Passeios de comboio do Minho ao Algarve

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)
É uma forma encantadora de passear, com amigos ou em família, ou até numa viagem solitária, ao sabor do pensamento com o embalo da paisagem: o comboio está mais à nossa disposição para recreio do que provavelmente pensamos. Apresentamos três roteiros para aproveitar o comboio pelo Minho, pelo Douro e entre Lisboa e Évora, com outras sugestões no final.

De Viana do Castelo a Valença de comboio

De Viana do Castelo a Valença, é uma viagem curta, mas onde cabe uma região, a descobrir em paisagens de mar, rio e montanha. E de praias, ecovias, pontes, castelos e a Galiza à vista, do outro lado do rio Minho.

Âncora Praia
1# PETISCOS E PASSEIOS JUNTO AO MAR

Pouco mais de dez minutos depois de um café matinal ao balcão do bonito BAR DA ESTAÇÃO de Viana do Castelo, a apreciar fotografias de antigas locomotivas, antes de zarpar rumo a Valença, desembarcamos no apeadeiro de Âncora-Praia.

Trazemos o mar à vista, pela janela do comboio, desde Areosa, Carreço e Afife. E vontade de apear. A linha divide Vila Praia de Âncora a meio. Da parte de cima, quem sai do longo apeadeiro, em pleno centro, na Praça da República, impõe-se a Capela de Nossa Senhora da Bonança. Ao redor há lojas e cafés com esplanada. Para baixo da linha, fica a praia, nem sequer a um minuto. É só descer a pé a Rua Cândido dos Reis até à zona marginal.

Dali, seguindo pela esquerda ao longo da avenida Dr. Ramos Pereira, de frente para o mar, chega-se a uma zona ajardinada com esplanada e parques infantil e geriátrico. E, pela direita, descobre-se o portinho de pesca, junto ao imponente Forte da Lagarteira, com mercado de peixe e tasquinhas típicas e restaurantes à volta. O passeio marítimo estende-se mais para a frente, em forma de ecovia de piso amarelo, paralela ao mar. Até à localidade vizinha de Moledo, num percurso pedonal e ciclável que dá pelo nome de Santo Isidoro, em alusão a uma histórica capela ali existente. O que não falta em Âncora são pretextos para caminhar, correr ou pedalar: o PASSEIO FRANCISCO SAMPAIO, que integra a Ecovia do Litoral Norte, atravessa toda a frente marítima da vila, e pode-se entrar pelas dunas e pelo interior do rio.

Bar da Estação de Viana do Castelo. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Voltando atrás, à avenida marginal, entramos num pequeno espaço para comer e beber algo de diferente. No FIKA ENTR’AMIGOS SEA FRONT CAFE, os anfitriões Paulo Amaral e Ariana Biscaia, propõem, à chegada, Kombucha com sabor tradicional ou de fruta para saciar a sede. Também há fritz-kola, sumos naturais e cervejas artesanais. A que está a ter mais saída este verão, diz Paulo, é a havaiana do “nome feio”, a Kona Big Wave.

Propõem para comer hambúrgueres suculentos e coloridas. Um de picanha, servido em pão vermelho, de tomate seco e orégãos, um vegetariano em pão verde, da cor dos espinafres, e um de atum fresco servido em pão castanho de girassol.

Sandes de pernil e tostadas, mediterrânica e de salmão, são outras propostas, para degustar, com vista para o mar. Na esplanada ou na pequena sala interior, onde há um pequeno “show-room” com criações de Paulo e Ariana: artigos têxteis de praia, criança, t-shirts e sweats.

Embalados pelo ‘hidromel’ da casa (champanhe com mel), oferecido após a refeição, e pela música ambiente dos anos 80 e 90, zarpamos para a estação, para apanhar o comboio.

Moledo
#2 PREGUIÇAR NO PAREDÃO COM A GALIZA À VISTA

Três minutos depois de deixar o apeadeiro de Âncora-Praia, o comboio chega a Moledo. Três minutos com mar a perder de vista nas janelas e uma das passagens mágicas da Linha do Minho. Mesmo ali, antes do aglomerado de casas e prédios de Moledo que tapam as vistas, há um lapso de tempo, digno de cenário de cinema. A praia de areia branca até à foz do rio Minho, encostada ao extenso pinhal do Camarido, o Forte da Ínsua ao longe no meio das águas e o Monte de Santa Tecla (um cone perfeito a lembrar um vulcão) do outro lado, em Espanha.

A imagem panorâmica capta-se, com o comboio em andamento, a segundos da chegada à estação. Se houver sargaço (algas castanhas que o povo seca ao sol para depois adubar a terra) estendido no areal, dá a fotografia perfeita.

Apeados, descer a pé até à praia (um minuto, se tanto) pela Avenida Engenheiro Sousa Rego. Um longo paredão, convida a preguiçar de bancada, contemplando a beleza ao redor. A caminhar para sul entra-se na ecovia de Santo Isidoro e para Norte no Pinhal do Camarido: duas caminhadas por cenários de sonho.

Moledo. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Para descansar as pernas e aconchegar o estômago, há restaurantes e cafés na avenida marginal. O PR’A LÁ CAMINHA é um clássico do verão numa das praias mais concorridas do Alto Minho. Ponto de paragem, durante a época estival, de figuras conhecidas do público, desde políticos, a músicos e atores, e também de muitos veraneantes anónimos. Desde 1995 que faz as delícias de quem ali pára, com as suas sanduíches, saladas e doces, mojitos e caipirinhas e afins. Já o PAREDÃO 476 tem o único terraço de acesso público de Moledo. E tapas, refeições leves e bolo de amêndoa da mãe do dono da casa, Emídio Nunes, “Manolito” para conhecidos e amigos.

Caminha
#3 CAMINHAR POR TESOUROS E DELÍCIAS

Segue a viagem. Mais quatro minutos e o comboio para na estação de Caminha. Deixamos para trás um troço de linha que fura o Pinhal do Camarido, atravessa um túnel e entra no centro da vila. Da estação, subindo à esquerda pela Avenida Saraiva de Carvalho e, ao fundo, virando à direita e descendo a Rua da Corredoura, artéria de comércio e serviços, chega-se à PRAÇA CONSELHEIRO SILVA TORRES. É a praça central de Caminha, conhecida por Terreiro, com o seu chafariz renascentista, que serve de assento aos locais e a turistas em dias soalheiros. Zona de cafés, pastelaria e amplas esplanadas, onde apetecer estar. Do café Central às pastelarias RIVIERA e Cabana, há por onde escolher. E depois visitar a Igreja da Misericórdia, ‘casa’ de Santa Rita de Cássia e a TORRE DO RELÓGIO, desde 2008 transformado em Núcleo Museológico do Centro Histórico de Caminha.

A caminhar ainda há à mão de semear o miradouro da Boavista, situada na antiga muralha, que oferece uma inspiradora vista sobre os telhados da vila, para o rio Minho, a foz e Santa Tecla na margem espanhola. Saindo da praça central sob a Torre do Relógio, a caminhar entra-se pela Rua Direita. A clássica rua dos bares de Caminha. Ali descobre-se uma casa de petiscos, com uma pequena esplanada e com muita graça.

Tasca do Manel (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

A TASCA DO MANEL tem como logotipo o bigode, em alusão ao que o proprietário Manuel Pires ostenta com orgulho, desde que o deixou crescer há perto de 40 anos, quando casou com Fátima Branco. Ambos servem ao balcão: pregos, moelas, mexilhões, rissóis e bolinhos de bacalhau, chouriça assada, pimentos de padrón e caracóis, no pires ou no prato. Manel garante que ali se come “o melhor prego do Mundo e arredores”.

Nas suas mesas de madeira no passeio da Rua Direita, bebem-se finos (cerveja) frescos sempre a sair, vinho, caipirinhas e ‘shots’. E ainda podemos usar Internet grátis com a senha “sporting2018” e sorrir para um Zé Povinho de cerâmica, que com o seu gesto nos avisa para não sair sem pagar.

Vila Nova de Cerveira
#4 “CURTIR” CERVEIRA

Poucos minutos separam as estações de Caminha e Vila Nova de Cerveira, e mais fossem para apreciar melhor uma paisagem que, deixando para trás o mar, mostra o rio Minho em todo o seu esplendor, ao correr da linha. O comboio atravessa uma ponte sobre o rio Coura e marcha paralelo ao curso de água, passando pelas estações e apeadeiros de Seixas, Esqueiro (Lanhelas) e Gondarém. As imagens que se vêm da janela são homogéneas: o Minho e o verde das suas margens, o casario das aldeias e uma ecopista, quase em contínuo. Na zona de Lanhelas, avista-se o castelo da Quinta da Torre, espaço aberto a visitas com marcação e a eventos, como casamentos e festas.

Quando o comboio de aproxima da vila de Cerveira, avista-se o PARQUE DO CASTELINHO, o Aquamuseu e uma extensa zona de lazer fronteira ao Minho, com bancos a convidar à contemplação e amenas conversas, com o rio e embarcações de pesca tradicionais aos pés. Da estação ali é um salto a pé, de um a dois minutos.

O espaço natural inclui várias propostas desportivas e recreativas: parques aquático, geriátrico, infantil e de lazer, uma charca interpretativa, Aquamuseu do rio Minho, campos de jogos para a prática de futebol, voleibol, andebol e basquetebol, e mini-golfe. A escassos metros dali, um espaço criado de raíz por dois amigos, convida ao deleite.

Parque do Castelinho (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

O CURT’ISSO TABERNA BAR mescla no nome a cortiça dos seus candeeiros e paredes e o convite (irrecusável) a curtir de António Esmeriz e Nelson Dantas. Cada proposta é um pecado de gula, no pequeno bar situado no coração da vila, com esplanada de madeira. Nas tapas, pode contar com pimentos de padron, tortilhas, gambas alioli, carpaccio de polvo, camembert assado com queijo, nozes e tomate seco, e batatas bravas.

O leque de bruchetas inclui caprese, cogumelos, abacate, salmão, bacalhau e sardinha.; nos wraps, há salmão, húmus, queijo e falafel; e três saladase grega, italiana e mexicana. Na lista, surge ainda feijoada vegetariana, beringela gratinada e nachos.
A carne não entra no Curt’isso, mas não se sente a falta dela. As sangrias são a especialidade dos dois amigos, que destacam a de espumante com morango. Sugerem algumas cervejas artesanais (a Musa é uma delas) e vinhos do enólogo Carlos Lucas, o Flor de Maio e o Ribeiro Santo. Nem apetece sair dali.

De volta ao comboio, seguem-se mais ou menos dez minutos de viagem por entre arvoredo, campos agrícolas, casario de aldeias e vista (intermitente) de rio. A linha inclui (ou não) paragens em Carvalha e São Pedro da Torre, antes de culminar em plena cidade de Valença, junto à fronteira com Espanha. O edifício da estação é bonito e merece algum tempo de observação. A partir dali, é tudo (mais ou menos) perto a pé, sendo recomendável gostar de caminhar.

É possível ir passo a passo até à zona da cidade nova, com os seus prédios altos, e lojas, cafés, pastelarias e restaurantes, aqui e ali. E subir ao interior da FORTALEZA, aí sim com lojas de artigos têxteis (principalmente), restaurantes e café, porta sim, porta sim.
Dali não convém sair sem apreciar a vista panorâmica a partir das muralhas para o rio Minho e a cidade vizinha de Tui, com a sua majestosa catedral, na margem espanhola. Mas já lá vamos.

Pousada de S. Teotónio (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Descemos antes a Avenida de Espanha, a pé rumo a antiga fronteira e à sua ponte de ferro. Após sair da estação, pode-se tomar a Avenida Miguel Dantas e na rotunda, ir em frente. Antes de chegar ao antigo edifício da alfândega, há uma casa de família para comer e beber deliciados. Diogo Ribeiro de 30 anos, criou o FRONTEIRA GASTROBAR- TAPAS, VINHOS E GINS, quando tinha 23, ajudado pela avó Amélia. A mãe Branca e a namorada Marisa também davam apoio a servir petiscos, mas a casa cresceu. Hoje é um paraíso de degustação, com três espaços (pequenos) distintos: sala interior e esplanadas coberta e ao ar livre. O chef Nuno Mota é alquimista na cozinha, de onde saem diversidade de tapas, tábuas de queijos e enchidos e carnes maturadas, onde começam a comer os olhos.

Uma proposta: alheira com maçã caramelizada e compota da mesma, gyosas de legumes com alga wakame e molho agridoce, cogumelos recheados com queijo e bacon e rissóis de bacalhau com pasta de azeitona. Para beber, há sangrias da casa e, a fechar, uma “Explosão de Chocolate” (petit gateau e avelã, nata, caramelo, amêndoa e mini-gelado) ou a tarte de amêndoa com gelado de baunilha e canela. Para fim de viagem, pode-se ficar no aconchego de um dos 18 quartos da POUSADA SÃO TEOTÓNIO, no interior da muralha de Valença, com vista para o rio Minho, ponte Eiffel e Tui. O diretor António Neiva sugere também uma refeição no restaurante com vista panorâmica: bacalhau à São Tetónio ou cabrito à Serrana e, para sobremesa, Borrachinhos de Valença, um doce tradicional.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

MiraDouro, um comboio para admirar a paisagem do Porto ao Pocinho

Viajar sobre carris pelo Alto Douro Vinhateiro já era uma experiência marcante, mas ganha outra dimensão a bordo do comboio MiraDouro, com as suas carruagens vintage e janelas panorâmicas.

Todos os dias o comboio MiraDouro parte da cidade do Porto com destino à aldeia do Pocinho, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, e regressa. É uma viagem de três horas e quarenta minutos de um extremo ao outro, mas o tempo parece passar mais depressa quando se vai imerso na paisagem. Saindo do Porto, rumo ao Alto Douro Vinhateiro, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO, a malha urbana vai dando lugar às vinhas em socalcos sobre o Douro, às vezes tão próximo que quase lhe sentimos a frescura. Pouco antes da Estação de Mosteirô, Baião, os narizes colam-se ao vidro, do lado do rio, e assim hão de continuar, até à paragem desejada. Pontos de interesse não faltam ao redor da linha, apesar de nos focarmos no troço que vai daqui até ao Tua.

Parte do charme da viagem reside no próprio comboio. O MiraDouro é composto pela locomotiva diesel da série 1400 e por carruagens Schindler, produzidas nos anos 1940 pela fabricante suíça homónima, integradas na rede ferroviária nacional entre 1949 e 1977 e entretanto recuperadas. Têm uma ambiência vintage, casas de banho e janelas panorâmicas que podem ser abertas, para alegria de quem visita a mais antiga região vitícola demarcada e regulamentada do Mundo. É o caso de Luís Paulino, 62 anos, que aviva as memórias da juventude num passeio com a família: “Somos da aldeia [Lavandeira, Carrazeda de Ansiães], este era o nosso transporte, antigamente. Quantas vezes a gente fez a viagem do princípio ao fim, sempre de pé, sempre à porta, e a saltar para ir beber um sumo às estações, a correr!”.

Comboio MiraDouro

Distância percorrida: 174 quilómetros

23 estações: Porto São Bento, Porto Campanhã, Ermesinde, Paredes, Penafiel, Calde, Livração, Marco de Canaveses, Mosteirô, Aregos, Ermida, Rede, Régua, Covelinhas, Ferrão, Pinhão, Tua, Alegria, Ferradosa, Vargelas, Vesúvio, Freixo de Numão/Mós do Douro, Pocinho.

Preço (ida e volta): 24,40 euros/pessoa

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)


PARAGENS:

Mosteirô

Casa de Ribadouro

A vista ímpar sobre o Douro magnetiza o olhar quando se chega à Casa de Ribadouro, com piscina sobranceira ao rio. Foi ali, no concelho de Baião, que o irlandês David Cummings e a chinesa Yan Gao decidiram investir, depois de muito viajar. Há sete anos, os dois professores universitários em Macau – ele de inglês, ela de gestão turística – encontraram aquele terreno com uma ruína e pensaram: é aqui. O alojamento combina elementos das suas culturas e de outras. É uma casa do Mundo, com mobiliário e objetos de diversos países, alguns especialmente curiosos – como a mesa do Canadá que seria de um convento e tem um tabuleiro de xadrez gravado numa parte escondida, “porque as freiras não podiam jogar”, mostra David.

Os hóspedes dispõem de três quartos com casa de banho privativa e acesso direto à piscina, pequeno-almoço buffet e café e limonada durante todo o dia. Também podem usar a cozinha e a sala de jogos, com bilhar e matraquilhos, onde se destacam uma máscara do Sri Lanka, um velho andarilho chinês e documentos que remetem para o passado de David ao serviço da Força Aérea do Canadá (Royal Canadian Air Force), país onde viveu grande parte da vida. Ele, que está à beira da reforma, queria voltar às raízes, na Europa, mas o clima afastou-o da Irlanda natal, enquanto Portugal lhe acenou com sol e outras formas de qualidade de vida. Assim nasceu a Casa de Ribadouro, cheia de cuidados e gentilezas. Ainda mal nos tínhamos refeito do impacto da vista, à chegada, e já segurávamos um copo de limonada fresca, feita com limões da árvore e mel de um vizinho.


Rede

Praia fluvial da Rede

Perto da Estação da Rede, no concelho de Mesão Frio, encontra-se esta praia fluvial não vigiada, a que se chega facilmente a pé, vindo de comboio. É uma área de lazer com cais/ancoradouro acostável, estacionamento, relva, árvores, mesas de piquenique, churrasqueira e um pequeno bar, que serve bebidas e gelados todos os dias, das 14h à uma da manhã, só até ao fim do mês. A inauguração deste “complexo turístico do cais da Rede”, como se lê numa placa, data de 1999.


Pinhão

Estação de Pinhão

Vale a pena dar uma volta completa a esta estação, que serve a freguesia de Pinhão, no concelho de Alijó, para admirar os painéis de azulejo que a decoram. Foram produzidos pela Fábrica Aleluia, de Aveiro, e retratam paisagens e atividades tradicionais do Douro, das quintas às vindimas, sem esquecer os barcos rabelos. No interior também há motivos de interesse. Desde logo, um quadriciclo motorizado da década de 1930, originário da Alemanha, que se encontra em exposição. Trata-se de um veículo de serviço que permitia deslocações rápidas sobre carris, geralmente distribuído por chefes de circunscrição, chefes de secção de via e engenheiros das obras metálicas. Manobrado por uma pessoa, mas com lugar para duas, era usado para fiscalização.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Wine House Pinhão

Na verdade, nem é preciso sair da Estação de Pinhão para tomar uma bebida ou petiscar. No lugar do antigo núcleo museológico nasceu, há meia dúzia de anos, uma loja do grupo Sogrape Vinhos que serve vinhos a copo, cocktails e tábuas de queijos, em mesas ao ar livre. Lá dentro, para venda, há vinhos do Porto das marcas Sandeman, Ferreira e Offley, vinhos de mesa da casa Ferreirinha, Mateus Rosé e ainda conservas, compotas, chutney e algumas lembranças.

Quem quiser conhecer a Quinta do Seixo, a sete quilómetros, também pode reservar ali a sua visita, que custa 15 euros por pessoa, com direito a dois copos de vinho, informa, do outro lado do balcão, João Azevedo, um filho da terra regressado ao Douro após ter vivido em Lisboa. “É outra qualidade de vida”, comenta, apontando o sossego e a simpatia das gentes – agora, quando vai pela rua, a caminho do trabalho, diz bom dia “a umas vinte pessoas”.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Quinta do Bomfim e Casa dos Ecos

A apenas cinco minutos a pé da Estação de Pinhão, fica a Quinta do Bomfim, da Symington Family Estates, detentora de casas históricas de vinho do Porto como Graham’s, Dow’s, Cockburn’s ou Warre’s. Mediante reserva, os visitantes podem conhecer a adega, a cave antiga (de 1896), o museu e as vinhas, fazer degustações de vinhos do Porto e Douro DOC e ainda piqueniques no terraço.

No meio das vinhas funciona também o restaurante pop-up Casa dos Ecos, com pratos tradicionais assinados pelo chef Pedro Lemos (na fotografia), com uma estrela Michelin no currículo. As propostas, que assentam em produtos locais e de época, são harmonizadas com vinhos do portefólio da família Symington, claro.


Tua

Centro Interpretativo do Vale do Tua

Da reabilitação de dois cais cobertos da Estação do Tua, no concelho de Carrazeda de Ansiães, nasceu um pólo museológico já premiado. O Centro Interpretativo do Vale do Tua, projetado pelos arquitetos Susana Rosmaninho e Pedro Azevedo, conquistou o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2020 para a Melhor Intervenção Inferior a 1000 metros quadrados, e antes tinha arrecadado uma menção honrosa no âmbito da atribuição do Prémio de Arquitetura do Douro.

