Peneda-Gerês: à descoberta da grande rota do parque nacional

Fafião - Fojo dos Lobos (Foto: Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)
Seguimos a grande rota, de Castro laboreiro a Tourém, pelos caminhos do único parque nacional português, que completou recentemente cinco décadas dedicadas à conservação da natureza.

Castro Laboreiro, uma joia agreste da Peneda-Gerês

A serra e a raia ditaram costumes e traçaram histórias na maior freguesia de Melgaço, no extremo norte do Parque Nacional. Do planalto habitado pelo lobo, ao castelo em ruínas empoleirado na rocha, a rigidez da paisagem é suavizada pela hospitalidade das gentes.

Uma pequena vila sobranceira ao vale, com a serra de fundo, coroada com as ruínas de um castelo, o rio sinuoso com cascatas e lagoas entre penhascos, e o planalto, de limites esfumados com a vizinha Espanha, fazem o postal de Castro Laboreiro. A beleza da paisagem natural soma-se a um ramalhete de tradições vincadas pelo território.

Com a chegada do verão e do inverno, há quem acomode a casa às costas e se mude para um lugar mais apropriado à estação, em busca de melhor pastagem para o gado e para fugir das temperaturas mais rigorosas. Ainda que já não sejam muitos os exemplos, é um dos poucos lugares do país onde a transumância ainda é uma realidade. Para saber mais sobre este e outros costumes da cultura castreja, vale a pena parar no CENTRO MUSEOLÓGICO DE CASTRO LABOREIRO, num passeio pela vila, onde se vê representado o interior de uma casa típica, e também o traje tradicional feminino, de vestes negras, a simbolizar o luto e a saudade dos maridos e filhos emigrados.

Sempre vestidas de negro, as mulheres castrejas eram “conhecidas como as viúvas dos vivos”, encarregues de todas as lides da casa e do campo no tempo em que os maridos estavam para fora. Hoje, ao passear pela rua, ainda se vê uma ou outra mulher envergar o traje, escoltada pelo seu castro-laboreiro que impõe ordem às cachenas. O perfil característico das castrejas, com a sua capa amparada pela cabeça, é nossa companhia no miradouro no centro da vila, onde se pode perder os olhos no horizonte de montanhas da serra da Peneda e medir o desafio que representa escalar até às ruínas do antigo castelo de Castro Laboreiro – daí o nome. O trilho para lá chegar está bem assinalado e com vagar faz-se sem grandes dificuldades, de preferência pela frescura da manhã. Do alto da antiga muralha abre-se uma vista panorâmica sobre a imponente paisagem da serra, agreste, crua e encantadora.

Castelo de Castro Laboreiro (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Para recarregar baterias, tem-se à escolha dois restaurantes, um em frente ao outro, e qualquer um deles é uma boa aposta: de um lado, o MIRADOURO DO CASTELO, foi o primeiro restaurante da vila, com quase 30 anos. Do outro lado da estrada, acabado de celebrar 20 anos, está o MIRACASTRO, hotel e restaurante que Fernando Pires construiu na vila serrana. A mulher, Rosa, é quem comanda a cozinha, de onde sai um afamado bacalhau com broa e o tenríssimo naco na pedra.

É comum encontrar-se Fernando a almoçar ou jantar naquelas mesas. Abriu o hotel depois de uma vida que também o levou para fora do país, para França, e pelos caminhos do contrabando. “Eu cheguei tarde, já não cheguei a tempo do café. O café foi um dos bons contrabandos que houve, dava muito dinheiro”, conta. Foi no transporte de gado que trilhou aqueles caminhos transfronteiriços – “lembro-me que os vitelos rendiam seis contos cada um”, recorda -, muitas vezes com a cumplicidade da Guarda Fiscal, que retirava daí uma fatia. O terreno agreste, isolado e de grande extensão do planalto castrejo, ofereceu as condições ideais para ali se estabelecerem rotas de contrabando e de fuga, durante os regimes ditatoriais de Portugal e Espanha.

Os marcos de pedra que delimitam a fronteira podem ser vistos durante um passeio de jipe guiado pela MONTES LABOREIRO, uma das poucas formas de chegar ao planalto. A empresa de animação turística leva através da Rota da Pré-História, para conhecer a maior necrópole megalítica da Península Ibérica, e uma das maiores da Europa. Ali, a mais de 1100 metros de altitude, já se está em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, e por esta altura a urze e a carqueja pincelam de rosa e amarelo o prado verde, onde volta e meia aparecem cachenas e garranos. É também o habitat de raposas, javalis, veados, perdizes, milhafres-reais e muitas outras espécies, não esquecendo uma das mais ilustres, o lobo. Naquele território de limites esbatidos com a vizinha Galiza, o vale e as serras perdem-se de vista, e o olhar enche-se só com a vastidão da paisagem. E não se deseja mais nada.

Planalto de Castro Laboreiro (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/GI)

 

Casa Fonte do Laboreiro
Há oito anos, Armandina Fernandes recuperou a antiga casa que pertencia ao seu bisavô, e transformou-a em alojamento rural, com seis quartos, no centro da vila. Manteve o traçado rústico, de paredes em pedra e alguma mobília original, mas com todas as comodidades e conforto. A cozinha tem passagem para um pátio com um pequeno lago e jardim, agradável para uma refeição ao ar livre e em sossego.

Trilho Castrejo
Rodeia Castro Laboreiro ao longo de 17 quilómetros, por caminhos que remontam à Idade Média e ligam as Brandas às Inverneiras, passando por bosques de carvalho alvarinho, ribeiras e pontes antigas.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Lindoso, entre espigueiros, muralhas e mergulhos

No sopé de uma das encostas da serra Amarela, a aldeia de Lindoso alberga um castelo que foi palco de duras batalhas contra os espanhóis, a maior coleção de espigueiros de pedra ao nível ibérico, caminhadas entre moinhos abandonados e um espelho de água límpida.

A sua posição estratégica sobre o rio Lima e a posição fronteiriça com Espanha tornaram o medieval CASTELO DE LINDOSO, que sempre funcionou como forte militar e nunca como residência, numa peça-chave da nossa defesa, também este palco de duras batalhas que ajudaram a afirmar a independência nacional. Foi fundado no reinado de D. Afonso III, no século XIII e mais tarde mandado restaurar por D. Dinis, o que pode explicar a sua atual boa preservação. Aliás, reza a lenda que D. Dinis, “tão alegre e primoroso o achou, que lindoso o chamou”. O núcleo museológico mostra coleções de armas do século XIV ao XIX e de arqueologia deste território. Esta parte ainda se encontra encerrada, mas é possível passear na envolvência exterior, em torno das muralhas, contemplando a torre de menagem e a paisagem da serra Amarela.

Mas é o grupo de sessenta e quatro ESPIGUEIROS DE LINDOSO em pedra, mesmo ao lado do castelo, que rouba atenções. Trata-se do maior conjunto deste género na Península Ibérica, serviam para armazenar e secar os cereais de cada morador – em especial o milho – e são mais uma prova viva do espírito comunitário da aldeia.

A maior coleção de espigueiros em pedra ao nível ibérico. (Fotografias: Rui Manuel Fonseca/GI)

O Castelo de Lindoso. (Foto: DR)

A Igreja Matriz de Lindoso. (Foto: Rui Manuel Fonseca/GI)

Ainda neste amplo largo da aldeia, que chamam de Largo do Castelo, é possível apreciar a IGREJA MATRIZ DE LINDOSO, e a sua bela torre sineiral frontal em granito, onde a população ainda se junta aos domingos e às terças para as missas. Aqui, as placas dão indicação para o interior da povoação, caminhando-se entre hortas e laranjeiras até às duas fontes da aldeia, a FONTE DA LAMELA e FONTE DA TORNADA, ambas com água fresca e potável.

A beleza natural desta zona só fica completa com o POÇO DA GOLA, uma pequena e recatada represa de águas límpidas, alimentada pelo ribeiro de Mulas e o rio da Ponte. Com muitas zonas de sombra, graças ao carvalhal e restante vegetação, cenário perfeito para os meses mais quentes, é aqui que se dirigem muitos adeptos dos mergulhos na Natureza pura. Até chegar ao espelho de água natural onde se pode nadar, basta seguir pelo caminho colado ao Café-Restaurante Mó, na Parada de Lindoso, junto à estrada N304-1 e seguir até à ponte de madeira. Depois, é cortar pelo pequeno trilho à direita e seguir o curso de água durante um ou dois minutos.

O Trilho dos Moinhos de Parada.

O Poço da Gola, em Parada de Lindoso.

No Poço da Gola, já se avistam alguns moinhos de Parada de Lindoso, construídos em granito e atualmente abandonados, mas que já foram recurso diário das gentes que aqui viviam. Estão situados junto ao curso de água que corre pelos rochedos do poço. Para conhecê-los melhor, é imperativo fazer o TRILHO DOS MOINHOS DE PARADA. Junto à ponte do Poço da Gola, o caminho está sinalizado. Ao todo, são sete quilómetros de caminhada em formato circular (qualquer coisa como quatro horas e meia de duração) entre campos e vinhedos, num percurso não regular mas relativamente fácil de fazer.

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No Soajo, à boleia do pão-de-ló e de uma lagoa

É de tradição e memórias que se veste a aldeia de Soajo, dos espigueiros em pedra com vista para a serra à raça autóctone de cães que se ofereciam aos reis. Sem esquecer o pão-de-ló com uma receita de 40 anos. Em breve, vai ali nascer um centro interpretativo.

Não é uma coleção tão grande como a de Lindoso, mas também é digna de visita. No alto das grandes lajes de granito, para afastar roedores e outros animais que pudessem danificar a seca do milho, os vinte e quatro ESPIGUEIROS DE SOAJO são uma das grandes atrações desta aldeia. São do tipo galaico-minhoto, com corpo baixo e alongado, alguns remontam ao século XVIII.

Estes pequenos pedaços de património estão situados junto ao Campo da Feira de Soajo, um largo onde cabe uma zona de parque infantil, com vistas para a serra do Soajo (que chega a atingir 1416 metros no seu cume), e uma estátua alusiva ao cão sabujo. Nos séculos da era monárquica, todos os anos eram oferecidos aos reis de Portugal exemplares desta raça canina autóctone, em troca de insenção de impostos e outros privilégios para os soajeiros.

Os espigueiros do Soajo. (Fotografias: Rui Manuel Fonseca/GI)

Descendo pela estrada junto aos espigueiros, a M530, todos os caminhos vão dar ao POÇO NEGRO, uma das cascatas e lagoas mais bonitas desta zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês. De fácil acesso, a sua entrada está bem sinalizada à beira da estrada, depois de uma descida de cerca de um quilómetro, entre figueiras e oliveiras. Depois, é só descer a escadaria em pedra até ao poço, ir de rocha em rocha até se achar o local para estender a toalha e refrescar nestas águas cristalinas.

Já de volta ao centro histórico da aldeia, ainda com muitas portas fechadas, uma nova se prepara para abrir nos próximos tempos, estando a ser criado o Centro Interpretativo e Etnográfico do Soajo no Largo do Eiró, onde se situam também o pelourinho da aldeia, um posto de turismo e a Igreja de São Martinho, onde se encontra um altar ao ar livre em homenagem a este santo.

O Poço Negro.

Dali, num pulinho se chega à PADARIA DO SOAJO, onde se fabrica um dos símbolos da doçaria local, o pão-de-ló de Soajo, vendido em três doses diferentes, em miniatura, em meio-quilo e um quilo. “Tem uma elevada humidade, tornando-o diferente das versões mais secas do pão-de-ló, mas também não é para comer à colher”, explica Débora Abelheira, que gere este cantinho com décadas de história, ao lado do marido Lourenço. O pão artesanal de trigo e mistura vem de Arcos de Valdevez, mas tudo o resto é feito ali, como os biscoitos de milho e os novíssimos calhaus de Soajo, bombons crocantes de chocolate negro, caramelo e amendoim.

Padaria do Soajo.

Todos os dias, vendem-se dezenas de unidades deste pão-de-ló, numa receita que se mantém igual há mais de 40 anos, inciada pelo bisavô materno de Débora. Dos cinco filhos que este bisavô teve, todos ficaram ligados à panificação, chegando a família ao abrir padarias nos EUA. “Não havia por onde fugir”, ri-se a proprietária, que cresceu atrás do balcão. Além da Padaria do Soajo, o seu pão-de-ló encontra-se em Arcos de Valdevez, mas também é possível encomendar diretamente e receber ao domicílio em todo o país.

 


Dois trilhos pedestres

No Campo da Feira de Soajo, estão sinalizados dois trilhos pedestres. A Rota do Soajo soma mais de 15 quilómetros e implica maior disponibilidade de tempo, levando cerca de sete horas num percurso que liga a aldeia o Soajo à Peneda, por caminhos pela serra. Já o Trilho do Contrabando tem cerca de 10 quilómetros e passa pelos antigos caminhos de comerciantes pelas encostas viradas a sul e a nascente da Serra do Soajo. Um dos locais de passagem é a Ponte da Ladeira, nos arredores da aldeia, uma pequena passagem em pedra sobre o rio Adrão.

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Em Campo do Gerês, dos passeios a galope às vias romanas

Junto a uma das portas do Parque Nacional, há lições de História que incidem ora nas tradições da vida agro-pastoril, ora no legado que deixaram as vias romanas construídas há dois mil anos. Os passeios a cavalo para todas as idades ajudam a completar o ramalhete de atividades em Campo do Gerês.

O Rudolfo é o mais novo, com oito anos. O Guapo o mais velho, com 12. A estes juntam-se outros três cavalos e éguas, como o Cenoura, a Roliça e o Chuchas, que ganhou este nome por estar sempre a chuchar a própria língua. “Às vezes batizo-os um mês depois de os ter, só depois de conhecer a personalidade de cada um”, conta Fernando Martins, dono da EQUICAMPO, na aldeia de Campo do Gerês. Há quase três décadas que gere esta quinta com seis mil metros quadrados, onde se fazem passeios a cavalo – incluindo batismos – para todas as idades e níveis de experiência, mas também caminhadas focadas na fauna e flora da região, escalada, rappel, slide e circuitos de arvorismo. Quem preferir ficar a ver, dispõe de um simpático bar em madeira, onde se bebem refrescos e petiscam hambúrgueres e cachorros.

Fernando Martins é o proprietário da Equicampo, em Campo do Gerês. (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/GI)

O terreno já pertencia à família e dá vida à paixão de Fernando pelo turismo, área de formação, e a natureza. “Sou o mais novo de oito irmãos. Todos saíram de Campo do Gerês menos eu”, ri-se. Entretanto, formou-se como treinador equestre, guiando agora percursos a cavalo que podem ir dos 15 minutos às duas horas, tanto pela quinta como pela Mata da Albergaria, por exemplo. Os circuitos de arvorismo vieram depois, tendo sido o primeiro no Gerês a oferecer estas atividades, há década e meia. “Tenho clientes fixos que vêm todos os verões”, adianta, entre festas ao Coda, o seu pastor alemão que rouba atenções e mimos a quem visita este espaço.

Os passeios a cavalo fazem-se tanto na quinta como em redor, na Mata da Albergaria, por exemplo. (Foto: DR)

A uns meros 700 metros dali, há verdadeiras lições de História e tradição no NÚCLEO MUSEOLÓGICO DE CAMPO DO GERÊS. Este espaço multifunções funciona como uma das cinco portas do Parque Nacional da Peneda-Gerês e inclui dois polos culturais. O MUSEU ETNOGRÁFICO DE VILARINHO DA FURNA, nome da aldeia que aqui existiu e que está submersa desde os anos 1970, recupera as vivências e tradições agro-pastoris que aqui se viviam. Neste espaço criado há duas décadas, aborda-se o espírito de união da aldeia, mostrando arados e charruas, mós de moinhos de água e carros de bois, mas também como eram decoradas as cozinhas e quartos das antigas casas. O piso inferior é dedicado à fauna, flora e geologia da Serra do Gerês, com painéis que mostram árvores e plantas como amieiros, urzes-dos-brejos, medronheiros-bravos e cerejeiras-bravas, e informação sobre animais como a víbora-cornuda, o sapo-parteiro, a lagartixa-de-Bocage e o corço, tornado símbolo do Parque Nacional pela abundância.

O Centro Interpretativo de Vilarinho das Furnas. (Fotografia: Rui Manuel Fonseca/GI)

O outro polo é o MUSEU DA GEIRA, num edifício com linhas modernas ali ao lado. Desde 2013, ensina-se aqui o legado e as técnicas de construção das vias romanas, há dois mil anos (que ainda hoje ocupam 30 quilómetros do concelho de Terras de Bouro), além dos transportes utilizados na época, como a réplica da biga, o equivalente da altura ao Ferrari, puxado por dois cavalos.

O Museu da Geira é uma viagem no tempo.

Um trilho focado na águia

Com partida e chegada sinalizada junto ao núcleo museológico, o Trilho da Águia do Sarilhão percorre, ao longo de oito quilómetros, vegetação ribeirinha, medronhais e carvalhais, além de locais onde a águia-real costumava criar os seus ninhos.

Uma albufeira rodeada de serra e mata

A dois minutos de carro quer da Equicampo, quer do núcleo museológico, está um dos melhores locais para apreciar a ALBUFEIRA DE ALVARINHO DA FURNA, com opção de estacionar o carro, estender a toalha e petiscar. Junto à estrada, uma pequena zona de merendas conta com vista desafogada para este largo caudal de água, que serpenteia a Serra Amarela na sua margem esquerda, com a Mata da Albergaria a cobrir de verde o lado direito da albufeira.

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Entre camas renovadas e miradouros na vila do Gerês

Na vila do Gerês, onde correm águas termais com poderes curativos, há quartos com vista para a serra que ganham nova vida e cor e um trilho de miradouros para percorrer. De regresso está também um dos pulmões verdes, o Parque das Termas, prestes a abrir.

É um dos pontos mais altos junto à vila do Gerês para se contemplar a paisagem natural em redor. O MIRADOURO DA BONECA está situado a 750 metros de altitude e é um dos mais populares por estas terras, tendo ganho o nome pelo menir que aqui se encontra erguido, ao qual se passou a chamar boneca por se assemelhar ao formato de um corpo. Daqui de cima, numa sucessão de vários pontos panorâmicos com espaço suficiente para se fazer um piquenique, avista-se a albufeira da Caniçada e todo o vale do rio Gerês, tal como as pontes do rio Caldo.

O acesso ao miradouro faz-se pela estrada M-533, que liga o Campo do Gerês à vila do Gerês, a meio caminho entre ambas e com sinalização na berma. Há espaço para deixar o carro estacionado e o restante caminho – leia-se um trilho de terra batida com cerca de quilómetro e meio – faz-se a pé, entre giestas e campos de vacas a pastar.

O Miradouro da Boneca faz parte de um trilho de miradouros. (Fotografias: Rui Manuel Fonseca/GI)

Este percurso faz parte integrante do TRILHO DOS MIRADOUROS, que percorre, na sua maioria, a encosta oeste do vale do rio Gerês ao longo de nove quilómetros pelos cabeços naturais de granito onde se criaram outros miradouros como o da Junceda, o da Fraga Negra e o do Peneda da Freira, todos parte deste trilho.

Mais abaixo, no centro da vila, há camas renovadas num espaço que soma quatro décadas de história. Começou como casa de hóspedes, foram precursores na zona em detalhes como a inclusão de telefones e casas de banho nos quartos, e foi crescendo com o tempo. Hoje, o HOTEL CARVALHO ARAÚJO tem 23 quartos duplos e triplos, com varandas com vista para a serra do Gerês, reformulados recentemente “para ajudar a preservar os valores do Parque Nacional e promover a natureza do Gerês”, explica Armando Araújo, dono. Assim, os aposentos foram divididos nos quatro temas-pilar da região, com as cores terras a vestir as paredes dos quartos ligados à fauna, os cinzas a dominarem a parte da geologia, o verde a dominar os quartos que apelam à flora e o azul a marcar a hidrologia nos restantes. Afinal, a vila é conhecida pelas suas águas termais, com propriedades que ajudam a tratar problemas ligados à obesidade, hipertensão arterial, diabetes, metabolismo ou reumatismos crónicos.

O Hotel Carvalho Araújo soma quatro décadas, no coração da vila do Gerês.

A unidade hoteleira foi recentemente renovada, focando-se na biodiversidade e geologia do Parque Nacional.

De ressalvar ainda que o hotel está mais sustentável do que nunca, com painéis solares, produtos de higiene orgânicos e novas mesas-de-cabeceira feitas pelo próprio dono, com restos de cedro local. É formado em Direito mas decidiu tomar as rédeas da casa que pertence à família. “Ainda cheguei a exercer mas sempre fui um apaixonado pelo turismo”, conta Armando, enquanto mostra as várias salas de estar com sofás, lareiras, jogos de tabuleiro, livros e revistas antigas que contam as histórias geresianas. À entrada do hotel, a hora é zona de descanso, com um jardim com mesas rodeadas de alfazemas, alecrim, azevinhos e sálvia-ananás. Nas próximas semanas, vai nascer ali ao lado o Gerês Terrace, bar de petiscos com varanda panorâmica onde funcionou, durante largos anos, “O Torga”, um clássico bar da zona.

O Hotel Carvalho Araújo está ainda mais sustentável.

 

Um parque junto às termas

A partir de amanhã, reabre ao público o PARQUE DAS TERMAS, recortado entre montanhas ao longo de dois hectares. No centro da vila, caminha-se à sombra de sequoias, carvalhos e outras árvores centenárias, junto a um lago e dentro de grutas. Este pulmão verde banhado a meio pelo rio Gerês, onde se incluem zona de merendas, mesas de pingue-pongue e parque infantil, está inserido nos terrenos no Hotel Águas do Gerês, que também se prepara para reabrir os serviços de termas e spa. Os termalistas e hóspedes não pagam, mas a entrada para o público em geral é simbólica.

As Termas do Gerês estão de novo abertas ao público. A época termal decorre de maio até outubro. (Fotos: DR)

O Parque das Termas é um dos destinos preferidos das famílias nesta zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

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Novo miradouro e águas cristalinas na aldeia de Fafião

Aldeia de tradições ligadas aos rebanhos, Fafião é notória pela ligação aos lobos e às armadilhas feitas de altos muros de pedra que ainda hoje se visitam. Mas há mais para ver na aldeia – no concelho de Montalegre – que tem um novo e imponente miradouro e que esconde um resguardado Poço Verde.

A 800 metros de altitude, dois grandes blocos de granito seguram uma ponte suspensa com uma vista impagável sobre os verdejantes vales do rio Cabril e do rio Cávado. O imponente (e impróprio para quem tenha vertigens) MIRADOURO DO FAFIÃO, criado no topo da aldeia que lhe dá nome, é uma das novas atrações panorâmicas do Parque Nacional da Peneda-Gerês e tem tido presença crescente no Instagram no último ano. Para lá chegar, basta seguir a sinalização junto ao campo de futebol e seguir pela subida curta, mas acentuada. Com sorte, é recebido à chegada pelos grupos de borboletas que aqui costumam pairar.

O novo e imponente miradouro do Fafião, a 800 metros de altura. (Fotografias: Rui Manuel Fonseca/GI)

O miradouro mais antigo, com vista para o rio Cávado.

Aproveitando-se a subida até ali, é obrigatório passar por um dos ex-líbris naturais da aldeia. Trata-se do POÇO VERDE, um conjunto de lagoas com água cristalina que se torna num local acolhedor a qualquer altura do ano, por estar abrigado por vales cobertos de pinhal, carvalhal e giestas. Não há sinalização até este santuário de mergulhos, mas seguindo estas indicações não há como enganar: na estrada de terra batida junto ao campo de futebol e ao parque de merendas, segue-se pela primeira saída à direita e depois pela primeira que surge à esquerda. A partir daí é só ir em frente até ouvir o curso da água a correr pelos penedos, a cerca de quilómetro e meio dali. Até ao Poço Verde, é sempre a descer. A parte mais difícil é a subida de regresso, mas vale a pena o esforço. A ponte que ali se encontra também permite estender a toalha para banhos de sol, nos meses mais quentes, mas o mesmo também se faz nos rochedos de maior dimensão, mais junto à água.

O Poço Verde é um dos ex-líbris naturais da aldeia de Fafião.

Rodeado de serra, estas águas cristalinas são destino de mergulhos nos dias quentes.

Quem não se deixou cansar pela caminhada de ida e volta ao Poço Verde pode aproveitar balanço e seguir pelo Trilho do Pão, do Azeite e dos Miradouros, sinalizado junto ao novo miradouro. Durante cerca de 14 quilómetros, o caminho montanhoso faz-se por alguns dos locais já mencionados neste artigo, mas também por antigos lagares, campos agrícolas e carreiros de pastores. Calçado confortável é obrigatório.

Conhecer a aldeia de Fafião implica voltar atrás no tempo, até às tradições que a marcaram. Os rebanhos de ovelhas eram uma das principais fontes de rendimento da população de então, o que criou a necessidade de se criar o FOJO DOS LOBOS, uma armadilha ancestral espalhada pela encosta, feita de altos muros de pedra para evitar que os lobos comessem o gado da zona. Este pedaço de história a céu aberto tem mais de 60 metros de comprimento e é um dos maiores à escala ibérica. De resto, a armadilha acabou por batizar o restaurante mais conhecido da aldeia, situado junto ao fojo, e o próprio lobo tornou-se num símbolo da aldeia. É este o animal que vemos a uivar, de cabeça apontada para o céu, numa estátua de ferro forjado à entrada – ou saída, depende da rota – da aldeia, à beira da estrada que liga Fafião à Barragem de Salamonde.

