Paula Granja e Helena Sequeira costumavam brincar juntas na loja que os avós da primeira tinham no Carvalhido: Dulce das Dores vendia artigos de decoração, santos, espelhos e panelas, enquanto Manuel Fernandes Granja fazia reparações elétricas e trabalhos de pichelaria (canalizações). Corriam os anos 1950 e na fachada lia-se “Electricista Picheleiro”. Quando as duas amigas de infância decidiram reativar aquele espaço, virando-o para a moda, foi esse o nome escolhido.
Ambas têm outras atividades profissionais, que deixaram de conseguir compatibilizar com a loja, aberta apenas das 15h às 20h (ou das 15h01 às 20h01, como gostam de dizer). Contratar alguém para ficar a tempo inteiro atrás do balcão não era uma possibilidade, pelo que decidiram encerrar o negócio que muitas alegrias lhes deu. Fecham portas no dia 29, tal como as abriram: servindo aos clientes bolo de cenoura e chocolate e bola de carne, as especialidades das mães. Nesse sábado, a Electricista Picheleiro começa a funcionar às 10h30 e termina às 17h10 (a hora em que foi inaugurada).
Por estes dias já há artigos com descontos apetecíveis, alguns a metade do preço. Calçado, casacos, vestidos, écharpes, colares, anéis, brincos e artigos de cosmética e perfumaria são o que resta, nesta casa recheada de memórias. As peças, essencialmente femininas, estão expostas em móveis de família e grades das velhas montras, ou penduradas em charriots feitos com canos.
“Amamos isto. Nunca vimos este tempo como perdido. Divertimo-nos imenso, estamos muito gratas por estes quatro anos e pelo que vivemos aqui”, diz Paula, em jeito de balanço. A loja vai encerrar, mas na parede lateral há de continuar o mural de arte urbana pintado por um artista sueco, no âmbito do projeto Urban Art Porto, a lembrar quão marcantes e coloridas eram as suas propostas.
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