Num edifício fica uma das portas de entrada no Parque Natural Regional do Vale do Tua, onde os visitantes encontram informações sobre miradouros, percursos pedestres e demais atrativos do território. O outro acolhe uma exposição que procura preservar as memórias do Vale do Tua antes da construção da barragem, e fornece vários dados sobre o mesmo – da constituição dos solos ao património arquitetónico e arqueológico. Há três grandes temas: o Vale, a centenária Linha do Tua e a barragem, que eliminou parte da antiga linha de comboio.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Calça Curta

Pouco passa das 11 horas e já há forte movimento no Calça Curta, em frente à Estação do Tua. O restaurante gerido pelos irmãos Marco e Cristina Silva começou por ser um tasquinho criado pelos pais há décadas, mas, algures no caminho, virou local de peregrinação – e não só para quem viaja de comboio. Muitos clientes vão ali de propósito para comer os afamados peixes do rio acompanhados por salada de tomate coração de boi, as enguias, o polvo, assim como os pratos de caça, o cordeiro mirandês (ao sábado) ou o cabrito transmontano (ao domingo).

As refeições são servidas no restaurante, na esplanada e até no café. “Se tivesse mais uma sala com capacidade para 200 pessoas, enchia-a”, observa Marco (na fotografia), numa curta conversa, porque os pedidos não sossegam, e o telefone também não. Ainda assim, há tempo para partilhar algumas histórias. “Lembro-me de nos levantarmos à quatro da manhã para trabalhar duas horas, a servir militares que vinham de comboio”, prossegue, acrescentando que os revisores e maquinistas já são seus conhecidos – e integram a longa lista de fiéis.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)

Trilho de Foz-Tua

O trilho de Foz-Tua começa perto da porta de entrada no Parque Natural Regional do Vale do Tua e integra a sua rede de percursos pedestres. Neste ponto de partida, há uma zona de lazer com árvores, mesas para merendar e assadores, onde alguns aproveitam para ir a banhos. “A água está melhor que a da Caparica”, comenta uma mulher. O trajeto, que dialoga com os rios Douro e Tua, está sinalizado e apresenta baixo nível de dificuldade.

(Fotografia: Leonel de Castro/GI)


Viagem movida a vapor

Uma locomotiva a vapor e cinco carruagens históricas formam o Comboio Histórico do Douro, que circula entre a Régua e o Tua, aos sábados e domingos, entre junho e outubro. A experiência inclui música e cantares tradicionais da região e um brinde com vinho do Porto. A viagem de ida e volta custa 45 euros por pessoa, com exceção das crianças dos 4 aos 12 anos, que pagam 20 euros. Grupos de dez ou mais elementos também veem o preço baixar para 40 euros.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

De comboio entre Lisboa e Évora: o que visitar pelo caminho

Da urbe lisboeta às planícies douradas alentejanas, esta viagem de hora e meia é rica em paisagens e história e convida a descobrir novas paragens para dormir e saborear o que a região tem de melhor.

O sinal sonoro ecoa pela plataforma da estação de Entrecampos: “Senhores passageiros, o comboio precedente de Lisboa – Oriente e com destino a Évora vai dar entrada na linha número 4. Efetua paragens em Sete Rios, Pragal, Pinhal Novo, Vendas Novas e Casa Branca”. Com os passageiros sentados confortavelmente e já de telemóveis e auriculares a postos para se entreterem na viagem, o maquinista dá as boas-mais com uma voz humana e simpática, indicando a hora prevista de chegada a Évora. “Boa-viagem”, deseja ele.
A viagem é aprazível, quase não dá pela trepidação das carruagens, e tem pontos altos como a passagem na ponte sobre o Tejo, a esteira de vinhas e sobreiros da planície para lá de Pinhal Novo e o serpentear do comboio entre sobreiros até chegar a Évora. Nesta época é comum encontrar muitos estrangeiros (sobretudo mochileiros) e menos pessoas nos seus afazeres, ainda que o serviço Intercidades Lisboa – Évora – Beja tenha sido reforçado recentemente, com três comboios por sentido, com extensão à cidade património mundial.

A viagem de comboio entre Lisboa e Évora demora hora e meia. (Fotografias: Paulo Spranger)

Comboio Intercidades 592
Distância percorrida: 148 quilómetros
Oito estações: Lisboa-Oriente, Lisboa-Sete Rios, Lisboa-Entrecampos, Pragal, Pinhal Novo, Casa Branca e Évora.
Preço (ida e volta): 22,50 euros/pessoa

 


Estação de Pinhal Novo

Museu A Estação

Teresa Rosendo, pinhalnovense, lembra-se de os seus avós, antigos ferroviários, lhe contarem algumas histórias e de a família recordar outras tantas ao longo dos anos. “Aqui é praticamente impossível não ter um ferroviário na família”, garante a responsável pela investigação e projeto museológico d’ A Estação. O museu municipal abriu em junho na antiga estação de comboios de Pinhal Novo e recorda o papel da ferrovia no desenvolvimento da vila e das linhas do sul e sueste que partiam, à data, do Barreiro.
Em 1858 já existiria um edifício ao pé da linha, mas o primeiro comboio só passou “oficialmente” um ano depois, com a família real a bordo, que passaria a usar a linha para ir para o Alentejo veranear. A partir de 1930 foi pujante o desenvolvimento social e urbanístico de Pinhal Novo, tanto que em 1935, data da estação hoje visitável, existiram 11 linhas, controladas por uma torre projetada pelo arquiteto Cotinelli Telmo em traços modernistas.
Na sala interior do museu retrata-se a evolução das estações, do século XIX à atualidade e o sistema de bilhética. Já na secção “Ser Ferroviário” percebe-se como este era um universo de muitas profissões altamente especializadas, mas às quais as mulheres estavam vedadas – eram, essencialmente, guardas de passagem de nível. Expostos estão também muitos objetos do quotidiano, doados por Rafael Augusto Rodrigues Manuel Ribeiro, dois antigos ferroviários do concelho. Na antiga plataforma admiram-se ainda painéis de azulejos representativos de toda a região da Arrábida e a da herdade de Rio Frio.

O Museu A Estação. (Fotografias: Paulo Spranger/GI)

 


Estação de Vendas Novas

Império das Bifanas

A história de Vendas Novas também se cruza de forma indelével com a expansão dos caminhos de ferro, e depende essencialmente de três momentos. Primeiro, quando D. João III mandou construir a estação da Posta Sul e uma sede em Aldeia Galega (o atual Montijo); o segundo quando foi criada a ligação entre Montijo e Montemor, que o rei usava para caçar; e terceiro, a edificação de duas pousadas, em Evoramonte e em Vendas Novas, próximas das estações.
Mais recente (e difusa) é a história que passou a associar esta terra alentejana às bifanas. Luís Godinho, responsável pelo Império das Bifanas com a mulher, Célia, conta que a bifana terá surgido espontaneamente, quando, num café, à falta de carne assada, terão servido a sandes com o lombo do porco envolto num molho de manteiga. A especialidade popularizou-se numa série de espaços na Boavista, mas nos últimos 30 anos tem-se expandido para outras zonas.
Foi o que fez este casal, que toda a vida trabalhou em espaços destes e há cinco anos abriu o Império das Bifanas, à beira da EN4 e a menos de 15 minutos a pé da estação. Além da bifana normal, os clientes também podem pedir com queijo e orégãos, presunto e alho; fiambre; cogumelos; ovo estrelado; alface e tomate. E só provando se percebe a razão do sucesso: a carne de porco é fresca, o molho é segredo, o pão é meio torrado e o final é de lamber os dedos.

O restaurante Império das Bifanas.

 


Estação de Évora

Hotel O Cante

Funcionários trajados com as cores do cante alentejano, mantas alentejanas, fotografias antigas nas paredes e um instrumento de debulhar a terra com tração animal são só alguns dos elementos que homenageiam o Património Imaterial da Humanidade e o ambiente rural da região, no novo hotel O Cante, aberto em junho, a 200 metros da Porta de Alconchel, em Évora.
O alojamento faz-se em 49 quartos (alguns deles estúdios com copa) e uma suíte e é complementado com uma piscina exterior, spa (sauna, hidromassagem e banho turco), restaurante, sala de reuniões e bar com esplanada e terraço. A decoração à base de madeira e cortiça lembra as planícies alentejanas e há estrofes de cante alentejano nas paredes (e atuações ao vivo no hotel).

Hotel O Cante.

 

Híbrido

Caminhando pelas ruas do centro histórico de Évora, é preciso estar atento para detetar a árvore símbolo do Híbrido, um dos recentes restaurantes da cidade. João Narigueta e Filipe Reboxo são os jovens cozinheiros autores do projeto. Depois de uma passagem por várias casas de renome como o L’And Vineyards, onde se conheceram, decidiram apostar juntos neste espaço marcado pela experimentação, e onde fazem uma cozinha de autor com base nos produtos locais, sazonais e biológicos. O ponto de partida foi uma reinterpretação de receitas tradicionais.
A carta, curta mas diversa entre carne e peixe, muda todas as semanas (e às vezes no mesmo dia) em virtude da disponibilidade dos produtos e da inspiração. Mas pode ter, por exemplo, ostras do Sado com vinagrete de sementes de coentros e cebolinho; empada de veado desfiado com legumes e mostarda fermentada caseira (adaptação de uma receita do século XVI); tártaro de mertolenga (carne alentejana) com beldroegas ou pescada com xerém de tomate. A garrafeira privilegia também pequenos produtores locais e vinhos biológicos, e só há cervejas artesanais.

O restaurante Híbrido.

 

M’Ar De Ar Aqueduto

Saladas, sanduíches, tostas, hambúrgueres e wraps são as propostas de comidas leves da esplanada do hotel M’Ar De Ar Aqueduto. As opções vão da sopa de melão com presunto crocante à clássica salada caesar e ao wrap de salmão fumado, tudo confecionado com o toque do chef alentejano António Nobre. Para refrescar a garganta há também uma coleção de bebidas frescas, ou tão só cervejas bem tiradas. Este espaço ao ar livre funciona todos os dias das 11h às 00h e está aberto ao público não hospedado. A pernoita em quarto duplo começa nos 144 euros.

O M’Ar de Aqueduto.

 

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Cinco passeios de comboio (do Algarve à fronteira com Espanha)

Nestes trajetos ferroviários, cabem experiências tão distintas como viajar em carruagens do princípio do século XX, no centro do país, ir até à fronteira com Espanha ou fazer um programa na Ria Formosa, no Algarve.

#1 Comboio Histórico do Vouga

Até 11 de setembro, o Comboio Histórico do Vouga circula entre Aveiro e Macinhata do Vouga, com paragem em Águeda. A viagem é feita pela única linha de via estreita operacional no país, em cinco carruagens de inícios do século XX, puxadas pela locomotiva diesel 9004. Este programa de um dia – sábado – envolve uma visita ao Museu Ferroviário de Macinhata do Vouga e animação musical. O bilhete de ida e volta custa 30 euros por pessoa, com descontos para crianças dos 4 aos 12 anos (16,50 euros) e para grupos de dez ou mais pessoas (26,50 euros).


#2 Ligação Coimbra-Figueira da Foz

A ligação ferroviária entre Coimbra e Figueira da Foz cumpre-se em pouco mais de uma hora e abrange cenários bem distintos. Até chegar perto do extenso areal da Figueira, o comboio pára em locais do Baixo Mondego como Pereira, vila famosa pelas queijadas, ou Montemor-o-Velho, com os seus arrozais a perder de vista.


#3 Linha do Leste

A linha que vai de Abrantes a Elvas, com ligação a Badajoz, do outro lado da fronteira com Espanha, tem cerca de 140 quilómetros de extensão. A viagem de um extremo ao outro – com paragens em Ponte de Sôr, Crato e Portalegre, entre outras localidades – leva pouco mais de duas horas, mas exige atenção ao horário, para não perder o único comboio do dia.

As ruas do Crato.
(Fotografia: Orlando Almeida/GI)


#4 Linha do Oeste

Torres Vedras, Caldas da Rainha e Leiria são três vibrantes cidades a que se pode chegar a bordo desta linha, que liga Lisboa/Mira Sintra a Caldas da Rainha, Figueira da Foz e Coimbra-B. O percurso obriga a fazer transbordos, porque não está totalmente eletrificado.

Pavilhões do Parque das Caldas da Rainha.
(Fotografia: Maria João Gala/GI)


#5 Linha do Algarve

Esta linha percorre 30 estações, com início em Lagos e término em Vila Real de Santo António. Nos serviços alfa pendular, intercidades, regional e interregional está disponível a Rota da Ria Formosa, um programa de lazer que inclui visita pedonal à cidade de Faro e um passeio de barco na ria, durante duas horas.

Paisagens a Sul.
(Fotografia: Reinaldo Rodrigues/GI)




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