O Fojo dos Lobos, um conjunto de armadilhas ancestrais para lobos.

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Entre aves migratórias na aldeia raiana de Tourém

Na pitoresca aldeia de Tourém, que divide a albufeira do rio Salas com a fronteira espanhola, passeia-se junto a casas rústicas de pedra, fornos onde se coziam centenas de pães de centeio por dia e um centro dedicado ao estudo das aves migratórias. E há trilhos pedestres para fazer.

É o recorte mais a norte no Parque Nacional da Peneda-Gerês, formando uma espécie de dedo encaixado entre as aldeias galegas de Guntumil e Randín, e partilha a albufeira do rio Salas com nuestros hermanos. E, por isso mesmo, os meses de fronteiras fechadas tiveram um impacto grande em Tourém, aldeia em zona planáltica onde se avistam as serras do Gerês e do Larouco.

“Tem sido complicado, sem os turistas espanhóis”, confessa Jaime Afonso Barroso, presidente da junta há oito anos, enquanto faz uma visita guiada pelo ECOMUSEU DO BARROSO – CENTRO INTERPRETATIVO DA AVIFAUNA, construído num antigo estábulo. Neste que é um dos seis núcleos do museu dedicado às terras do Barroso, criado há uma década. Ao longo de dois pisos, mostra-se em imagens e artefactos o trabalho agrícola e doméstico de outros tempos, entre os arados em ferro que eram puxados pelo gado, as pipas de vinho, antigos ferros de passar e os teares de antigamente, onde se trabalhava a lã. Ou os búzios que se usavam para aglomerar os bezeiros – rebanhos ou manadas -, pelas ruelas da aldeia, antes de seguirem para os pastos. “Pensava que já não sabia tocar isto, mas ainda não perdi o jeito”, ri-se Jaime, ao soprar pelo búzio.

O Ecomuseu do Barroso – Centro Interpretativo da Avifauna foca-se nas tradições agro-pastoris e nas aves migratórias da região.

Jaime Afonso Barroso é o presidente da Junta de Freguesia de Tourém desde 2013.

O centro interpretativo foca-se também nas aves migratórias que aqui nidificam, sendo a aldeia um local exímio para a observação de dezenas de espécies como águias-reais, falcões-abelheiros, cartaxos-nortenhos e picanços-de-dorso-ruivo. É também nesta localidade que se aposta na anilhagem das aves, um passo importante na educação ambiental e no estudo do comportamento destas espécies.

À entrada do Centro Interpretativo da Avifauna estão sinalizados percursos pedestres circulares. O TRILHO DO CONTRABANDO mostra os caminhos usados pelos comerciantes e contrabandistas em tempos idos, ligando Tourém à aldeia espanhola de Randín ao longo de 12 quilómetros. Já o TRILHO DAS AVES, quase sempre em terreno plano, é dedicado à observação das mesmas, durante cerca de quilómetro e meio, sempre junto da Natureza e até à ponte de Tourém, que atravessa o rio Salas até Espanha.

A Igreja S. Pedro de Tourém, onde se fazem as missas de fim de semana.

Pelas ruas do centro histórico da aldeia, uma das mais baixas em altitude no concelho de Montalegre e, por isso, mais abrigada e com um clima mais ameno, passeia-se entre casas rústicas de pedra, algumas com seteiras nas fachadas, pequenas frechas de defesa onde cabiam canos da espingarda. “Afinal, estamos numa aldeia raiana”, adianta Jaime. Ruma-se a passo lento até à IGREJA DE SÃO PEDRO, onde decorrem as missas ao fim de semana. Está adornada por fileiras de grandes cruzes em pedra à entrada e uma placa com palavras de Miguel Torga, transmontano que passou por aqui na década de 1960. “Percorro as ruas da aldeia pavimentadas de cagalhetas e entro na igreja onde o escudo real é uma pedra de ara de fervorosa celebração lusitana. Apetece-me assentar arraiais e ficar a ser português assim o resto da vida”, lê-se.

O forno comunitário da aldeia.

A escassos metros dali, entre carvalhos, lameiros e árvores de fruta como macieiras e pereiras, chega-se ao FORNO COMUNITÁRIO, que já foi o ponto de encontro das gentes de Tourém. Hoje, só o usam para festas pontuais na aldeia, mas “há 25 anos cozia-se aqui pão de centeio e milho todos os dias”.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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