir, “Le nez du vin”, editado em França). São os mais pequenos quem melhor responde ao desafio: “Os miúdos, que não têm medo de errar, acertam em tudo”, assinala o viticultor.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

Leia também:

Viseu: a capital dos vinhos do Dão
Viseu: nova loja da Quinta de Lemos tem vinhos e cerâmica
Casa da Ínsua: vinho, mesa e conforto barroco




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend